Percival Puggina é um conservador. Isso todo mundo sabe, e ninguém lhe contesta esse direito. Mas, mesmo sendo conservador, ou até reacionário e bolsonarista fundamentalista, poderia ao menos se ater à verdade dos fatos.
O fracasso retumbante do governo Bolsonaro não cabe apenas, ou essencialmente, aos outros, a todos os outros, menos a ele próprio. As oposições fazem o seu dever, em qualquer governo: ser oposição. Dizer que elas se opõem, ou que se opuseram ao governo Bolsonaro, é chover no molhado.
Agora, dizer que o Centrão é oposição ao governo Bolsonaro é de uma falta de caráter tremenda, pois este Centrão, como qualquer Centrão, em qualquer governo, está sempre com o governo, com qualquer governo, mas basicamente consigo mesmo, o que também é evidente.
Falar em ministério "técnico" é apenas uma meia verdade, e mesmo os "técnicos" deveriam ter vergonha de servir a um governo negacionista, a um chefe de governo psicopata perverso, como revelado nos números de vítimas da pandemia, aspecto que Percival Puggina NUNCA comenta. Ou ele aprova soluções anti-ciência, como o degenerado pratica? Se sim, é mais falta de caráter.
Dizer, por fim, que o presidente propõe, encomenda, mas que não entrega, porque não lhe deixam, é também falta de caráter tremenda. Basta ver tudo o que propôs e andou para a frente: o presidente propôs armamentismo e foi cumprido. Quis flexibilizar regras de trânsito e se fez. Propôs destruir a natureza, ignorar o destino dos indígenas e foi cumprido. Quis desmantelar a política externa e conseguiu. Propôs o fim da luta contra a corrupção – que atinge GRAVEMENTE a si e sua inteira família, todas elas – e foi mais do que cumprido, abundantemente cumprido por um Congresso que esperava isso mesmo dele, inclusive os petistas. Propôs, implicitamente, imunidade de rebanho e foi cumprido, com quase 600 mil mortos até aqui. Propôs acabar com a cultura e teve resultados tremendos, na educação e nas verbas para C&T também, tremendamente. Tudo isso ele fez, quase sem oposição, e até com o apoio das oposições, nas matérias mais escabrosas para a moralidade e a ética públicas.
Percival Puggina tem váriasescolhas: ou escolhe ser CEGO, ou ser INGÊNUO, ser MENTIROSO, ou ter FALTA DE CARÁTER, ou então todas as opções.
O que não cabe, a esta altura do desgoverno Bolsonaro é ficar defendendo o degenerado e seu fracasso, como ainda fazem certos representantes do NOVO.
Eu nunca tive problemas em dizer o que penso. Sempre faço isso.
Paulo Roberto de Almeida
ENCOMENDOU, PAGOU E NÃO RECEBEU.
Percival Puggina
26/08/21
Nos primeiros dois anos de governo, o presidente da República compôs um ministério técnico. Alimentou a ilusão de que sua impactante vitória eleitoral acabaria reconhecida como fato político suficiente para certificar ante os demais poderes da República as legítimas expectativas da sociedade.
A opinião expressa nas urnas costuma ser levada a sério nas democracias.
Mas na prática, a teoria é outra. Combatidos pela mídia militante, os projetos do governo batiam nas traves do Congresso, ou eram obstados pela ampla bancada oposicionista no STF, onde o governo não tinha e não tem a menor chance. As realizações do governo só eram informadas nas redes sociais.
A pandemia entrou na cena sanitária e política nacional no início de 2020 e as posições do governante (tido por autoritário, mas sempre em favor da liberdade), lhe complicaram ainda mais a vida. O Brasil tornou-se o único país do mundo onde as pessoas não eram vitimadas pela Covid-19, mas pelo presidente. As manifestações populares minguaram pelo receio da contaminação.
Quando interpelado sobre suas sucessivas derrotas no Congresso, atribuídas à “falta de capacidade de negociação”, o presidente respondia que seu papel era o de propor, cabendo ao Legislativo decidir. No Congresso havia três grupos – a oposição, o centrão e a minguada base de apoio ao governo. O centrão sabia que, cedo ou tarde, o poder cairia nas suas malhas e a vida voltaria à normalidade. O dinheiro público voltaria a circular e, com ele, a "prosperidade econômica" da política.
Bolsonaro, então, tratou de se entender com o centrão. Foi o sinal para que os críticos da “incapacidade de negociação” passassem a atacar o governo por... negociar com quem estava disponível, ou seja, com o centrão.
Estabelecido o entendimento, o governo, como é normal nas democracias, apoiou a eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, redistribuiu cargos e mexeu no ministério para nomear ministros do bloco. Porém (ah, porém!) como cantaria Paulinho da Viola, estavam canceladas as práticas irregulares de que se abastecia a corrupção imprescindível ao funcionamento dos acordos políticos.
Cargos, sem grana, são apenas trabalho e responsabilidade! E quem quer apenas trabalho e responsabilidade?
Cargo sem grana não é o objetivo sonhado pelos acordos que organizam maiorias parlamentares em nosso presidencialismo de cooptação rentista.
Assim, o presidente encomendou, cumpriu sua parte, e não recebeu o que encomendou. Na vida real, ele só tem, por si, a parcela do povo que quer preservar sua liberdade, seus princípios e seus valores num país próspero. Tais anseios serão expressos nas gigantescas manifestações democráticas do dia 7 de setembro, contra as ações – estas sim, antidemocráticas – do Congresso Nacional e do STF.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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Bolsonaro culpa o fracasso do seu governo aos seguintes inimigos: forças armadas, imprensa, legislativo, judiciário, esquerda, governadores, prefeitos, COVID-19, mercado, cartéis, e ao resto do mundo (Ricardo Bergamini).
Querido amigo Puggina
Em sua opinião, o Brasil não merece a pureza e a santidade do mestre, ídolo, líder e mito Bolsonaro, mas poderia, pelo menos, ter vendido 141 lixeiras de estatais federais, que não se enquadram nos argumentos de defesa do seu artigo. Como se explica?
Quando pediu demissão da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em 11 de agosto de 2020, Salim Mattar deixou claro que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações. Agora, o ex-secretário especial de Desestatização e Privatização diz que o presidente abandonou a agenda liberal de olho na reeleição e que o ministro da Economia e seu ex-chefe, Paulo Guedes, está sendo "tolhido" por militares e outros ministros.
Se ele [Jair Bolsonaro] quisesse, podia privatizar 141 estatais que não precisam [de aprovação] do Congresso. Depende só dele, [mas] falta vontade. Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.
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