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quarta-feira, 8 de março de 2023

A “nova Guerra Fria” começou a ficar mais quente - Paulo Roberto de Almeida, CNN Meanwhile in America

A “nova Guerra Fria” começou a ficar quente

A nova Guerra Fria econômica e tecnológica começou quando os EUA cometeram o terrível erro estratégico de considerar a China um adversário no campo da hegemonia global, em lugar de um parceiro na construção de um mundo multipolar deficiente. Sim, deficiente, mas pelo menos não dominado pela ideia de uma competição pela liderança global.

De 1972, quando Nixon vai ao encontro de Mao, até o início dos anos 2000, quando os EUA reinavam absolutos, mas quando a China começava a flexionar os seus músculos econômicos ao ingressar na OMC, EUA e China eram aliados tácitos, senão táticos, no confronto com a URSS, a inimiga de ambos, mas em forte declínio nos anos 1980, até desaparecer como entidade estatal, mas sobreviver como desafiante nuclear, na velha Rússia que nunca se desfez de seus sonhos imperiais. 

Os dez anos que abalaram o mundo, entre Gorbachev e Ieltsin, também representaram o começo do grande erro estratégico dos EUA, ao humilharem a Rússia e ao tentarem diminuir, conter, confrontar a irresistível ascensão econômica da China. Esse erro estratégico está bem representado pelo livro de Graham Allison sobre a falsa e equivocada “armadilha de Tucídides”, ou seja, o embate entre a Atenas americana e a Esparta chinesa. Escreverei mais longamente sobre porque eu considero esse livro de Graham Allison como o “mais perigoso do mundo”, depois do Mein Kampf de Adolf  Hitler.

No momento, só tenho a lamentar que as posições opostas dos EUA e da China caminhem para uma nova confrontação similar em tensão a uma Ucrânia-Berlim ou a uma Taiwan-Cuba, dos tempos “clássicos” da velha Guerra Fria geopolítica da era bipolar. A nova Guerra Fria econômica e tecnológica não precisaria ter essa nova bipolaridade que se desenha entre EUA-UE vs China-Rússia. Não precisaria, mas está tendo esse efeito. Talvez estejamos entrando numa nova fase dos velhos confrontos interimperiais que se estenderá pelos próximos 20 ou 30 anos, mas sem conflagração direta entre potências rivais: “apenas” uma nova e inútil corrida armamentista e um novo atraso de mais meio século no não desenvolvimento dos países pobres e regiões miseráveis.

O mundo perde, mas quem perde mais serão os países pobres; quanto ao Brasil e América Latina, permanecerão marginais e irrelevantes como sempre foram, meros fornecedores de commodities para o Ocidente e a nova e dinâmica região da Ásia-Pacifico. E não há nenhum “Não-Alinhamento Ativo” que resolva essa marginalidade estrutural da América Latina. 

Paulo Roberto de Almeida


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