Plano da China de expandir Brics é freado por Brasil e Índia
UOL Notícias
06 de junho de 2023
Os governos do Brasil e da Índia querem estabelecer critérios e condições para a adesão de novos membros ao grupo dos Brics, antes da entrada de países ao bloco dos emergentes. Fontes diplomáticas revelaram que o tema fez parte das reuniões dos últimos dias entre os chanceleres do bloco, reunidos na África do Sul. Mas, sem um acordo, tudo indica que a decisão cairá sobre o colo dos presidentes do grupo, quando eles se reunirem em agosto.
O Brasil não é contra a expansão. Mas quer examinar com cuidado o que isso significaria, como seria o processo de adesão e até que ponto novos membros não representariam um desequilíbrio de poder dentro do bloco.
Já os chineses vem defendendo uma expansão do grupo, na esperança de ampliar sua própria influência dentro e fora da aliança. A esperança de Pequim, porém, era de que o processo poderia ser acelerado.
Para Brasil e Índia, porém, o "trator chinês" não poderia ocorrer sem que, antes, critérios e condições sejam estabelecidos.
No governo brasileiro, o caso não está sendo tratado como "crise" e muito menos um enfraquecimento da aliança. Mas, ao contrário dos comunicados finais emitidos em 2022 quando o bloco era liderado pela China, os documentos desta semana não trazem qualquer referência à expansão.
Até agosto, quando a cúpula do bloco será realizada, diplomatas dos cinco países membros - Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia - vão tentar estabelecer parâmetros para essa expansão.
Outro argumento usado pelo Brasil é de que a expansão pode, no fundo, criar dificuldades para a aliança. Um exemplo usado dentro do Itamaraty é o fato de que o G7 não passa por expansões.
Há ainda outra preocupação: a de reforçar um processo internacional de criação de blocos antagônicos.
Durante sua participação no G7, como convidado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse:
Dividir o mundo entre Leste e Oeste ou Norte e Sul seria tão anacrônico quanto inócuo. É preciso romper com a lógica de alianças excludentes e de falsos conflitos entre civilizações.
No mesmo evento, ele completaria:
Coalizões não são um fim em si, e servem para alavancar iniciativas em espaços plurais como o sistema ONU e suas organizações parceiras
Falando na África do Sul sobre o tema, o chanceler brasileiro Mauro Vieira deixou claro que o processo de expansão dos Brics precisa ser examinado com cautela.
"O Brics é uma marca e um ativo, por isso temos que cuidar dele, pois significa e representa muito", disse Vieira, que destacou que o bloco representa 40% da população mundial. "Estamos trabalhando e talvez (seja) por causa desse grande sucesso que atraiu a atenção de muitos outros países nos 15 anos (desde a criação do BRICS)", disse o chanceler.
Mas a China insiste que o momento é de expansão. Para o vice-ministro chinês, Ma Zhaoxu, o modelo do BRICS+ proposto por seu governo quando o país presidiu o bloco em 2022 estava se desenvolvendo "muito rapidamente".
Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, também confirmou na semana passada que a ideia de uma expansão acelerada faz parte dos planos de Pequim. Questionado sobre o interesse da Venezuela pelo bloco, ele respondeu:
Damos as boas-vindas a mais parceiros com ideias semelhantes para se juntarem à família BRICS em uma data próxima.
Durante a reunião na África do Sul, governos de todo o mundo desfilaram entre os candidatos que querem um lugar.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã disse em uma declaração que desejava se juntar ao bloco e esperava que o mecanismo para a nova associação fosse decidido "o mais rápido possível".
Mas a lista incluiu ainda:
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Cuba, República Democrática do Congo, Comores, Gabão e Cazaquistão, além de Egito, Argentina, Bangladesh, Guiné-Bissau e Indonésia.
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