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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O doce encanto do Brics na visão acadêmica - Feliciano Guimaráes, Paulo Roberto de Almeida

 Meu comentário, mais abaixo, ao argumento acadêmico aqui exposto:

Feliciano Guimaráes, IRI-USP:

“ A ampliação dos BRICS é mais positiva que negativa ao Brasil no médio e longo prazos. A literatura sobre coalizões mostra isso, desde que o BRICS não cresça muito. No curto prazo haverá uma diluição da influência brasileira na coalizão porque mais países terão voz e veto. Mas no longo prazo os ganhos em ter mais membros irá compensar a perda de influência de curto prazo. 

A literatura sobre coalizões mostra que coalizões poderosas e longevas são aquelas que (1) mantém a coesão do objetivo comum (uma ordem global menos ocidental); (2) conseguem angariar mais membros para a causa comum ao longo do tempo (Argentina, Egito, etc.); (3) aumentam o agrupamento de recursos para permitir maior peso de negociação em outras esferas. Coalizões com mais membros têm muito mais força em suas demandas com países não-membros (demandas for reformas das inst. int. vindas dos BRICS terão mais força); (4) criam uma percepção de sucesso e ganhos internos acentuados aos seus membros. Estar dentro da coalizão é melhor do que estar fora (vinte países pediram para aderir ao BRICS e nenhum pediu para aderir ao G7); (5) produzem maiores efeitos interinstitucionais (Cross-institutional spillover effects). Uma coalizão ampla repercute mais em outras negociações multilaterais e bilaterais (o BRICS ajudou muito a ótima relação do Brasil com a Índia, p. ex.); (7) forçam os não-membros a incluí-las em seu processo decisório, fortalecendo o papel pivotal de alianças amplas (os EUA e Europa terão que incluir a posição dos BRICS em suas deciões); (8.) coalizões amplas com um centro hegemônico provedor de bens coletivos têm mais chance de sucesso que coalizões igualitárias (o argumento de que a China domina, na realidade, é fundamental para o sucesso dos BRICS - como os EUA para o G7 - e não o contrário. Mas para cada vantagem, existe uma limitação. Embora a agregação de recursos tenha uma lógica sólida, ela não se sustenta quanto maior for a coalizão. 

Ou seja, há um breaking point da eficácia das coalizões que crescem muito. Coalizões muito amplas perdem eficácia, pois geram custos muito altos de criação de consensos, abrindo espaço para o comportamento desviante. Por isso, o BRICS jamais deve se tornar um G77. A própria China parece estar ciente disso. O argumento de que o BRICS não dará certo porque não tem coesão ou homogeneidade interna (ditaduras vs. democracias) não se sustenta na literatura. Like-mindedness não é receita de sucesso. O fundamental é objetivo comum (ordem internacional menos ocidental). Este é o cimento dos BRICS.”

Livros referência sobre coalizões/alianças: "International Trade and Developing Countries: Bargaining coalitions in the GATT & WTO" da Amrita Narlikar; e "The Origins of Alliances" do Stephen Walt.

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PRA:

A suposição é a de que uma ordem ocidental menos ocidental seria melhor e mais benéfica aos paises em geral? 

Isso se sustenta? 

A China cresceu enormemente ao ser justamente integrada à ordem econômica “ocidental”: Bretton Woods, OMC, patentes, etc. 

Ou o socialismo lhe trouxe riqueza e bem-estar? 

O raciocínio sobre coalizões desperta muito subjetivismo. 

Por que tantos países querem integrar ou se associar à UE, uma entidade perfeitamente ocidental? 

Muitas dessas economias pedindo para ingressar no BRICS não estão exatamente mirando o “prestígio” do grupo, e sim comércio e investimentos chineses, no caso repetindo a velha história do império e sua periferia. 

É aliás o que motiva o próprio Brasil de Lula. 

Alguma dúvida quanto a isso?

Paulo Roberto de Almeida

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