O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

O Brasil e as causas das guerras - Isaac Roitman, Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e as causas das guerras

Isaac Roitman, Paulo Roberto de Almeida 

 O cientista Isaac Roitman, em artigo publicado no Monitor Mercantil, reproduzido no boletim da Academia Brasileira de Ciências, e transcrito neste mesmo espaço, 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/12/sera-possivel-acabarmos-com-as-guerras.html ,

elencou as causas das guerras na humanidade: 

  1. Disputas territoriais: países ou grupos podem lutar por territórios específicos devido à sua localização estratégica, recursos naturais ou valor histórico.
  2. Conflitos ideológicos: diferenças em crenças políticas, religiosas ou sociais podem levar a confrontos, como visto em guerras civis e conflitos internacionais.
  3. Rivalidades étnicas e religiosas: conflitos entre diferentes grupos étnicos ou religiosos têm sido uma causa comum de guerra ao longo da história.
  4. Competição por recursos naturais: a busca por recursos como água, minerais, petróleo e terras agrícolas.
  5. Questões de poder e hegemonia: países ou líderes podem buscar expandir seu poder e influência, levando a guerras de conquista ou expansão territorial.
  6. Nacionalismo exacerbado: um forte senso de identidade nacional e desejo de independência pode levar a conflitos, como visto nas guerras de independência.

Essas parecem ser as causas principais, embora seja possível haver combinações entre elas, ou seja, mais de um fator agindo junto com outros. Ainda assim caberia distinguir entre guerras civis, ou seja, internas aos países, e guerras entre Estados, envolvendo soberania e projeção externa das forças armadas.

Guerras civis são mais suscetíveis de envolverem questões étnicas e religiosas e conflitos ideológicos, assim como questões de poder sobre o Estado por diferentes grupos ou movimentos políticos (ou até tribais, em certas circunstâncias).

Guerras entre Estados derivam de questões territoriais (fronteiriças ou regiões mais amplas), competição por recursos naturais (mais frequente na fase pré-ONU), questões de hegemonia, muito incitadas por nacionalismo exacerbado, ou por alguns dos demais fatores das guerras civis (internas), quando possuindo projeção além das fronteiras reconhecidas de um Estado, geralmente vis-à-vis algum vizinho com o qual disputas chegam ao seu nível máximo de fricção.

O Brasil nunca se envolveu em guerras por disputas de territórios, pois sua diplomacia, mesmo a "colonial" (Alexandre de Gusmão) e sobretudo a imperial e republicana conduziram processos negociadores ou recorreram a arbitragens que evitaram contenciosos bélicos. 

Tampouco tivemos conflitos ideológicos com vizinhos, mas tivemos guerras civis ou rebeliões internas por esse motivo: republicanos no Império, comunistas na República, repressão militar dos "guardiões" da ordem, militares, contra civis, ou políticos, em crises institucionais. 

Não há traços de "competição por recursos naturais" em nossa história, mas poucas fricções nessa área: a ridícula "guerra da lagosta" com a França, no início dos anos 1960, ou a conflitos sobre o uso dos recursos hídricos com a Argentina, na bacia do Prata, nos anos 1960 e 70 (resolvidos diplomaticamente).

Houve certa competição nuclear entre os dois países, finalmente superada na redemocratização em ambos os países, quando Argentina e Brasil conseguiram sair de suas ditaduras militares. Questões de poder e hegemonia, assim como nacionalismo exacerbado podem ter agregado algumas doses de fricção entre os dois países em momentos diversos.

Guerra externa, mesmo, só tivemos na invasão do território brasileiro pelo ditador Solano Lopez do Paraguai, no século XIX, uma "maldita guerra" que nos atrasou ainda mais, e que pode ter construído um exército que depois se julgou dono do país.

Depois, tivemos uma participação incipiente na Grande Guerra e uma mais decisiva (internamente, não externamente) na Segunda Guerra Mundial, que aliás ajudou na derrubada da ditadura do Estado Novo. 

Nos últimos anos não nos envolvemos em nenhuma guerra, apenas em "missões de paz", seja da OEA (República Dominicana, 1965), a pedido dos EUA, e em muitas da ONU, sendo a da Minustah uma das mais relevantes. Evitamos participar da Guerra da Coreia (1950-53, autorizada pela ONU), na guerra do Vietnã, unilateral da parte dos EUA (que consultaram os ditadores da época), na primeira guerra do Golfo (1991, também autorizada pela ONU, mas totalmente conduzida pelos EUA) ou na invasão do Afeganistão, pós atentados terroristas de 2001 (também autorizada pela ONU, mas levada a efeito pelos EUA com apoio de outros países).

O Brasil é um país defensivo e pacífico, tendo nas cláusulas internacionais da CF-1988, a resolução pacífica das controvérsias como princípio básico de nossa diplomacia. As primeiras constituições da República proibiam o recurso à guerra, e a atual exige resolução do Congresso para o envio de tropas ao exterior.

Existe vasta literatura sobre guerra e paz na doutrina diplomática brasileira e nos registros históricos de nossos envolvimentos em conflitos externos. 

De resto, disputas ideológicas não costumam levar a guerras internas, mas a golpes de Estado ou tentativas de rupturas no sistema democrático. 

Estamos justamente examinando uma dessas tentativas recentemente, um planejamento ridículo para o que seria um "golpe pastelão", que não poderia dar certo. Mas bem que tentaram os incompetentes extremistas de direta do governo Bolsonaro, do jeito mais burro que já registramos em nossa história política. Não sei se entrará para o registro histórico como uma tentativa realista e factível, ou como um sonho louco de incompetentes militares e civis demenciais. Vamos aguardar o julgamento jurídico e o julgamento dos historiadores.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4 de dezembro de 2024


terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Percepções sobre coisas que dão certo e outras não - Paulo Roberto de Almeida

 Percepções sobre coisas que dão certo e outras não

Paulo Roberto de Almeida

        É muito conhecida a famosa frase entre economistas sensatos, sobre eles mesmos, que diz que "o economista é aquele cara chato que coloca água no chope quando a festa está no auge da animação. Ele consegue esfriar qualquer entusiasmo".

        Adaptando: o diplomata chato é aquele que não se conforma ao ver iniciativas diplomáticas de um governo que busca obter sucesso de imagem apontando para políticas que vão gerar impasses estratégicos mais adiante.
        Eu vi isso várias vezes ao longo da carreira, assistindo diversas políticas econômicas e diplomáticas que nos afastaram do pelotão central das democracias avançadas de mercado, e nos mantiveram no bolo indistinto dos "países em desenvolvimento" (fazem mais de 80 anos que continuamos nessa tribo).
        Eu vi isso novamente no início do lulopetismo diplomático, quando se fez uma aliança (saudada por praticamente todos e nunca revertida) com duas grandes autocracias e uma outra democracia em desenvolvimento de baixíssima qualidade (logo veio outra se juntar à patota original), e que resultou no atual Brics+, um bloco claramente identificado com a construção de uma "nova ordem global multipolar", alternativa e até oposta à aliança ocidental que levou o mundo a certa prosperidade e sobretudo democracia, direitos humanos e menos desigualdades.
        Sinto que estamos perdendo o rumo no campo da política externa.

Brasília, 3/12/2024

Será possível acabarmos com as guerras? - Isaac Roitman (Academia Brasileira de Ciências)

Será possível acabarmos com as guerras?


Academia Brasileira de Ciências, 03 de dezembro de 2024


Leia texto do Acadêmico Isaac Roitman,publicado no Monitor Mercantil, publicado em 29/11. Ele é  professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos.

Leia o texto na íntegra, aberto, no Monitor Mercantil

Monitor Mercantil, 29 de novembro de 2024

https://monitormercantil.com.br/sera-possivel-acabarmos-com-as-guerras/

As guerras fazem parte da história da humanidade. A primeira guerra registrada ocorreu por volta de 2525 a.C. A cidade-estado suméria de Lagash travou uma guerra de fronteira contra Umma, também cidade-estado da Suméria. Os historiadores apontam que o conflito envolvia a posse de territórios importantes nas fontes de irrigação. Esse conflito seria a primeira “guerra da água” da história.

Interessante é que, passados mais de 4 mil anos, essa motivação é prevista em futuras guerras. Outra guerra, ocorrida por volta do século 12 a.C., foi a Guerra de Troia, que, na mitologia grega, está presente nas obras de Homero, contando a história das deusas Atena, Afrodite e Hera.

As guerras passaram a ser globais a partir do século 20. A primeira guerra global ocorreu entre 1914 e 1918, quando houve um extraordinário crescimento industrial que provocou uma corrida armamentista, com a produção de uma grande quantidade de armas. A chamada Primeira Guerra Mundial deixou 10 milhões de soldados mortos, cerca de 21 milhões de feridos e mais de 6 milhões de civis mortos. No final dessa guerra, foi criada a Liga das Nações.

Entre 1939 e 1945 ocorreu a Segunda Guerra Mundial, o maior conflito militar, marcado pela destruição sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que o custo total dessa guerra tenha chegado a US$ 1,385 trilhão. Resultou também nas perdas humanas causadas pelo conflito: 45 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Após o término dessa guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU).

Atualmente, várias guerras estão ocorrendo, entre elas: guerra Rússia x Ucrânia, guerra Israel x Hamas e Hezbollah, guerra da Síria, guerra civil no Iêmen, guerra civil no Myanmar, conflito no Sahel, conflito Azerbaijão x Armênia, entre outros.

Uma possível Terceira Guerra Mundial, com a utilização de armas nucleares, pode resultar na extinção da vida humana no planeta. Se ela ocorrer, poderá ser a Última Guerra da Humanidade. Segundo a FAS (Federation of American Scientists), o arsenal de ogivas nucleares é grande e está assim distribuído: Rússia: 5.977; Otan: 5.943 (EUA: 5.428; França: 290; Reino Unido: 225); China: 350; Paquistão: 165; Índia: 160; Israel: 90; Coreia do Norte: 20.

A história das guerras e o atual contexto ameaçam o nosso otimismo como seres civilizados e o futuro dos nossos descendentes. No entanto, creio que a luta contra as guerras, isto é, uma paz plena, talvez ainda possa ser conquistada. É pertinente refletir sobre as principais causas das guerras, que envolvem fatores sociais, políticos, econômicos e culturais:

  1. Disputas territoriais: países ou grupos podem lutar por territórios específicos devido à sua localização estratégica, recursos naturais ou valor histórico.
  2. Conflitos ideológicos: diferenças em crenças políticas, religiosas ou sociais podem levar a confrontos, como visto em guerras civis e conflitos internacionais.
  3. Rivalidades étnicas e religiosas: conflitos entre diferentes grupos étnicos ou religiosos têm sido uma causa comum de guerra ao longo da história.
  4. Competição por recursos naturais: a busca por recursos como água, minerais, petróleo e terras agrícolas.
  5. Questões de poder e hegemonia: países ou líderes podem buscar expandir seu poder e influência, levando a guerras de conquista ou expansão territorial.
  6. Nacionalismo exacerbado: um forte senso de identidade nacional e desejo de independência pode levar a conflitos, como visto nas guerras de independência.

Podemos e devemos combater as causas dos conflitos. O primeiro passo é estar em paz consigo mesmo e sermos, dentro das nossas limitações, soldados pela paz, tendo como mantras os pensamentos de sábios do passado, que pregavam substituir o ódio pelo amor, a colaboração pela competição:

“Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.” (São Francisco de Assis)
“Não deixem as pessoas colocarem você na tempestade delas. Coloque-as na sua paz.” (Buda)
“A paz é a única forma de nos sentirmos humanos.” (Albert Einstein)
“Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz.” (Maria Bethânia)
“Nós não podemos nos concentrar somente na negatividade da guerra, mas também na positividade da paz.” (Martin Luther King)

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos. 

O que Putin mais teme: a corrida para a UE, porta aberta para a prosperidade: paises crescem e ficam ricos ao entrar para a UE - Robert Beyer, Claire Yi Li, Sebastian Weber (Blog do FMI)

 

The 2004 EU Enlargement Was a Success Story Built on Deep Reform Efforts

photo of flags of the European Union with office building in background

(Credit: legna6/iStock by Getty Images)

By Robert BeyerClaire Yi Li, and Sebastian Weber

Poland is one of the success stories of European economic convergence. The country, which in January takes the reins of the Council of the European Union (the decision-making institution representing the Union’s member states) is now the EU’s sixth largest economy. This convergence process was driven by the 2004 EU enlargement, which also welcomed the Czech Republic, Cyprus, Estonia, Hungary, Latvia, Lithuania, Malta, Slovenia, and Slovakia into the Union, expanding the EU’s population by about 20 percent.  

Twenty years later, as new EU accession discussions are underway, it is worth looking at how much the earlier enlargement benefitted new members and the whole Union, and reflect on the economic returns of broadening the European single market. The current accession candidates, in different stages of the process, are Albania, Bosnia and Herzegovina, Kosovo, Montenegro, North Macedonia, Serbia, Georgia, the Republic of Moldova, Ukraine and Türkiye. In October, the European Commission issued a new report with detailed assessments of the state of play and the progress toward EU accession made by each candidate.

chart showing GDP per capita gains for regions in new and old EU member states following the 2004 EU enlargement

A new note by the Regional Economic Outlook for Europe shows that the 2004 EU enlargement brought substantial income gains. These gains were particularly large in the new member states: after 15 years GDP per person was on average more than 30 percent higher than it would have been without EU accession.

The factors driving these gains in new members were threefold. First, the 2004 group benefitted from more comprehensive economic reforms prior to joining the EU than implemented in comparable other regions, including on trade, financial sector, and product market liberalization. Second, additional financing from foreign direct investment and EU cohesion funds helped boost the capital stock. Third, technology transfers and enhancements in educational attainment improved productivity.

While all regions in new EU countries gained, some gained more than others. Those already better integrated into value chains with the existing member states increased GDP per person nearly 10 percentage points more than those less integrated pre-accession, irrespective of geographic distance. Regions with firms that had easier access to long term financing gained close to 15 percentage point more than others.

Existing member states benefitted from EU enlargement too. By 2019, income per person was around 10 percent higher than it would have been in a scenario without enlargement. The main driver of these gains was the expansion of the EU’s single market, which allowed firms to expand production and reap efficiency gains, including through higher investment in the accession countries. While regions in Scandinavia, Germany, and Austria—already well integrated with new member states prior to accession—gained the most, many regions further away benefitted too.

What does this mean for next wave of EU accession? A key lesson is that both accession candidate countries and existing EU members can benefit if they put in the work. This is no easy task. It would require strong pre-accession reforms, significant financing, political resolve, and possible institutional adaptation.

Some factors of the 2004 successes may be harder to achieve today. For accession countries this puts a premium on those actions directly under their control, such as the reform effort to close business regulation and institutional gaps to the EU. From the existing members’ side, continuing to deepen the single market by removing remaining within-union trade barriers and advancing the capital market union to finance dynamic firms’ growth would further amplify the potential gains. These joint efforts could not only accelerate catch-up within Europe, but also help narrow Europe’s persistently large income gap with the US.


A culpa da guerra é da Otan, como não poderia deixar de ser… - Paulo Roberto de Almeida

Não é a primeira, nem será a última vez, que leio mais um livro desses acadêmicos les plus en vue sobre a guerra da Ucrânia que, non variatur, atribuiu ao “avanço da Otan sobre as fronteiras russas” as causas da atua guerra de agressão de mil dias da Rússia contra a Ucrânia. Por acaso estou lendo ao mesmo tempo em que vejo no noticiário internacional as manifestações do povo georgiano contra seus proprios dirigentes que pretendem forçar uma aliança com s Rússia de Putin, na direção contrária do que deseja s maioria da população. Nem vou mencionar o nome do livro, publicado nos EUA, contendo esse absurdo de desconsiderar totalmente a vontade da população, da Ucrânia, da Georgia, da Moldova, de se juntar à UE e de buscar ardentemente s proteção da Otan contra a prepotência russa.

Como se a CIA, os serviços ocidentais fossem capazes de mobilizar milhares de cidadãos em protestos contra seus dirigente corruptos e lideres alinhados com os designios de Moscou. Surpreende-me a cegueira de certos acadêmicos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 3/12/2924


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Os judeus da ilha de Rhodes, de onde vieram os ancestrais de meu amigo João Pedro Levy: One Hundred Saturdays: Stella Levi and the Search for a Lost World, by Michael Frank

 Conversei, esta tarde, por Google Meet, com meu amigo, ex-aluno de mestrado, João Pedro Levy, que é descendente de antigos habitantes da ilha de Rhodes, hoje na Grécia, mas que na época de seu tataravô ainda era turca, ou otomana (depois vieram para o Brasil, como milhares de outros emigrantes, judeus e não judeus, fugidos de uma Europa massacrada e miserável).

Ele me enviou a informação da Amazon sobre um livro que trata desses judeus de Rhodes, perseguidos como tantos judeus em tantos lugares:


One Hundred Saturdays: Stella Levi and the Search for a Lost World

por Michael Frank (Autor), Maira Kalman (Ilustrador)

One of Wall Street Journal's Ten Best Books of the Year * Winner of the National Jewish Book Awards for Holocaust Memoir and Sephardic Culture * Recipient of the Jewish Book Council's Natan Notable Book Award * Winner of the Sophie Brody Medal.

The remarkable story of ninety-nine-year-old Stella Levi whose conversations with the author over the course of six years bring to life the vibrant world of Jewish Rhodes, the deportation to Auschwitz that extinguished ninety percent of her community, and the resilience and wisdom of the woman who lived to tell the tale.

With nearly a century of life behind her, Stella Levi had never before spoken in detail about her past. Then she met Michael Frank. He came to her Greenwich Village apartment one Saturday afternoon to ask her a question about the Juderia, the neighborhood on the Greek island of Rhodes where she'd grown up in a Jewish community that had thrived there for half a millennium.

Neither of them could know this was the first of one hundred Saturdays over the course of six years that they would spend in each other's company. During these meetings Stella traveled back in time to conjure what it felt like to come of age on this luminous, legendary island in the eastern Aegean, which the Italians conquered in 1912, began governing as an official colonial possession in 1923, and continued to administer even after the Germans seized control in September 1943. The following July, the Germans rounded up all 1,700-plus residents of the Juderia and sent them first by boat and then by train to Auschwitz on what was the longest journey--measured by both time and distance--of any of the deportations. Ninety percent of them were murdered upon arrival.

Probing and courageous, candid and sly, Stella is a magical modern-day Scheherazade whose stories reveal what it was like to grow up in an extraordinary place in an extraordinary time--and to construct a life after that place has vanished. One Hundred Saturdays is a portrait of one of the last survivors drawn at nearly the last possible moment, as well as an account of a tender and transformative friendship between storyteller and listener, offering a powerful "reminder that the ability to listen thoughtfully is a rare and significant gift".  


Brasil se tornou menos atraente para o capital estrangeiro - Pedro Rafael Fernandes

Pedro Rafael Fernandes

Ontem, dia 26 de novembro, o Valor Econômico reportou que a saída de dólares pela via financeira chegou a US$ 56,2 bilhões. O valor por si só é uma informação relevante. Isto significa que as expectativas dos investidores internacionais sobre o Brasil estão permeadas por incerteza ou pessimismo a respeito do futuro da economia brasileira. 

Todavia, quando se observa que este é o maior valor para toda a série, que iniciou em 1982, a informação torna-se ainda mais grave. Para comparação, o valor acumulado de saída pela via financeira entre janeiro e outubro de 2020, ano da pandemia, onde a incerteza era absoluta, foi de US$ 54,7 bilhões.

Outra estatística interessante disponibilizada pelo Banco Central é o investimento estrangeiro direto líquido. A partir da série trimestral pode-se conferir que considerando o resultado líquido de 2023 ao terceiro trimestre de 2024 constata-se uma saída de US$ 77 bilhões de dólares. 

Há uma série de implicações diretas e indiretas dessa fuga de dólares da economia brasileira. Em primeiro lugar, se este fenômeno persistir pode-se esperar depreciação adicional do valor da real frente dólar. O que per si alimenta inflação, elevando o custo de vida de forma significativa, atingindo principalmente os mais pobres.

Em segundo lugar, porém não menos importante, a persistência da indisposição dos agentes estrangeiros com a economia brasileira encarece, e, portanto, dificulta a realização de investimentos importantes para a continuidade do crescimento econômico, com investimento em capital na indústria, e investimentos em infraestrutura de base, como estradas, saneamento básico, ferrovias e aeroportos. Uma vez que esta fragilidade do real frente ao dólar, e a incerteza econômica por trás dela, dificulta ou até mesmo inviabiliza a aferição do retorno econômico associado a esses investimentos.

#economiabrasileira #macroeconomia #fugadedólares #incerteza

Pedro Rafael Fernandes

27/11/2024

A Argentina na visão da Economist: entrevista com o presidente Milei

THE ECONOMIST / ‘Mundo pode aprender com o que fiz na Argentina’, diz Javier Milei em entrevista à Economist

 

THE ECONOMIST

 

‘Mundo pode aprender com o que fiz na Argentina’, diz Javier Milei em entrevista à Economist

Presidente argentino falou à revista britânica sobre suas suas visões econômicas, o trabalho feito na Argentina em um ano de governo e a relação com Donald Trump

Por The Economist

29/11/2024 

Entrevista com Javier Milei -  Presidente da Argentina

O presidente da Argentina, Javier Milei, está realizando um experimento notável. Ele é presidente há um ano e fez campanha empunhando uma motosserra, mas seu programa econômico é sério e uma das doses mais radicais de livre mercado desde o Thatcherismo. A esquerda o detesta e a direita trumpista o abraça, mas ele realmente não pertence a nenhum dos dois grupos.

Milei acredita no livre comércio e nos mercados livres, não no protecionismo; acredita na disciplina fiscal, não em empréstimos imprudentes; e, em vez de fantasias populares, na verdade pública brutal. Em entrevista concedida a The Economist no dia 25 de novembro em Buenos Aires, o presidente argentino explica as suas visões econômicas e detalha o trabalho feito na Argentina em um ano de governo.

“Me pediram para reduzir a inflação e acabar com a insegurança. E eu estou acabando com a inflação e estamos aniquilando a insegurança. Minha campanha foi sobre o plano econômico, a motosserra, algo que evidentemente fizemos. E em minha política internacional, prometi uma aliança com os Estados Unidos e Israel, o que também estamos fazendo”, disse Milei.

O presidente argentino também foi questionado sobre a sua relação com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. “Há um excelente relacionamento. Ele tem sido muito generoso comigo. Trump deixou claro que, quando ninguém o apoiava, eu era o único que o apoiava. Está claro que nossas relações vão melhorar substancialmente.”

 

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista.

Em todo o mundo é muito difícil, no momento, reduzir o tamanho do Estado. Mas na Argentina vocês estão conseguindo. Qual é o segredo de seu sucesso?

O primeiro é a existência de uma estrutura filosófica. Ou seja, além das restrições que se pode ter no curto prazo, ainda considero o Estado uma organização criminosa violenta que vive de uma fonte coercitiva de renda chamada impostos, um resquício da escravidão. Quanto maior o tamanho do Estado, mais a liberdade e a propriedade são restringidas. Essa é a nossa bússola. Minha filosofia anarcocapitalista implicaria a eliminação do Estado, mas essa é uma abordagem teórica e filosófica. Na vida real, digamos que eu seja um minarquista [defensor do Estado mínimo ao extremo]. Portanto, tudo o que eu puder fazer para eliminar a interferência do Estado, eu farei.

Depois, há a realidade com a qual me deparo. A Argentina tinha um déficit fiscal de 15% do PIB. 5% estava no Tesouro, 10% estava no Banco Central. E a inflação no atacado estava chegando a 54% ao mês, algo em torno de 17.000% ao ano. Se eu não fizesse algo muito abrupto, acabaria em hiperinflação. E isso implicava fazer algo abrupto tanto no Tesouro quanto no Banco Central. Não havia acesso a financiamento e nem demanda por dinheiro. Já estávamos à beira de uma catástrofe.

De fato, a situação combinava os piores elementos das três piores crises argentinas da história. Na época do Rodrigazo [conjunto de políticas econômicas argentinas na década de 1970], tínhamos um superávit monetário duas vezes maior. A situação do Banco Central, em termos de passivos com juros versus base monetária, era pior do que antes da hiperinflação de 1989. Os indicadores sociais eram piores do que os que tínhamos em 2001. Portanto, estavam dadas as condições para a hiperinflação, com uma queda do PIB de cerca de 15% e 95% das pessoas ficando pobres.

Esse era o cenário que estávamos enfrentando se não fizéssemos os ajustes. Porque, novamente, não tínhamos acesso a financiamento e não havia demanda por dinheiro. Portanto, não havia espaço para aumentar os impostos, o que eu também não teria feito. Também não havia muita margem para fazer qualquer outra coisa.

E outro elemento é o meu processo de tomada de decisão. Há duas partes nesse processo. Eu sei o que fazer e como fazer, e tenho a coragem de fazer. Às vezes, há pessoas que sabem o que fazer, mas talvez não saibam como. Outras sabem como, mas não têm a coragem de fazer.

Portanto, a questão é a coragem. E isso nos leva à segunda parte, o segundo argumento. De onde vem a coragem? Bem, a minha vem de dois lugares. Um, faz parte de minha natureza. Ou seja, durante toda a minha vida, minhas decisões foram tomadas com uma dose de coragem. Alguns podem até pensar que sou temerário. Esse é o primeiro ponto.

O segundo ponto é: eu encaro isso como um trabalho, literalmente. Portanto, se eu encaro isso como um trabalho, tenho uma ética de trabalho. Me pediram para reduzir a inflação e acabar com a insegurança. E eu estou acabando com a inflação e estamos aniquilando a insegurança. Além disso, tenho sido muito coerente com minhas promessas de campanha. Minha campanha foi sobre o plano econômico, a motosserra, algo que evidentemente fizemos. A concorrência de moedas, que de fato já começou a funcionar. Hoje já é possível fazer transações em qualquer moeda que se queira. Em termos de segurança, eu disse, quem faz paga, então estamos fazendo. E em minha política internacional, uma aliança com os Estados Unidos e Israel, o que também estamos fazendo.

Portanto, ninguém pode se surpreender com o que estou fazendo, porque prometi isso em minha campanha e estou fazendo. Vou lhe dar mais um exemplo que o ajudará a ver a maneira como vejo as coisas. Quando eu estava andando por Olivos [a residência oficial do presidente da Argentina] com Alberto Fernández [presidente da Argentina antes do Sr. Milei], que estava me mostrando as instalações, Fernández me disse que se sentia como um leiloeiro mostrando a casa para o novo proprietário. E eu lhe disse: “Pare, eu não sou o novo proprietário. Sou o novo inquilino por quatro anos com opção para oito. Quero dizer, eu literalmente encaro isso como um trabalho.”

Portanto, quando tomo decisões, não as faço com base em cálculos políticos, mas no que tenho de fazer. E isso não é pouco. Caso contrário, eu não teria me envolvido em muitos dos debates que tenho e que, digamos, hoje são a base sobre a qual se assenta a confiança. Eu tinha tudo a perder e nada a ganhar, mas fiz isso porque era a coisa certa a fazer.

O melhor exemplo são os aposentados, as universidades, mas essas coisas foram para defender o equilíbrio fiscal ao pé da letra. É essa conjunção de elementos que explica a visão.

Ou, por exemplo, veja, há uma entrevista que Alejandro Fantino [um apresentador de rádio argentino] fez comigo e um dia eu falei com ele sobre as diferenças entre os diferentes políticos. O político tradicional pede seu voto para que possa consertar sua vida, como se soubesse do que você precisa. O que eu digo é que peço seu voto para que eu possa lhe devolver o poder de ser o arquiteto de sua própria vida. Você perceberá os benefícios, mas terá de arcar com os custos se cometer um erro. Não é que eu não o tenha avisado.

Portanto, devolver sua liberdade implicou uma redução de 30% nos gastos públicos em termos reais. Foi uma redução de 5% do PIB no Tesouro e a eliminação de 10% do déficit quase fiscal no Banco Central. Tudo isso foi alcançado em seis meses. O Tesouro foi alcançado em um mês. O Banco Central levou seis meses. Mas em seis meses, pode-se dizer, fizemos um ajuste de 15% do PIB. Nunca na história da humanidade foi feito um ajuste dessa magnitude, muito menos nesse período de tempo.

Há alguma lição que possa ser aplicada em outras partes do mundo? Ou será que a Argentina é tão singular que as lições não podem ser aplicadas em outro lugar?

Sim, há muitas coisas que podem ser aplicadas. Porque não fizemos apenas a redução do déficit do Tesouro e a limpeza do Banco Central. Também temos uma agenda de reformas desregulatórias e estruturais. De fato, entre a Lei de Bases e a DNU 70/2023 [um decreto presidencial], fizemos 800 reformas estruturais. Ou seja, é uma reforma estrutural oito vezes maior do que a que [Carlos] Menem [ex-presidente] fez em seus dez anos, que foi a maior reforma estrutural da história da Argentina. Fizemos isso em menos de seis meses, com 15% da Câmara dos Deputados e 10% da Câmara dos Senadores.

Mas também temos uma agenda desregulamentadora. Todos os dias nós desregulamentamos e ainda temos 3.200 reformas estruturais pendentes. Essa parte é fácil de exportar. E, de fato, o próprio Elon Musk e [Vivek Ramaswamy] estão apenas, digamos, importando essa parte, certo? Que é remover as regulamentações e remover todo esse emaranhado de impedimentos ao funcionamento do Estado.

E, bem, a questão dos cortes. Essa é uma questão de política interna e também tem a ver, digamos, com o desprezo que você sente pelo Estado. No meu caso, meu desprezo pelo Estado é infinito.

Essas conversas com Elon Musk já começaram? Sobre as lições na Argentina, por exemplo?

O próprio Elon Musk, digamos, afirma que está acompanhando ativamente o caso argentino. Além disso, eu dei a ele os contatos de nossos ministros. Então, bem, ele verá [Vivek], e não vou dizer seu sobrenome porque não me lembro. Não consigo me lembrar. Eu o conheci na CPAC. Nós nos cumprimentamos e tudo mais. Eu diria que o modelo está chegando. Na verdade, no Japão, eles estão aplicando-o agora. A realidade é que a ideia do forasteiro entrou.

Portanto, a questão é como se faz o ajuste fiscal. Não é a mesma coisa se o ajuste fiscal for feito por meio do aumento de impostos em vez da redução de despesas. E não é a mesma coisa dependendo do tipo de despesas que você corta. Aumentamos temporariamente o imposto nacional [um imposto sobre a compra de moeda estrangeira para importações] e o reduzimos em setembro e agora em dezembro terminaremos de eliminá-lo. Também eliminamos outros impostos.

O que é muito interessante é onde a redução dos gastos foi direcionada. Reduzimos a estrutura do Estado pela metade, eliminamos as obras públicas, eliminamos as transferências discricionárias para as províncias, reduzimos os funcionários públicos... digamos, não renovamos a maioria dos contratos que estavam expirando. Também eliminamos a intermediação na gestão dos programas sociais.

Isso foi muito importante no início. Conseguimos dobrar os recursos recebidos pelas famílias sem aumentar um único peso dos gastos públicos porque eliminamos os intermediários. Isso não é pouca coisa. As pessoas passaram a ter o dobro de recursos sem que gastássemos um único peso a mais. Dobramos em termos reais a cesta básica [inaudível] que cobrimos 100%. Mas esse é um detalhe, eu diria, de vigésima quinta ordem.

Mas o importante é que no pior momento, que foi o primeiro trimestre, as pessoas encontraram ajuda. A economia atingiu um piso em abril e em maio começou a decolar. Hoje, quando você pega os números do terceiro trimestre, a economia cresceu 3,4%. O número anualizado é de 14%. E há quem diga “não, está devagar”. Bem, isso não é ruim, se for lento. Isso é bom.

Gostaria de perguntar sobre seu relacionamento com Donald Trump, que é muito interessante. Como a administração do presidente Trump ajudará a Argentina?

Bem, em princípio, temos um relacionamento muito bom com as principais figuras de seu gabinete. Portanto, há um excelente relacionamento. Também temos um sentimento muito bom entre nós dois; temos uma boa qualidade de vínculo. E a verdade é que ele tem sido muito generoso comigo. Ele deixou claro que, quando ninguém o apoiava, eu era o único que o apoiava. Está claro que nossas relações vão melhorar substancialmente.

O governo Biden nem sequer pegou o telefone com meu embaixador, que hoje é meu chanceler, e tem ligações com todos os ministros, com todos os secretários do governo Trump. Claramente, o relacionamento é muito mais profundo e, sem dúvida, poderemos avançar em termos de laços comerciais e financeiros.

Há esperança de que isso faça alguma diferença com o FMI, por exemplo?

Sem dúvida. De fato, é possível ver isso no comportamento de alguns funcionários do Fundo, que costumavam ser severos. Agora eles são muito dóceis.

Mais uma pergunta sobre Trump. De certa forma, você é um libertário...

Sou um libertário. Obviamente.

E seu governo está facilitando o comércio argentino, não é? Para os importadores, para os exportadores. Mas Donald Trump quer aumentar as tarifas nos Estados Unidos...

Isso, isso... digamos... há uma... eu faço uma grande distinção entre o que Trump diz e faz e como a mídia o divulga. O exemplo mais emblemático foi quando ele era presidente e aumentou as tarifas sobre a China. Isso não foi uma medida de protecionismo. Isso é uma leitura errônea, não entendendo como o mundo funciona. O mundo estava saindo da crise do subprime, que na literatura era conhecida como o problema do “excesso de poupança”. Outro nome para isso era o problema do desequilíbrio global, que era o superávit da conta corrente da China, o desequilíbrio da conta corrente dos Estados Unidos e a neutralidade da Europa.

O fato de a China ter uma taxa de câmbio fixa significava que os Estados Unidos eram frouxos em sua política monetária e não percebiam isso. Quando começaram a perceber, já era tarde demais. Portanto, inexoravelmente, essa situação levou a uma valorização da moeda chinesa. Além disso, essa valorização da moeda chinesa, que não ocorreu no euro, que era a moeda usada para arbitragem, gerou problemas internos na Europa. Aqueles com alta produtividade, como a Alemanha e a Holanda, tiveram de financiar aqueles com produtividade mais baixa.

Então, quando todos os países se reuniram em 2008, foi quando o G20 se tornou politizado. Então, nesse contexto, o que acontece é que a China decide apreciar parcialmente sua moeda. Ou seja, ela não opta por uma taxa de câmbio flexível, mas a valoriza, e isso começa a corrigir os desequilíbrios e o mundo se manifesta. Depois disso, o mundo começou a tentar desmantelar todo o pacote de resgate.

Depois, isso estagnou. Portanto, o que Trump disse à China foi: “Se você quiser jogar pelas regras de um país grande, terá de agir como um país grande. Não é possível ter uma taxa de câmbio fixa e exportar desequilíbrios”. Então, a China disse não e Trump respondeu aumentando as tarifas.

Portanto, não se trata de um problema de Trump ser protecionista, mas sim de como ele reage à política chinesa, à política monetária chinesa, à mudança da política monetária. Parece-me que uma coisa é como a política econômica funciona, outra coisa é o que a mídia que despreza Trump divulga. É, digamos, uma coisa totalmente diferente. Porque eu sofro com essas mentiras todos os dias. A ridicularização e as mentiras que a mídia consegue contar são realmente flagrantes. Na verdade, já fui até tachado de nazista. Você lê a mídia na Argentina e 85% do que encontra é mentira.

Trump disse que quer aumentar as tarifas em geral, não apenas contra a China

Não sei, digamos, é preciso... Mais uma vez, não sei se ele disse isso, não sei se tiraram isso do contexto, não sei se cortaram uma frase. Quero dizer, estou acostumado com todas as armadilhas do jornalismo, todas elas. Portanto, até que eu ouça isso diretamente dele e com uma medida concreta, digamos, não acredito em nada do que o jornalismo diz.

Muitas pessoas são contra o socialismo, inclusive a The Economist....

Não dá para ver [risos]

Bem, nós tentamos. Mas as pessoas que são contra o socialismo também estão preocupadas com outras coisas. As mudanças climáticas, por exemplo, ou a liberdade de imprensa

Em outras palavras, o marxismo cultural.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos, em Washington, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

É exatamente isso que eu queria perguntar. Por que essas posições andam juntas?

Olhe, vou lhe dar um exemplo. Meu livro mais recente chama-se “Capitalism, Socialism and the Neoclassical Trap” (Capitalismo, socialismo e a armadilha neoclássica). E uma das coisas que explico é como a economia neoclássica acaba favorecendo o socialismo. Parto da visão de Mises, que diz: “Só há dois sistemas. Você tem o capitalismo de livre iniciativa e o socialismo real”. E se você pensar nisso agora, com a visão de Hayek de “The Road to Serfdom”, qualquer solução intermediária é instável em termos de capitalismo. Ou seja, ela tende ao socialismo.

Foi Friedman quem disse: “A solução proposta pela ação do Estado é sempre pior do que a que você tinha antes, que era o mercado.” Então, de fato, precisamente, o argumento básico desse meu livro é que “as falhas de mercado não existem”. O que se chama de falhas de mercado são problemas de estrutura matemática com relação às necessidades topológicas do problema da existência, singularidade, estabilidade e otimização do equilíbrio. Em outras palavras, e esse é um problema, digamos, de como definimos a otimização, não é um problema da vida real.

Portanto, eles não percebem, mas acabam favorecendo totalmente o socialismo. Assim, por exemplo, a agenda da mudança climática faz parte da agenda do homem contra a natureza. E chega a uma recomendação tão estúpida, tão ridícula, que, no limite, se você acreditasse em toda essa bobagem, teria de exterminar os seres humanos porque eles estão prejudicando o planeta.

Em outras palavras, você percebe que isso é uma contradição em termos. Se você levar essas ideias ao limite. Uma das coisas que aconteceu foi que, após a queda do muro, na verdade, a queda do socialismo aconteceu em1961, quando eles construíram o muro. Quando começaram a construí-lo, quero dizer. Mas isso ficou evidente em 1989.

Então, o que os marxistas fazem? Diante do fracasso no debate econômico, eles transferem a luta de classes para outras arenas. Uma parte da discussão é homem versus natureza. No homem versus natureza, uma das faces é a mudança climática. Outra face do homem contra a natureza é toda a agenda LGBT, digamos, e tudo o que é a agenda do aborto. Todas essas são partes do homem contra a natureza.

Por exemplo, a agenda dos povos indígenas, a agenda do Black Lives Matter. Em outras palavras, você tem muitas agendas. Digamos que se você respeitar o que há de mais sagrado no liberalismo, que é a igualdade perante a lei, você não precisaria fazer isso. A menos que você seja a favor disso. Ou do feminismo radical. A menos que seja a favor de privilégios, ou seja, ação afirmativa, discriminação positiva.

Não acho que a discriminação positiva seja correta. Então, surgem os problemas de cotas, surgem muitos problemas. E há essas coisas ridículas que encontramos nos esportes, onde os homens aparecem vencendo as mulheres em um torneio de boxe. Ou homens vencendo mulheres na natação, ou em qualquer esporte que você queira.

Mas então, a questão climática. Se você estudar a história da Terra, pelo que se sabe até agora, houve cinco picos de altas temperaturas. Ou seja, houve picos de altas temperaturas e picos de baixas temperaturas. Por exemplo, em um desses picos de baixa temperatura, os dinossauros desapareceram.

Bem, desses cinco picos, o único em que o homem estava presente foi o primeiro. Desculpe-me, o último. Quando você considera a temperatura média, ela não é muito diferente. E se você observar o pico, agora estamos abaixo da média dos picos. Lembro-lhes que, por exemplo, os ecologistas e todas essas pessoas, no ano 2000, previram que todos nós estaríamos congelados em 2016. Ou 2000 e não sei quanto.

Quero dizer, a realidade é que, quando eles começaram com toda a agenda climática, você tem cerca de 20 erros grosseiros que essas pessoas sempre deixam passar. Elas sempre cometem erros. Eu tive que trabalhar com pessoas que trabalham com isso.

Então, por exemplo, eles pegam o sistema de equações diferenciais e o reparametrizam para que você possa ver os danos mais claramente hoje. Você entendeu? Em seguida, eles o induzem a outras ações. Em seguida, eles se referem aos problemas de externalidades, às falhas de mercado e tudo mais. E tudo sempre se traduz em impostos.

Se essa agenda fosse realmente uma agenda nobre, o que eu diria é que eles deveriam basicamente retirar o financiamento para os pesquisadores. Eles financiam sua pesquisa porque você fala sobre mudanças climáticas, mas o cara não está nem aí para as mudanças climáticas. Ele escreve sobre as mudanças climáticas porque é pago.

Comecei a desconfiar de todas essas coisas quando vi Krugman e Stiglitz envolvidos. Eu disse, quando todos os criminosos estão envolvidos nisso, algo cheira mal na Dinamarca.

Aqui na Argentina, qual é a maior ameaça para alcançar e manter a transformação do Estado e da economia que você deseja?

O partido político, a casta. São eles que ameaçam isso porque são os perdedores em tudo isso. A casta é composta, digamos, de políticos corruptos. É composta, digamos, por jornalistas pagos. É composta pelos empresários, pelos sindicalistas vigaristas e pelos profissionais que são funcionais à casta. É isso aí.

O senhor disse várias vezes que o peso não está supervalorizado. Se os fundamentos sustentam seu nível atual, por que não eliminar os controles de capital agora?

Tenho um problema de ações que ainda não foi resolvido. O primeiro ponto é como você geraria a valorização da taxa de câmbio. Por exemplo, um exercício de valorização da taxa de câmbio seria fixar a taxa de câmbio, emitir dinheiro, depois os preços começam a subir e, à medida que as contas do setor externo se deterioram, mais cedo ou mais tarde é preciso desvalorizar. E essa seria uma possibilidade.

Nós não emitimos dinheiro. Se não emitimos dinheiro, de onde vem esse processo? Quando você olha para as séries, dê uma olhada nas séries de taxas de câmbio desde 2003. Ou seja, eles olham depois que houve um salto na taxa de câmbio. Se você observar a série desde 1991, a taxa de câmbio teria de ser 600. E se analisarmos apenas a década de 1990, ela teria de ser 400. Se você perceber que tudo depende de onde eles cortam a série, como eles a usam. Eles nem sequer consideram os efeitos de um ganho de credibilidade e de entradas de capital.

Portanto, o problema é que os outros não conseguem explicar por que a moeda está realmente valorizada além de um indicador que eles usam de forma fragmentada. Além disso, faço uma pergunta a você. Suponha um modelo de bens comercializáveis e não comercializáveis. A taxa de câmbio real é dada pelo preço dos produtos comercializáveis dividido pelo preço dos não comercializáveis. O preço dos bens comercializáveis é a taxa de câmbio dividida pelo preço internacional. O que acontece se houver um choque negativo no setor produtivo não comercializável da economia? E o que acontecerá com o preço dos não comercializáveis? Ele terá de subir.

Então, você diria que há um problema de valorização da taxa de câmbio. Se a taxa de câmbio estiver valorizada, você terá de desvalorizar. Se você desvalorizar os recursos que deveria estar enviando para o setor de não comercializáveis, você os enviará para o setor de comercializáveis.

Você entende isso, a loucura? Basicamente, o que está acontecendo na Argentina? A Argentina tinha um gasto público tão grande que estava elevando o preço dos bens não comercializáveis. Cortamos 15% do PIB e tiramos o Estado do meio. Em outras palavras, reduzimos os gastos públicos em um terço. Veja se não há um motivo para se valorizar. Reduzimos um terço dos gastos públicos. Veja se não há uma razão para que esse tipo de taxa de câmbio não tenha nada a ver com o que [os analistas] estão comparando.

Então, o que eu digo é: se você teve um choque no setor não comercializável, o que está fazendo para desvalorizar? Em outras palavras, a única coisa que você faz é perpetuar a situação, digamos, empobrecendo seu país. Portanto, essa não é a solução. Mas eles [os analistas] não conseguem responder a nenhuma dessas coisas.

Entendo isso, mas estou um pouco surpreso com o que as pessoas me dizem, que em dezembro de 2023 a taxa de câmbio real estava mais ou menos no mesmo nível que está agora

Não, a taxa de câmbio nominal é a mesma. Ela é muito mais ampla.

Quero dizer, o multilateral real. Em dezembro, ela era mais ou menos a mesma que é agora. E então [em dezembro] vocês desvalorizaram, o que, para mim, dá a impressão de que...

Nós não desvalorizamos.

Porque você diz, eu não acredito nesse argumento de que desvalorizamos. Se você tivesse uma diferença de 200% [entre a taxa oficial e a do mercado negro], ou seja, você teria uma taxa oficial e outra. Em outras palavras, preços à taxa atual. Não havia preços na taxa oficial. Não havia dólares na taxa oficial. Ou de onde você acha que vem a dívida da CIRA [câmara de importadores] de US$ 50 bilhões e dividendos de US$ 10 bilhões? Em outras palavras, vocês tinham um problema de 60 bilhões de dólares. Isso é uma mentira. Essa taxa de câmbio [a oficial] não existia.

Ou seja, já existia antes, como está agora

Exatamente. Ou seja, corrigimos as variáveis.

Não. Não desvalorizamos. Tornamos a taxa honesta, isso é outra coisa. Essa desvalorização já estava lá.

Controles e equilíbrios no poder, um judiciário independente, essas coisas são obviamente importantes na democracia. Mas eles também podem retardar um pouco as reformas, certo? Você se preocupa com essa compensação?

Eu sigo as regras que foram acordadas. Ou seja, se você observar, não me desvio nem um milímetro das regras acordadas na Constituição. Eu jogo de acordo com as regras, digamos, do campo de jogo que está delimitado. Em outras palavras, eu jogo nesse campo.

Você acha que eles deveriam fazer mudanças nas regras do jogo para facilitar um pouco as coisas, para que as reformas aconteçam mais rapidamente, por exemplo?

Tudo bem, mas as regras são as regras. Se você não gostar delas, jogue outro jogo. Se quiser jogar futebol, são 11 contra 11. O gol tem 7,32 por 2,44. O comprimento do campo é de 90 a 100 metros e a largura é de 75 a 90. É isso, é isso.

Então não há nenhuma aspiração de mudar esse tipo de coisa?

O que estamos tentando fazer é que o próprio Poder Judiciário faça as reformas necessárias para que possa funcionar melhor. É isso que queremos.

De fato, apenas com relação a isso, uma das críticas que as pessoas fazem é que alegam que Ariel Lijo [o indicado para a Suprema Corte] tem integridade duvidosa. E também que sua nomeação tem algum tipo de, não sei, algum tipo de acordo por trás. Qual é a sua resposta a esse tipo de crítica?

Antes de mais nada, quando se faz uma nomeação, todo mundo vai encontrar coisas [problemas].

Por outro lado, uma das coisas que é muito importante, Lijo é uma das poucas pessoas que entende o funcionamento operacional do judiciário. Ele é alguém que pode realizar reformas de dentro para fora. Porque está claro que a justiça não está funcionando como os argentinos exigem.

E não é só isso, mas nos crimes mais complicados do mundo, que são o tráfico de drogas e o narcoterrorismo, ele é o único especialista no assunto. Entendo que alguns meios de comunicação podem ter problemas com Lijo, porque eles devem ter algum negócio que os deixa desconfortáveis. Então, entendo que eles operam com base nisso, mas os fatos são diferentes.

...

‘Não tenho de ser amigo de Lula. Tenho que fazer Argentina e Brasil comercializarem’, diz Milei 

Presidente argentino concedeu entrevista para a revista britânica The Economist; relação com o Brasil foi tema de pergunta

Na segunda parte da entrevista do presidente argentino Javier Milei à revista britânica The Economist, ele fala sobre as perspectivas de um acordo com o FMI, os aprendizados na política no seu primeiro ano à frente do governo e a relação com outros países, incluindo a China e o Brasil. 

Eu tinha outra pergunta sobre economia que não fiz, sobre a ideia de concorrência cambial. Se entendi corretamente, você espera que o dólar se torne mais dominante e que o peso acabe desaparecendo?

Exatamente. Isso também é chamado de “dolarização endógena”. É o seguinte: deixamos a quantidade de dinheiro constante. A base monetária é fixa. Se você a fixa, a base monetária não varia, pelo menos desde o meio do ano, com certeza. Acredito que desde abril a base monetária ampla não tenha se alterado. Mas não sei se é desde abril ou desde junho que a base monetária ampla não se altera.

Então, o que acontece? Quando você aumenta a demanda por dinheiro, você diz que vai trazer dólares e vai comprar pesos. Sim? O que isso geraria para você? Geraria uma valorização do peso. Você viu que estávamos dizendo que haveria uma convergência da taxa de câmbio paralela para a oficial. Não houve desvalorização, mas uma queda no preço do paralelo. De 1.500, hoje está em 1.100.

Dito isso, nesse contexto, o que se tem é que, à medida que a demanda por moeda aumenta, você teria a base monetária tradicional mapeada com a base monetária ampla e, quando isso acontece, você entra em um processo de deflação.

Então, o que estamos incentivando? A concorrência de moedas para que você possa usar outras moedas e não tenha que recorrer ao peso.

Vamos supor, para facilitar, que as pessoas queiram começar a fazer transações em dólares, algo que já é permitido atualmente. Então, o que acontece? À medida que a economia cresce e você exige mais dinheiro, à medida que os pesos são fixados, o que você faz? Você injeta seus próprios dólares na economia.

Sim? Então, isso tem duas vantagens. Uma é que não causa uma valorização abrupta da taxa de câmbio. Porque a diferença na velocidade de ajuste do setor financeiro em relação ao setor real poderia gerar uma falência maciça de empresas.

É por isso que incentivamos a concorrência cambial, para que elas não recorram ao peso, que é a mercadoria escassa. De fato, ele é fixo. Agora, à medida que esse processo aumenta, você terá cada vez mais dólares em relação aos pesos. Chegará um momento em que essa proporção será tão grande, a quantidade de dólares em relação aos pesos, que nesse momento, se você quiser, poderá fechar o Banco Central.

O que eu não entendo, ou não estou entendendo muito bem, é que...

95% dos economistas aqui também não entendem. Estou acostumado a lidar com isso.

Se a oferta de pesos é fixa, mas a oferta de dólares não é, como se diz em espanhol, um “campo de jogo inclinado”? No final, não se trata de uma concorrência real.

Digo isso porque decidi deixar fixa a quantidade de pesos. A questão é que, se a economia está crescendo e exigindo pesos, isso leva à deflação. Nessa deflação, se você tem dólares, o que faz? Você entrega os dólares, mas depois o peso se valoriza brutalmente, nominalmente. Essa velocidade de ajuste é infinita. E é mais rápida do que a velocidade de ajuste do setor real, portanto, pode mandar muitas empresas para o inferno.

Então, por que geramos concorrência cambial? Para que você possa comprar e vender em moeda estrangeira enquanto o peso não se valoriza nominalmente muito. Essa é a ideia principal.

Rebeldes fazem maior ataque na guerra civil na Síria desde 2016 e invadem Aleppo de surpresa

Portanto, se você trouxer um dólar, porque a demanda por seu dinheiro está aumentando, se você tiver que comprar um peso, ele se valoriza. Mas se você puder usar esse dólar em uma transação, isso não acontecerá. Em outras palavras, estamos gerando paralelamente a demanda e a oferta dos próprios dólares. E você pode usar qualquer uma das duas moedas. Além disso, quando esse estágio é muito acentuado, uma das coisas que você precisa fazer é permitir que os impostos sejam pagos em moeda estrangeira. E isso, digamos, daqui para frente, também vai acontecer. Quero dizer, a dolarização endógena é isso. As pessoas usarão a moeda que quiserem.

O sistema acaba funcionando como se fosse uma cesta de moedas, mas os pesos são determinados endogenamente pelas pessoas de acordo com as transações que fazem. Assim, por exemplo, suponhamos que você seja um negociante de petróleo, em que moeda fará a transação? Você quer eliminar o risco cambial, então, em qual moeda você vai negociar? Em WTI [West Texas Intermediate]? Você entendeu? Digamos que Manuel esteja no setor de gás. Bem, ele negocia em BTU. Digamos que Diego esteja no setor de mineração de cobre, então ele negocia em cobre.

Se entendi corretamente, vocês buscarão novos fundos do FMI em algum momento?

Estamos avaliando um conjunto de alternativas para acelerar a saída dos controles de capital. Temos três questões para sair dos controles de capital. Uma delas é a convergência da inflação. Observe que o último número foi de 2,7% [mensal]. 2,5% é induzido, em outras palavras, é 0,2. 0,2, que, quando anualizado, dá 2,5%.

Se conseguirmos dois meses de inflação em torno de 2,5%, passaremos para uma “indexação rastejante” de 1%. Então, se tivermos três meses de inflação de 1,5%, estaremos prontos para abrir. Porque isso significa que o “excesso de dinheiro” gerado pelos controles monetários desapareceu.

Esse é o primeiro ponto, portanto não há mais pesos sobrando. O segundo ponto é que a base monetária ampla é mapeada para a base monetária observada. E você pode ver que, à medida que os bancos estão desmontando sua posição de LeFis [um instrumento de dívida pública para gestão de liquidez mantido por bancos privados], é aí que temos os pesos do Tesouro, que são do Banco Central. Ou seja, o Tesouro tem os pesos para pagar isso dentro do Banco Central. Portanto, temos o dinheiro, tudo. Em outras palavras, isso é superprotegido. Mas é preciso que os agentes gerem demanda de crédito para que os bancos saiam dos LeFis e dos LECAPs [dívida de curto prazo do Tesouro em pesos] e passem a deter pesos. Quero dizer, é isso.

E a outra coisa é que terminamos de resolver o problema do estoque. Temos que cobrir algumas obrigações com o Banco Central. Refiro-me, por exemplo, ao BOPREAL [título denominado em dólares emitido pelo Banco Central para importadores com dívidas vencidas], que foi um elemento muito importante para podermos começar a operar o mercado de câmbio no início do governo.

Assim que resolvermos esses três problemas, eu abro o mercado. Obviamente, se eu receber financiamento, resolvo o problema mais rapidamente. E tem uma coisa interessante, porque a dívida líquida não sobe, porque o maior credor do Tesouro Nacional é o Banco Central. Então, é claro que o Tesouro poderia pegar essa dívida e pagar para o Banco Central. Porque isso implica honrar a dívida que o Banco Central tem com os detentores de pesos. Isso seria um tremendo sinal para acabar com a inflação.

O FMI é apenas uma das opções para esses fundos?

É apenas uma das opções. De fato, veja, fechamos o financiamento do próximo ano sem que o fundo apareça no meio.

Então, não é certo que vocês vão buscá-lo lá [no fundo]?

Vamos ver quais são as condições. Não estamos com pressa. Quanto mais rápido pudermos sair, melhor. Mas não vamos cometer imprudências para acelerar a saída. Quero dizer, se eu conseguir os fundos, eu saio [dos controles de capital]. Se não conseguir, estou planejando todas as condições para poder sair mesmo que não consiga o dinheiro.

E com que tipo de imprudências você se preocupa com um acordo com o FMI, por exemplo?

Somos muito mais prudentes do que o que o fundo está pedindo. Nosso programa é muito mais severo do que o planejado pelo fundo. Na verdade, fomos mais severos do que o que nós mesmos planejamos. Porque, por exemplo, esperávamos atingir o equilíbrio fiscal durante todo o ano e o alcançamos no primeiro mês.

Mas há coisas que o FMI pode pedir em um acordo que o senhor pensa: “Bem, na verdade, não quero assinar porque isso me traz problemas, então vou procurar fundos em outro lugar”?

Cara, mais uma vez, com a mesma taxa, eu pego aquele que impõe menos condições. Isso é óbvio.

Há um economista aqui na Argentina que diz que “o excedente dá poder a você”. Porque, qual é o meu desespero? Nenhum. Por quê? Porque tenho um superávit. Então, como tenho um excedente, não preciso procurar dinheiro de forma desesperada. Porque estou em equilíbrio.

Não tenho pressão. Pode ser mais rápido, pode ser mais lento, mas sabemos que estamos fora (dos controles de capital). Quando? Não sei. Agora, se eu conseguir financiamento, saio mais rápido. Isso é certo. Mas não vou amarrar minhas mãos só para conseguir o financiamento.

Mas isso não gera um problema, por exemplo, na atração de investimentos, que o cepo [controles de capital]...

Zero. E você sabe que no próximo ano estaremos fora dos controles de capital. Um mês a mais ou um mês antes. Isso é falso, eu digo isso. Se você vai fazer um investimento, por quanto tempo vai fazer um projeto de investimento? Pelo menos 10, 20 anos. E então você sabe que é uma questão de meses.

Então eu pergunto: que investimento você vai fazer com a questão do controle de capital? Isso não faz sentido. Em outras palavras, e na verdade, você também não tem esse problema. Porque se o Estado cortou 15% do PIB, geramos muitas economias que serão usadas para financiar o setor privado. Portanto, essa também não é uma restrição eficaz. Você diz que precisamos de financiamento. Não, não precisamos porque demos ao setor privado 15% do PIB porque tiramos o Estado do caminho.

Portanto, não sei, na Argentina há muitas coisas que as pessoas repetem e que não fazem sentido. Mais uma vez, quem vai se preocupar com um investimento de 20 anos se sabe que, mais cedo ou mais tarde, em 2025, os controles de capital não existirão mais?

Quando falou com meu colega há um ano e pouco, o senhor criticou Lula por não respeitar a liberdade de imprensa. E agora o senhor tem sido criticado pela mesma coisa. Em sua opinião, qual deveria ser o papel do jornalismo na Argentina?

As críticas que recebo do jornalismo nacional são consequência do fato de eu ter cortado a publicidade deles, a publicidade oficial. Não se trata de uma crítica neutra. Se você quiser, podemos discutir o que é liberdade de expressão. Para mim, liberdade de expressão significa que você pode dizer o que quiser, o que quiser. E aqui, todo mundo diz o que quer. Então, onde está o problema?

As pessoas falam, por exemplo, sobre o acesso às informações do governo, que, na minha opinião, se tornou um pouco mais difícil.

Vejamos, há um problema aqui. Deixe-me fazer uma pergunta e eu lhe direi de onde ela veio. Você acha que é normal a mídia colocar três drones dentro da Casa Presidencial para me espionar?

Bem, isso tem a ver com isso. Ou você acha que é normal um jornalista ligar para o veterinário de um dos meus cães 150 vezes em uma semana, assediando a pessoa e ameaçando-a de arruinar sua carreira profissional se ela não lhe disser o que ele quer saber sobre o estado dos meus cães? Diga-me se isso é normal.

Parece normal para você que os jornalistas mintam, caluniem, insultem, extorquem? Você sabia que há jornalistas que extorquem? A questão é que eles afirmam poder continuar mantendo esse monopólio da violência. E o que os incomoda é que agora há liberdade. Então, todo mundo agora diz o que quer. Então, diga-me uma coisa: por eu ser presidente, tenho menos ou os mesmos direitos?

OK, então, se você me perguntar algo, eu posso lhe responder. Mas o jornalismo não gosta quando eu respondo. Eles dizem que isso é violência. Então, o que acontece? Você tem o direito de mentir, caluniar, me insultar, me extorquir? Eu não posso me defender. É isso que os jornalistas chamam de liberdade de expressão? Bem, isso não parece ser liberdade de expressão. Parece a tirania de um grupo que resiste para se agarrar ao poder que tinha historicamente.

Você tem um estilo às vezes combativo em algumas questões. Isso faz parte de uma estratégia que ajuda de alguma forma com objetivos maiores? Você não corre o risco de criar muitos inimigos?

Existe um manual de como se comportar? Você precisa ser tão autoritário que só pode ser de um jeito? Todo mundo tem seu próprio jeito. Eu tenho meus modos, esses são os meus modos.

Aqueles que me conhecem há 50 anos sabem que sou um cara apaixonado e sempre fui um cara apaixonado. A ideia de que existe um modelo de como as pessoas devem ser é muito autoritária. Aqueles que criticam as formas, os modos, são autoritários porque acreditam que as únicas formas válidas são as que eles usam, que não há outra maneira. Mas há outras formas. Quem são esses jornalistas? Quem são eles para dizer o que é e o que não é? Eles controlam os modos, a forma. Isso é um autoritarismo brutal.

Em outras palavras, felizmente todas as pessoas são diferentes.

Gostaria apenas de fazer algumas últimas perguntas, internacionais. Os chineses seguiram com sua “linha de troca”, os 5 bilhões em junho, acho que foi isso. Também me parece que, em geral, eles estão bastante dispostos a cooperar com a Argentina.

Estamos em um... As relações com a China são excelentes.

Comércio não é feito pelo governo, quem faz são as pessoas. E você pode comercializar com quem você quiser. Então, qual é o problema?

O que eles pedem em troca?

Nada. Essa é a parte maravilhosa. Eles são um parceiro fabuloso. Eles não pedem nada em troca. Tudo o que ele [China] pede é que eu não os perturbe. É fabuloso. É fabuloso. Eles são fabulosos. Quero dizer, juro a vocês, eles não pedem nada. Nada. Eles querem negociar com calma. E sabe de uma coisa? Temos economias que são complementares. Portanto, o bem-estar dos argentinos exige que eu aprofunde meus laços comerciais com a China. Por quê? Porque são economias complementares.

E o tipo de governo que a China tem. Isso não importa?

Comércio não é feito pelo governo, quem faz são as pessoas. E você pode comercializar com quem você quiser. Então, qual é o problema? Eu sempre disse isso. Já disse isso na campanha. Sim. Então, o que você quer perguntar sobre meu alinhamento político? É com os Estados Unidos e Israel. Você tem alguma dúvida de que é lá?

Se você acha que boas relações com o Presidente Trump ajudam a Argentina, como discutimos com investimentos, talvez com o FMI, você não se preocupa que más relações, ou relações mais complicadas por exemplo com Lula no Brasil ou Sánchez na Espanha, poderiam prejudicar um pouco a Argentina?

Aconteceu algo agora? Quando eu fui ao G-20 no Brasil? Meu ministro da Economia e o ministro da Economia do Brasil assinaram um acordo para ajudar a Argentina a exportar. Então, quem se importa? Em outras palavras, eu não tenho que ser amigo do Lula. Não. Eu tenho que conseguir que a Argentina e o Brasil comercializem. É ótimo para mim vender gás para o Brasil. Quer dizer, não, eu não vou ser amigo do Lula, mas eu tenho uma responsabilidade institucional. Eu estou encarregado de defender os interesses da Argentina.

E com a Espanha, o mesmo?

A questão é: o que aconteceu? Não é que agora eles recolocaram o embaixador. Eles tinham retirado. E a justiça espanhola parece estar me dando razão no que eu disse. Novamente, o que eu faço é defender os interesses da Argentina.

Você planeja abandonar completamente o acordo de Paris?

Não. Digamos, eu poderia... Minha política com essas coisas é a mesma do que a do G-20 fez. Eu não ultrapasso os limites porque não estou bloqueando nada. Você pode ver isso nos meus dois discursos no G-20 e no discurso final, no qual expliquei que não vou bloquear a decisão do G-20. Mas digamos que me distancio de certos pontos que não subscrevo. Quero dizer, ao contrário dos outros, eu não imponho nada a ninguém, não é? Se você olhar para a versão na imprensa, porém, é muito diferente.

Isso é interessante.

E se você chama isso de ausência de pauta [dinheiro do governo para a mídia]. Se eu fosse dar pauta para vocês, essa carga de bobagem [jornalistas] certamente falaria bem.

Você sabe qual é o órgão mais sensível no ser humano? O bolso. Então, jornalistas comprados estão percebendo isso. Isso os irrita quando você diz isso na cara deles.

Então você não vai deixar o acordo de Paris. Você vai fazer o que a Argentina já concordou em fazer em termos de diminuição das emissões?

A Argentina não tem problema. A Argentina não é um país que polui, então os argentinos não têm um problema com isso.

Eu entendo que há algumas coisas que a Argentina deve fazer. O que foi assinado foi em 2015. Isso não é uma prioridade?

Novamente, eu não vou aderir a nada que tenha a ver com a Agenda 2030 ou, digamos, Agenda 2045.

E por que?

Porque eu não adiro ao marxismo cultural. Todas essas agendas. Em outras palavras, é uma agenda que 87 caras inventaram e eles são tão fatalmente arrogantes que acreditam que podem guiar as vidas de 8 bilhões de seres humanos. Se você gosta de ter sua vida bem gerida, bem, não no meu caso, eu sou um liberal libertário. Em outras palavras, digamos, existem diferentes formas de escravidão. Provavelmente a mais refinada é quando você é um escravo e não percebeu isso. E todos aqueles que aderem a essa agenda acabam sendo escravos sem saber.

Você acha que as pessoas que se opõem a você estão intelectualmente erradas, perdidas ou têm má fé? Qual é a motivação delas?

Não, você pode pensar diferente. Em outras palavras, faz parte do debate. Quero dizer, eu tenho uma posição e tenho coisas fundamentais em que acredito. As ideias que defendo, mas se você quer pensar algo diferente, pense algo diferente. Esse é o seu problema. Quero dizer, eles me escolheram [elegeram]. Bom, eu penso diferente e planejo lidar com as coisas dessa maneira. Por enquanto, os resultados estão comigo, certo?

Já está quase completando um ano no cargo...

Olha, eu tenho um ponto. Não apenas baixamos a inflação no atacado de 54%, isso é 17.000% anualizados, para 1,2%. Então, a inflação anualizada no atacado nem chega a 15%. Mas e quanto ao nível de atividade econômica medido pelo estimador mensal de atividade econômica, que é uma aproximação do PIB, hoje está no mesmo nível, quando pegamos a série [inaudível] como em dezembro. O que você quer que eu te diga? Estão aí os resultados. Em outras palavras, não há, vamos dizer, ninguém na história da humanidade que tenha feito esse ajuste e não tenha tido uma queda no PIB de 10-15%. Vamos terminar um pouco. Obviamente, se você considerar o PIB, dado como ele é construído, e que a economia vinha caindo, ela cairá porque já estava caindo durante 2023. Mas se você pegar o ponto em que assumimos o cargo, estamos um pouco acima.

E após um ano no cargo. Qual é a coisa mais importante que você aprendeu nesse papel?

Aprendi muito sobre fazer política. Eu aprendi muito com a política. E vamos dizer que a política não é um vácuo, você tem que interagir com outros atores. Trabalhamos com jogos dinâmicos quando tomamos decisões. Ou seja, se você deixá-los refletidos em árvores de decisão, pode ver que pode apresentar os jogos de uma maneira matricial ou extensiva e tomamos decisões assim. Usamos muito o princípio da revelação para confrontar estratégia contra sociedade, para deixar nossos rivais expostos. Esta é uma definição que diz rivais e não inimigos. Você deve notar a diferença, porque vamos dizer, se fossem inimigos implicaria que eu não os tolero, que pensam de forma diferente. Rivais é ser capaz de pensar de forma diferente.

Então para você não existem inimigos internos na Argentina? É uma questão de rivais, apenas?

É uma questão de rivais, eles pensam de maneira diferente. Eu não acho que eles... Eles não querem explicitamente que o país vá mal. Eles podem dar mais peso aos seus objetivos pessoais. Isso é claro na casta [a elite política]. Ou seja, não são dinâmicas dissociadas. O problema é esse. É uma coisa se você faz isso através do mercado de cooperação social isso leva a um ganho de bem-estar para todos, e outra coisa é se você faz isso através do caminho violento do coletivista. Isso prejudica todos. Além disso, eles pensam assim há 100 anos, é difícil para as pessoas mudarem. Quer dizer, não acontece com as pessoas o que aconteceu comigo no dia em que li Rothbard. Li o artigo de Rothbard sobre Monopólio e Concorrência, que tem 140 páginas. Quando, depois de três horas, quando terminei de ler, eu disse tudo o que ensinei por 25 anos de estrutura de mercado está errado.

Uma revelação.

Sim, obviamente. Claro. Quer dizer, encontrei um tipo de, vamos dizer, um iluminado. Então eu disse, uh. E o caminho é por aqui. E minha vida mudou. E provavelmente, vamos dizer, vivi os últimos dez anos, os dez melhores anos da minha vida, como liberal.

O que me interessa muito é o exemplo da Argentina para o mundo. Muitos países tentaram reduzir gastos, cortar um pouco o estado. Há algo para aprender?

Para mim o ponto é esse, que eu não deixo de ser um outsider. Eu detesto o Estado. Eu sou a toupeira dentro do Estado. Acho que o Estado é ruim. Então, é uma visão diferente das coisas. E eu não quero o Estado como uma forma de vida. Eu não abri mão da minha pensão privilegiada? Então, todo o meu esforço está em fazer um excelente governo para que, quando meu mandato como presidente terminar, eu possa me dedicar a viver dando palestras sobre o caso de sucesso argentino ao qual estou profundamente comprometido. Mas, novamente, tomo decisões baseadas no que acho que é melhor para a economia, por assim dizer, para o bem-estar dos argentinos. Não fazendo um cálculo de poder se eu somar um pouco nas pesquisas. Não, não, não, então eu nem pretendo agradar a todos.

Mas para negociar com o Congresso, por exemplo, você tem que fazer algumas concessões, certo?

Na verdade, não entregamos muitas coisas [ao Congresso] porque nosso pacote de reforma inicial foi de mil (medidas) e 800 aprovadas. Então, quão ruim não foi? Falo sobre coisas que tiveram que ser removidas, por exemplo, Aerolineas [Argentinas]. A própria dinâmica dos eventos, as pessoas estão clamando para que sejam privatizadas.

Isso vai acontecer?

Não tenha dúvida.

Uma última pergunta. Vi recentemente um pouco de desacordo entre você e seu vice-presidente. Quero perguntar se isso deve preocupar o FMI, os investidores, um pouco.

De forma alguma, porque os papéis institucionais são bastante claros nisso e eu estou encarregado de tomar as decisões do poder executivo. E o Dr. Villarruel gerencia o Senado.

Mas quando você precisa de algo, não é o Senado mais difícil agora?

Não, porque o chefe de gabinete faz isso. Na verdade, as leis que foram aprovadas são graças à gestão do chefe de gabinete. (…) Olha, vou te contar uma anedota. Você vai adorar essa. Naquele livro que escrevo sobre capitalismo e socialismo, a armadilha neoclássica. Na posição de que falhas de mercado não existem. Se não há falhas de mercado, você precisa revisar a estrutura de mercado. Você tem que revisar a teoria da empresa e, portanto, isso implica que você tem que revisar o equilíbrio geral. É por isso que digo que, se escrevermos isso, se reescrevermos, o que é 80% da teoria econômica, todas as recomendações de política econômica que foram feitas desde meados dos anos 70 em diante estão todas erradas porque o instrumento está errado. Ou digamos, algumas são piores ou melhores. Mas vamos dizer. Quero dizer, isso é interessante. Porque. Bom, agora me perdi.

(Porta-voz na sala): - Porque você estava falando sobre seu último livro.

Sim, para reescrever toda a teoria econômica. Porque 80% você tem que reescrever. Então sim, se você reescrevê-la e as pessoas descobrirem que funciona. Obviamente teriam que nos dar o prêmio Nobel de economia.

E isso é o que eu queria te contar. Foi quando eu me lembrei. Demian está olhando para todas as questões de inteligência artificial, então é interessante o trabalho que ele fez, pegou, pegou todos os algoritmos e pegou um conjunto inteiro de políticas ou políticas econômicas. Então você as classifica por quão socialistas elas são. Então, quanto mais vermelho, mais socialista é. Quanto mais azul, mais liberal. E então você vai assim de vermelho, laranja, amarelo, verde, azul. Todos os algoritmos, exceto um, digamos. Todas as recomendações de política que surgiram eram socialistas. Mas novamente porque no final, quando você permite falha de mercado, automaticamente aquela intervenção que tem, tem, tem um germe socialista.

Ou outro exemplo. Quando Tirole foi premiado com o Nobel de economia, eles lançaram um livro que era preto. Eu li tudo e quando terminei de ler eu disse: “Esse livro é ruim”, o socialismo está saindo por todos os lados. Agora, quando eu li esse livro, eu li já tendo me convertido para a escola austríaca. Então eu disse o que eu teria pensado antes, antes de ler Rothbard em 2013? E minha conclusão é que eu teria adorado o livro, eu teria adorado. Bem, a maneira de ver as coisas da escola austríaca de economia e toda a sua filosofia associada te altera, altera a maneira como você vê o mundo.

Há uma anedota em Mont Pelerin, muito divertida, que em uma mesa estão Hayek, Mises e Friedman, e Mises se levanta e bate na mesa e ele sai e diz a eles: “Vocês todos são socialistas”.

Tudo que eu disse que ia fazer, eu fiz. Estou cumprindo. Além disso, quando eu assumi o cargo eu disse a vocês: ‘Olha, isso está prestes a explodir. Vou tentar fazer tudo o possível para que não exploda.’ Eu expliquei isso aos argentinos. E as pessoas entenderam.

Mais uma coisa, o dólar, há várias pessoas que dizem que ele vai subir e que será mais forte agora com a chegada de Donald Trump à presidência nos Estados Unidos, isso complica um pouco para a Argentina.

O dólar tem subido e na Argentina ainda está caindo.

Sim, mas no futuro.

Porque você tem que estar olhando para as condições monetárias relativas. Por mais que o dólar se valorize, os Estados Unidos vão parar de emitir dólares? Não, eles continuarão. Bem, a Argentina não emite, então aí está: as condições monetárias relativas.

Mas, por exemplo, há um cara como Robin Brooks do Brookings Institution que diz que a taxa de câmbio que você tem em efeito ao dólar poderia se tornar muito complicado com a força do dólar.

Não importa porque depois vamos optar por uma taxa de câmbio livre para que haja competição monetária, mas com a quantidade de pesos fixa.

Como você explica sua alta popularidade?

É porque eu disse às pessoas a verdade. Nossa campanha foi bastante simples. Motosserras. Desregulamentação. Reformas estruturais. Caminhando para a competição monetária. E a consequência disso é que a inflação caiu e o risco país diminuiu. A outra peça é a insegurança. Por exemplo, era impossível acabar com os piquetes. Agora não há mais piquetes. Ou o número de homicídios.

Minha política externa. O que eu disse? Alinhado com os Estados Unidos e Israel. Quer dizer, tudo que eu disse que ia fazer, eu fiz. Estou cumprindo. Além disso, quando eu assumi o cargo eu disse a vocês: “Olha, isso está prestes a explodir. Vou tentar fazer tudo o possível para que não exploda.” Eu expliquei isso aos argentinos. E as pessoas entenderam.

E agora eu digo, a economia encontrou um piso em abril. Começou a se recuperar. A inflação está caindo. O nível de atividade já é maior do que quando assumimos o cargo. Você sabe que salários, quanto os salários médios eram em dólares na taxa de câmbio paralela no início de nossa administração? 300 dólares. Hoje é 1.100. A realidade é que a pobreza, medida corretamente, era de 57% quando assumimos o cargo. Hoje é 46%. Reduzimos por três pontos.

Vi que você disse que a Argentina está entrando em seu melhor momento em 100 anos. Isso gera uma expectativa diferente nas pessoas, não é?

Em outras palavras, estamos saindo de um momento difícil. Fizemos todo esse esforço para que desse frutos. E está dando frutos? Sim.

E não há mais risco político aí? As pessoas terão expectativas super altas.

O risco político é que as pessoas queiram continuar com as políticas do passado que nos empobreceram. Se as pessoas escolherem isso, elas escolherão. Seria difícil para elas escolherem isso quando veem que as coisas podem ser feitas bem e serem melhores.

Muito obrigado.

Não, por favor, o prazer é meu. Obrigado.