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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Oliveira Lima: lancamento de livro no Recife - materias de imprensa

Cheguei há pouco ao Recife para este lançamento.
O Jornal do Commercio, a Folha de Pernambuco e o Diário de Pernambuco publicaram hoje (quarta-feira, 13.12) matérias sobre o livro  Oliveira Lima – Um historiador das Américas, de Paulo Roberto de Almeida e André Heráclio do Rêgo, que a Cepe lançará às 19h, no Instituto Arquelógico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), na Rua do Hospício. 




Saiu também uma pequena nota também na coluna do jornalista João Alberto, do Diário de Pernambuco.


Aqui acima a capa do livro, abaixo o sumário e a Apresentação.
Paulo Roberto de Almeida 
Recife, 13/12/2017
 Oliveira Lima: um historiador das Américas
Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo 
(Recife: CEPE, 2017, 175 p.; ISBN: 978-85-7858-561-7). 

Índice
  
    Apresentação: O maior historiador diplomático brasileiro
       Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo

    1. O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas paralelas itinerários divergentes
       Paulo Roberto de Almeida


    2. Oliveira Lima, intérprete das Américas
       André Heráclio do Rêgo

    3. O império americano em ascensão, visto por Oliveira Lima
       Paulo Roberto de Almeida   

Apêndice: O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Joaquim Nabuco
       Paulo Roberto de Almeida   
Notas aos capítulos
Sobre os autores

Apresentação
O maior historiador diplomático brasileiro

Paulo Roberto de Almeida
André Heráclio do Rêgo


O Itamaraty, nos anos finais do século XIX e iniciais do XX, congregava três personalidades cuja atuação se espraiava desde as lides diplomáticas até a área cultural.
A primeira delas, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco, era, ademais do negociador e do chanceler que marcou época, historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira de Letras. O segundo, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, além de haver sido o paladino do pan-americanismo e nosso primeiro embaixador em Washington, já na idade madura, após uma juventude em que deixou sua marca na História do Brasil, ao dedicar-se à causa abolicionista, era também historiador e memorialista, considerado por Gilberto Freyre como um dos maiores estilistas da língua portuguesa.
Essas duas primeiras personalidades foram consagradas ainda em vida. Nabuco, desde a campanha abolicionista; Rio Branco, desde as questões de limites. Multidões acorreram aos respectivos enterros, o de Joaquim Nabuco no Recife, em 1910, o de Rio Branco no Rio de Janeiro, ao início de 1912, ocasião na qual inclusive o carnaval teve que ser adiado.
A terceira personalidade não teve consagração em vida, e ainda hoje não alcançou completamente nem a póstuma. Trata-se de Manuel de Oliveira Lima. Pernambucano como Nabuco, Oliveira Lima era bem mais jovem do que os outros dois. Além da diferença generacional, também não compartilhava com eles a formação nos cursos jurídicos de Olinda e de São Paulo. Ao contrário, graduou-se em Lisboa, no curso superior de Letras, tendo uma formação ‘profissional’ nas áreas de História e Literatura. Terá sido, pois, na sua época, o único grande historiador brasileiro que não foi autodidata. Também ao contrário de Nabuco e Rio Branco, foi republicano na juventude e na idade madura flertou com a monarquia.
Entrou no Itamaraty no princípio da última década do século XIX, numa época em que a situação política de Rio Branco e Nabuco não era das melhores. Paralelamente à carreira diplomática, logo se iniciou na escrita da História, tendo publicado ainda nesta década dois livros, que possibilitaram sua entrada na Academia Brasileira de Letras entre os 40 primeiros integrantes, ou seja, como membro fundador, glória que, se não pode ser comparada à de Nabuco, que além de fundador foi o idealizador da instituição, ao lado de Machado de Assis, foi bem superior à de Rio Branco, que teve de esperar a abertura de uma vaga para entrar no grêmio.
Oliveira Lima poderia ter sido um êmulo do barão do Rio Branco, nosso grande chanceler e modelo da diplomacia até hoje, se tivesse mais ‘diplomático’. Sua caracterização como ‘diplomata dissidente’ é adequada; em alguns casos terá sido também um “rebelde com causa”, que foi a de sua luta pelo desenvolvimento social, político e econômico e do Brasil, para ele espelhando, mas apenas parcialmente, os magníficos progressos da nação americana, em cuja capital ele trabalhou como jovem diplomata, mas já totalmente consciente das grandes diferenças que separavam o mundo anglo-saxão do errático universo ibero-americano que ele soube analisar tão bem numa fase já madura de sua vida.
Não sendo muito diplomático e não aceitando ficar à sombra do poderoso barão, voltou-se cada vez mais para os estudos históricos, contando para tanto com a ajuda do próprio chefe desafeto, que lhe propiciava longos períodos de inatividade diplomática. Graças a esses longos períodos em disponibilidade e às longas licenças que tirava – o que certamente não agradava à chefia superior, que paradoxalmente o punia com longos períodos em disponibilidade, teve tempo para pesquisar e escrever, erguendo uma obra historiográfica mais sistemática e consistente que as de Rio Branco e Nabuco. Nela, foi muitas vezes pioneiro e precursor: da história da vida privada, por exemplo, ao indicar a utilização de romances como fonte historiográfica; da utilização das obras de viajantes estrangeiros sobre o Brasil. Sua obra antecipou, de certa forma, os escritos de Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro e José Honório Rodrigues, entre outros. Se passarmos para o campo da patriotada, poderíamos dizer até que ele foi precursor de Norbert Elias e de Lucien Febvre, respectivamente nos conceitos de processo civilizatório e de instrumentos mentais, e até mesmo de Georges Duby, no que se refere à caracterização tripartite da sociedade. Além disso, Oliveira Lima foi pioneiro em estudos comparatistas, e era o historiador brasileiro que mais sabia da história de Portugal, dispondo para tanto de uma capacidade de síntese sem igual.
Ele, como Nabuco e Rio Branco, foi único e incontornável, mas a História lhe foi ingrata, algumas vezes por culpa sua, por ser corajosamente sincero, ao ponto de ser incômodo. Após um começo brilhante, sua vida profissional e intelectual passou a se caracterizar por um ressaibo amargo de incompletude e de frustração, no que se poderia considerar uma trajetória interrompida. Ao contrário de Rio Branco e de Nabuco, ao seu enterro não compareceram multidões, apenas a esposa, que compartilhava com ele o ‘exílio’ em Washington, e mais uns poucos.
Aos 150 anos de seu nascimento, no Recife, em dezembro de 1867, vale examinar alguns dos seus muitos escritos com o objetivo de constatar que ele foi, efetivamente um dos grandes, senão o maior dos historiadores diplomáticos brasileiros, pesquisador incansável dos arquivos, leitor das crônicas dos contemporâneos, colecionador de manuscritos, de livros e de obras de arte, leitor da literatura de cada época, dos jornais do momento e dos grandes historiadores do passado. Sua obra completa excede as possibilidades de um único estudioso e, talvez por isso, temos de nos contentar com uma Obra Seleta, e com vários outros trabalhos, reeditados de forma dispersa e errática, ao sabor do interesse de editores, de admiradores e de alguns poucos acadêmicos devotados ao estudo de uma imensa série de livros, resenhas, notas e artigos de revista e de jornais, que pode facilmente encher mais de uma estante de livros.
Sua biblioteca, depositada na Universidade Católica de Washington, oferece um testemunho de seu voraz interesse por toda a história das civilizações ocidentais desde os descobrimentos, com um grande foco no hemisfério americano, daí o título desta coletânea por dois estudiosos e admiradores de sua obra, que é especialmente relevante no plano pessoal, não apenas pela mesma condição profissional, a de diplomatas de carreira, mas igualmente pelo que ela oferece como interpretação significativa, e ainda válida, a despeito da passagem de um século, sobre o desenvolvimento comparado dos povos das Américas. Oliveira Lima não foi apenas historiador, mas também sociólogo, cientista político, fino psicólogo dos personagens estudados – como D. João VI, por exemplo – e também uma espécie de antropólogo cultural, como tal inspirador de uma outra rica obra construída pelo conterrâneo Gilberto Freyre, que com ele conviveu em sua fase iniciante e já na fase madura e derradeira do grande historiador pernambucano.
Os trabalhos aqui coletados não podem representar a justa homenagem que lhe é devida no 150o aniversário de seu nascimento, mas eles representam, ainda assim, um testemunho de apreço, nos planos sociológico e historiográfico, pelo valor intelectual da produção ímpar do historiador e diplomata Oliveira Lima. Não temos nenhuma dúvida de que nos próximos 150 anos essa obra continuará a ser lida e a servir de inspiração a novos historiadores e sociólogos das civilizações do hemisfério americano.

Brasília, novembro de 2017

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

John Milton: um regicida no seculo que decapitou pelo menos um, no seu pais - Robert McCrum (book review)


 The 100 best nonfiction books: No 95 – Areopagitica by John Milton (1644)
Today Milton is remembered as a great poet. But this fiery attack on censorship and call for a free press reveals a brilliant English radical




  John Milton: ‘A fiery pamphleteer in an age of religious and political argument.’ Photograph: Alamy Stock


The Guardian, Monday 27 November 2017 05.45 GMT 


Throughout England and Europe, the 17th century was notable for its violence, instability and profound social upheavals. On the continent, a whole generation became traumatised by the thirty years’ war. In England, the civil war divided the country and executed a king. There are some moments when, as is happening again now, the forces of history seem to be on the march. In England, several writers (notably Browne, Burton, Hobbes and Marvell) who lived through these dangerous times produced work that is clearly influenced by the experience of chaos, conflict and revolution.

John Milton is perhaps most notable of these. Born the son of a scrivener in Cheapside, London, in 1608, and educated at Cambridge, he devoted many years in mid-life to the politics of the Commonwealth, was arrested during the Restoration, but was released, had blindness in old age, and died in 1674.

Milton today is remembered as the author of Lycidas, Paradise Lost, and Paradise Regained – a supremely great English poet. To his contemporaries, however, he was pre-eminently a rhetorical writer – a fiery pamphleteer in an age of religious and political argument, whose tireless defence of divorce, progressive education, regicide and the Commonwealth marked him out as a natural, and brilliant, English radical.

For Milton himself, his gifts were complementary. He said he could write with his left hand (prose) or his right hand (poetry). To understand him better, and to locate him in the England of the civil war and subsequent Restoration, his readers need to reconcile these two parts of his genius, the polemical master as much as the subtle lyricist. Milton’s Areopagitica is the mature text that displays both parts of his creative imagination at full pitch, and adds another dimension to our appreciation of his poetry – in the words of one critic “a monument to the ideal of free speech”. As Milton himself writes: “A good book is the precious life-blood of a master spirit, embalmed and treasured up on purpose to a life beyond life.”

Subtitled “A speech of Mr John Milton for the liberty of the unlicensed printing, to the Parliament of England”, the title of Areopagitica pays deliberate homage to the Areopagiticus of the famous Greek orator Isocrates. Like all his contemporaries, notably Sir Thomas Browne (No 93 in this series), Milton believed that referencing the classics was one way of guaranteeing the permanence of his prose.

The exercise of freedom for Milton was a moral and dynamic right: free citizens must always strive to earn their freedom

Milton was writing in response to parliament’s licensing order of 14 June 1643, a repressive measure that had shockingly re-established the press restrictions of the hated Stuart dynasty. His attack on censorship and call for a free press asserted the ideals of liberty and free speech in a tour de force of English prose that’s at once fierce and poetic: “As good almost kill a man as kill a good book: who kills a man kills a reasonable creature, God’s image; but he who destroys a good book, kills reason itself, kills the image of God, as it were in the eye.”

For Milton, as for all great libertarians, true freedom is indivisible, a point that he argues with polemical brilliance.

Areopagitica opens with a survey of press licensing, satirically linking the practice to the Spanish Inquisition. Why, he asks, should the common reader not be free to judge for themselves between a good and bad book? Is it not the condition of virtue to recognise evil and resist it? In a celebrated passage, he writes that he has no time for “a fugitive and cloistered virtue”. The exercise of freedom for Milton was a moral and dynamic right: free citizens must always strive to earn their freedom. For Milton, it was this “struggle” that bestowed value on the individual’s place in society, a theme that links the ethical position of all his writing, poetry as much as prose. Any regulation of reading, he continues, broadening the argument against the licensing of the press, should logically include all recreations.

“If we think to regulate printing, thereby to rectify manners, we must regulate all recreations and pastimes, all that is delightful to man… And who shall silence all the airs and madrigals, that whisper softness in chambers?”

This passage is an apt reminder that the cultural changes wrought by the Puritan revolution did not eliminate a lingering attachment to a courtly style that would survive (just) into the 18th century. Milton’s work is expressive of a society in transition.

Description: https://i.guim.co.uk/img/media/5162f658230db733bb76d7a569a7f057786a127d/0_201_5138_3082/master/5138.jpg?w=460&q=55&auto=format&usm=12&fit=max&s=a1dd6c02fb5eb82db9984cf8e876734f

For Milton, as for any progressive intelligence, the concept of truth was always complicated and various, a concept that must be assembled through argument and analysis – the free exercise of thought and opinion. He cites the example of Galileo, whom he had met in his villa outside Florence, “grown old, a prisoner to the Inquisition”, as an example of free thought wrongfully restricted. (Both Milton and Hobbes – No 94 in this series – had benefited from the experience of meeting Galileo.)

Areopagitica builds over some 40 pages (in my Penguin edition) to a rousing appeal to “the Lords and Commons” to consider “what Nation it is we are”. Milton’s answer is both patriotic and inspiring: “A nation not slow and dull, but of a quick, ingenious and piercing spirit… methinks I see in my mind a noble and puissant nation rousing herself after sleep, and shaking her invincible locks.”

His optimism, however, is freighted with anxiety at the prospect of a breakdown between rival political and religious interests. He concludes that there can be no limits to tolerance. Freedom must be unlimited, and without restriction – inalienable and indivisible: “Give me the liberty to know, to utter, and to argue freely, according to conscience, above all liberties.”

A Signature Sentence

“I cannot praise a fugitive and cloistered virtue, unexercised and unbreathed, that never sallies out and sees her adversary, but slinks out of the race, where that immortal garland is to be run for, not without dust and heat.”

Three To Compare

John Locke: Letters on Toleration (1689-92)

John Stuart Mill: On Liberty (1859)

George Orwell: Politics and the English Language (1946)

Areopagitica and Other Writings by John Milton is published by Penguin Classics (£12.99). To order a copy for £10.39 go to guardianbookshop.com or call 0330 333 6846. Free UK p&p over £10, online orders only. Phone orders min p&p of £1.99