A trajetória do Real é sem dúvida alguma um sucesso, mas apenas no contexto da economia brasileira do último meio século, quando seis moedas se sucederam em curtos intervalos.
Pessoas, movimentos e partidos se posicionaram contra o plano e contra vários de seus mecanismos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Teve gente que chegou a acusar o plano real de "estelionato eleitoral", numa enorme demonstração de má-fé e de torcer pelo quanto pior melhor (para certos movimentos).
Felizmente, ele se sustentou, mas voltamos a enfrentar os mesmos problemas que existiam nos anos 1980: pressão sobre os preços de bens correntes e demandas repetidas por aumentos salariais, o que transformaria o Brasil novamente no país da inflação.
Esperamos que não seja preciso voltar atrás.
Paulo Roberto de Almeida
Plano Real faz 19 anos com tomate 1.716% mais caro
Preço das tarifas de ônibus urbano foi outro grande vilão, com alta de 684%; em São Paulo, valor subiu de R$ 0,50 em 1994 para R$ 3 atualmente
30 de junho de 2013 | 22h 58
Alana Martins e Juliana Karpinski, especial para o Estado
SÃO PAULO - Famoso por ter conquistado a tão sonhada estabilização da economia brasileira, o Plano Real completa 19 anos nesta segunda-feira, dia 1. Criado em 1994 pela equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, durante o governo Itamar Franco, a nova moeda conseguiu o que vários outros planos econômicos não alcançaram: debelar a hiperinflação.
Segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Weller, especialista em História Econômica, o êxito do Real se deve a três questões principais: liberalização comercial, câmbio estável e desindexação.
A liberalização comercial foi basicamente uma grande abertura do país ao capital estrangeiro. A medida veio acompanhada de uma taxa de câmbio estável, aumentou a concorrência aos produtos brasileiros e pressionou os preços para baixo.
Já a desindexação da economia consistiu em reduzir mecanismos de repasse automático da inflação, como os gatilhos salariais, que não permitiam que os preços se estabilizassem.
A inflação chegou a 916,46% no ano de 1994 e foi estabilizada em níveis baixos nos anos seguintes, mas não deixou de existir.
Entre 1994 e 2013, a taxa acumulada, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 332,33%. Alguns produtos, como o tomate, que se causou polêmica nas listas de compras no início deste ano, está no topo da lista dos produtos que mais subiram de preço: segundo o IBGE, o aumento acumulado é de 1.716,2% nos últimos 19 anos.
O preço das tarifas de ônibus urbano foi outro grande vilão, com alta de 684%. Em São Paulo, a tarifa subiu de R$ 0,50 em 1994 para R$ 3 atualmente.
Nem um dos componentes principais da dieta dos brasileiros subiu menos que a inflação. O feijão-carioca teve variação de 785,9% desde a criação do plano Real. Neste período, o salário mínimo subiu de R$ 64,79 para R$ 678, uma elevação de 1046,45%. Para Weller, mesmo com as recentes altas da inflação, o país não corre mais o risco de passar por uma nova hiperinflação. Isso porque a economia do País está mais inserida no conceito de economia de mercado.
Entretanto, o economista assinala que os protestos que têm tomado ruas recentemente são o primeiro sintoma de perda da "ilusão monetária".
"As pessoas perceberam que o ganho do salário nominal (sem descontar a inflação) nos últimos anos está sendo corroído pela inflação. Houve uma queda no salário real. E isso foi percebido rapidamente", afirma.