O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Bakhmut. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bakhmut. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Ucrânia: derrota para o Grupo Wagner em Bakhmut - Raul Ilargi Meijer (Automatic Earth Blogger)

 War - NATO Beaten By "A Restaurant Owner & A Bunch Of Convicts"?

WEDNESDAY, MAY 24, 2023 - 12:00 AM

Authored by Raul Ilargi Meijer via The Automatic Earth blog,

In Bakhmut/Artyomovsk, all of NATO, all 31 member nations, were defeated by a restaurant owner and a bunch of convicts, is how I saw someone describe it. That of course caricatures the situation somewhat (Wagner is well-organized), but it’s not that far off. And that spells a serious problem for NATO.

All of those 31 members may have lots of control over their media, but in the end you can’t endlessly deny being defeated.

So what will NATO do now? They will double down, and then again. And at the end of the “doubling down road” lie nuclear weapons. Not Russian nukes, because as my friend Wayne wrote the other day, their high-precision hypersonic missiles make nukes look crude and primitive, Middle Ages territory. But NATO/US never developed such weapons. They spent 10+ times as much money on weapons, still do, and -comparatively – ended up with bows and arrows.

Nuclear bombs are good only to create widespread panic and destruction. But that includes your own destruction, because of Mutually Assured Destruction protocols. Which also go back almost as far as the bow and arrow. If you fire a nuclear missile, one very much like it will land on your head a few minutes later. End of story, end of you.

US/NATO, the “collective west”, the hegemon, has lost. And has missed the moment when that occurred. Because hegemon equals hubris. Look at what they’ve all still been saying, and you notice they can’t see, and can’t acknowledge, that -and how- the world has changed. Not just this weekend, and the 9 months before, in Artyomovsk. It’s the entire story of Ukraine: it illustrates how the West “lost it”.

The US plotted a coup and moved NATO’s borders east, and Russia reacted exactly how they said they would. No nukes, no nazis, no NATO. They got the last two, and know they can expect the first too. But still the west maintains Russia’s special operation was entirely unprovoked. Look, they’re not even listening anymore. They would like to negotiate and end all this, but negotiate about what? Putting AZOV back on the borders of the Donbass, so they can kill more Russians there? Not going to happen.

It’s not only about weaponry, though that plays a major role: the hegemon can no longer make its demands based on military might. It’s been surpassed.

Nor can it make demands based on the dollar’s reserve currency status, and it caused that itself. Weaponization of the currency has backfired to the extent that de-dollarization has become a process that can no longer be halted.

The moment that Saudi prince MbS turned his back on “Joe Biden” is a milestone. Because once he did that, it was obvious many would follow. In central Asia, if you are Kazachstan or Uzbekistan, why on earth would you opt to go with G7/US/NATO instead of BRICS? Why go with the power that is waning, and not the one in ascendancy? Russia is your biggest neighbor, strongly connected to China which is building its BRI network in your region, and the nearby Arab states are about to join that network. Why would you link yourself to the G7? When you know all your neighbors do not?

Then there are the voices that say the US will push for a bigger and wider war, perhaps including American troops. First, because NATO is losing, and second, because it could mean American boots on the ground, and presidents don’t lose elections in wartime. I’ve said before, I would expect them to go with Polish troops first, possibly on Polish territory too. But the Polish don’t appear all that eager anymore. And neither would any other European NATO country. German and French and Dutch troops are in no shape for war, and in the US over 70% of potential troops are grossly overweight and/or handicapped in some other way.

Ukraine had perhaps the best boots on the ground force in Europe, financed and trained since 2014 by NATO, and they lost to a caterer and a loose group of hired hands. You’re not going to win that. Your only option is long distance weapons, missiles, planes, you name it. But NATO has no advantage in that over Russia. To put it mildly.

The sole thing that’s in your favor is that Russia doesn’t seek to destroy you. They want to live in peace and trade with you. Same thing for China. NATO equals unipolar. But the world has moved towards multipolar. Ergo, NATO is obsolete. Ukraine will never reconquer its “lost” territories, and Zelensky will move to some property in Italy or Florida, never to be heard from again, unless perhaps in his obituary. The deaths of some 300,000 of his countrymen will be on his conscience.

But also on that of all the “leaders” who have sent their second-hand armory to Kiev. They are just as responsible for all those deaths. The world has changed a lot in the past few years, and ignorance is no excuse if you are a “leader”, or a “Joe Biden”. Not even if you’re “just” a voter or reader. Those deaths will be on your head when you go see St. Peter at the gate.

PS: Don’t be surprised if “Joe Biden” sends US boots on the ground anyway. No hegemon has ever given up power lightly. That part of the road is yours, US and EU voters. You may have to fill up the streets like you’ve never seen. The rest, the majority, of the world will be waiting to see if you do or not. They’re prepared for either of the two options

terça-feira, 9 de maio de 2023

Guerra na Ucrânia – depois de Bakhmut (uma visão cética) - Michael G. Foeller, David H. Rundell (Newsweek)

 Guerra na Ucrânia – depois de Bakhmut


Bakhmut / Artemovs
MICHAEL G. FOELLER  &  DAVID H. RUNDELL*

A batalha sangrenta deixou a Ucrânia ferida e a Rússia em ascensão

Não há nada de patriótico quando um americano ergue uma bandeira ucraniana. Também não há traição quando um americano questiona o apoio ilimitado a uma nação estrangeira numa guerra estrangeira. Reconhecer que a Ucrânia não derrotará a Rússia sem uma intervenção americana muito maior não é algo pró-russo, mas pró-realidade.

Entre 2014 e 2022, houve uma violenta insurreição separatista no leste da Ucrânia. Para evitar a intervenção russa, o governo de Kiev construiu uma linha de cidades fortemente fortificadas e rotas de abastecimento ao longo de sua fronteira oriental. Bakhmut era uma importante plataforma de transporte nessa rede.

Há cinco meses, quando escrevemos que Bakhmut em algum momento cairia nas mãos dos russos, alguns leitores destas páginas zombaram de nós. Não sabíamos que a Ucrânia estava ganhando a guerra? Pois bem, os ucranianos defenderam-se de forma notável naquela que se tornou a batalha mais sangrenta do século XXI, mas a maior parte de Bakhmut, incluindo as linhas ferroviárias vitais, caiu. Demorou mais tempo do que esperávamos, mas esta derrota tornou ainda menos provável que a Ucrânia consiga restabelecer suas fronteiras de 2014 sem a intervenção direta das tropas da OTAN.

Quantas vezes ouvimos dizer que as tropas russas, mal treinadas, mal conduzidas e mal equipadas, muitas delas de mercenários e ex-presidiários, sofreram perdas espantosas e foram obrigadas a recuar do território que inicialmente capturaram? Tudo isto pode ser verdade. Isso não altera o fato de que agora a Rússia está preparada para tirar o máximo proveito da queda de Bakhmut quando chegar o tempo seco do verão.

Há sete meses, a Rússia mobilizou 300.000 reservistas e aproveitou esse meio tempo para treiná-los. Acelerou a produção de armamento e acumulou quantidades significativas de equipamento e munições. Centenas de milhares de tropas russas estão agora posicionadas no leste da Ucrânia, onde começaram a avançar em numerosos locais ao longo de uma frente de 724 quilômetros.

A Ucrânia, por outro lado, concentrou muitas de suas tropas mais bem equipadas e treinadas em Bakhmut, onde foram bombardeadas durante meses pela artilharia, mísseis e drones russos. Na batalha de Bakhmut, a Ucrânia perdeu milhares de tropas experientes que não podem ser substituídas por recrutas com algumas semanas de treino acelerado.

As armas ocidentais tornaram possível a defesa de Bakhmut. Repetidamente, o apoio da OTAN à Ucrânia elevou-se de mísseis Javelin e Stinger de curto alcance para baterias de mísseis HIMARS e Patriot de médio alcance, e para armas pesadas como tanques Abrams e veículos de combate Bradley. À medida que a maré da batalha se voltava contra os insuficientes e mal armados ucranianos, os defensores de Kiev no Ocidente não pararam para refletir sobre a forma como poderiam pôr fim a esta tragédia. Em vez disso, pediram a entrega de caças e mísseis de longo alcance.

Estas entregas de armas alimentaram a ira pública generalizada na Rússia e a convicção de que agora estão em guerra com a OTAN. A entrega de tanques alemães Leopard II resultou em manchetes em Moscou tais como “Os tanques alemães estão novamente em solo russo”, e até em editoriais afirmando que “O Quarto Reich declarou guerra à Rússia”. Não é preciso ser profeta para ver para onde essa escalada persistente está levando ou por que ela tem que parar.

Em última análise, não somos generais, mas entendemos de economia. Sempre nos pareceu extremamente improvável que uma nação com um PIB de 200 bilhões de dólares em 2021 e uma população de 44 milhões de habitantes pudesse derrotar uma nação com um PIB de 1,8 trilhão de dólares e uma população de 145 milhões de habitantes. E isto seria particularmente verdadeiro se somente a nação maior, ou seja, a Rússia, possuísse uma força aérea considerável, indústrias de defesa significativas e armas nucleares.

De acordo com as estatísticas do Banco Mundial, a Ucrânia tinha uma população de 44 milhões de pessoas quando a guerra começou, mas atualmente apenas metade desse número ainda se encontra em suas casas. Onze milhões de ucranianos fugiram para a Europa ou estão deslocados internamente. Vários milhões de ucranianos fugiram para a Rússia e outros milhões vivem agora em áreas sob controle russo.

No ano passado, a economia ucraniana registou uma contração de 30%, enquanto o PIB russo caiu apenas 3%. O rublo é hoje tão forte em relação ao dólar como era quando a guerra começou. O FMI prevê que, em 2023, o crescimento do PIB da Rússia ultrapassará os da Grã-Bretanha e da Alemanha. É evidente que as sanções ocidentais não destruíram a economia russa.

Enquanto a Rússia continua sendo largamente autossuficiente em alimentos, energia e equipamento militar, grande parte da infraestrutura da Ucrânia está em ruínas. Embora a Ucrânia tenha se tornado fortemente dependente da OTAN em armamento, tanto as reservas da própria OTAN como as antigas reservas de munições soviéticas da Ucrânia, de projéteis de artilharia e mísseis de defesa aérea, estão esgotando-se rapidamente. Nesta guerra de desgaste, o tempo não está do lado de Kiev.

Moscou encara qualquer presença da OTAN na Crimeia da mesma forma que Washington encararia os mísseis russos em Cuba ou uma base naval chinesa na Nova Escócia. Nunca foi realista esperar que a Rússia entregaria a Crimeia sem sofrer uma derrota militar decisiva. Agora, porém, os termos de paz que Kiev pode esperar tornaram-se ainda menos favoráveis do que eram há sete meses.

Do ponto de vista de Moscou, os referendos realizados em setembro de 2022 transformaram as províncias de Lugansk, Donetsk, Zaporizhia e Kherson em regiões da Federação Russa e, consequentemente, Moscou procurará agora obter o controle total delas. Em seis meses, a Rússia poderá muito bem ditar condições de paz ainda mais duras.

Os requisitos clássicos para uma guerra justa incluem uma possibilidade razoável de vitória. Enquanto uma geração de homens ucranianos está morrendo, a triste realidade é que a Ucrânia tem tantas chances de ganhar uma guerra contra a Rússia como o México teria de vencer uma guerra contra os Estados Unidos. Prolongar o conflito não vai alterar essa equação. Mais mortes de ucranianos e destruição da infraestrutura só traumatizarão ainda mais aquela sociedade. A menos que estejamos preparados para arriscar uma escalada significativa, que poderia muito bem envolver forças da OTAN lutando contra os russos, a melhor forma de assegurar a sobrevivência de um Estado ucraniano viável e independente é negociar um acordo agora.

*Michael Gfoeller é embaixador, membro do Conselho de Relações Exteriores. Serviu por 15 anos na União Soviética, na Rússia e na Europa Oriental.

*David H. Rundell é ex-chefe de missão da Embaixada Americana na Arábia Saudita. autor de Vision or Mirage, Saudi Arabia at the Crossroads (I. B. Tauris).

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Publicado originalmente no portal da revista Neesweek.