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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Brasil Paralelo: minhas duas interações com os arautos da "nova direita" - Paulo Roberto de Almeida

No momento em que se anuncia que os vídeos do "Brasil Paralelo" passarão a estar disponíveis na TV Educativa, que pertence ao MEC (sendo portanto decisão de governo), alguns observadores registram que eu já "colaborei" com esse grupo de produtores de audiovisuais que se situam numa das vertentes ideológicas do atual governo, ou seja, na direita (qualquer que seja a compreensão que se tenha desse conceito).
Aproveito para esclarecer que não tenho nenhuma identidade política, filosófica ou ideológica com tal grupo, passando então a esclarecer sobre minhas duas únicas interações com o grupo, enfatizando que elas foram feitas inteiramente no mesmo espírito de abertura ao diálogo que mantenho com quaisquer forças políticas ou ideológicas, da extrema esquerda à extrema direita, ou até reacionárias (como é o caso dos principais arautos do governo atual).
Cabe, em primeiro lugar, ficar claro de que não tomei parte em NENHUMA produção do Brasil Paralelo. Fui solicitado, em outubro de 2016, por um amigo, a dar uma entrevista sobre o governo Lula – que havia acabado de acabar, com a consumação do impeachment em agosto daquele ano –, o que fiz, de boa vontade, sem sequer saber exatamente quem seria, quem estava atrás daquele grupo do RS que me pedia a entrevista sem me conhecer direito, e que se dispôs a vir voluntariamente de Porto Alegre a Brasília. Nunca me recusei a dar entrevistas para estudantes, pesquisadores, jornalistas em geral, sem sequer indagar qual é a posição política ou ideológica desses interlocutores. Dei a entrevista e ela se encontra disponível em meu canal do YouTube (https://youtu.be/fWZXaIz8MUc).
Um ano depois, ou seja, em outubro de 2017, fui novamente solicitado a dar uma NOVA ENTREVISTA, sobre os temas da globalização e do globalismo, o que aceitei de boa fé. APENAS, e tão somente no próprio ato da abertura do canal online tomei conhecimento de que seria um DIÁLOGO sobre esses temas, tendo como parceiro na gravação Olavo de Carvalho, que quase automaticamente passou a me agredir gratuitamente, assim como toda a sua tribo, no seguimento desse debate, apenas por que NÃO ACEITEI suas premissas totalmente alucinada e conspiratórias, de que existiria um tal de GLOBALISMO interessado em destruir a soberania dos países (o vídeo desse "diálogo" está aqui: (https://youtu.be/6Q_Amtnq34g).
Eu só posso interpretar essa alucinação coletiva como sendo mais um dos lados demenciais desses grupos reacionários e delirantes.
Termino por dizer que esses dementes continuam influenciando a política externa desvairada do atual governo, e eu continuo a denunciar essas loucuras, em defesa da diplomacia profissional e da respeitabilidade do Itamaraty.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/12/2019

domingo, 17 de março de 2019

Chanceler do Brasil: entrevista (globalismo, nacionalismo, EUA) - Brasil Paralelo

Entrevista concedida ao Brasil Paralelo pelo chanceler atual, com uma transcrição não oficial mais abaixo. Compreende-se certa insegurança no ministro, ao buscar contestar tudo o que se fazia antes – um pouco como o PT fazia, negar qualquer crédito ao passado, e partir do zero, uma espécie de "Nunca Antes" da direita – e procurar palavras que revelem essa "novidade", daí as hesitações e repetições (que eu obviamente suprimi na transcrição abaixo), como já se tinha manifestado na sua "aula" no IRBr de 11/03/2019.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de março de 2019

(ENTREVISTA) Min Ernesto Araújo denuncia o GLOBALISMO e defende o resgate do NACIONALISMO


Brasil Paralelo

Publicado em 17 de março de 2019

Nesta sexta-feira entrevistamos o Min. das Relações exteriores: Ernesto Araújo.
O Ministro contou sua posição sobre Estados Unidos, China, Globalismo, Nacionalismo, Identidade Brasileira e muito mais.
Entrevista por Lucas Ferrugem Vídeo por Filipe Valerim
Acesso: https://www.youtube.com/watch?v=2Y1Nn6ZopMQ&feature=em-uploademail 


Destaques:
Pergunta sobre o que é o "ser político brasileiro".
EA: "Durante muito tempo o brasileiro não se sentiu representado pela política. Política foi identificada com coisas ruins. (...) A política andou pouco afeita aos valores dos brasileiros. (...) O ser político brasileiro era um ser alijado de si mesmo. Era uma desidentificação com a política, com o Estado, e sobretudo essa ausência da discussão do seu destino. Hoje uma das coisas positivas que veem acontecendo com a vitória da política é que as pessoas se reconectam com a política, com a discussão sobre os destinos da polis, e isso muito especialmente com a política externa."
"Essa era a área onde esse afastamento mais se manifestava. Durante muito tempo se pensou que o brasileiro não se interessava por política externa. Antes isso não motivava as pessoas. Hoje motiva. Agora voltou-se a falar de política externa. Muitas vezes com críticas, a grande imprensa criticando o que a gente faz, mas falando-se de política externa.
"Estamos voltando a discutir a inserção da nossa comunidade histórica no mundo, isso é uma coisa fundamental, estamos voltando a discutir o futuro da polis.
"Então o ser político brasileiro está voltando a existir. Em política externa isso é muito claro. Claro que eu preferia que alguns comentários fossem mais positivos, mas isso não é o problema. O importante é a discussão."

PRA: Parece-me que foi isso que eu tentei fazer, mas não foi muito bem recebido pelo ministro, que não admite críticas à sua política.

EA: "As pessoas [antes] não se interessavam por política externa porque ela era apresentada como pouco relevante para as pessoas. A política externa entrava assim um pouco pelo lado da política comercial, numa coisa muito imediata, da questão consular, que é importante também, mas muito compartimentada. Agora se está discutindo as grandes questões, as questões de valores, a nossa inserção no mundo, onde fica o Brasil diante desse debate entre nacionalismo e globalismo.
"Então no Brasil a política voltou a ser política e a política externa voltou a ser parte disso."

Pergunta: Isso sempre foi assim, ou a partir de certo momento os brasileiros passaram a se desinteressar pela polis?
EA: "Não, não é desde sempre, não. Eu acho que naquele início de século XIX, até a independência, e um pouco depois, naquela elite letrada, havia uma discussão. Olhando os documentos dessa época, é uma coisa extraordinária, haver um debate, dentro de uma sociedade que era tão precária. Havia um debate muito intenso, e depois no final do Império também, e depois no começo da República. E depois, havia alguns momentos em que era mais intenso de discussão de política nesse sentido.
"O período do Império é um período muito pouco estudado. Eu não sou especialista, mas eu acho que sei o suficiente para ver que há ali muito mais coisas do que normalmente se estuda. Depois no período dos anos 1930, há uma discussão sobre a brasilidade. [corte na gravação]
"Nós nos acostumamos também, nesse período de deserto intelectual [??], a viver só no presente, e isso também é um enorme empobrecimento do ser humano, do ser brasileiro no caso. Nós no Itamaraty precisamos contribuir para abrir esse poço da memória, e contribuir para trazer água do fundo desse poço. Nós fazemos parte desse jogo da memória.
"Hoje é como se nós tivéssemos um romance que começa na página 360, né?; você tem que ver tudo, conhecer os personagens, as coisas ficam mais vivas, ficam mais interessantes quanto teem essa dimensão.
"Então, eu procurei trazer essa ideia da Aletheia para o Itamaraty, e também usando a ideia do Ministério do Tempo, não é?; procurei trazer essa ideia do poço. (..) Sem isso você pode fazer uma certa política externa, fazer um pouco aqui, outro ali, mas é algo muito pobre, muito pobre, e as coisas podem fazer sentido dentre de uma história, de uma certa aventura.
"Quero passar essa ideia aqui no Itamaraty: você passa a ser mais eficiente, a trabalhar com maior prazer ao ver que você faz parte de um romance, de uma grande aventura.
"Outra coisa é tentar pensar a realidade como um todo, e não a compartimentação da realidade, que é uma tendência de toda a pós-modernidade, que no fundo vem desde os anos 1960, que é a compartimentação. Que é dizer: não, isso aqui é comércio, isso aqui é política, isso aqui é tecnologia, isso aqui é direitos humanos, aquilo lá... Isso é útil, mas a realidade é um todo. Acredito muito nisso. Procurar ver as conexões, fazer as analogias, pensar filosoficamente, e sobretudo perguntar, perguntar para a realidade, e saber ouvir as respostas, não achar que a gente já sabe.
"A atitude filosófica é fundamental. Não achar que você já sabe. E se questionar a si mesmo.
E se questionar dentro desse conceito de uma realidade integral. E onde a política externa está dentro disso, e parte da vida social, claro, o Brasil está no mundo e isso é decisivo.
"Uma terceira coisa é não ter medo. Existe muito medo, As pessoas hoje estão nascendo com medo. Medo. Isso é plantado, acho que pela mídia, pela grande mídia, não pela mídia alternativa, que é tão importante por isso. Qualquer coisa que você vai dizer vão te chamar de alguma coisa, que vc está fora do mainstream, que vc é maluco. Claro, isso vai implantando medo na cabeça das pessoas.
"E o medo paralisa, o medo limita. Então eu faço muito esse esforço para que as pessoas não tenham medo de falar e de pensar.""

PRA: Pois foi exatamente o que tentei fazer, inclusive fazendo críticas ao seu modo de fazer política externa, mas o ministro não gostou que eu não tivesse medo de pensar e de falar...

Pergunta: Existe algum país que o Sr. gostaria que nós conhecêssemos a história e aprendessemos mais a sua política, a política diplomática?
EA: "Certamente. Um país que tem uma história riquíssima e que a gente conhece pouco são os Estados Unidos. Podemos enriquecer muito a nossa percepção conhecendo a história americana, que tem momentos únicos. como a guerra civil americana, por exemplo. como todo o processo dos anos 1930, e o New Deal, e depois o pós-guerra, enfim, as correntes intelectuais e políticas americanas.
"Os EUA é [sic] um país onde a história está viva. acho que diferente da percepção que se tem da Europa. Acho que na Europa a história está renascendo, mas nesses últimos trinta anos, nos países europeus, centro de civilização, a história meio que morreu. E as pessoas deixaram de pensar, política também, um pouco como no Brasil. deixaram de se conectar com o seu passado. Nos Estados Unidos isso nunca aconteceu. A pessoas vivem a história, as pessoas vivem a sua aventura nacional de uma maneira muito presente, o debate político americano é extremamente vivo e rico, as pessoas estão sempre citando exemplos do século XIX, Roosevelt, etc.
"O Brasil também pode ser isso, esse país de uma história viva, é raro você ouvir aqui [como nos EUA] alguém se referir aos anos 1920, um político do passado, e tem no século XIX um cabedal enorme que poderia ser lembrado.
"Então acho que se poderia comparar os EUA com a Europa. A Europa com toda aquela sensação de superioridade intelectual que eles têm em relação aos EUA, eles durante muito tempo estavam jogando fora todo esse patrimônio histórico e vivendo numa coisa muito encaixotada, no presente, um presente muito limitado.
"Vários países europeus estão tentando recuperar isso. O ser político europeu está renascendo também, como no Brasil. A gente vê isso, vários países europeus estão tentando recupera isso, não só no Brasil; a gente vê isso na Itália, a gente vê isso na Polônia, na Hungria, na Áustria, na Espanha, agora. E em toda a parte tem isso, mas esses são os países onde a coisa se veja mais presente.
"É interessante observar essa reconexão das pessoas com a sua realidade política, que é influenciar no seu destino. Durante muito tempo se discutiam coisas menores – taxa de juros, etc. – mas não é isso só, isso também, mas não é isso só.
"E durante muito tempo: "Não pode discutir nada!". E essa recuperação vem junto com o passado histórico, a recuperação dos heróis, a recuperação... Heróis é um conceito extraordinário que se perdeu, não é?
"Então é importante olhar isso: a Europa era um caso muito interessante de sociedades que estavam completamente adormecidas, e que estão renascendo.
[corte na gravação]
   [Pergunta?: ]
EA: Cada vez mais podem olhar para o Brasil como de certa maneira algo que espelha eles. [?] Mas, no nosso caso certamente. É um espelho que alguém quebrou, alguém resolveu quebrar num certo momento. Nós estamos recompondo esse espelho.
"Então no nosso caso, essa recuperação de uma identidade acontece, em outros países também, mas nos Estados Unidos é uma coisa especial nesse espelhamento. Então, a aproximação com eles, e a aproximação conosco são parte do mesmo fenômeno.

Pergunta: Agora há pouco, o Sr. comentou que o nacionalismo ganhou uma acepção negativa na sociedade, e também comentou que o Bolsonaro seria o primeiro presidente nacionalista nos últimos cem anos. Gostaria que explicasse por que e qual o entendimento que faz da palavra.
EA: EU acho que o nacionalismo é uma concepção de nação no seu sentido etimológico, algo de nascimento. Você tem um corpo de pessoas que estão unidas no tempo também. Tem a questão das gerações. Não são só indivíduos que estão só num espaço físico. São pessoas que estão ali, seus ancestrais viveram ali, claro que você tem migrações e tudo isso, mas você tem de ter um núcleo que faça sentido para que vc possa falar de nação.
"Nacionalismo é reconceber a sociedade como nação, e não só como uma coleção de indivíduos, e também não só como indivíduos conectados simplesmente pelo Estado.
"Porque hoje é muito isso. A concepção de um Estado pós-nacional não deve ser assim. A nacionalidade tem de vir do fundo do tempo.
"A concepção do que deve ser a sociedade, isso é o nacionalismo. As sociedades não deveriam se basear muito nas leis, como dizia o meu pai; elas devem se basear na confiança. As leis são fundamentais, mas você não pode ter lei para tudo, para dizer para as pessoas como elas devem se relacionar.
"E o que acontece com essa fragmentação social dessa pós-modernidade? A sociedade deixa de funcionar baseada na confiança. E aí vc tem de apelar para o Estado.
"As pessoas não deveriam se conectar umas às outras só baseadas na lei; elas tem de se conectar com base na confiança orgânica. Então isso é visão de nacionalismo.
"É o anseio natural das pessoas de viverem numa comunidade orgânica, e não numa coleção de indivíduos.

Pergunta: Creio que o receio com o termo [nacionalista], principalmente. veio com a forte aproximação com os regimes totalitários do século XX, Então qual a diferença que o Sr. traça desse nacionalismo para os regimes italiano, alemão e até da Rússia?
EA: Eu acho que esses regimes totalitários eles no fundo apelaram para uma força muito profunda, que é a força do sentimento nacional, para chegarem ao poder, para se manterem no poder, e distorceram esse sentimento; eles de certa forma sequestraram esse sentimento. Coisa que eu falo muito: isso é muito da esquerda, ela pega uma coisa boa, transforma, perverte e transforma numa coisa ruim: por isso que eu digo também que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda. E isso deu um mau nome ao nacionalismo.
E por isso o repúdio a esses regimes, as pessoas jogaram fora o nacionalismo.
Essa é a grande tragédia. Não fazer a desassociação entre a ideia de nação dos totalitarismos tão trágicos da história do século XX.
Então esse é o nosso esforço, o esforço de outros países, é o de ter um nacionalismo que é democrático, estou certo de que se pode ter, porque essa sociedade coesa, orgânica, que o nacionalismo prega, é naturalmente democrática. Porque essa democracia que ele prega não é imposta, ela vem de baixo para cima: um povo que gosta de estar junto, ele vai ser naturalmente democrático.
"Por isso que o conceito de polis, lá atrás, também tem a ver com o nascimento da democracia.
"Então é isso: é preciso recuperar o nacionalismo dessa associação perversa com os regimes totalitários."

Pergunta: Eu queria saber como o Sr. enxerga o Brasil no mundo e como o mundo enxerga o Brasil, o que o Brasil significa no mapa de todo o globo? Qual é a sua visão?
EA: Eu já devia saber, eu já intuia, mas nesse período muito intenso que estamos vivendo, eu estou me dando conta como o Brasil conta no mundo. É impressionante. Abstratamente, a gente podia imaginar, mas que muita gente já não acreditava.
"Nos contatos que eu tenho feito, eu tenho visto como há uma expectativa enorme pelo que o Brasil vai dizer, a partir de agora, pelo que o Brasil vai fazer, uma expectativa enorme de que nós coloquemos o nosso peso, por exemplo, na questão da democracia na Venezuela, em todas as áreas, por exemplo, a favor de uma revisão de uma nova OMC, por exemplo, uma reforma da maneira de atuar da OMC, em todas as áreas; na hora do Brasil, [todos perguntam], o que que o Brasil vai fazer?
"Vivemos um período em que nós não nos dávamos conta do nosso peso. não é, onde achávamos que o Brasil não tinha capacidade de influenciar, que era só copiar, fazer só uma variações nas posições globais, no máximo isso.
"Então, o mundo vê o Brasil com uma importância gigantesca, inclusive isso tem a ver com as críticas que se fazem nos países europeus ao governo Bolsonaro, mas isso tem a ver com uma percepção do peso do Brasil; porque eles estão vendo que o Brasil está colocando o seu peso a favor de coisas que eles não gostam: a favor da nação, a favor de coisas que, no caso, a esquerda europeia detesta.
"Então é por isso que o governo Bolsonaro aparece de forma tão negativa em tantos órgãos da imprensa europeia, porque eles estão assstados, o Brasil assusta, o Brasil chega lá, e fala muito mais grosso do que a gente imagina que fala.
"Ah, mas será que a gente tem condições...?
"Tem, a gente tem condições de influir. Na nossa região evidentemente, mas fora da nossa região também, também, contatos em relação ao Oriente Médio, em relação ao que está acontecendo na própria Europa, na Ásia, em toda a parte...

Pergunta: Um termo que surgiu no debate público a partir de alguns influenciadores americanos, e aqui no Brasil através do professor Olavo de Carvalho, é globalismo, a denúncia do que seria o globalismo; que basicamente se resume em agentes de representação notável, com interesses de organizar órgãos supranacionais, que intentassem um governo global. O que o Sr. entende por isso, e o Sr. concorda com isso e que agentes seriam esses?

EA: Eu acho que isso é parte do globalismo. Eu acho que essa maneira de ver o globalismo é algo limitado. Apenas a tentativa de criar organizações globais. Eu acho que o mais grave do globalismo é na mente, no pensamento. O globalismo é perigoso porque ele é sobretudo um sistema de pensamento, ou de anti-pensamento. Eu vejo globalismo sobretudo como um processo pelo qual, a ideologia marxista, a partir do começo dos anos 1990, e sobretudo a partir dos anos 2000, penetra na globalização econômica e faz dela o veículo da sua propagação. Então, justamente através da globalização começa a entrar com a sua agenda em temas como ideologia de gênero, o ambientalismo distorcido e outros, e começa sobretudo a controlar o discurso, a controlar o discurso, a dizer o que vc pode dizer e o que vc não pode dizer. E cada vez o que vc pode dizer é menos, ocupa um menor espaço.
"Então, eu vejo mais o globalismo assim, aquela ideia que... o marxismo descobriu que não precisa mais controlar os meios de produção econômica, quando ele pode controlar os meios de produção de ideias, que é o que vinha acontecendo.
"E é através desse controle das ideias que essa corrente começa a capturar instituições, e começa a partir dessas instituições, tentar se, agir para diminuir justamente as identidades nacionais e as identidades pessoais também. Porque, no fundo é isso, parte do problema só é a diminuição das identidades nacionais, o fundamental é a diminuição das identidades pessoais também, o achatamento do ser humano, que a meu ver é o projeto marxista.
"Então não é questão de dominação mundial, quer que a ONU domine, não é isso. É a utilização de todos os instrumentos para a diluição da nação e o achatamento do ser humano. Isso é o que é realmente grave do globalismo.
"Claro que o globalismo remete a esses organismos multilaterais, mas não é só isso. Isso é um instrumento. As pessoas perguntam: "onde está o globalismo?"
"Não está em nenhum lugar. Ele é um sistema de anti-pensamento, que meio que começou a replicar sozinho na cabeça das pessoas. Porque ele é tão difícil de... Se fosse uma instituição, a central mundial do globalismo, então vc vai lá e toma. Mas não é isso.
"É como se fosse um vírus de computador que se espalhou na cabeça das pessoas.
"Como eu digo, então o globalismo, eu enxergo o globalismo como o pensamento marxista capturando a globalização; então a nossa ideia é libertar a globalização dessa captura.
"A globalização é uma coisa extraordinária, que permite tanta coisa, interação super democrática entre as pessoas, isso tem que ser preservado; então o que é preciso é, eu digo assim, o que aconteceu é que o marxismo sentou na cadeira de piloto da globalização, é tirar daí, e nós vamos sentar na cadeira de piloto.
"Nós, eu digo, quem tenta representar essa linha que vê o ser humano com uma dimensão mais rica, a nação como algo que tem de ser uma comunidade orgânica, etc. Nada contra a globalização, ao contrário, é libertar a globalização, para que que ela sirva ao ser humano.
"Isso tem a ver com o Brasil, muito claramente, precisamos de uma economia liberal, precisamos da abertura econômica; a economia fechada, sufocada e sufocante foi parte de um projeto de um país sufocado, de um país que deixava de ser nação.
"Acho que isso é fundamental, a esperança para nós, para o mundo, é a conexão de um pensamento nacionalista, conservador, na base, com uma economia liberal aberta. Essa é a filosofia humanista, liberal, e que tenha lugar também para a fé, que essa filosofia, essa visão do mundo, esteja no comando da globalização, e permita que a globalização seja algo para ampliar os horizontes do ser humano. Nós temos que quebrar o amálgama marxista liberal, que é o globalismo, e transformar isso num amálgama conservador liberal. Essa é a grande tarefa.

Pergunta: É interessante ver na sociedade o desaparecimento e o surgimento de novas palavras. Nos anos 1990 foi sumindo a palavra "moral" e foi surgindo a "ética". O que está por trás dessas palavras?
EA: Essa é a grande distinção que eu faço entre o nominalismo versus realismo. O projeto globalista é um projeto nominalista, pegar as palavras e isolá-las da realidade, e transformá-las em instrumento de dominação.
O que é a tolerância? Posso tolerar alguma coisa em nome de um bem maior. Isso é o realismo. O nominalismo é pegar a palavra e transformar isso em algo absoluto.
"Parte do nosso esforço é trazer as palavras de volta ao realismo. É absolutamente essencial ter uma visão realista, que não é o absolutismo da linguagem. Hoje tem uma série de correntes que vivem num mundo de palavras, como no mundo de Wittgenstein.

(33 minutos e 32 segundos)

Vídeo original neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=2Y1Nn6ZopMQ&feature=em-uploademail

domingo, 28 de janeiro de 2018

Balancos paralelos do lulopetismo economico e diplomatico, para o Brasil Paralelo - Paulo Roberto de Almeida

Esta entrevista foi feita em outubro de 2016, sem que eu soubesse exatamente a destinação ou uso que dela fariam os entrevistadores, de uma entidade até então desconhecida para mim, chamada Brasil Paralelo, mas eu estava atendendo um pedido e a recomendação de um amigo:
A política externa paralela do lulopetismo diplomático

Entrevista gravada em Brasília, em 14 de outubro de 2016, como depoimento ao Brasil Paralelo (https://www.facebook.com/brasilparalelo/), exibido online em novembro de 2016Os dados básicos sobre a entrevista foram consignados por mim no blog Diplomatizzando (15/10//2016: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/10/congresso-brasil-paralelo-como-refundar.html).

Inserido no canal pessoal no YouTube:  
https://www.youtube.com/watch?v=fWZXaIz8MUc 

Um comentário recente, levou-me a verificar os comentários anteriores:

19 comentários

Ae Paulinho um dos poucos economistas brasileiros que sabe economia kkkkk
Grato Nai Sei 123; na verdade não sou economista e não posso me apresentar como tal, embora tenha mestrado em planejamento econômico e tenha feito uma tese sobre o comércio exterior brasileiro, sendo ainda professor de economia política num curso de pós-grado em Direito; minha vertente é economia politica, como as aulas, e minha especialização está em políticas públicas e em relações econômicas internacionais.
Minha melhor entrevista ever...
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Paulo Roberto de Almeida - Por favor Professor, escreva um livro sobre os temas dessa entrevista.
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Pois é, eu já pensei nisso, mas o problema é a falta de tempo para fazer tudo. Eu precisaria parar com várias outras atividades, inclusive escrever no FB, para poder me dedicar à feitura de livros. Vamos ver se consigo me organizar...
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Sugestão de título: "a.C e d.C, antes e depois dos companheiros". Torço para que sobre tempo na sua agenda. Aguardo esperançoso.
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Esse conceito de AC e DC está em meus planos; vou ver se consigo fazer um texto em torno disso.
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Obrigado Professor. Se tornou uma grande inspiração no meio acadêmico para mim.
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Melhor analise do Brasil em uma entrevista que eu ja vi. Parabens.
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Obrigado por disponibilizar essa aula para nós Professor. O senhor é uma grande inspiração para mim e para muitos. Deus abençoe!!!
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Excelente entrevista, professor. Os anos Lula na diplomacia são muito comemorados, mas sem o devido equilíbrio. Sua exposição oferece um contraponto que certamente enriquece o entendimento histórico.
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Apoio a feitura de um livro sobre esse tema!
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cara - esse tipo de informação com essa qualidade tinha que ser divulgada pra todo mundo - em todas as escolas - em todos os meios!
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Excelente. Muito obrigado!

sábado, 6 de janeiro de 2018

Olavo de Carvalho: o estilo faz o homem - Paulo Roberto de Almeida

Com desculpas a meus poucos leitores por transcrever neste espaço material que de ordinário eu descartaria por completo, por não se enquadrar em nenhum dos critérios que normalmente sigo para selecionar textos merecedores de atenção, inclusive porque a linguagem chula pouco recomendaria tal transcrição (e não exatamente porque se trata de algo ofensivo à minha pessoa).
Mas, eu o faço justamente para revelar, se preciso fosse, métodos e táticas de um polemista muito mais conhecido do que este blogueiro, e que arremete com uma fúria raramente vista em todos os "debates" de que participei anteriormente.
Como diria Buffon, ao ingressar na Academia francesa, "o estilo faz o homem".
Aos que desconhecem a origem do "entrevero", creio que vale remeter a duas postagens minhas que esclarecem sobre o que está em jogo, sendo que a motivação original foi dada por um convite que recebi, em caráter INDIVIDUAL, do pessoal do Brasil Paralelo para uma ENTREVISTA, sobre os temas do globalismo e globalização.
Como é meu costume, preparei-me para a entrevista articulando um texto previamente, que em NENHUM MOMENTO menciona o Sr. Olavo de Carvalho, por eu simplesmente desconhecer que: 1) ele estaria presente nessa "entrevista", que acabou virando um estranho "diálogo";
2) ele faz parte desse grupo de pessoas que acredita haver uma conspiração entre poderosos para instaurar um governo mundial, ideia que eu remeto à categoria das teorias conspiratorias, que neste caso é defendida, sob o conceito de globalismo, por paranoicos da direita conservadora.
Meu texto original está aqui: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html
O que se seguiu, na confusão criada, eu resumi nesta postagem: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/um-debate-involuntario-com-olavo-de.html

Transcrevo, finalmente, o texto do sr. Olavo de Carvalho, que me parece, digamos assim, um Buffon dotado do seu próprio estilo. 
Não tenho outros comentários a fazer.
Os leitores tirarão as suas próprias conclusões.
Paulo Roberto de Almeida 
Blumenau, 6 de janeiro de 2018

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Globalismo: Paulo Roberto de Almeida desconhece o assunto no todo e nos detalhes
2 de janeiro de 2018 - 22:30:30

A resposta ao mesmo tempo ofensiva, sentimentalóide e mentirosa do Paulo Roberto de Almeida só prova uma coisa: o antipetismo é o primeiro e mais fácil refúgio dos incapazes.
*
Paulo Roberto de Almeida vende geladeiras mediante o argumento de que geladeiras não existem.
*
Se o globalismo não existe, a defesa das soberanias nacionais não pode lhe fazer mal nenhum, não é mesmo?
*
O mais safado artifício verbal do Paulo Roberto de Almeida é usar a palavra “globalismo” no sentido de “resistência ao globalismo”. A quem ele espera enganar com esse truque pueril?
*
O Paulo Roberto de Almeida carimba de mero falatório ideológico todos os livros que ele não leu.
*
Garanto para vocês: o Paulo Roberto de Almeida não tem nem a mais mínima informação indispensável para discutir o assunto. A ignorância dele nessa área aproxima-se da perfeição.
*
Esse sujeito acha que meio século de influências e pressões da ONU sobre os programas educacionais de dezenas de países são “invencionices da direita”.
Ele fala do “politicamente correto” como se fosse uma mera esquisitice de esquerdistas, não um código imposto ostensivamente por toda a mídia, todo o sistema educacional e toda uma constelação de empresas e fundações bilionárias.
Não posso discutir com um primário que não sabe nem o quer quer dizer a palavra “fato”.
*
Ele até se faz de coitadinho porque a entrevista virou um debate sem aviso prévio. Uai, eu também não fui avisado e não estou choramingando.
*
Nunca vi tamanho esforço para limpar um cu de elefante com cotonete.
*
Lee Penn, no livro “False Dawn”, reproduz meticulosamente todos os documentos, relatórios e atas de assembléias que atestam pelo menos meio século de esforços da ONU e de vários grupos bilionários para criar uma religião biônica mundial, “humanista”, da qual o cristianismo se reduziria a uma etapa preparatória já superada.
Paulo Roberto de Almeida NEGA OS FATOS com cinismo exemplar, ao mesmo tempo que revela ser, ele próprio, um adepto ou agente do projeto “humanista” alegadamente inexistente, falando de Cristo como Ele se fosse um mero precursor… do Paulo Roberto de Almeida:
“Cristo representou avanços no humanismo, mas alguns cristãos transformaram certos valores em dogmas.”
*
Ele já começou o debate no Brasil Paralelo me chamando de paranóico, e agora, no seu arremedo de resposta, acrescenta novos insultos. Vejo-me, portanto, no direito de declarar em público que considero esse sujeito, que antes, por engano, eu tinha em alta conta, uma das mentes mais mesquinhas e desprezíveis que tenho encontrado.
*
Quem apela a carimbos ideológicos infamantes e, gabando-se de detentor dos fatos, não cita UM ÚNICO que fundamente as suas opiniões, não é um interlocutor qualificado, é apenas um ridículo “poster boy” fazendo jus ao seu salário.
*
O globalismo, como o PCC, o Foro de São Paulo e o Mensalão, é mais um exemplo da certeza apodíctica do Teorema de Picágoras: Toda piroca, tão logo entra, se torna invisível.
*
Jesus deu sua modesta contribuição e foi superado. Caminhou sobre as águas, mas Paulo Roberto de Almeida, como todo mundo deve ter observado, já caminha sobre os ares.
*
“Humanismo” e “dogma” são duas palavras de cujo significado o Paulo Roberto de Almeida não tem A MENOR IDÉIA.
*
Há pessoas que tentam dizer merda, mas não conseguem. Só sai peido.
*
O “modus arguendi” do Paulo Roberto Almeida é o mesmo do Maestro Bagos: em vez de contestar o que eu digo, fala mal de partidos e grupos ideológicos que me são totalmente alheios, e acredita que assim refutou os meus argumentos. O Imbecil Coletivo só discute com o Imbecil Coletivo, não com pessoas de carne e osso.
*
Afinal, para que conhecer as idéias do Olavo de Carvalho, se para discutir com ele basta ter ouvido algum zunzum contra o tradicionalismo católico, o Partido Republicano, a Maçonaria, o Brexit ou os malditos judeus?
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Reduzir tudo a uma disputa entre escolhas ideológicas, negando formal ou informalmente a possibilidade de um simples confronto do verdadeiro e do falso, é a quintessência da estupidez moderna. Rotular o esquerdista de esquerdista ou o direitista de direitista é não dizer absolutamente nada.
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Desafio os Paulos Robertos de Almeida e similares a me mostrar um livro, um artigo, uma página onde eu tenha proposto ou defendido algum modelo de sociedade, alguma fórmula ideológica pronta, algum projeto de governo.
Ideólogo é a puta que os pariu.
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Todo aquele que usa os termos do debate político no sentido atual que têm na mídia, sem levar em conta a história da formação do seu significado, nem portanto as ambiguidades camufladas que ainda carregam, é um charlatão.
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Paulo Roberto de Almeida se pavoneia de cultor dos “fatos”, mas, quando lhe apontamos os títulos de um ou dois livros que expõem e documentam os fatos que ele precisaria conhecer para poder julgar o que estamos dizendo, ele se recusa a lê-los e, do alto do seu poder divinatório supostamente infalível, os deprecia antecipadamente como “Bullshit”. Ele tem, portanto, toda a razão ao declarar: “Minhas palavras se sustentam por si mesmas.” Para quê os fatos, se o mero apelo teatral à palavra “fatos” os substitui com vantagem?
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Nunca, na minha vida, tive a infeliz ocasião de debater com alguém que ignorasse tão completamente o assunto em debate quanto o Paulo Roberto de Almeida. Ainda estou chocado com a cara de pau com que esse cidadão opina sobre o que desconhece no todo e nos detalhes. Nem o Emir Sader chegou a tanto.
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Não li nem muito menos citei o livro do tal Walter Veith, nem muito menos falei em Illuminatti (já tendo, inclusive, contestado o valor descritivo desse termo). Só citei dois livros, INTEIRAMENTE COMPOSTOS DE DOCUMENTOS DE FONTE PRIMÁRIA: “The Deliberate Dumbing Down of America”, de Charlotte Yserbit, e “False Dawn” de Lee Penn. O Paulo Roberto de Almeida diz que não quer discutir com fundamentalistas e teóricos da conspiração, mas, na verdade, é só com eles que ele discute, porque, misturando fatos com especulações, eles dão a cara a tapa e são fáceis de desmoralizar. O que é supremamenta calhorda é, ao contestá-los, fingir que está contestando a mim e às minhas fontes, quando na verdade tudo o que fez foi fugir covardemente de nós mediante o recurso chocho do “boneco de palha”. Definitivamente, o Paulo Roberto de Almeida NÃO É SÉRIO.
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Não há canalhice maior, numa discussão, do que fugir ao confronto com o interlocutor mediante o expediente de contestar argumentos vagamente e aliás falsamente parecidos com os dele e, com isso, fingir que o derrotou. O Almeida usa e abusa desse truque sujo. Bate num fracote qualquer que encontrou pelas ruas e jura que o infeliz era eu.
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Estudar no Exterior não significa NADA. Mudar um burro de lugar não o torna inteligente.
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A única coisa que o Paulo Roberto de Almeida provou, de maneira cabal e definitiva, foi que só conhece o esquema de poder global pelas versões “pop” que encontrou no Youtube ou em blogs de ocultistas. É como o sujeito achar que demoliu o marxismo porque se saiu bem numa discussão com o Gregório Duvivier.
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Um dos objetivos mais claros e constantes do poder global em formação é diluir o cristianismo numa vaga e oca religião mundial “humanista”. É a religião do Paulo Roberto de Almeida, que ele ao mesmo tempo professa e diz não existir.