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quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Brilhante autonomia energetica do governo preclaro: dependencia do Imperio...
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Dissenso de Washington - livro de Rubens Antonio Barbosa
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Wikileaks Brasil-EUA:mas que injustica com a "Justica" brasileira...
Paulo Roberto de Almeida
Carta de embaixador dos EUA mostra preocupação com corrupção no governo Lula
Documento de diplomata americano foi revelado pelo site WikiLeaks esta semana
sábado, 20 de agosto de 2011
Wikileaks Brasil-EUA: o Itamaraty no meio do caminho
Por Marina Amaral e Natalia Viana
ePublica, 18/08/2011 06:00:26
Os documentos vazados pelo Wikileaks revelam como o serviço diplomático americano elaborou uma estratégia para (não) lidar com o ex-chanceler e hoje ministro da Defesa Celso Amorim, que chamavam de “esquerdista” . Ao mesmo tempo, a diplomacia dos EUA tinha Nelson Jobim como fonte e recebia apoio de integrantes do governo e das forças militares.
Aos olhos do serviço diplomático americano, em especial durante a era George W. Bush (2001-2009), a posição mais independente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) capitaneado por Celso Amorim parecia uma constante provocação.
Nos telegramas vazados pelo parceiro da Pública, o WikiLeaks, o MRE é visto “com inclinações antiamericanas” que impedem a melhoria das relações com o governo brasileiro e que tem, além de um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia) que aconselha o presidente Lula, um ministro “nacionalista” (Celso Amorim) e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães).
“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava em novembro de 2004, o embaixador do partido republicano John Danilovich, um dos dois diplomatas que receberam a embaixada em Brasília como “recompensa” por levantar centenas de milhares de dólares para a campanha presidencial de Bush.
Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou catequizar Celso Amorim sobre a ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava a toda a América do Sul. A resposta foi “clara” e “seca” na descrição do americano. “Nós não vemos Chávez como uma ameaça”, respondeu Amorim. “Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”, afirmou. O embaixador finaliza o documento em tom desapontado: o Itamaraty não “comprou” a ideia americana.
Sobel, o sucessor
Sai Danilovich entra Clifford Sobel, também republicano e ligado aos Bush. Sobel soube escolher melhor de quem se aproximar: do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, que virou interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE – compartilhada pelos EUA – em especial com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Jobim tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em benefício próprio. Em fevereiro de 2009, com Barack Obama presidente dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três telegramas com o significativo título de “Compreendendo o Ministério de Relações Exteriores do Brasil”.
Neles, pensava uma estratégia para contornar o triunvirato “esquerdista” que já incomodava os planos do seu antecessor. “Juntos com o presidente Lula, eles (Amorim, Guimarães e Garcia) têm puxado o MRE para direções inabituais e, às vezes, diferentes entre si”, pontua Sobel.
“Enquanto tentamos aprofundar nossas relações, a dinâmica ideológica faz com que o Itamaraty seja, às vezes, um parceiro frustrante”, assinala o embaixador, esperançoso com a aposentadoria próxima de Pinheiro Guimarães e com a possibilidade de influenciar os diplomatas mais jovens que ocupariam os futuros postos de comando.
O primeiro telegrama ainda trata da proximidade entre Amorim, “um esquerdista mais afeito às delicadezas diplomáticas”, e Guimarães “adepto de posições radicais como a de que o Brasil precisa de armas nucleares para se impor no cenário internacional”.
A indicação de Amorim para o cargo teria sido obra de Pinheiro Guimarães, ao contrário do que sugeriam suas posições hierárquicas. “Um diplomata aposentado contou a nossos conselheiros políticos que a influência e independência de Guimarães deve-se ao fato de ter sido o primeiro escolhido pelo PT para o MRE. Como ele achava que seu nome não seria aprovado pelo Congresso, indicou Amorim para o cargo e escolheu para si o posto de secretário-geral. Além de ligações familiares, a filha de Guimarães é casada com o filho de Amorim. Essa história explica sua autoridade desmedida e substancial autonomia”, fofocou o embaixador.
Escanteando o Itamaraty
O certo é que Sobel via o MRE como “um desafio” para os EUA. O jeito, sugeriu, seria fazer aliança com os setores privados, que têm “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo”, além de tentar uma aproximação direta com o presidente Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.
Essa é uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência dos agentes da Drug Enforcement Administration (DEA), a agência americana de combate às drogas, que foram expulsos da Bolívia no final de 2008.
As conversas com setores do governo brasileiro começaram em seguida do presidente boliviano Evo Morales expulsar cerca de 30 oficiais da agência, que centralizava a guerra contra as drogas, acusando-os de espionagem.
A DEA, de fato, faz parte do aparato de inteligência americano. Para realocá-los, Sobel evitou o caminho protocolar, que seria dialogar com Virginia Toniatti, diretora de crimes transnacionais do Itamaraty (COCIT), figura “geralmente resistente à cooperação com os EUA”.
Um relatório escrito pela conselheira da embaixada dos EUA, Lisa Kubiske, no final de dezembro de 2008, conta que Sobel discutiu o aumento do pessoal da DEA com Tarso Genro, então Ministro da Justiça e com o Ministro-chefe de Segurança Institucional, general Jorge Félix, além de debater de maneira “extensiva” com a Polícia Federal, que apoiou “completamente” a transferência.
“A embaixada evitou propositalmente pedir permissão formal para aumentar (o número) de escritórios (da DEA), já que (um pedido) não é estritamente necessário para aumentar a equipe em escritórios já existentes, e somente o MRE poderia garantir isso”, escreve Kubiske.
Isso porque esse tipo de requerimento teria que passar por uma nota diplomática por meio da diretora de crimes transacionais e, de novo, pelo secretário-geral do MRE e “ambos provavelmente atrasariam o pedido”.
Sobel explica que o Itamaraty, ao saber da estratégia, tentou evitar a vinda dos presumidos espiões da DEA. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes americanos, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o Ministro da Justiça”, explica, orgulhoso do feito. Segundo ele, a transferência também teve o apoio do governo boliviano.
De olho nos novatos
O segundo dos três telegramas da série sobre o MRE é dedicado à falta de recursos humanos e financeiros do Itamaraty que, diante do crescimento do papel internacional do Brasil, se expandiu entre 2003 e 2009, com a abertura, por exemplo, de 44 novas unidades administrativas em Brasília e 17 novas embaixadas brasileiras na África.
Para a diplomacia dos EUA o emprego de “trainees e terceiros-secretários” sem condições de acompanhar os movimentos de Lula no cenário internacional era vista com bons olhos. “É crucial influenciar essa nova geração de diplomatas que, embora nacionalistas, estão mais abertos a considerar que a cooperação entre EUA e Brasil pode coincidir com os interesses de seu país”, assinala o embaixador.
“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship. Acreditamos que uma proposta similar seria válida tanto para conseguir um posto que nos permita observar de dentro o funcionamento desse ministério-chave, como para fazer os diplomatas brasileiros entenderem como os EUA executam sua política externa”.
Seguindo a estratégia de contornar Amorim, o terceiro telegrama trata da “concorrência entre agências do governo”. De acordo com a análise de Sobel, embora o MRE continuasse a ser o líder da política externa brasileira, o crescimento internacional do país tendia a erodir seu controle à medida que os temas se expandissem.
A oportunidade americana seria facilitada diante da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros. “Muitos ministros se autocensuram, impedindo-se de estabelecer relações com outros governos sem a luz verde do Itamaraty”, lamenta, citando como exemplo o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
No entanto, alguns ministérios como o do Meio-Ambiente (à época chefiado por Carlos Minc) e, principalmente, o da Defesa “estabeleceram relações diretas” com a embaixada brasileira, comenta Sobel.
Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim estava ciente da oferta de Lula a Obama de buscar caminhos para contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente por meio do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado em dezembro de 2008 pela União Sul-Americana de Nações (UNASUL).
“Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países diretamente com a presidência do Brasil (sem passar pelo MRE) e que planejava falar com o presidente nas próximas semanas”, escreve Sobel.
Jobim também informou a disposição em envolver os militares na luta contra o tráfico de drogas nas fronteiras brasileiras. E contou que o presidente Lula teria lhe pedido que fosse ao México, a pedido do presidente Calderón, para discutir a colaboração entre os governos nesse tema.
“O Brasil hesita em empregar os militares no combate ao narcotráfico tanto por sua história como pela possibilidade de corrupção. O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro. A intenção de Jobim de trabalhar sem o Ministério das Relações Exteriores traz uma susceptibilidade burocrática adicional a complicada tarefa de conquistar o apoio das outras nações da América do Sul”, comenta Sobel
A compra dos caças
Tudo indica que no episódio das tratativas frustradas de compra dos caças F-X, Jobim e os líderes militares agiram também bem longe dos olhos do Itamaraty.
Os informes diplomáticos sobre a negociação se iniciam em 2004 e estão entre os mais reveladores e numerosos – cerca de 50 telegramas. A comparação entre o que dizem os representantes brasileiros em público e o que cochicham em particular é gritante.
A exceção, nesse caso, foi Amorim, que se posicionou abertamente pela compra dos caças Rafale, da França, tanto pela garantia de transferência de tecnologia feita pelo presidente Nicolas Sarkozy como pelo interesse estratégico na aliança com àquele país o que, para Sobel, se configura como disposição para “desafiar os americanos”.
Jobim, por sua vez, se comportava de maneira dúbia e confundia a diplomacia estrangeira. Em um telegrama intitulado “Brasil e França: amor verdadeiro ou casamento de conveniência”, o embaixador relata a visita da comitiva presidencial à França e à Rússia cujos objetivos “cada vez com mais detalhes” haviam sido confidenciados por Jobim antes da viagem.
“O encontro entre os presidentes Lula e Sarkozy e a visita do ministro Jobim à França desencadearam uma onda de francofilia na política externa brasileira, particularmente em relação a uma parceria estratégica”, escreve Sobel em maio de 2008. “Talvez seja mais um ‘marriage blanc’ do que ‘amour veritable’”. Numa tradução livre, um “casamento de fachada e não amor verdadeiro”.
Sobel continua: “Nos encontros privados, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é a resistência do MRE. Ele diz que o governo brasileiro acha a aliança com a França mais conveniente politicamente e considera que o país tem mais a ganhar com a tecnologia americana”.
Em um telegrama de janeiro de 2009, pouco depois da eleição de Obama, Sobel conta ter sido convidado a ir à casa do então ministro da Defesa para um encontro privado. Jobim teria dito que as relações de defesa entre Brasil e França prosperaram por causa da relação pessoal entre os presidentes Sarkozy e Lula, mas que o presidente brasileiro estaria interessado em conversar sobre assuntos estratégicos com o novo governo americano.
Disse ainda que “Jobim acrescentou que Lula ‘usa’ o ministro Amorim, mas não tem uma relação forte com ele, e que o presidente não gosta de Samuel Pinheiro Guimarães”.
Sobel também se reuniu diversas vezes com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” e ouvir sua opinião sobre as chances dos caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que considera a oferta da Boeing o melhor negócio e vê as Forças Armadas americanas como a melhor escolha para uma parceria com o seu país”, escreve em telegrama de janeiro de 2009.
Durante um jantar oferecido ao comandante americano Doug Fraser, em julho do mesmo ano, o brigadeiro Saito teria puxado Sobel e seu conselheiro político de lado para discutir a aquisição dos caças. “Ele disse que não havia dúvida do ponto de vista técnico sobre a superioridade do F-18: ‘Há décadas voamos em equipamentos americanos e sabemos o quanto eles são bons e fáceis de manter’”.
Saito então pediu que o governo americano enviasse uma carta ao governo brasileiro se comprometendo a transferir tecnologia além de reiterar a importância da aproximação de Lula e Obama para o negócio.
Em outro telegrama, o embaixador conta ter obtido “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington) que “permite planejar os próximos passos para os EUA vencerem a negociação”.
Além de classificar o F-18 como uma aeronave testada em combate “com incomparável segurança e durabilidade”, e de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha da Aeronáutica, a informação mais importante obtida pelo documento é de que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se a companhia americana “tivesse a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.
Se os telegramas tivessem vazado anteriormente, seria embaraçoso para a Aeronáutica sustentar o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela Força Área Brasileira (FAB) ao ministro Jobim que colocava o caça sueco em primeiro lugar na preferência, exatamente por causa do preço e custo de manutenção.
Naquele momento, o documento foi interpretado pela imprensa brasileira como uma “derrota” do governo, nitidamente favorável ao caça francês, classificado em terceiro lugar, atrás dos americanos.
O relatório teria sido modificado dias depois por “pressão do Planalto”, de acordo com a imprensa, para melhorar a posição do caça francês, afirmando que, apesar dos suecos serem mais baratos, o Rafale e o F-18 têm tecnologia superior.
Haiti, exceção a regra
Pouco depois do lançamento dos documentos do WikiLeaks, Amorim minimizou as revelações, dizendo que “ou são irrelevantes, ou eu já sabia, ou tem um valor às vezes de fofoca”.
Quanto às críticas ao Itamaraty, disse que a instituição sempre foi vista com reservas pelos diplomatas estrangeiros, por ser “a primeira linha de defesa da soberania”. “Eles não gostam de tratar diretamente com o Itamaraty. Não são só os am ericanos, não. É qualquer diplomata estrangeiro”.
Durante sua gestão, no entanto, a exceção a regra que aproximou o Itamaraty dos EUA foi o Haiti. Amorim foi favorável ao envio das tropas brasileiras – e da subsecretária para assuntos políticos do Itamaraty, Vera Pedrosa, que ajudou a assegurar à embaixada americana que o Brasil iria agir, mesmo que tivesse que “dar um jeitinho”.
Segundo um telegrama de março de 2004, Vera explicou que tradicionalmente a interpretação é de que a Constituição brasileira só permite enviar tropas em casos previstos no capítulo VI do Estatuto da ONU, ou seja, em operações de manutenção de paz – enquanto o caso do Haiti se encaixava no capítulo VII, que significa uma missão de imposição de paz. Por conta do grande interesse político do governo brasileiro em participar, Vera teria dito que a situação é “manejável”.
Um ano depois, outro comunicado diplomático indica que Amorim insistiu, pessoalmente, junto a Danilovich, para que os EUA enviassem verbas para projetos humanitários que deveriam se seguir aos ataques “robustos” da Minustah (a força de paz da ONU) contra as gangues na capital do país.
Amorim teria dito ser necessário “contrabalancear reações negativas com uma mensagem forte que focasse na assistência e estabilidade que a Minustah e a comunidade internacional estão tentando trazer ao Haiti”.
Sob forte pressão americana, que chegou a pedir a cabeça do comandante das tropas brasileiras, Augusto Heleno Pereira, o Brasil engajava-se cada vez mais em ações contra rebeldes e gangues haitianas.
Em março de 2007, em reunião com o sub-secretário de Estado norteamericano William Burns, Amotim teria dito que o Barsil estava no Haiti em um “compromisso de longo prazo” e que “a experiência no Haiti tem sido um exemplo positivo de cooperação Brasil-EUA, apesar dos dois governos terem divergido em alguns aspectos específicos da missão”.
Depois do terremoto que devastou o Haiti, em janeiro de 2010, o ex-chanceler reclamou da presença de milhares de marines americanos, enviados para conter a situação de emergência. “A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, deve ser a única força estrangeira no país caribenho, assim que for superada a crise”, disse em entrevista ao diário espanhol El País.
Agora, como o novo ministro da Defesa, Amorim parece ter mudado de opinião. No dia 1 de agosto deste ano, defendeu a retirada das tropas brasileiras do Haiti. “Claro que não pode ser uma saída irresponsável”, disse, “mas não faz sentido (permanecer)”. E repetiu o discurso, já como ministro, na sua primeira reunião com os comandantes das Forças Armadas.
Atualmente, 2.160 soldados brasileiros homens trabalham em segurança interna no Haiti, atingindo um custo total de 1 bilhão de reais desde 2004.
Se o ministro Amorim cumprir seu desígnio é provável que uma das suas primeiras ações no Ministério da Defesa entre em choque com os intentos do governo americano, que sempre insistiram na permanência da ONU. Uma estreia e tanto.
(texto editado por Thiago Domenici)
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Wikileaks: Brasil-Colombia-EUA: entre dois imperios...
UOL, Thu, 17 Feb 2011 11:11:33 -0200
Em 15 de dezembro de 2004, entre as 17h30 e 18h (15h30 e 16h em Brasília), o então presidente colombiano Álvaro Uribe participou de uma reunião de alto nível no palácio presidencial com o então subsecretário-adjunto do Departamento de Estado dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Charles Shapiro, o subsecretário-adjunto para o combate às drogas Jonathan Farrar e o embaixador norte-americano em Bogotá, William B. Wood, além do diretor de temas andinos, David Henifin.
O fato é relatado em um dos documentos obtidos pelo Wikileaks aos quais esta repórter teve acesso. São despachos da diplomacia norte-americana que tratam das relações entre o Brasil e outros países sul-americanos. Em vários deles, a resistência de algumas nações em relação à influência brasileira é evidente, embora também haja quem a veja com bons olhos e como contraponto aos EUA.
Na época da reunião, Uribe estava há dois anos no cargo e empreendia a política que chamou de “segurança democrática”, para combater os grupos armados que atuam no país. A política, abertamente apoiada pelos EUA, fortaleceu o Exército do país e liberou estradas colombianas antes controladas pelas guerrilhas, empurrando os combatentes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional) para as montanhas.
O principal tema da reunião foi a ajuda norte-americana na luta contra as FARC. Uribe afirmou, na reunião, que os grupos armados não poderiam resistir mais que cinco anos à pressão militar. O presidente colombiano também se queixou de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. A certa altura a conversa chegou ao Brasil.
“Uribe disse que a sua relação com [o então presidente] Lula é complicada pelos esforços de Lula em construir uma aliança anti-EUA na América Latina”, relata o documento. Em seguida, Uribe afirma que o Brasil teria pretensões imperialistas: “Lula é mais prático e inteligente que Chávez, mas é levado pelo seu passado de esquerda e o ‘espírito imperial’ brasileiro a se opor aos EUA”.
O ex-presidente colombiano disse ter pouca influência sobre Lula ou Chávez porque eles o veriam como um amigo dos EUA. Mesmo assim, afirmou que continuaria a pressionar Chávez a tomar ações contra narcotraficantes. Afirmou ainda que Lula não cumpriu suas promessas de lutar contra o narcotráfico.
Conselho de Defesa Sul-Americano
Essa não foi a única vez que o alto escalão do governo colombiano reclamou do Brasil com diplomatas norte-americanos. Outro despacho, datado de 9 de maio de 2008, revela a desconfiança do ex-ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos (presidente da Colômbia desde junho de 2010) em relação à proposta de criação do Conselho de Defesa Sulamericano (CDS), defendida pelo Brasil.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Wikileaks Brasil-EUA: a insuperavel oposicao dos EUA ao programa espacial brasileiro
Enfim, nenhuma novidade nisso, apenas a confirmação do que já se sabia.
Paulo Roberto de Almeida
EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes
José Meirelles Passos
O Globo, 25/01/2011
Ainda que o Senado brasileiro venha a ratificar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas EUA-Brasil (TSA, na sigla em inglês), o governo dos Estados Unidos não quer que o Brasil tenha um programa próprio de produção de foguetes espaciais. Por isso, além de não apoiar o desenvolvimento desses veículos, as autoridades americanas pressionam parceiros do país nessa área - como a Ucrânia - a não transferir tecnologia do setor aos cientistas brasileiros.
A restrição dos EUA está registrada claramente em telegrama que o Departamento de Estado enviou à embaixada americana em Brasília, em janeiro de 2009 - revelado agora pelo WikiLeaks ao GLOBO. O documento contém uma resposta a um apelo feito pela embaixada da Ucrânia, no Brasil, para que os EUA reconsiderassem a sua negativa de apoiar a parceria Ucrânia-Brasil, para atividades na Base de Alcântara no Maranhão, e permitissem que firmas americanas de satélite pudessem usar aquela plataforma de lançamentos.
Além de ressaltar que o custo seria 30% mais barato, devido à localização geográfica de Alcântara, os ucranianos apresentaram uma justificativa política: "O seu principal argumento era o de que se os EUA não derem tal passo, os russos preencheriam o vácuo e se tornariam os parceiros principais do Brasil em cooperação espacial" ? ressalta o telegrama que a embaixada enviara a Washington.
A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que "embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil". Mais adiante, um alerta: "Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil".
O Senado brasileiro se nega a ratificar o TSA, assinado entre EUA e Brasil em abril de 2000, porque as salvaguardas incluem concessão de áreas, em Alcântara, que ficariam sob controle direto e exclusivo dos EUA. Além disso, permitiriam inspeções americanas à base de lançamentos sem prévio aviso ao Brasil. Os ucranianos se ofereceram, em 2008, para convencer os senadores brasileiros a aprovarem o acordo, mas os EUA dispensaram tal ajuda.
Os EUA não permitem o lançamento de satélites americanos desde Alcântara, ou fabricados por outros países mas que contenham componentes americanos, "devido à nossa política, de longa data, de não encorajar o programa de foguetes espaciais do Brasil", diz outro documento confidencial.
Viagem de astronauta brasileiro é ironizada
Sob o título "Pegando Carona no Espaço", um outro telegrama descreve com menosprezo o voo do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes, à Estação Espacial Internacional levado por uma nave russa ao preço de US$10,5 milhões - enquanto um cientista americano, Gregory Olsen, pagara à Rússia US$20 milhões por uma viagem idêntica.
A embaixada definiu o voo de Pontes como um gesto da Rússia, no sentido de obter em troca a possibilidade de lançar satélites desde Alcântara. E, também, como uma jogada política visando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Num ano eleitoral, em que o presidente Lula sob e desce nas pesquisas, não é difícil imaginar a quem esse golpe publicitário deve beneficiar. Essa pode ser a palavra final numa missão que, no final das contas, pode ser, meramente "um pequeno passo" para o Brasil" - diz o comentário da embaixada dos EUA, numa alusão jocosa à célebre frase de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na Lua, dizendo que seu feito se tratava de um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Wikileaks Brasil: contra-terrorismo na Triplice Fronteira
O problema apresenta interesse não tanto pelo conhecimento que se possa ter em relação ao que a Embaixada dos EUA investiga acerca do Brasil -- eles investigam absolutamente tudo, é óbvio, e falam com todo mundo, gregos e goianos, de esquerda e de direita, amigos e "inimigos" -- mas sobretudo pelo potencial desastre que essas revelações possam representar para a diplomacia dos EUA, de certa forma castrada em sua missão a partir de agora, sabendo-se que tudo o que eles investigam -- pelo menos até o nível confidencial -- pode vir a público em pouco tempo.
Como diplomata, só posso ficar preocupado com esse tipo de procedimento, pois isso diminui terrivelmente a capacidade de trabalho dos diplomatas.
Lamento sinceramente pelo que vem acontecendo, pois nenhum serviço de inteligência -- e a diplomacia é uma das formas de inteligência -- pode trabalhar decentemente se os seus produtos tiverem revelação pública. Não se pode, simplesmente, trabalhar nessas condições, pois ninguém, absolutamente ninguém, vai querer conversar com um diplomata americano (ou de qualquer outra origem, se o mesmo viesse a ocorrer).
O telegrama abaixo, como transcrito do Wikileaks, me foi sugerido por um leitor anônimo deste blog, provavelmente um diplomata ou um araponga (sem qualquer desprezo pela profissão).
Paulo Roberto de Almeida
Reference ID | Date | Classification | Origin |
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domingo, 14 de novembro de 2010
Uma alianca entre o Brasil e os EUA?: proposta de Moises Naim...
Na verdade, os establishmentos políticos e diplomáticos, nos dois países, são muito conservadores, de certo modo até reacionários, para considerar as propostas revolucionárias de Naim, sem mencionar o potencial protecionista em ambos os países.
Não creio que os conservadores-reacionários que estão no poder nos dois países empreendam a política que ele propõe. Mas que seria interessante, isso seria.
Só não sei se seria factível, inclusive por razões objetivas, que tem pouco a ver com o conservadorismo de lado a lado...
Paulo Roberto de Almeida
Dilma y Barack: una pareja irresistible
El País, 14/11/2010
Una sólida alianza de Brasil y EE UU puede transformar toda la región
Esa primera reunión entre Lula y Bush fue muy exitosa y el conservador estadounidense y el laborista brasileño sorprendieron al mundo con su muy cordial relación inicial. Pero no pasó nada más. No hubo ningún interés de la Casa Blanca en hacerle propuestas concretas a Brasil. Y afortunadamente, Lula no necesitó de Washington para impulsar el enorme progreso que registró su país durante su presidencia. Pero siete años más tarde, mi idea sigue siendo válida.
Una alianza sólida de Brasil y Estados Unidos puede ser una de las innovaciones geopolíticas más importantes de estos tiempos. Y quizá la más viable. No se trata de que los soldados brasileños vayan a morir en las arbitrarias guerras de los estadounidenses, o de que Brasilia se supedite a los dictados de Washington. Esos tiempos ya pasaron y Estados Unidos ni siquiera cuenta ahora con el apoyo incondicional de aliados tradicionales, como los ingleses o los canadienses. Se trata de llegar a una serie de acuerdos -muy posibles- sobre temas esenciales para ambos países y para el resto del mundo: de las relaciones comerciales al cambio climático, de las reformas de las finanzas y el comercio internacional a la proliferación nuclear o la manera en la que el mundo manejará las inevitables dislocaciones producidas por el creciente poder económico y político de China, India y, por supuesto, Brasil. Es obvio que ambos países deberán hacer concesiones y que a la superpotencia del norte y al gigante del sur no les será fácil aceptar algunas de las condiciones del otro. Pero de eso se trata. De entender que estos compromisos son un precio que vale la pena pagar por forjar una alianza que puede tener un enorme impacto positivo.
Mi propuesta, entonces, es que Dilma Rousseff, la próxima presidenta de Brasil, haga a Barack Obama una oferta tan atractiva que este no se pueda darse el lujo de rechazarla. Por muchas razones, Obama va a ser mucho más receptivo a esta oportunidad de hacer historia que su predecesor. Para los brasileños esto supone un cambio difícil: dejar de creer que lo que le conviene a los Estados Unidos es malo para Brasil. A veces es así, y los intereses de uno chocan con los del otro. Pero en muchos otros casos no. De hecho, los temas donde hay intereses comunes son más numerosos e importantes que aquellos en los que hay, y seguirá habiendo, diferencias irreconciliables.
Conozco bien la lista de las objeciones y obstáculos a esta propuesta. Y sé que sigue siendo una ingenuidad. Pero no es mal ejercicio que la próxima presidenta de Brasil piense con audacia en cómo revolucionar la relación de su país con EE UU. El potencial de bienestar y progreso que se desencadenaría si esta ingenuidad se transforma en una realidad es demasiado grande como para que Rousseff ni siquiera la imagine y la explore. El escepticismo a veces puede ser mucho más oneroso y cegador que la ingenuidad.
mnaim@elpais.es
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Brasil-EUA: o rato e o elefante - uma outra versao da historia...
Quanto ao caso em si, também está feita a retificação: parece que a submissão só foi até 2001: em 2002 já éramos valentes, quem diria?!
Talvez os diplomatas tenham sentido os ares da mudança e criaram coragem.
Nada como um candidato macho para induzi-los a agir, mesmo sendo submissos...
Lulismo: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância. Ou: de ratos e elefantes
Reinaldo Azevedo, 08.09.2010
Nem sempre a gente tem um exemplo tão claro, tão evidente, como no texto que vai abaixo, de como Lula, o Depredador de Instituições, seqüestra a história alheia, rouba para si o mérito de terceiros e ainda fala mal daquele que foi espoliado. E tudo com freqüente ajuda da imprensa. Leiam o que informa Fábio Amato na Folha Online. Volto em seguida.
*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que os EUA e a União Européia aprenderam a respeitar o Brasil depois de disputas comerciais travadas na OMC (Organização Mundial do Comércio) assim como um elefante “tem medo e se borra” de um rato.
A declaração foi feita quando o presidente discursava no evento de inauguração de um armazém de grãos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em Uberlândia (MG). De acordo com Lula, no seu governo o Brasil passou a “brigar” contra nações mais desenvolvidas e influentes, contrariando pensamento de seus antecessores que diziam que o país não poderia enfrentar economias como a dos EUA por que “são muito grandes.”
“Um elefante é daquele tamanhão, a tromba dele vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto de um elefante para ver como o bicho tem medo e se borra”, disse Lula, depois de relatar as disputas travadas pelo Brasil na OMC envolvendo temas como açúcar e algodão.
“Eu acho que o que nós fizemos foi dizer para os americanos: nós respeitamos vocês, queremos vocês como parceiro privilegiado nosso, mas nós queremos também ser respeitados”, declarou o presidente, completando que o mesmo recado foi dado à União Européia.
O presidente ainda disse que “o Brasil nunca teve condições de andar de cabeça erguida como agora” e criticou seus antecessores ao afirmar que, antes dele, o país era governado por pessoas com a “mente colonizada.”
Em novembro de 2009, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em até US$ 830 milhões em resposta aos subsídios concedidos por aquele país aos produtores de algodão. A medida determina que US$ 591 milhões sejam de produtos que terão a tarifa de importação reajustada e cerca de US$ 240 milhões em propriedade intelectual, que envolve marcas, patentes e direitos autorais que podem ser quebrados pelo Brasil.
A retaliação deveria ter começado em abril, mas foi adiada primeiro em duas semanas e depois em dois meses para que, a partir de um aceno americano com medidas paliativas, os dois países fechassem um acordo definitivo.Em junho, porém, o governo brasileiro decidiu suspender por mais dois anos e meio o processo de retaliação comercial a produtos e propriedade intelectual dos Estados Unidos, diante de um acordo provisório que prevê a diminuição até 2012 dos subsídios ilegais ao algodão.
Comento [Reinaldo Azevedo]:
Não estou culpando esse ou aquele, o repórter tampouco. Estou apontando um estado de coisas, caracterizando um tempo. Quem lê o texto acima na Folha Online, além de ser informado da boçalidade vocabular do “guia” de Elio Gaspari — com sua vocação para a escatologia —, imagina que a autorização dada pela OMC para o Brasil retaliar os EUA derivou de uma ação do governo Lula.
Pois é… Quem recorreu à OMC contra os subsídios que o governo americano dava a seus produtores de algodão foi… atenção!, O GOVERNO FHC. Aconteceu em 2002, e o julgamento definitivo só se deu no dia 2 de junho de 2008, com a autorização para a retaliação. Em vez de partir para o confronto, o governo Lula tem postergado a reação, tentando negociar, o que é o certo, diga-se — já escrevi aqui a respeito. Mas imaginem o que os “economistas” do PT não estariam dizendo agora caso fosse FHC a evitar “a punição” aos EUA. Seria acusado de se subordinar ao imperialismo.
Assim vai se construindo uma farsa, nos seus pequenos detalhes. Quanto ao “elefante” que “se borra” (ai, ai…) de medo do “rato”, dizer o quê? Desconstruindo a metáfora em si, é preciso deixar claro: Lula está veiculando uma mentira. O Brasil tem hoje, no comércio mundial, praticamente a participação que tinha em 2002: variou de 1,1% para 1,2%. O valor das commodities é que cresceu brutalmente, o que foi bom para nós, mas Lula não tem nada com isso.
Quanto à coisa em si, É MENTIRA QUE ELEFANTES TENHAM MEDO DE RATOS. Trata-se de um mito, pura expressão de ignorância. Alguém deve ter visto alguma vez o pesado animal tentando pisar na minúscula e ágil criatura e supôs tratar-se de medo. O primeiro registro dessa bobagem em livro é de Plínio, o Velho, na enciclopédia “História Natural”. Segundo ele, o ódio do paquiderme pelo bichinho é tal que chega a recusar o feno em que o rato tenha passado. Plínio também achava que os elefantes tinham respeito pela religião.
Lula deve imaginar que o elefante de fato teme que o rato lhe entre tromba adentro — provável origem dessa tolice, temor idêntico, na seara política, que o EUA teriam do Brasil. Huuummm… Lula bem que tentou “entrar na tromba” de Obama no caso do Irã e até de Honduras. E levou uma trombada que o jogou a alguns metros de distância.
O lulismo é isto: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância.
domingo, 18 de abril de 2010
2034) A diplomacia que diz nao: "agora nos podemos..."
De fato, é uma demonstração de independência, até de soberba e arrogância.
A menos que seja de outra coisa, cujo nome me escapa, exatamente...
“A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama”
Por Paulo Sotero (*)
Estado de São Paulo, 18.04.2010:
As diferenças cada vez mais evidentes entre o Brasil e os Estados Unidos sobre como proceder para convencer o Irã a honrar suas obrigações de signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear contêm os ingredientes para transformar-se numa “crise real nas relações entre os dois países, com consequências nocivas que levarão anos para serem revertidas”, disse um funcionário do governo Obama, após a conclusão da Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington, na semana passada. O desencontro de posições levou a Casa Branca a tirar o Brasil do roteiro preliminar de viagens internacionais do presidente Barack Obama em 2011, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o líder iraniano em Brasília, no final do ano passado.
As coisas só pioraram desde então. “A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama; não se trata de divergências como as do algodão ou a crise em Honduras, que podem ser tratadas em compartimento próprio, sem contaminar a relação.”
Na mesma linha, assessores legislativos manifestaram-se perplexos com o que um deles chamou de “a gratuidade” de certos gestos do Brasil, como o desprezo com que Lula referiu-se, em entrevista ao jornal espanhol El País publicada na véspera da cúpula, ao acordo de redução do arsenal de armas atômicas alcançado entre os EUA e a Rússia - o primeiro do gênero em duas décadas.
Ninguém entende tampouco em Washington a motivação do Brasil para assumir o papel de padrinho global do regime do iraniano na questão nuclear ou consegue vislumbrar o interesse brasileiro atendido por essa estratégia. “O Brasil entrou num jogo de altíssimo risco, no qual não tem fichas nem assento à mesa e suas chances de influir no desfecho são inexistentes”, disse uma fonte do governo. “Todos reconhecem o talento político de Lula, mas esse caso exige um milagre.”
O milagre provavelmente renderia o Prêmio Nobel da Paz a Lula em dezembro. Há quem acredite que esta seja a motivação do líder brasileiro. O pesadelo, considerado muito mais provável, pode começar no decorrer dos próximos 30 dias. Nesse período, Washington intensificará as negociações já iniciadas com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com vistas à adoção de novas sanções para forçar Teerã a negociar.
Reconsideração. Paralelamente, estará ocorrendo em Nova York a conferência quinquenal de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Finalmente, dia 16 , Lula chegará a Teerã para retribuir a visita que lhe fez em novembro o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. A esperança nos círculos oficiais em Washington é que Lula reconsidere a visita a Teerã e some o Brasil ao crescente consenso em favor de mais pressão sobre o Irã, que conta agora com a participação da China e da Rússia. Preocupados em não dar pretexto para Brasília passar a impressão de que sua posição em relação ao Irã contaria com o respaldo da Casa Branca, como ocorreu após a visita do líder iraniano ao Brasil, funcionários do governo dos EUA desestimularam uma solicitação de encontro entre Lula e Obama. Na rápida conversa que acabou ocorrendo - durante uma breve reunião entre Obama e o premiê da Turquia, Recep Erdogan -, houve tempo apenas para Lula ouvir o rechaço de Obama ao seu pedido de mais tempo a uma solução negociada da questão nuclear com Teerã.
O quadro adverso que agora se desenha na relação bilateral era uma hipótese na cabeça do embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, nos dias que antecederam sua partida de Washington, em fevereiro. “Os esforços das diplomacias do EUA, do Brasil e de outros países em relação ao programa nuclear do Irã serão julgadas não pelos processos usados, mas pelo resultado”, disse Shannon na época. O resultado que pode desarmar a crise requer, obviamente, uma dramática volta atrás por parte do Irã, que não parece ser contemplada nos cálculos de Ahmadinejad.
Os danos, no entanto, começam a aparecer. O pouco caso de Lula ao acordo sobre desarmamento entre os EUA e a Rússia custará a antipatia ao Brasil do senador Richard Lugar, republicano de Indiana e um dos defensores do tratado no Congresso, que era, até recentemente, um político empenhado em ampliar a cooperação entre os dois países, principalmente na área de energia renovável.
A declaração que o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, fez em Teerã sobre a disposição do Brasil cooperar com o Irã na produção e fornecimento de biocombustíveis foi instantaneamente reproduzida por boletins eletrônicos e blogs voltados para a indústria do etanol de milho nos estados do Meio-Oeste e, com toda probabilidade, virará munição para a defesa dos subsídios ao setor e ataques contra o etanol brasileiro.
Há, por fim, o momento escolhido para a visita da missão comercial brasileira a Teerã, ou seja, durante cúpula convocada pelo presidente americano. Ele foi recebido como uma provocação por setores do Executivo e do Legislativo - uma provocação desnecessária que deve ficar sem resposta, para sublinhar a disposição do governo Obama em relação ao Brasil nesses meses finais do governo Lula.
(*) É jornalista e analista ao Woodrow Wilson International Center For Scholars, em Washington
quarta-feira, 14 de abril de 2010
2104) Avatares da cooperacao militar Brasil-EUA: Marcelo Rech
Marcelo Rech
Inforel, 14/04/2010 - 15h52
A cada 15 dias pelo menos, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirma em algum evento que vai entregar “na próxima semana” o relatório final sobre a escolha do caça que vai integrar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB).
E que o presidente da República reunirá o Conselho de Defesa Nacional para bater o martelo.
Uma celeuma que parece não ter fim.
Às vezes o governo dá a entender que o negócio com a França está fechado. Outras, que os concorrentes têm chances.
Há momentos em que sinaliza com o encerramento da licitação sem definição alguma, copiando o governo tucano.
Na prática, esse negócio de uns US$ 4 bilhões tem sido costurado sem transparência alguma, sugerindo que interesses outros sejam determinantes para que o anúncio seja feito de uma vez por todas.
Ou não.
Depois de se distanciar dos Estados Unidos, de reclamar de sua presença militar na América do Sul e de confrontá-lo com um apoio incondicional ao Irã e a Cuba, o governo assina um pacto estratégico justamente neste campo.
Os Estados Unidos não terão bases à sua disposição, seus militares não gozaram de imunidades e eles não estarão permanentemente por aqui.
Ainda assim, trata-se de uma aliança que irrita a vizinhança, principalmente aqueles que não viram nada demais a Colômbia ampliar seus entendimentos com o Pentágono.
Aceitaram endossar as queixas de Brasília e agora se sentem enganados.
Isso sem contar Bolívia, Equador e Venezuela, que sustentavam seus discursos anti-Império tendo a postura brasileira como pano de fundo.
Se a Colômbia não podia o que faz pensar o ministério da Defesa que o Brasil pode?
Essa é uma das perguntas que Nelson Jobim terá de responder no dia 6 em Quito quando seus homólogos se sentarem na mesma mesa para discutir o assunto.
A exemplo da licitação dos caças, o tema foi muito mal conduzido.
Cheira a oportunismo, coisa de quem se acha melhor que os outros.
Enquanto diziam uma coisa em público, faziam outra em privado.
O acordo assinado em Washington constitui um poderoso instrumento jurídico que permitirá aos dois países detalhar como, quando e em que condições, a cooperação avançará.
Pesquisa e desenvolvimento, intercâmbio de informação militar, projetos e programas tecnológicos e comércio, na área de defesa não é o mesmo que em turismo ou esportes.
Para os Estados Unidos, esse documento é fundamental. Atende aos seus interesses estratégicos na região, mesmo que o Brasil insista em diminuir sua importância.
Se não tem relevância, por que assiná-lo?
O ministro da Defesa foi taxativo ao reconhecer que agora o Brasil está no jogo para vencer (a licitação da Força Aérea norte-americana) um negócio que pode chegar a 200 aeronaves Super Tucano.
Resta saber se o F-18 Super Hornet, fabricado pela norte-americana Boeing, também ressurge das cinzas no arrastado FX2.
Não fosse o lobby instalado no Congresso Nacional pelas empresas na disputa, seria um bom tema a ser investigado.
Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais, Estratégias e Políticas de Defesa e Terrorismo e contra-insurgência. Correio eletrônico: inforel@inforel.org
2103) Ironias da cooperacao militar na America do Sul: Venezuela vai romper relacoes com o Brasil, depois do acordo com os EUA?
O Brasil se limitou a "informar", ao que parece, seus sócios da Unasul e do Conselho, sem provavelmente transmitir o teor do acordo, que só foi assinado recentemente, e não envolve, como se sabe, bases militares americanas no Brasil, mas apenas cooperação logística, treinamento e formação e, mais importante, trocas comerciais e comércio de material bélico.
Uma diplomacia soberana poderia reagir assim a pergunta desse jornalista abusado: "exige resposta de quem, cara pálida?; Brasil é um país soberano, pode fazer acordos de qualquer natureza com qualquer país do mundo, e não tem de prestar contas, nem antes, nem durante, nem depois, a quem quer que seja. Estamos conversados. Ponto."
Seria simples assim.
O problema foi que a diplomacia soberana criou essa coisa chamada Conselho Sul-Americano de Defesa, que teoricamente recomendaria consultas, informação, troca de notas, reuniões de seu órgão pleno, ou seja lá mais o que for, para ser totalmente transparente, cooperativo, politicamente correto.
Foi assim pelo menos que o Brasil agiu quando dos acordos militares da Colombia com os EUA, praticamente exigindo que a Colombia revelasse todo o seu teor e "desse garantias" de que as bases e o acordo não seriam usados contra nenhum país da região.
Foi a partir desse acordo que Chávez rompeu relações com a Colombia e assinou acordos militares com a Rússia, não apenas os de compra de equipamentos, até hoje não revelados ao Conselho.
Curioso que a diplomacia brasileira jamais se pronunciou a esse respeito, embora os casos sejam relativamente similares, ainda que não envolvam, no caso dos acordos militares da Venezuela com a Russia, instalação de bases ou permanência de tropas russas na Venezuela. Mas se trata de compras maciças que, em teoria, desequilibram a relação de forças na região e em relação aos quais as FFAA brasileiras devem estar legitimamente preocupadas.
Talvez elas tenham recebido informações suficientes e completas, seja bilateralmente (e secretamente), seja via seus adidos militares em Caracas.
Mas que se trata de DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS, disso não cabe nenhuma dúvida.
Paulo Roberto de Almeida (14.04.2010)
Acuerdo militar Brasil – EUA: La región exige respuestas
Marcelo Rech
Inforel, 14/04/2010 - 14h45
El año pasado, Brasil ha liderado un grupo de países de la región para exigir garantías de Colombia y Estados Unidos acerca del acuerdo militar que firmaban en Bogotá.
Un acuerdo que permite el uso de siete bases militares colombianas por los 1.800 soldados norteamericanos que actúan en el país.
Hugo Chávez hizo del tema su principal argumento para comprar US$ 5 billones en armamentos de Rusia.
Pese el cuidado del ministerio de Defensa al informar el mes de marzo todos los países miembros de la Unión de Naciones Sudamericanas (Unasur), respecto las negociaciones, el asunto ha generado un tremendo malestar.
Colombia, por ejemplo, quiere saber sí Venezuela pretende congelar las relaciones con Brasil.
Es una ironía inteligente.
Ha sido una tradición que la Venezuela de Chávez rompa relaciones con los países que se animan fortalecer sus relaciones con los Estados Unidos.
¿Porque sería diferente con Brasil?
Hace poco, los departamentos de Defensa y de Estado, de los Estados Unidos han reclamado la falta de transparencia en las negociaciones entre Venezuela y Rusia.
El acuerdo Brasil – Estados Unidos se ha tornado público el momento que las negociaciones ya se habían concluido.
La semana pasada, el principal responsable de la política externa norteamericana para el Hemisferio Occidental, Arturo Valenzuela, realizó una gira por la región.
Desde Ecuador, afirmó que el acuerdo con Brasil era parte de la política ordinaria norteamericana y que el presidente Barack Obama, diferentemente de su antecesor, trabaja por el multilateralismo.
En la práctica, tenemos dos pesos y dos medidas.
El acuerdo que acaba de firmar con los Estados Unidos saca de Brasil cualquier posibilidad de exigir transparencia de sus vecinos.
Fue gestado bajo intereses comerciales.
Puede influir en la compra y venta de equipos militares sin que sepamos los niveles de entendimiento.
También atiende una antigua demanda de los militares brasileños que por buen tiempo quedaron alijados de las escuelas norteamericanas gracias las discordancias ideológicas de los gobiernos.
Cabe apuntar: ¿será que el Senado, tan duro con las políticas de Brasil hacia Irán y Cuba, cobrará explicaciones del señor ministro?
Marcelo Rech es periodista, editor de InfoRel y especialista en Relaciones Internacionales, Estrategias y Políticas de Defensa y Terrorismo y contrainsurgencia.
Correo electrónico: inforel@inforel.org