Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 16 de setembro de 2018
Acucar: uma novela em varios capitulos - Marcos Jank
sábado, 16 de novembro de 2013
Etanol nos EUA: batendo no muro. (WSJ)
POLITICS
Hitting the Brake on Ethanol
Government Proposes Easing Level of Corn-Based Additive Required in Gasoline
Hitting the Brake on Ethanol
terça-feira, 13 de agosto de 2013
O lobby do etanol na definição da política agrícola dos EUA - livro de Laís Forti Thomaz
quarta-feira, 20 de março de 2013
Miragem e tragedia do etanol brasileiro - Revista Piaui
Enfim, sem poder postar o artigo original (Piaui, março de 2013), posto um resumo muito fiel feito pelo Drunkeynesian, um economista sóbrio que finge estar borracho só para ficar parecido aos keynesianos (mas ele para de beber antes da inversão da Lei de Say).
Paulo Roberto de Almeida
The Drunkeynesian
Escritos (não muito sóbrios) sobre economia, mercado financeiro e afins.
Terça-feira, 12 de março de 2013
Etanol no Brasil
Clássico da aborrescência |
1. O governo federal incentivou a criação de uma bolha de investimento em etanol em 2007 / 2008, enquanto o preço do petróleo passava de $100/barril e parecia que ia ficar por lá.
2. O governo federal também passou bastante tempo alimentando a ideia de que "país bom é país onde todo mundo anda de carro", dando incentivo para montadoras e concessão de crédito. A frota aumentou rapidamente.
3. Passado um tempo, surpresa, surpresa - o preço do petróleo caiu e fez com que, no relativo, o etanol ficasse muito caro.
4. Mesmo com a recuperação do preço do petróleo, a Petrobras segura o preço da gasolina abaixo do preço internacional. O etanol segue sem competitividade.
5. O consumo de combustível explodiu, o país tem que importar gasolina. Fura a bolha do etanol, usinas quebram ou são vendidas por uma fração do que custaram.
6. O contribuinte acaba tendo que financiar tanto a salvação das usinas quanto o subsídio à gasolina.
7. Dá pra ler de vários jeitos, mas a história toda me parece um exemplo de livro-texto de como tentar passar por cima de um sistema de preços de mercado gera grandes distorções e má alocação de capital.
8. Em resumo, a gasolina precisa subir, e o álcool precisa se viabilizar como alternativa mesmo com a flutuação de preços de mercado ou ser abandonado. Triste para as nossas ambições nacionalistas, porém verdadeiro.
Esse é um resumo bem rasteiro, vale ler a matéria toda.
segunda-feira, 18 de março de 2013
Brasil: nao perde oportunidade de perder oportunidades...
De fato, o Brasil é um país que tem perdido muitas oportunidades, como revelado ainda neste artigo do maior cientista "energético" brasileiro, um homem com experiência e longevidade suficientes para confirmar tudo o que escreveu, inclusive a informação (que espero não estar errada) de que desde 1973 o Estado de São Paulo já apoiava a fabricação de motores flexfuel (ele devia ser secretário de tecnologia nessa época, talvez).
O fato é que o governo dos companheiros, depois de um repente de lucidez no comecinho, ao impulsionar a produção e exportação de etanol, e ao pretender transformar o Brasil no grande país das energias renováveis -- o que é o certo e já estava sendo feito anteriormente, ao ter o governo anterior colocado o programa do alcool combustível em corretas bases de mercado -- despencou, logo depois, para uma série de políticas insanas, ao estabelecer um programa totalmente irracional de biodiesel, misturando matriz energética e preocupações sociais (e ao impor uma lei sem qualquer sustentação econômica), e sobretudo a partir da descoberta das reservas do pré-sal, quando o governo finalmente descambou para a irracionalidade total, provocando a confusão que aí está em torno dos royalties, do preço da gasolina e muito mais, com suas diretrizes alucinadas em relação à Petrobras.
O Brasil está perdendo oportunidades, e pode se atrasar décadas, com prejuízos totalmente dispensáveis se a lucidez predominasse. Mas esse é um artigo raro em Brasília.
Paulo Roberto de Almeida
Uma oportunidade histórica perdida?
O governo brasileiro, em pleno regime militar, fez em 1975 uma escolha de grande sucesso, que foi lançar o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o único combustível, existente até hoje, capaz de substituir a gasolina em grandes quantidades, com as características que todos desejam: ser economicamente competitivo e renovável, isto é, sem os problemas que caracterizam os combustíveis fósseis.
O programa sofreu muitos tropeços ao longo dos últimos 35 anos, mas sobreviveu. E chegou a substituir 50% da gasolina que seria consumida no País se ele não existisse.
As expectativas de expansão da produção de etanol da cana-de-açúcar no Brasil sempre foram bem fundadas. Ele poderia ser exportado para os Estados Unidos, onde o uso do milho para produzir etanol não tem as vantagens econômicas e ecológicas do nosso álcool de cana. Tampouco dispõem de tais vantagens os países da Europa, que usam beterraba e outros produtos e nos quais o etanol é mais caro. Não é de admirar, pois, que esses países tenham adotado medidas protecionistas que impediram a conquista do seu mercado interno pelo etanol brasileiro.
Sucede que as barreiras adotadas pelos Estados Unidos já caíram. E as europeias vão acabar caindo também, porque simplesmente não há condições geográficas e climáticas para produzir grandes quantidades de etanol na Europa. O Brasil poderia, portanto, ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos.
Com a tecnologia existente atualmente, somente etanol produzido da cana-de-açúcar, em países tropicais, pode atender às necessidades de combustível renovável. Novas tecnologias, as de segunda geração, poderão mudar esse quadro. Isso, contudo, levará alguns anos. Até agora os trabalhos nessas áreas estão sendo testados em diversas plantas-piloto, que não se mostraram ainda economicamente viáveis e em alguns casos, até mesmo tecnologicamente inviáveis.
Além disso, a produtividade em litros de álcool produzidos por hectare da tecnologia em uso no Brasil tem aumentado sistematicamente em cerca de 3% ao ano desde 1980, o que é realmente extraordinário. Novos ganhos de produtividade são ainda possíveis. Não é preciso esperar pela segunda geração para competir.
Há, pois, uma janela de oportunidade para o etanol do Brasil e de outros países com clima adequado e terra abundante, o que significa, principalmente, a África abaixo do Saara e alguns países da América Latina. Apenas para dar um exemplo, a União Europeia acaba de sobretaxar a importação de etanol dos Estados Unidos - cerca de 600 milhões de litros por ano - para proteger sua indústria. Essa sobretaxa não se aplica ao Brasil, que poderia facilmente conquistar esse mercado.
Os países da Europa e os Estados Unidos acabarão por se render à evidência: produtos tropicais são produzidos nos trópicos, mas podem ser importados e comercializados pelas empresas europeias e norte-americanas. Isso é verdade desde os tempos da Roma imperial, 2 mil anos atrás, quando o trigo consumido na Itália, produto essencial para o Império, era produzido no Norte da África, que na época era bem mais fértil do que é hoje. Parte da riqueza do Império Britânico veio da produção de chá na Índia - que não era produzido na Inglaterra, mas era comercializado pelos ingleses.
Isso é o que deve acontecer com o etanol da cana-de-açúcar. Existem no mundo mais de cem países produtores de açúcar (usando cana), a maioria na África e na América Latina, e eles poderiam com relativa facilidade usar parte da produção de cana para produzir etanol. Aos poucos isso está ocorrendo na Colômbia, em Angola, Moçambique e vários outros países. Neles é que existe uma grande oportunidade de expansão e o governo brasileiro precisa acordar para ela.
Quando houver muitos produtores, o etanol se transformará numa commodity, como é o açúcar, e contratos de fornecimento a longo prazo - que são raros hoje - passarão a ser a norma. Para não perder a oportunidade histórica de liderar a adoção do etanol da cana-de-açúcar como substituto da gasolina no mundo o governo brasileiro precisa, contudo, remover com urgência os obstáculos que estão asfixiando a sua produção, no momento, como o congelamento do preço da gasolina desde 2007, o que viola as mais elementares regras de uma economia de mercado.
Que a Venezuela, que é um grande produtor de petróleo, o faça, em nome de beneficiar sua população mais pobre, é até compreensível. Mas importar gasolina a preços internacionais de hoje e vendê-la a preços de 2007 é irracional. E a Petrobrás está pagando caro por isso.
O Programa do Álcool no Brasil já enfrentou outros percalços no passado, como o de não ser capaz de abastecer os carros usando etanol puro - em motores especialmente construídos para tal no nosso país -, o que quase destruiu o programa quando o petróleo baixou de preço. O desenvolvimento de motores flexfuel, cuja introdução no mercado foi entusiasticamente apoiada pelo governo do Estado de São Paulo, em 1973, resolveu, todavia, esse problema.
As dificuldades que o setor enfrenta agora, entretanto, são de âmbito nacional e só o governo federal pode resolvê-las. Ao fazê-lo, ele estaria tomando uma decisão histórica: hoje mais energia renovável é produzida como o etanol do que com qualquer outra opção - eólica, fotovoltaica, geotérmica ou solar.
O programa brasileiro de etanol não representa o passado, mas o futuro.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Politica energetica companheira: do vinho para o vinagre (e piorando...) - Editorial Estadao
Enfim, sei que a piada é antiga, mas ela me veio espontaneamente, ao ler este editorial do provecto (e bota velhice nisso, conservador, além do mais, neoliberal, ao que parece) Estadão, um jornal decididamente implicante com os companheiros.
Mas, por que é que os companheiros se empenham tanto em estragar tudo o que tocam?
Se eles fizessem as coisas certas, os representantes do PIG, e o Estadão é um deles, não teriam nada a dizer contra eles. Ou será que estes argumentos, baseados em evidências, não valem?
Respostas para a Editoria do Estadão...
Paulo Roberto de Almeida
As usinas estão parando
Nos próximos dois ou três anos, 60 das 330 usinas de açúcar e de etanol da região Centro-Sul, que respondem por 90% da cana-de-açúcar processada no País, encerrarão suas operações ou serão vendidas, como mostrou reportagem do Estado. A previsão é da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Por dificuldades financeiras, pelo menos dez usinas não processarão a safra 2013/2014.
Desde 2008, quando começou a crise mundial, não se anunciou nenhuma decisão de instalação de novas usinas. Quatro unidades devem entrar em operação até 2014, mas seus projetos estavam decididos antes do início da crise. Em compensação, 36 usinas entraram com pedido de recuperação judicial e 40 foram desativadas. Só em 2012, o setor fechou 18 mil postos de trabalho.
A dívida das empresas do setor, no final da safra 2013/2014, deverá chegar a R$ 56 bilhões, R$ 4 bilhões mais do que o total apurado no final da safra anterior e pouco abaixo do faturamento projetado para as usinas do Centro-Sul, de R$ 60 bilhões.
É um quadro totalmente diferente daquele anunciado pelo governo, segundo o qual o Brasil se tornaria referência e líder mundial na produção de etanol de cana. Para provar isso, o Brasil precisou convencer os grandes países consumidores - os da Europa e os Estados Unidos, sobretudo - de que o etanol de cana-de-açúcar brasileiro era um combustível avançado e de alta produtividade. O acordo entre os governos brasileiro e americano foi um passo importante na consolidação da imagem do etanol brasileiro. O americano é produzido a partir do milho, e o uso intensivo desse cereal na produção de álcool impulsiona sua cotação internacional.
A crise mundial afetou a capacidade financeira das usinas brasileiras. Investimentos em novas unidades e ampliação das existentes foram suspensos, não foram plantadas as novas áreas necessárias, a produtividade caiu e o Brasil perdeu a condição de produtor de menor custo. A produção de cana e de álcool, que cresceu cerca de 10% ao ano entre 2004 e 2008, diminuiu no ano passado, enquanto a de veículos aumentou 3%.
O congelamento do preço do combustível no mercado interno, imposto pelo governo para conter a inflação, resultou em perdas severas para a Petrobrás e tornou o etanol ainda menos competitivo. As usinas adaptadas para isso passaram a produzir mais açúcar, cujo preço internacional é mais compensador do que o do etanol. A política do governo tornou mais grave uma crise que já era difícil para o setor, por causa de problemas financeiros e também da ocorrência de uma seca severa entre 2010 e 2011.
Ironicamente, essa crise se tornou mais grave justamente no momento em que, como o Brasil sempre reivindicou, as usinas brasileiras poderiam estar livremente abastecendo o mercado americano, pois, por problemas fiscais, o governo de Washington eliminou o subsídio ao etanol de milho e a sobretaxa sobre o etanol importado.
A correção do preço do combustível e o aumento de 20% para 25% do porcentual do etanol na gasolina tendem a melhorar a situação das usinas. Mas são medidas de curto prazo. O setor carece de segurança para investir, o que depende, entre outros fatores, de definição clara do governo sobre o papel do etanol na matriz energética, por exemplo.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Etanol deixa o governo bebado - Andre Meloni Nassar
Já era o governo das energias alternativas: agora é o governo das arrecadações recorrentes, e de políticas hesitantes, em ziguezag, como um bêbado, enfim...
A Obra e o Artista
* André Meloni Nassar
O Estado de S.Paulo, 18/07/2012
Não se julga uma obra pela vida do artista. Não são poucos os casos de artistas que fizeram grandes obras, mas tiveram vida pessoal conturbada, que não serviria de exemplo para a maioria das pessoas. Obras de arte falam por si mesmas. É claro que entender o contexto histórico em que o artista vivia, os rumos escolhidos por ele até chegar à obra fina, e até mesmo as experiências vividas pelo artista são fundamentais para se conhecer mais a fundo a obra de arte. No entanto, as influências, as escolhas pessoais, a vida amorosa, os amigos, as relações com a sociedade e até quem financiava o artista não são informações relevantes para se atribuir qualidade, inovação, sofisticação e profundidade a uma obra de arte.
É largamente aceito que Van Gogh se tenha suicidado. A vida sexual de Leonardo da Vinci sempre foi motivo de especulação. Diego Rivera foi famoso por suas inúmeras incursões na infidelidade. Cantores como Cazuza, Cássia Eller e Renato Russo viveram com tamanha intensidade que eu, embora os ouvisse o tempo todo, não recomendaria à minha filha conhecer mais a fundo a vida deles.
Quando vejo, no entanto, uma réplica de Quarto em Arles e da Mona Lisa, uma foto do mural no Palácio Nacional na Cidade do México, ou quando ouço O Nosso Amor a Gente Inventa, O Segundo Sol e Que País é Esse?, não fico pensando nos artistas, apenas nas suas obras.
Será que podemos extrapolar a máxima de que não se deve punir uma obra de arte porque se julga inadequada a vida do autor? Seria correto um governo punir um produto com evidentes benefícios sociais e ambientais porque não está satisfeito com os empresários que atuam no seu mercado? É isso que está acontecendo com o etanol de cana-de-açúcar no Brasil.
Existe uma posição consolidada em setores do governo brasileiro que julgam que o problema da escassez de cana-de-açúcar no País e, consequentemente, da baixa oferta de etanol hidratado são fruto da escolha dos empresários do setor, que, oportunisticamente, investem aquém do necessário, à espera de benesses políticas. Essa visão levou o governo - diante de uma crise que já se desenhava em 2009 e atingiu seu ápice no ano passado - a esticar ao máximo a capacidade de resistência do hidratado no mercado de combustíveis líquidos.
A última decisão foi eliminar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) que incidia sobre a gasolina, o único incentivo tributário que ainda conferia ao etanol hidratado alguma capacidade de competir nos postos com o combustível fóssil. No mínimo, deixando de lado os benefícios ambientais do etanol, o incentivo tributário deveria existir para equilibrar o diferencial de energia, uma vez que o consumo do hidratado é maior que o da gasolina no motor dos automóveis.
Os carros flex foram lançados no Brasil em 2003. Na ocasião havia uma certa divisão de opiniões no setor quanto aos reais impactos dessa tecnologia na produção futura de etanol e no crescimento da indústria sucroenergética. No lançamento dos carros flex, a experiência do setor era de estagnação da produção por vários anos, já que os carros 100% movidos a etanol hidratado praticamente haviam desaparecido das vendas. Não havia dúvidas de que os carros flex criariam um novo mercado para o hidratado, mas os riscos de produzi-lo e vendê-lo para automóveis flexíveis eram percebidos como mais altos do que vendê-lo para carros dedicados. Embora as perspectivas de demanda fossem favoráveis, o setor sabia que o acesso a esse novo mercado implicaria competir diretamente com a gasolina.
De 2003 até hoje muita coisa mudou. A partir de 2005 o preço da gasolina nos postos ficou praticamente constante em termos nominais, a Cide efetiva sobre a gasolina caiu de um patamar de R$ 0,28 por litro para zero e os custos da produção de etanol aumentaram entre 40% e 50%, também termos nominais. Se no passado o hidratado conseguia chegar aos postos a preços 70% inferiores aos da gasolina, e ainda remunerar os investimentos e pagar os custos de produção, essa situação inexiste na realidade de hoje.
Com a chegada dos carros flex, o consumo de etanol atingiu seu pico no mercado de veículos de ciclo Otto (movidos a gasolina ou etanol) em 2008 e 2009, com participação de 41% (descontando o menor conteúdo energético do etanol). Mas desde 2010 essa participação passou a despencar e deverá chegar ao fundo do poço este ano, com 29%, ou seja, voltando aos níveis do início das vendas de carros flex, embora a frota de veículos flexíveis seja hoje 55% do total. Boa parte dessa redução é explicada por dois anos de queda na produção de cana-de-açúcar, reduzindo fortemente a oferta dos seus produtos finais (açúcar e etanol).
Não há dúvida de que faltam investimentos no setor para permitir uma rápida recuperação da produção de cana, dado que este ano vamos produzir, grosso modo, o mesmo que se produziu em 2008. Mas atribuir esse fato unicamente ao comportamento oportunista dos empresários revela que este governo esqueceu que o etanol é mais importante do que os empresários que o produzem.
Os governos passados, pelo menos, entendiam que o etanol é importante para garantir segurança energética. Os volumes crescentes de importações de gasolina e etanol indicam que a insegurança parece não incomodar mais nossos políticos. Nem os passados nem os presentes entenderam que o etanol é o único produto capaz de reduzir consideravelmente as emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes. Além disso, o etanol de cana é a grande alavanca para tornar viável a enorme fronteira de novas tecnologias de produção de energia renovável, que para se desenvolverem no Brasil precisam de um setor sucroenergético em crescimento. Pelos benefícios ambientais e pelos efeitos em cadeia da inovação no mundo dos combustíveis do futuro, o governo deveria ter mais cuidado com o etanol.
* DIRETOR-GERAL DO ICONE (WWW.ICONEBRASIL.ORG.BR)
domingo, 17 de junho de 2012
Energia no Brasil: do verde ecologico ao preto fossil Xico Graziano
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Brilhante autonomia energetica do governo preclaro: dependencia do Imperio...
Brazil to Become Net Importer of U.S. Ethanol, Czarnikow Says
domingo, 16 de outubro de 2011
Autonomia nacional em energia: Sumiu? - a fabula do petroleo e do etanol...
Tudo o que diz o autor é verdade, mas nem tudo pode ser atribuído a um único homem, inclusive porque se trata de alguém que nunca leu, nunca estudou, e que possui uma inteligência apenas intuitiva, o que não quer dizer que acerte em todas as suas recomendações.
No caso da energia, o Sr. Luiz Inácio errou muito, mas muito mesmo. Mas ele não errou apenas por pretender fazê-lo, voluntariamente. Foi mal aconselhado. Os principais culpados da tragédia brasileira em energia foram seus conselheiros nessa matéria, em primeiro lugar a que agora ocupa a presidência.
Esse pessoal impôs um alto custo ao povo, isso é verdade, mas sobretudo impôs distorções tremendas à matriz energética do país, e à própria economia, cometendo erros que vão pesar anos e anos à frente, com os vieses estatizantes, e anti-capital estrangeiro que caracterizam sua (ausência de) racionalidade econômica, de fato, uma total falta de pensamento econômico mais elaborado.
De fato, pagamos muito caro pela nossa gasolina e ainda importamos. Pagamos muito caro pelo nosso etanol e ainda importamos. Existem diversas razões para isso, não apenas atribuíveis ao cérebro deformado do Sr. L.I, mas o sentido geral das políticas estatizantes e autonomistas foi ele quem determinou. Esse Senhor fez muito mal ao Brasil, e vai continuar fazendo, infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Progressos energeticos brasileiros: nova matriz energetica mundial...
Paulo Roberto de Almeida
Recordar é viver
Coluna Carlos Brickmann, 30/08/2011
1 - O presidente Lula anunciou, num dos sucessivos relançamentos do programa do álcool, que o Brasil estava mudando a matriz energética mundial.
2 - O Governo brasileiro proclamou que a sobretaxa americana sobre a importação de álcool visava impedir que o nosso álcool, feito de cana, de maneira mais eficiente, prejudicasse o antieconômico álcool de milho dos EUA. Nosso álcool atingiu o preço mais alto desde que passou a ser monitorado, em 2002.
3 - O presidente Lula anunciou a autossuficiência do Brasil em petróleo.
Esqueçamos a lembrança dos bons tempos e falemos sobre o que ocorre hoje. O Brasil decidiu reduzir a mistura de álcool na gasolina por falta de álcool. Aliás, está importando álcool americano em grandes quantidades. O problema é que, com a redução da mistura, será preciso importar gasolina, já que o Governo autossuficiente não tem capacidade nas refinarias para aumentar a produção.
Amanhã vai ser o mesmo dia
Segundo informa o ministro das Minas e Energia, Édison Lobão, as medidas adotadas são de longo prazo, já que nada indica que a produção de cana e de álcool do ano que vem sejam maiores que a atual. Como dizia Delfim Netto, se o Governo comprar um circo pode ter certeza de que os anões vão crescer.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Diplomacia soberana e altiva, preservou relacoes com vizinhos...
A História sempre dá voltas, e costuma pegar as pessoas por trás. O Wikileaks acelera um pouco esse processo...
Paulo Roberto de Almeida
Parceria com EUA sobre etanol opôs Dilma Rousseff e Itamaraty, revela Wikileaks
Redação SRZD | Nacional | 11/01/2011 10h49
Um telegrama da representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil divulgado pelo site WikiLeaks revela que o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) vetou a entrada da Bolívia e da Colômbia em um projeto de cooperação firmado entre brasileiros e americanos há quatro anos para a promoção do consumo de biocombustíveis. A negativa pôs a pasta e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (autora da sugestão), em oposição.
De acordo com o documento disponibilizado pelo site, o agora ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a debater a ideia com seu colega da Bolívia, presidente Evo Morales. Mas a diplomacia brasileira vetou a ideia de Dilma por temer a reação de outros países da América do Sul diante de uma parceria com os Estados Unidos.
O telegrama revela que a então ministra relatou ao embaixador Clifford Sobel que Morales "pareceu receptivo" depois de ter sido informado da sugestão por Lula. Procurada pela imprensa, a assessoria de imprensa da Presidência informou que a presidente não comenta fatos relacionados ao WikiLeaks.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Etanol: protecionismo e livre comercio - artigo de opiniao
Mas o Brasil já foi protecionista e subvencionista no passado. Hoje não é mais porque não há mais necessidade, mas para isso foi preciso adotar soluções pró-mercado na agricultura. Poderia fazer o mesmo com a indústria, do contrário ela vai ser sempre dependente das generosas tetas do governo. Os industriais -- não todos, claro -- são drogados em ajuda pública, em suas diversas formas: tarifas protetoras, subsídios, capital subsidiado do BNDES, etc. Está em tempo de acabar com a festa, o que parece não vai acontecer...
Paulo Roberto de Almeida
Impacto da política de etanol dos EUA no Brasil
É muito importante que o Brasil aproveite o arrefecer do apoio público americano no que diz respeito ao subsídio aos biocombustíveis. Redundância e custos orçamentais elevados (além do fato de que o subsídio aumenta o consumo da gasolina com o mandato) não são os únicos fatores para que os políticos hesitem em estender o crédito fiscal; outras razões incluem a crescente incerteza sobre os proclamados benefícios ambientais e a publicidade negativa, pois os biocombustíveis são vistos como os primeiros culpados da alta de preço das commodities em 2008. Com o preço recorde do milho e preocupações com a inflação gerada pelo custo dos alimentos, os melhores dias do etanol de milho em receber subsídios e proteção podem ter ficado para trás.
Um subsídio ao produtor custando mais de US$ 6 bilhões por ano permitiria ao Brasil agir como no caso do algodãoA fim de reforçar o seu propósito, o Brasil deve enfatizar que o seu etanol de cana de açucar é muito mais benéfico ao meio ambiente e tem menor impacto nos preços dos alimentos. A principal razão de o etanol de cana ser de longe o biocombustível que menos emite carbono ao ser produzido é porque se obtém o dobro da quantidade de etanol por unidade de terra quando comparado ao etanol de milho. Além disso, a cana de açucar não é um alimento básico e, ao contrário do milho, tem apenas efeito indireto sobre os preços dos alimentos. É melhor para o Brasil produzir etanol e os EUA produzirem milho .
Os EUA e o Brasil esperam benefícios econômicos, ambientais e agrícolas caso a política de etanol de 30 anos seja modificada. Contudo, o Brasil precisa ser vigilante tendo em vista que o cenário político encontra-se salpicado de obstáculos para que ocorra uma reforma significativa no curto prazo. Por exemplo, a administração do presidente Obama indicou apoio para extensão do subsídio, mesmo que sua prorrogação por um ano nas bases atuais custe aos contribuintes mais de US$ 6 bilhões e resulte em pouco ou nenhum adicional de produção interna de etanol de milho acima ou além do atualmente obrigatório.
Enquanto isso há claras controvérsias no lobby do etanol dos EUA, onde alguns argumentam que o subsídios não são mais necessários, enquanto outros estão propondo uma mudança para um subsídio na producão, pago diretamente aos produtores de etanol e não aos misturadores ou blenders (como é o caso do subsídio atual) e baseado nas emissões de carbono.
Apesar de um subsídio à produção destinado apenas a produtores domésticos ser problemática, isso acabaria com a tarifa de importação protecionista. As opções para o Brasil atuar contra os subsídios propostos são várias incluindo lobby ativo, diplomacia, concessões industriais nas negociações de Doha e apelos à Organização Mundial do Comercio (OMC). Um subsídio ao produtor custando mais de US$ 6 bilhões por ano certamente entrará em conflito com o que previsto nas regras de subsídios da OMC, o que permitiria ao Brasil agir como no caso do algodão. De acordo com o Acordo sobre a Agricultura e ao fato de o etanol, segundo o código de tarifas ser classificado como produto agrícola, um subsídio de US$ 6 bi colocaria o EUA acima de seus limites do programa de apoio doméstico.
O Brasil deixou de subsidiar o etanol há mais de dez anos e eliminou a sua tarifa no início deste ano; princípios de justo e livre comércio sugerem que os EUA ajam no mesmo sentido. Sendo os maiores produtores mundiais de etanol, esses dois países deveriam colaborar na construção de um mercado de biocombustíveis aberto e global, para prover energia limpa e renovável. Como a tendência parece voltar-se ao subsídio e tarifas dos EUA, é importante que o Brasil mantenha a pressão utilizando todos os canais, incluindo possíveis ações junto a OMC. Com outras questões e disputas comerciais no governo Obama, a melhor coisa que o presidente e o Congresso podem fazer é omitir-se nessa questão, ou seja, deixar a vigência do subsídio e tarifa expirarem nas próximas semanas.
Erika Madeira Kliauga é pesquisadora associada do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.
Harry de Gorter é professor do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.