Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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domingo, 21 de setembro de 2014
Eleicoes 2014: as mistificacoes, as mentiras, as falcatruas companheiras - Demetrio Magnoli
Paulo Roberto de Almeida
Os perdedores
Demétrio Magnoli
Folha de S. Paulo, sábado, 20 de setembro de 2014
• O PT investe na indignidade e na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu
A semente transgênica e o Código Florestal; a hidrelétrica e a licença ambiental; os evangélicos e os jovens libertários; o Estado e as ONGs; os serviços públicos e os tributos; a "nova política" e o Congresso; a política e os partidos; o PSB e a Rede. Na candidatura de Marina Silva, não é difícil traçar círculos de giz em torno de ângulos agudos, superfícies de tensão, contradições represadas. O PT preferiu investir na indignidade, na mentira, na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu.
As peças incendiárias de marketing, referenciadas no pré-sal e na independência do Banco Central, inscrevem-se na esfera da delinquência eleitoral. A primeira organiza-se em torno de uma mentira (a suposta recusa de explorar o pré-sal), de cujo seio emana um corolário onírico (a "retirada" de centenas de bilhões de reais supostos e futuros da Educação). A segunda converte em escândalo um modelo que pode ser legitimamente combatido, mas está em vigor nos EUA, no Canadá, no Japão, na União Europeia, na Grã-Bretanha e no Chile --e que, no Brasil, surgiu embrionariamente sob Lula, durante a gestão de Henrique Meirelles.
Na TV, o partido do governo acusa a candidata desafiante de conspirar com banqueiros para lançar os pobres no abismo da miséria. O fenômeno vexaminoso não chega a causar comoção, pois tem precedentes. Contra Alckmin (2006) e Serra (2010), o PT difundiu as torpezas de que pretendiam privatizar a Petrobras e cortar os benefícios do Bolsa Família, ambas já reprisadas para atingir Marina. A diferença, significativa apenas no plano eleitoral, está na circunstância de que, agora, a ignomínia entrou no jogo antes do primeiro turno. A semelhança, por outro lado, evidencia que o PT aposta na ignorância, na desinformação, na pobreza intelectual --enfim, no fracasso do país.
Algo se rompeu quando eclodiu o escândalo do mensalão. Naquela hora, os intelectuais do PT depredaram a praça do debate político, ensinando ao partido que a saída era qualificar a imprensa como "mídia golpista" e descer às trincheiras de uma guerra contra a opinião pública. A lição deu frutos envenenados. O STF converteu-se em "tribunal de exceção", e os políticos corruptos, em "presos políticos". Os críticos passaram a ser classificados como representantes da "elite branca paulista" (se apontam as incongruências da "nova matriz econômica"), "fascistas" (se nomeiam como ditadura todas as ditaduras, inclusive as "de esquerda") ou "racistas" (se objetam às leis de preferências raciais).
O projeto de um partido moderno de esquerda dissolveu-se num pote de ácido que corrói a convivência com a opinião dissonante. Do antigo PT, partido da mudança, resta uma sombra esmaecida. As estatísticas desagregadas das sondagens eleitorais revelam o sentido da regressão histórica. A presidente-candidata tem suas fortalezas no Nordeste e no Norte, nas cidades pequenas e entre os menos escolarizados, mas enfrenta forte rejeição no Centro-Sul, nas metrópoles e entre os jovens. Não é um "voto de classe", como interpretam cientistas políticos embriagados com um economicismo primário que confundem com marxismo. É um voto do país que, ainda muito pobre, depende essencialmente do Estado. A antiga Arena vencia assim, espelhando um atraso social persistente.
Obviamente, a regressão tem causas múltiplas, ligadas à experiência de 12 anos de governos lulopetistas que estimularam o consumo de bens privados, mas não produziram bens públicos adequados a um país de renda média. A linguagem, contudo, ocupa um lugar significativo. O país moderno, cujos contornos atravessam todas as regiões, sabe identificar a empulhação, a mistificação e a truculência.
Na sua fúria destrutiva, a campanha de Dilma explode pontes, queima arquivos. O PT pode até triunfar nas eleições presidenciais, mas já perdeu o futuro.
sábado, 26 de abril de 2014
A marcha fascista sobre Brasilia - Demetrio Magnoli
Marcha sobre Brasília
- O Globo,
- 24/04/2014
sábado, 8 de março de 2014
Venezuela, Crimeia, Cuba, URSS, etc: ditaduras ordinarias sao sempre ordinarias - Demetrio Magnoli
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Sigam a Historia - o ultimo artigo de Demetrio Magnoli no Estadao
Apenas a luta dos democratas impedirá os celerados de consolidar o seu poder.
O artigo abaixo é um exemplo disso.
Persistamos, continuemos, resistamos.
Do meu quilombo intelectual...
Paulo Roberto de Almeida
"Sigam o dinheiro", indicou o Garganta Profunda aos repórteres do Washington Post que terminariam por desnudar o rei, provocando a renúncia de Richard Nixon. Bob Woodward e Carl Bernstein sabiam que andavam sobre o abismo, mas persistiram na investigação, pois o editor do jornal lhes garantiu apoio. "Sigam a história, custe o que custar", teria dito Ben Bradlee. Dois meses atrás, o Washington Post foi vendido por meros US$ 250 milhões a Jeff Bezos, proprietário da Amazon. "Nós agora pertencemos a um cara tão rico que o jornal vale cerca de 1% de seu patrimônio líquido", disse um tristonho jornalista após o encontro da redação em que a família Graham comunicou o negócio. O episódio lança um jato de luz sobre a encruzilhada em que se encontra o jornalismo - e não só nos EUA.
John Milton pronunciou sua clássica defesa da liberdade de imprensa em 1644, quando surgiam os primeiros jornais modernos. Durante os dois séculos da "pré-história" do jornalismo, os jornais e a opinião pública configuraram um ao outro. Mas o jornalismo, tal como o conhecemos, nasceu em meados do século 19, com a primeira revolução da informação, propiciada pelo telégrafo. Antes dominados por textos de opinião, os jornais encheram-se de notícias - e firmaram-se como infraestruturas públicas das sociedades abertas. No 16 de abril de 1912, um dia depois do naufrágio do Titanic, milhares de pessoas aglomeraram-se diante das sedes dos jornais de Nova York, disputando edições extraordinárias com as notícias da tragédia.
Os Grahams renunciaram ao Washington Post, que controlavam desde 1933, depois de sete anos de prejuízos. A revolução da informação em curso tem efeitos opostos aos da revolução pioneira. A notícia tornou-se uma commodity, que já não paga o preço do papel de imprensa. O dinheiro deslocou-se das empresas jornalísticas para conglomerados de telecomunicações e de internet. Nos EUA, sob o pano de fundo de recuos gerais nas tiragens, na publicidade e na dimensão das redações, só o New York Times anuncia triunfos embrionários na árdua luta para se adaptar a um ambiente desafiador. O espectro da morte dos jornais ronda as sociedades - e provoca indagações sobre o futuro da democracia.
No Brasil a crise ainda é atenuada por uma expansão marginal das tiragens, mas o poder político tenta cavalgá-la para calar as vozes dissonantes. A paisagem salpicada de blogueiros chapa-branca que clamam pela censura em textos hidrófobos, circundados por banners da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, é apenas um sintoma superficial. O projeto de fundo não é censurar, mas sujeitar. O ex-ministro Franklin Martins, um destacado assessor de Lula, repete há anos, incansavelmente, uma ameaça velada. Os jornais, explica, só têm as alternativas de aceitar o "controle social da mídia" ou enfrentar mudanças regulatórias que permitiriam a aquisição das empresas jornalísticas por grupos bilionários fincados no mercado de telecomunicações. Bezos repetiu a célebre instrução de Bradlee, prometendo respeitar os valores do Washington Post. Não é prudente, porém, esperar o mesmo de outros magnatas pós-modernos - especialmente se operam concessões públicas.
Os jornais precisam mudar se pretendem sobreviver e resguardar sua independência. Um caminho é a revalorização dos textos de opinião. "Um bom jornal é uma nação dialogando com ela mesma", disse certa vez Arthur Miller. Na internet cada esquina funciona como um palanque autossuficiente de opinião. Só os jornais, porém, têm o condão de reunir os interlocutores numa mesma praça, que não tem compromissos com o poder de turno. Esse curioso retorno às origens da imprensa não representa, todavia, mais que uma decifração precária do enigma da era da internet.
Numa época de informação abundante, o Estado protege como nunca seus próprios subterrâneos. "Sigam a história": só o jornalismo possui as competências para desnudar o rei, expondo à luz do sol as vísceras dos governos. Edward Snowden procurou o Guardian e o Washington Post porque a denúncia da máquina de espionagem em massa da NSA precisava dos filtros e da credibilidade dos jornais. Uma investigação de O Estado de S. Paulo revelou nada menos que a montagem de um Estado paralelo, partidário, ilegal e clandestino, sob as asas do programa federal Minha Casa, Minha Vida. Sem jornalistas treinados, redações estruturadas e critérios éticos de apuração os cidadãos só conheceriam as notícias manufaturadas por marqueteiros e assessores de comunicação. O jornal, impresso no papel ou distribuído em versões eletrônicas, continua a ser uma infraestrutura pública indispensável à democracia.
Minha trajetória pessoal se enlaça em pontos diversos com a história do Estadão. No início da adolescência aprendi bastante sobre a natureza das ditaduras pelos vislumbres proporcionados em páginas do jornal preenchidas com trechos de Os Lusíadas. À época eu produzia fragmentos de textos mentais na tentativa de imaginar as linhas que, riscadas pelos censores, jaziam ocultas debaixo dos versos de Camões. Nos últimos sete anos, a cada duas semanas, sem uma única interrupção, experimentei o privilégio de assinar artigos nesta página. Foram 183 textos, o equivalente a um livro de 560 páginas, que agora se encerra. Os difamadores do jornalismo, em geral regiamente remunerados, espalham a lenda de que "liberdade de imprensa é liberdade de empresa". Eu testemunho que sempre escrevi exatamente o que quis - e, mais, que meus editores nunca souberam o que eu escreveria antes de receberem o artigo pronto.
"Sigam o dinheiro!", dizem os estrategistas do rei aos jornais, animados com a perspectiva de transferir essas infraestruturas públicas a conglomerados que orbitam em torno do governo.
"Sigam a história!", digo eu na despedida, repetindo aquele editor, que não tinha medo de cara feia
domingo, 4 de agosto de 2013
A grande farsa da reforma politica - Demetrio Magnoli
Da arte de iludir
Autor: Demétrio Magnoli