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domingo, 14 de maio de 2023

Remembering - Paulo Roberto de Almeida

 Remembering

Todo mundo tem mãe, esta é uma certeza. A minha, Dona Laura, trabalhou duramente a vida inteira, meu pai também, assim como meu irmão maior, e eu mesmo, e assim saimos de uma situação tangenciando a pobreza, durante a infância, para uma de classe média periclitante na adolescência. Meus avós eram perfeitamente analfabetos, meus pais não tinham primário completo, mas Dona Laura se esforçou enormemente para que tivéssemos um desempenho satisfatório nas escolas públicas que frequentamos: exigia boletins com boas notas, do contrário vinha bronca das bravas.

Com isso, escapei de um provável futuro profissional em ocupações manuais, como eram as de meus avós e dos meus pais, para uma profissão de letrado e burocrata cum acadêmico, graças igualmente à Biblioteca Pública Infantil que frequentei durante toda a minha infância e a primeira adolescência.

Devo ao ingente trabalho e à vigilância severa de Dona Laura nos meus estudos o fato de ter ascendido socialmente e intelectualmente.

É o que eu poderia dizer neste Dia das Mães de 2023, muito anos depois que Dona Laura se foi. Ela sabe que eu devo isso a ela, sempre soube.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14/05/2023


domingo, 10 de maio de 2020

Uma homenagem no dia das mães - Paulo Roberto de Almeida

Uma homenagem no dia das mães

Paulo Roberto de Almeida



No dia das mães — mas poderia ser em qualquer outro dia — ouso trazer uma simples recordação, que provavelmente fez toda a diferença em minha vida a partir do comportamento da Dona Laura: sua atitude controladora, tuteladora, quase censória, ao ler os boletins mensais que trazíamos (eu e meu irmão, um ano e meio mais velho) da boa escola primária pública que frequentávamos, dos sete aos onze anos do ciclo inicial de ensino.
Ela era de “poucas luzes” para me instruir nos arcanos da língua ou da aritmética — pois como meu pai, simples motorista, não tinha completado a escola primária, por necessidade de trabalhar desde a infância, e, já casada, lavava roupas “para fora”, para ajudar na pouca renda da casa —, mas ela sabia distinguir entre as notas altas (90 ou 100) das baixas (de 70 para baixo), e estava ali para cobrar melhores notas: eu sempre fui melhor em história e geografia do que em aritmética, daí ter ido para o “Clássico” e não para o “Científico”, quando chegou a hora do “colégio”, a segunda parte do secundário, depois da terrível “Admissão” e do ginasial (onde também tive a sorte de entrar na primeira turma do Vocacional Oswaldo Aranha, em homenagem ao grande estadista, então recentemente falecido).
Essa foi a função mais importante da Dona Laura em minha vida: controlar meus resultados escolares do primeiro ciclo, mesmo sem poder ser a “professora no lar” que muitas outras crianças tiveram. E não reclamava muito — só chamava a atenção para a conta da eletricidade — quando eu deixava a luz acesa noite adentro, para ler na cama os livros que trazia da Biblioteca Pública Infantil Anne Frank, ali do bairro.
Esta homenagem eu tinha de lhe prestar, algum dia. Está feita. Grato por me colocar no caminho dos estudos e das leituras, mesmo não tendo tido a chance e a oportunidade de sequer completar o primário. Valeu a atitude. Ela fez toda a diferença em minha vida.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/05/2020