O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Eugenio Gudin. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Eugenio Gudin. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de novembro de 2015

Roberto Campos e Eugenio Gudin: duas sumidades economicas desprezadas no Brasil - Ricardo Bergamini

Roberto Campos por ele mesmo:

"Estou administrando a velhice por absoluta falta de alternativa", disse o economista, diplomata e político Roberto Campos ao completar 80 anos. Ontem, já a caminho de fazer 82, em abril próximo, fez seu discurso de despedida na Câmara de deputados, ressaltando que o Brasil continua com os mesmos problemas de quando iniciou sua vida parlamentar, como senador, em 1983. Naquele tempo, disse ele em entrevista aos meios de comunicação, o país vivia uma recessão e uma desvalorização da moeda. Agora, é tudo exatamente igual. Foram 16 anos de "mesmice" em que nada mudou, constata.

Comentário de Ricardo Bergamini:

Cabe lembra que esse gênio Roberto Campos, juntamente com o outro gênio mais antigo Eugênio Gudin fizeram todas as propostas econômicas para tirar o Brasil da abissal escuridão em que sempre viveu, e humildemente reconheceram os seus fracassos e receberam como prêmio dos brasileiros o desprezo, a humilhação e o deboche.

Cabe lembrar que nesse seu discurso de despedida do Congresso Nacional somente havia três parlamentares presentes, sendo esse o destino de todos os gênios brasileiros em todas as áreas do saber e do conhecimento.

Em economia sabemos que a moeda má expulsa a boa. Da mesma forma na sociedade a estupidez coletiva brasileira expulsa os sábios e os gênios. Maldita nação.

Ricardo Bergamini
Em 6/11/2015

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O historicismo e a dinamica apocaliptica: Karl Popper e M.H. Simonsen - Eugenio Gudin (1973)

O historicismo e a dinâmica apocalíptica: Karl Popper e M.H. Simonsen

*Eugênio Gudin Filho, 7/12/1973


Ao tempo (no princípio do século) em que eu alisava os bancos da Escola Politécnica, havia dias tendências distintas pelas quais os estudantes de matemática e engenharia, de um lado, e os estudantes de direito, de outro, abordavam os problemas de ciências sociais. Os politécnicos só davam valor aos problemas passíveis de solução pela matemática (de que seu espírito estava imbuído), ao passo que os futuros bacharéis procuravam abordá-los pelos princípios jurídicos. Caso característico era (e talvez ainda seja) o da economia política. Os estudantes da Politécnica a tratavam com desdém pela ausência de métodos matemáticos (a que hoje se recorre como auxiliares ou como alternativas precisas e sintéticas da linguagem corrente), enquanto os futuros bacharéis se inclinavam para tratá-la como matéria paraliterária. 

Ambas as orientações eram deformativas: uma, porque as ciências sociais não são ciências exatas; outra, porque também não são paraliterárias.

Dos grupos de tendência matemática (econometria à parte) há os que, por deformação espiritual ou por carência de capacidade crítica, recorrem à extrapolação e à futurologia, como no caso do Hudson Institute.

Mas esses profetas do futuro só tinham como plataforma de partida os dados da história, sobre os quais extrapolavam usando funções, lineares ou homogêneas. Daí sua subordinação ao historicismo.

Eu tinha um amigo inglês que freqüentemente me dizia: “When things come back to normal” (quando as coisas voltarem à normalidade), a que eu retrucava que “as coisas nunca voltavam”; evoluem. A história não é repetitiva. E aí é que está a dificuldade de saber como e para onde evolui.

A crítica mais arrasadora que conheço do historicismo é o de Karl Popper na Pobreza do historicismo (título que parafraseia a Pobreza da filosofia, de Marx, o qual por sua vez ironizava a Filosofia da pobreza, de Proudhon).

Popper discerne bem a origem do historicismo no fato de que aqueles que vivem em um certo período da história inclinam-se erradamente a acreditar que as regularidades que observam em torno de si são leis sociais de caráter universal, válidas para todas as sociedades.

Sempre tive para mim que a regularidade dos ciclos de prosperidade e depressão é uma construction de l’esprit. Como também nunca confiei nos planejamentos quantitativos do futuro (que a Deus pertence) a que se dedicam economistas menos ocupados de um período econômico (ano, qüinqüênio, etc), fixando parâmetros de 10%, digamos, para a taxa de progressão do PNB, ou 12% para a taxa de inflação em 1973, ou o dia de São Sebastião para a inauguração da Ponte Rio - Niterói ou ainda o mês de setembro de 1971 (!) para a inauguração do horário de 5 horas (!) no percurso Rio -São Paulo da Central do Brasil...

Muitos devem ter sido os pecados que cometi quando Ministro da Fazenda. Mas asseguro que nenhum foi por falta de cumprimento de promessa, ou - melhor ainda – por ter prometido qualquer coisa. Sempre acreditei em procurar informar o público das intenções e dos planos gerais da administração. Nunca em prometer resultados quantitativos em prazos determinados.

Na Teoria do Crescimento Econômico, em vias de publicação, Mário Henrique Simonsen aborda de início, com extraordinária lucidez (o que para o autor é usual), a dinâmica apocalíptica pelo problema do determinismo histórico: “O prestígio desses modelos é psicologicamente compreensível: as angústias da humanidade provêm do desconhecimento do futuro, e as construções deterministas são as únicas que se propõem a revelar a evolução dos fatos sem a intromissão de condicionais. Um bom profeta deve possuir suficiente coragem de afirmar e isso recomenda que seus vaticínios sejam enquadrados numa moldura de determinismo histórico”.

Entre as construções econômicas de maior glamour cita o autor: a teoria clássica inglesa da evolução para o estado estacionário, a previsão marxista da derrocada do capitalismo por suas contradições internas, e a projeção estagnacionista da decadência do sistema pelas próprias condições da abundância.

A história foi suficientemente caprichosa, escreve Simonsen, para ir desmentindo, uma a uma, essas construções. Com a vantagem de terem provocado os cientistas sociais a descortinar a defesa contra os vaticínios catastróficos.

Nenhum dos construtores da dinâmica apocalíptica, como Malthus ou Marx, conseguiu até hoje acertar em suas previsões.

Nas páginas que se seguem desse primeiro capitulo vão-se sucessivamente esboroando, a golpes de racionalidade e de lucidez, os mitos da lei dos rendimentos decrescentes no caminha malthusiano para a miséria, a lei férrea dos salários conduzindo ao nível de subsistência, o determinismo histórico de Marx, a inexorabilidade da luta de classes, a famosa mais-valia, a ruptura violenta do sistema pela revolução do proletariado e por fim a tendência para a depressão que se inspira no modelo keynesiano.

Felizmente para a humanidade, remata Simonsen, os rendimentos decrescentes do fator trabalho e o desmoronamento do capitalismo foram contornados pela acumulação do capital e pelo progresso tecnológico.


*Eugênio Gudin Filho (Rio de Janeiro, 12 de julho de 1886 - Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1986) foi um economista brasileiro, ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955, durante o governo de Café Filho.

Formado em Engenharia Civil em 1905 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, passou a interessar-se por Economia na década de 1920. Entre 1924 e 1926, publicou seus primeiros artigos sobre Economia em O Jornal, do Rio de Janeiro.

Em 1944, o então ministro da Educação, Gustavo Capanema, designou Gudin para redigir o Projeto de Lei que institucionalizou o curso de Economia no Brasil. Nesse mesmo ano, foi escolhido delegado brasileiro na Conferência Monetária Internacional, em Bretton Woods, nos Estados Unidos, que decidiu pela criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird)

Durante os sete meses em que foi ministro da Fazenda (1954-1955), promoveu uma política de estabilização econômica baseada no corte das despesas públicas e na contenção da expansão monetária e do crédito, o que provocou a crise de setores da indústria. Sua passagem pela pasta foi marcada, ainda, pelo decreto da Instrução 113, da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que facilitava os investimentos estrangeiros no país, e que seria largamente utilizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi por determinação sua também que o imposto de renda sobre os salários passou a ser descontado na fonte.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Eugênio Gudin - Inventário de Flores e Espinhos - Márcio Scalercio, Rodrigo de Almeida (GoodReads)


25126206

Eugênio Gudin - Inventário de Flores e Espinhos

4.0 of 5 stars 4.00  ·  rating details  ·  1 rating  ·  0 reviews
O livro “Eugênio Gudin - Inventário de flores e espinhos”, do historiador Márcio Scalercio e do jornalista Rodrigo de Almeida, retrata a vida de um homem de dois séculos e apara uma aresta incompreensível: a ausência de uma biografia ampla do pai dos economistas brasileiros e de um dos mais influentes pensadores liberais da história da nação. As 316 páginas, elaboradas a partir da consulta de mais de mil documentos e enriquecidas com depoimentos de personalidades, revelam as facetas do sacerdote cujo evangelho tentava exorcizar demônios atrelados às entranhas dos males nacionais, como a inflação, o desperdício do dinheiro público e o gigantismo estatal. Não se trata de um livro para iniciados em Economia, até mesmo porque há uma extensa lista de publicações dedicadas ao pensamento de Gudin. A obra faz jus a uma das maiores preocupações de Gudin (1896-1986): tornar a economia um tema acessível a todos. (less)
ebook, 312 pages
Published 2012 by Insight
ISBN: 9788598831

domingo, 19 de janeiro de 2014

Eugenio Gudin: um liberal classico, homenageado pela ACRJ

ACRJ cria Prêmio de Jornalismo e exposição sobre a vida e obra de Eugênio Gudin

A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) vai homenagear, durante todo o ano de 2014, um dos maiores expoentes do pensamento neoliberal do país, o economista e ex-ministro da Fazenda Eugênio Gudin. Segundo o presidente da entidade, Antenor Barros Leal, a medida visa recolocar os ideais do patrono dos economistas na memória dos brasileiros. Da série de homenagens que ocorrerão, dois eventos já estão confirmados. Os lançamentos, no segundo semestre, do Prêmio Visconde de Mauá de Jornalismo Eugênio Gudin, que concederá viagens internacionais aos dois primeiros colocados, e de uma exposição sobre sua vida e obra. Ainda de acordo com Barros Leal, o economista e ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC, Gustavo Franco, será o responsável por uma comissão julgadora que vai escolher os dois vencedores do prêmio e que organizará a mostra. No último dia 27 de novembro, Barros Leal e Gustavo Franco se reuniram na Casa de Mauá para discutirem sobre o assunto.
Gudin sempre afirmou que a inflação era o mais cruel dos impostos e que ocasionava uma tragédia distributiva
“Não podemos deixar que a grande obra de Eugênio Gudin, um dos primeiros homens a discutiu a realidade econômica brasileira, caia em esquecimento. Em 2014 nós examinaremos profundamente sua obra e faremos seminários para divulgá-la. Até porque ele tem uma ligação conosco muita boa. Foi sócio honorário da Casa por quinze anos, desde abril de 1971”, lembrou Barros Leal.
Nascido em 12 de julho de 1886 no Rio de Janeiro, Eugênio Gudin formou-se em Engenharia Civil e, ao longo de 100 anos de vida, trabalhou por muito tempo em empresas estrangeiras. No cenário econômico nacional, teve atuação, em 1944, como delegado brasileiro na Conferência Monetária Internacional, realizada em Bretton Woods (EUA), que decidiu pela criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); governador brasileiro junto ao FMI e BIRD de 1951 a 1956 e Ministro da Fazenda no governo Café Filho, entre 1954 e 1955. Discutiu de forma qualificada os principais problemas econômicos brasileiros e procurou adaptar a teoria desenvolvimentista dos países de primeiro mundo à realidade dos subdesenvolvidos.
Segundo o economista e presidente do Conselho de Governança do Instituto Millenium, Gustavo Franco, Gudin esteve à frente do seu tempo ao combater durante toda a vida a ideia de que a inflação era funcional, necessária ou mesmo inevitável para o desenvolvimento econômico. O ex-presidente do Banco Central afirmou ainda que os ideais de educação em conexão com a nossa competitividade, sustentabilidade das contas públicas, responsabilidade fiscal e moeda sadia tiveram origem ilustre nesse grande homem.
“Gudin sempre afirmou que a inflação era o mais cruel dos impostos e que ocasionava uma tragédia distributiva. Acreditava ser essencial que homens treinados e educados enfrentassem o desafio da concorrência com vistas a procurar a inovação e a competitividade. Era esse o coração do processo de desenvolvimento autossustentado que deveria ser baseado em incentivos corretos e na iniciativa privada, e não em proteção tarifária e outros artificialismos”, avaliou.
O ex-presidente do Banco Central afirmou que refazer a trajetória intelectual de Eugênio Gudin, um dos mais destacados pioneiros do ensino e pesquisa em economia no Brasil, é uma tarefa empolgante. Ele comemorou ainda o bom relacionamento entre a Associação Comercial do Rio de Janeiro e o Instituto Millenium.
“Como presidente do Conselho do Instituto Millenium, instituição comprometida com os valores próprios da economia de mercado, a liberdade e a democracia, não poderia estar mais entusiasmado com essa homenagem e com as possibilidades de colaboração com a ACRJ que se abrem para o Millenium. Oxalá possamos iniciar um ciclo de reflexões sobre o futuro do país à luz das ideias ainda muito atuais do professor Eugenio Gudin”, concluiu.
Fonte: Associação Comercial do Rio de Janeiro


sábado, 18 de junho de 2011

A economia deles triunfou...

Recebi, agora, um video do Instituto Von Mises (ou seja, da escola austríaca), contestando argumentos do economista americano Robert Reich, da esquerda liberal, como se diz nos EUA, ou seja, defendendo posições anticapitalista, anunciando, como seria de se esperar, as catástrofes habituais a partir da presente crise nos EUA.
Enfim, parece que seu último livro foi traduzido e publicado no Brasil, e os professores keynesianos, como também existem por aqui, andam recomendando para que os alunos o leiam.
Nada de muito diferente do que se faz há muitos anos com Celso Furtado, os cepalianos em geral e os anticapitalistas em particular...
Este é o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mXm4j2ORYcg#at=12

Não creio que ele contribua em alguma medida para diminuir o quantum de irrealismo (ou de irrealidade) que existe nas aulas de economia do Brasil.
Esse é apenas o resultado de um longo desenvolvimento intelectual (para pior, quero dizer).

Terminei de ler, há dois dias, este livro sobre a famosa controvérsia entre planejamento e liberalismo na economia brasileira:

Instituto Roberto Simonsen, Cadernos 1
As raízes do Pensamento Industrial Brasileiro: 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
(São Paulo: Conselhos Superiores da FIESP, 2010)

O livro retraça todos os documentos relevantes do famoso debate, entre 1944 e 1945, que opôs o economista Eugenio Gudin ao industrialista Roberto Simonsen.
A despeito do fato de Gudin ter vencido intelectualmente -- e suas teses sobre a produtividade, as vantagens comparativas e o papel do Estado --, quem ganhou, na prática, foi Simonsen.

Todas as teses de Gudin foram recusadas não apenas pela academia brasileira (com poucas exceções) e sobretudo pelas lideranças políticas, e todas as "teses" de Simonsen foram não só acolhidas na academia como, em especial, postas em prática pelo Estado brasileiro, ao longo desses últimos 60 anos. Nesse sentido, Simonsen foi um vencedor.

Talvez seja por isso que o Brasil cresceu, à base de injeções estatais e com muitos subsídios públicos e proteção estatal às indústrias nacionais (e estrangeiras aqui instaladas), mas não se desenvolveu o suficiente para ingressar no clube dos países avançados, como a Coréia do Sul, por exemplo.
Tem gente que acha que fizemos tudo certo, e que fomos vítimas da exploração estrangeira, ou das perversidades naturais do capitalismo, felizmente refreado pela ação estatal, sábia como sempre.
Não partilho, obviamente, dessa visão, mas procuro ler todos os argumentos, a favor ou contra as políticas públicas que determinam se vamos crescer muito ou pouco, certo ou por vias deformadas.
Por isso li esse livro.
Recomendo que leiam também.
Transcrevo abaixo o sumário, retirando as notas um pouco desconexas que fiz pelo meio...


Livro I (17)
As raízes do pensamento industrial brasileiro: seminário comemorativo aos 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
Exposições (19), Sérgio Amaral (20); Carlos Henrique Cardim (26); Antonio Delfim Netto (52); Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida (67); José Ricardo Roriz Coelho (70), Comentários de Ant. Delfim Netto (75)

Livro II (89)
A controvérsia do planejamento na economia brasileira: coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo
90, Introdução, Carlos von Doellinger
92, Ambiente Histórico
106 O debate
110 Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948)
112 Eugenio Gudin (1886-1986)

114 A planificação da Economia brasileira
Roberto Simonsen: Parecer apresentado ao Conselho de Política Industrial e Comercial, em 16 de agosto de 1944
116 Enriquecimento ilusório
118 A situação brasileira vista pelos técnicos americanos
122 Ainda a situação brasileira
125 Problemas do pós-guerra
126 Padrões de vida
127 A renda nacional
129 A planificação econômica
131 Duas questões básicas
133 Conclusões

142 Rumos de politica econômica
Eugenio Gudin: Relatório apresentado à Comissão de Planejamento Economico sobre o documento “A Planificação da Economia Brasileira”
Parte I
161 1 – Renda nacional
166 2 Donde surgiu a mística do plano
191 3 As esferas de ação do Estado e da economia privada
200 4 O sentido de nosso planejamento
Parte II
204 1 O problema monetário
209 2 O equilíbrio econômico
222 3 Comércio exterior
242 4 Industrialização e produtividade
267 Conclusões

278 O planejamento da economia brasileira
Roberto Simonsen – réplica ao Sr. Eugenio Gudin, na Comissão de Planejamento Econômico
279 A evolução econômica
(...) [23 seções]
356 As conclusões do Sr. Gudin

363 A Comissao de Planejamento Economico
363 Anexos
Cópia da correspondência trocada entre o Sr. Oswaldo Gomes da Costa Miranda, diretor do Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho, e o Sr. Eugenio Gudin

374 Carta à Comissão de Planejamento
Eugenio Gudin: Carta sobre a réplica do Dr. Roberto Simonsen
377 I Renda nacional
386 II Planejamento e intervencionismo do Estado
389 III Guerra à Industria Nacional
392 Quanto ao Mais
398 Anexo

=======

Esse debate foi reeditado também pelo Ipea, mas sendo o Ipea atual o que é, eles fizeram "estudos" amplamente favoráveis às posições de Simonsen, em favor do planejamento e da intervenção estatal, obviamente.

AUTORIA: Simonsen, Roberto Cochrane, 1889-1948
TÍTULO: A Controvérsia do planejamento na economia brasileira / Roberto C. Simonsen, Eugênio Gudin ; [introdução de Carlos Von Doellinger ; apresentação da terceira edição por João Paulo dos Reis Velloso].
EDIÇÃO: 3. ed.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 196 p.
ISBN: 9788578110444
Resumo: Parecer, relatório e réplicas redigidos por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin em debate sobre o tema planejamento na primeira metade do século XX. A controvérsia entre desenvolvimentismo, representado por Simonsen, e liberalismo, Gudin, é explicitada em posicionamentos divergentes sobre planificação da economia brasileira e industrialização.
Alcance temporal: 1932-1944
NOTAS: No verso da folha-de-rosto : "Coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo."
Incl. ref.

TÍTULO: Desenvolvimento : o debate pioneiro de 1944-1945 / ensaios e comentários de Aloísio Teixeira, Gilberto Maringoni, Denise Lobato Gentil.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 130 p.
ISBN: 9788578110412
Resumo: Ensaios e comentários sobre o debate econômico entre duas correntes do pensamento, desenvolvimentismo e liberalismo, protagonizadas por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin no governo Getúlio Vargas, 1944-1945. A primeira parte da obra confronta Simonsen e Gudin e evidencia o reflexo do posicionamento destes dois pensadores nas décadas posteriores ao debate. A segunda parte apresenta os personagens a partir de suas influências teóricas, idéias e realizações.
Alcance temporal: 1944-1945

terça-feira, 27 de abril de 2010

2090) Eugenio Gudin - um economista desenvolvimentista

Não no sentido comummente atribuído ao conceito de desenvolvimentista, obviamente, mas no sentido lato da palavra, pois ele pretendia o desenvolvimento do Brasil, dentro da racionalidade econômica, como demonstra o economista Ricardo Bergamini nesta homenagem prestada ao grande economista falecido há mais de duas décadas.
Paulo Roberto de Almeida

Gudin, o profeta do desenvolvimento econômico
Ricardo Bergamini
Carta do IBRE – Revista Conjuntura EconômicaEdição de Março de 2006

Em um país onde o populismo tantas vezes sufocou a voz da razão e dominou a agenda de política pública, defender a racionalidade econômica pode ser ainda hoje, em alguns casos, uma tarefa penosa e ingrata, apesar dos grandes avanços neste campo desde a década de 90. Se isto é verdade nos nossos dias, imaginemos como seria no Brasil de mais de 50 anos atrás, em um contexto muito mais atrasado, e bem menos familiarizado com o rigor do pensamento lógico no trato das questões econômicas.

Foi neste ambiente histórico, em meio a forças culturais hegemônicas pouco preparadas para absorver suas idéias, que surgiu na história brasileira a figura de Eugênio Gudin. Não fora certo espírito provocativo, onde se misturavam paciência e uma ironia benigna ante a incompreensão e por vezes a injúria — e que viríamos a encontrar em outros expoentes do nosso liberalismo, como Roberto Campos —, e talvez Gudin não tivesse amealhado as energias para plantar em solo brasileiro, como de fato o fez, algumas das primeiras sementes da racionalidade econômica.

Com gosto pela polêmica séria, fundamentada em argumentos sólidos, ele não se intimidava em atuar na ponta contrária a de grandes personalidades, como o industrial Roberto Simonsen e o economista Celso Furtado. Nadar contra a corrente, para Gudin, era um exercício estimulante e fortalecedor.

Passados 20 anos do seu falecimento, em 1986, após um século de vida, é impressionante verificar a atualidade do seu pensamento. Ainda na década de 50, ele fez o diagnóstico básico dos problemas estruturais que impedem ou dificultam, até hoje, o crescimento brasileiro, e que podem ser resumidos em três grandes grupos: (i) necessidade de concentrar esforços em setores nos quais temos vantagens comparativas; (ii) diminuir o atraso educacional; (iii) reduzir o déficit em infra-estrutura.

Um dos desdobramentos recentes da economia brasileira que mais confirma as teses de Gudin foi a explosão do agronegócio. Ele está ligado ao item (i) da agenda básica, e tem a ver com a exploração das vantagens absolutas, como a abundância de terra, água e luz, que vocacionaram o Brasil à agricultura. Sobre este tema, é preciso deixar claro que, ao contrário do que afirmaram algumas vezes os seus adversários, Gudin nunca foi contra a indústria. Por exemplo, depois de discorrer em alguns parágrafos sobre os malefícios da proteção excessiva às indústrias nascentes, ele mesmo faz a ressalva: “Isto não quer dizer que eu seja contrário à industrialização e favorável a um Brasil essencialmente agrícola”.

Gudin, porém, foi um crítico acerbo da industrialização a qualquer custo, e do modelo de substituição generalizada de importações, fomentados por proteção e subsídios que resultavam em uma produção nacional ineficiente e incapaz de conquistar os mercados internacionais: “(…) o critério dominante entre nós tem sido o de levar a proteção até o nível necessário para amparar o produtor marginal, destruindo assim todo o incentivo à melhoria da produtividade na indústria”.

A importância do agronegócio — É nesta ótica, de quem não era inimigo da industrialização, mas apenas combatia a forma equivocada pela qual ela estava sendo estimulada, que Gudin chamou a atenção, de forma pioneira, para a importância do agronegócio no futuro do Brasil. Ele criticou o mito tão recorrente no pensamento nacional de que industrialização seria um sinônimo de desenvolvimento: “A Nova Zelândia, a Austrália, a Dinamarca, a Argentina, o Estado de Iowa se inscreveram entre os mais ricos do mundo (produto nacional per capita) na base de produção puramente agrícola. Pobreza é sinônimo de baixa produtividade, seja ela agrícola ou industrial”.

Gudin percebia que o potencial agropecuário do Brasil (e do setor primário em geral) não era apenas o de exportar commodities, mas também o de diversificar a pauta e agregar inteligência às suas atividades: “Se, de fato, estamos resolvidos a dar a ‘arrancada’ para o desenvolvimento econômico, precisamos compreender que não é mais possível limitar as nossas exportações, como até agora temos feito com o açúcar, com a borracha e com o café, àquilo que a natureza produz quase sozinha, independentemente de know-how. Temos enormes possibilidades de exportação de minérios, de carnes, de frutas, de ovos, etc., desde que nos habilitemos a aprender e a utilizar as técnicas modernas de produção”.

De forma ainda mais presciente, Gudin antecipou a necessidade de o Brasil desenvolver por conta própria uma tecnologia agropecuária adaptada aos trópicos, o que só viria a tornar-se realidade a partir da criação da Embrapa, nos anos 70: “No setor industrial a técnica de fabricar panelas, calçado, ou garrafas adotada nos Estados Unidos ou na Europa é integralmente transportável para aqui. No caso da agricultura é diferente o clima; são diferentes os produtos; são diferentes os solos. A pesquisa científica e técnica têm que ser realizada aqui. E é nisso que nós temos falhado lamentavelmente, por falta de técnicos em qualidade e número suficientes para a pesquisa da produtividade dos vários produtos nas múltiplas variedades de solos”.

Foi preciso quase meio século para que a economia brasileira provasse que Gudin estava certo, com o espetacular salto em competitividade e volume do agronegócio nacional nas últimas décadas. Este desempenho veio na esteira das reformas que, mesmo de forma claudicante e penosa, aboliram o modelo de substituição de importações que enviesava o investimento brasileiro na direção da indústria até a década de 70. O boom do agribusiness é tributário também dos admiráveis avanços tecnológicos na agropecuária, como a soja do cerrado, o melhoramento genético do gado nelore e a cana superprodutiva do Sudeste — tornando realidade as recomendações de Gudin sobre a pesquisa neste setor.

Hoje, o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo em álcool, açúcar, café e suco de laranja, e o maior exportador global do complexo soja, de carne bovina, de fumo, e de carne de frango. Foi o agronegócio, naturalmente, com saldos comerciais da ordem de US$ 30 bilhões, ou mais, nos últimos anos, que criou as condições para que o Brasil realizasse uma sensacional virada nas suas contas externas, praticamente eliminando a vulnerabilidade que marcou grande parte da sua história.

A lacuna da educação — Se na agropecuária o país recuperou o tempo perdido e hoje corresponde ao que Gudin preconizava, o mesmo não se pode dizer da educação, onde nos mantemos em forte desvantagem na comparação com nossos competidores mais bem-sucedidos, apesar da quase universalização do ensino fundamental nos anos 90 (com mais de um século de atraso em relação ao mundo desenvolvido). A novidade do período recente é que, com décadas e décadas de atraso em relação à pregação de Gudin, as elites intelectuais e dirigentes do Brasil parecem ter acordado para o fato de que a formação do capital humano por meio da educação é fundamental para o desenvolvimento econômico — algo que parece ter escapado ao pensamento cepalino representado por Celso Furtado. Gudin, por sua vez, já era taxativo sobre este tema em 1956: “Sustento portanto a preliminar de que o mais danoso de todos os nossos ‘pontos de estrangulamento’ é o da educação, que deveria figurar, com alta prioridade, no programa de Desenvolvimento Econômico”.

Mais de quatro décadas tiveram que passar até que uma nova geração de economistas, munida de ferramentas quantitativas inexploradas na era em que Gudin viveu seu apogeu intelectual, viesse a demonstrar o acerto das recomendações do mestre. O trabalho de Ricardo Paes e Barros e Rosane Mendonça apontam para um aumento na taxa de crescimento da renda per capita em 0,35 ponto percentual para cada ano adicional de escolaridade média brasileira. E, segundo estudo de Samuel Pessôa, estimativas conservadoras indicam que 35% da diferença entre a renda per capita brasileira e a norte-americana pode ser explicada pela diferença de educação entre os dois países.

Na infra-estrutura, finalmente, com o qual Gudin envolveu-se pessoalmente, como executivo da Light e da Great Western of Brazil Railway Co., ele chamou a atenção para o fato de que este era um setor intensivo em capital, fator escasso no Brasil. E que, portanto, fazia sentido que empresas internacionais explorassem os serviços de infra-estrutura no país. Em artigo no jornal O Globo, em dezembro de 1960, Gudin discorreu sobre obstáculos criados pelos governantes do país ao desenvolvimento econômico: “Por exemplo, (…) afastando o capital alienígena e até o nacional dos investimentos em serviços de utilidade pública que exigem grandes massas de capital e se contentam com uma remuneração modesta, desde que estável”.

Na verdade, se as suas orientações quanto à melhor política para o setor de infra-estrutura tivessem sido observadas ao longo das muitas décadas da sua longa vida, o alívio da necessidade de aportes do setor público aos serviços básicos permitiria, por exemplo, que maiores investimentos tivessem sido canalizados para educação. A mentalidade dominante na época, porém, via as empresas estrangeiras de infra-estrutura como entidades que “exploravam” o Brasil, extraindo lucros exorbitantes das suas atividades. O símbolo maior desta visão era a Light, o “polvo canadense”. Sob a influência desta concepção, e das suas necessidades políticas de curto prazo, sucessivos governos penalizaram a atuação das empresas internacionais de infra-estrutura com decisões casuísticas e medidas populistas, que progressivamente inviabilizariam a sua atuação no Brasil. Isto levou a um processo, iniciado na década de 30, de encampação pelo setor público daquelas atividades.

Gudin combateu incansavelmente, ao longo da sua vida, este pensamento paroquial que demonizava o capital estrangeiro, e as arbitrariedades do governo que o afugentaram. Isto fica claro no trecho em que se refere “à lamentável incapacidade dos governos, entregando as empresas à sanha da politicagem e das demagogias locais, negando-lhes tarifas que lhes permitissem viver, revogando unilateralmente cláusulas contratuais e até, como no caso do Código de Águas de 1934, ameaçando-os de confisco integral se as máquinas não funcionassem por 72 horas”.

Como nos outros temas expostos nesta Carta, a história viria a dar razão a Gudin, o que fica demonstrado por alguns trabalhos recentes. O estudo de William Summerhill indica que a remuneração do capital investido nas ferrovias brasileiras está longe de ter sido excessiva, tendo ficado em torno de 8% ao ano. E na dissertação de mestrado, defendida em 2006 na EPGE/FGV, Marcelo Jourdan calcula que a remuneração do capital investido na Light (média para o período 1900-1978) foi de apenas 3,6% quando medida em dólares constantes. Estes trabalhos revelam que toda a idéia de que os capitalistas dos setores de infra-estrutura exploraram os consumidores, tão combatida por Gudin, não encontra suporte nos dados.

O resultado da prevalência de uma visão oposta à de Gudin por tantas décadas fica claro em estudos que apontam um déficit de infra-estrutura do Brasil — relativamente aos seus pares e considerando as características físicas e humanas do país — de pelo menos 40%, em média, tomando-se setores como energia elétrica, rodovias, ferrovias, água potável, esgotamento sanitário e telefones fixos e celulares. Na verdade, a telefonia é uma exceção, na qual o Brasil tem um superávit em relação aos seus pares — não por acaso, o setor em que a privatização teve maior sucesso e no qual mais contribuiu o capital estrangeiro no período recente. Retirando-se este segmento, o déficit em infra-estrutura torna-se ainda maior.

Maiores riscos ao crescimento — Nem é preciso dizer que as deficiências em infra-estrutura são consideradas hoje um dos maiores riscos ao crescimento sustentável de longo prazo do Brasil. Até os nossos dias, permanece a falta de clareza nesta área. Verifica-se em segmentos tão distintos quanto eletricidade e saneamento a situação na qual o setor público não tem recursos para dar conta dos investimentos necessários, tampouco constrói de forma adequada o marco regulatório e institucional que estimule o investimento privado.

Na literatura econômica, por outro lado, são fartas as evidências do impacto positivo do estoque de infra-estrutura no desenvolvimento dos países. Segundo trabalhos de Canning e de Calderón e Servén6, o déficit neste setor explica cerca de 35% da diferença entre a taxa de crescimento do Brasil e a da Coréia do Sul. Há também indícios de que o aumento do acesso à infra-estrutura reduz a desigualdade de renda. De acordo, ainda, com o trabalho de Calderón e Servén, se o Brasil tivesse o estoque de infra-estrutura per capita da Coréia do Sul, haveria uma redução de 15% na desigualdade de renda brasileira, equivalente a uma queda de 0,09 no índice de Gini.

Quando se toma em conjunto a visão econômica de Gudin, que já se manifestava no período anterior à Segunda Guerra Mundial, verifica-se como o Brasil perde tempo e marca passo ao não dar ouvidos aos seus melhores quadros. O economista, com formação inicial de engenheiro, foi delegado na Conferência de Bretton Woods, ocupou diretorias do FMI e do Bird, e teve uma rápida passagem pelo Ministério da Fazenda no governo de Café Filho. As elites dirigentes do país, porém, ainda que muito respeitosas em relação à figura pública e à inegável sabedoria econômica de Gudin, conduziram o Brasil por caminhos diversos daqueles que ele preconizava, ao longo de quase toda a sua vida.

Praticamente até o fim, manteve o hábito de escrever artigos regulares na imprensa, nos quais defendia com brio o seu ideário liberal, em meio aos desvios populistas que se sucediam. Nesta Carta, focada em suas idéias sobre o agronegócio, a educação e a infra-estrutura, nem chegamos a tocar na sua postura de permanente defesa da responsabilidade fiscal e monetária, valores que só viriam a ser entronizados na política e na opinião pública na década de 90. A vida de Gudin, que conjuga coerência, acerto e energia para defender idéias em ambiente hostil, ilumina não só os caminhos econômicos que o país deveria seguir, mas representa também uma história pessoal de ética, inteligência e determinação que é um exemplo para todos os brasileiros.

Ricardo Bergamini
ricardobergamini@ricardobergamini.com.br
http://www.ricardobergamini.com.br