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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Desindustrializacao, mitos e fatos - Marcelo de Paiva Abreu

Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, quarta-feira, 18.9.2013

Alguns poderiam pensar que a significativa desvalorização cambial ocorrida nos últimos meses poderia ter contribuído para moderar as reivindicações do setor industrial. Ledo engano. É o que mostra recente trabalho da FIESP intitulado “ Por que Reindustrializar o Brasil”.

O argumento é assim. Para o Brasil aumentar a renda per capita seria necessário aumentar a  participação da indústria de transformação no PIB e a taxa de investimento. Os dois indicadores vêm decaindo desde as décadas de 1980 e 1970, respectivamente. A desindustrialização teria começado na década de 1980 e a participação da indústria de transformação no PIB caiu aos níveis de 1955. A desindustrialização teria sido prematura e nociva à continuidade do desenvolvimento econômico. Haveria evidência de que maior participação da indústria de transformação no PIB e elevada taxa de investimento contribuiriam para aumentar a taxa de crescimento da economia. O documento conclui: por que o Brasil ficaria de fora do movimento reindustrialização que pode ser detectado até mesmo nos EUA e na Europa?

O estudo não levou em conta R. Bonelli, S. Pessoa e S. Mattos, “Desindustrialização no Brasil: Fatos e Interpretações” em E. Bacha e M. de Bolle (orgs.), O futuro da indústria no Brasil, Rio de Janeiro, 2013, que propõe ajustes fundamentais nas séries relativas à participação da indústria de transformação no PIB. Em primeiro lugar, os altos percentuais alcançados até 1982, baseados em valores correntes, são dramaticamente reduzidos quando se leva em conta as alterações metodológicas pertinentes: o valor máximo de mais de 35% em 1985 é reduzido para 24%. Em segundo lugar, os autores, sublinhando que boa parte da queda da participação da indústria no PIB deve-se à queda dos preços de produtos industriais em relação aos demais preços da economia, apresentam a série computada a preços de 2009. Deste segundo ajuste decorrem duas afirmações que contrariam o estudo da FIESP. O pico da participação da indústria no PIB, de mais de 24%, ocorreu nos primeiros anos da década de 1970, ou seja, a “desindustrialização” ocorreu bem antes do que supõe a FIESP e conviveu com crescimento alto. A  desindustrialização recente é bem menos espetacular do que sugerido a preços correntes.

Há outros problemas com o estudo fiespino. Não se entende a razão técnica para combinar argumentos sobre baixo investimento com argumentos sobre a baixa participação da indústria de transformação no PIB como causas de desempenho econômico fraco. O argumento de que o Brasil não cresce porque não investe é trivial. Já atribuir a estagnação brasileira por quase um quarto de século, a partir de 1980, à redução da participação da indústria de transformação no PIB é claramente equivocada. A pretensa comprovação empírica da tese que associa peso da indústria de transformação a ritmo de crescimento é equivocada. Alega-se que para uma “amostra” de 25 países, 9 foram capazes de dobrar a renda per capita em períodos entre 13 e 33 anos e todos tinham participação mínima de 20% da indústria de transformação no PIB. A relação causal sugerida entre crescimento e peso da indústria não passa de conjectura que está longe de passar como desinteressada. O documento cita os EUA e a União Europeia como economias nas quais tem sido adotadas políticas de “reindustrialização” sem especificar, entretanto, quais deveriam ser adotadas no Brasil.

O caminho para possível reindustrialização depende de política industrial baseada em programas maciços de capacitação tecnológica que resultem em efetivo aumento da competitividade industrial. Não deve envolver prolongamento infindável dos sacrifícios da sociedade em benefício da indústria. Para que se possa conceber tal política é preciso que haja compreensão adequada do processo de desindustrialização no Brasil.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A integracao internacional do Brasil, segundo a FIESP - Rubens Barbosa

'Agenda de Integração Externa'

25 de junho de 2013 | 2h 07
RUBENS BARBOSA *
Na vanguarda de um pensamento moderno e atualizado, que vai na direção contrária à tendência protecionista e defensiva defendida por muitos dentro e fora do governo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou recentemente o documento Agenda de Integração Externa com propostas para promover a competitividade da indústria nacional por meio de nova estratégia de negociação comercial.
O trabalho, concentrado nos aspectos econômico e comercial, não analisa as questões políticas da projeção externa do Brasil. Trata-se de uma contribuição para o debate sobre como o Brasil deveria enfrentar os grandes desafios que as transformações que ocorrem no mundo colocam para o intercâmbio comercial global. Para a Fiesp, a inserção internacional é parte de uma agenda de competitividade mais ampla, que, se implementada, poderá facilitar o aumento do fluxo de investimento e o maior acesso aos mercados de bens e serviços no exterior.
No cenário externo, a multiplicação dos acordos de livre comércio nos últimos anos e a crescente integração de países e empresas nas cadeias globais de valor agregado trouxeram desafios para a inserção do Brasil. Em especial, a nova dinâmica de regulação do comércio internacional, via acordos preferenciais de comércio, tem ampliado o escopo das regras consolidadas na Organização Mundial do Comércio (OMC), enquanto o Brasil, por causa de sua reduzida rede de acordos, tem ficado à margem dessa dinâmica. Em vista disso, o documento da Fiesp postula que o modelo de inserção produtiva do Brasil deve mudar.
Essa visão, compartilhada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), contrasta com o imobilismo do governo brasileiro, que, sem uma análise mais profunda como a do setor privado, deixa prevalecer considerações ideológicas que ignoram o que ocorre no mundo. Brasília não está preocupada com a tendência de acordos bilaterais, anunciam porta-vozes oficiais, ignorando, por exemplo, o impacto que pode ter sobre o Brasil um acordo entre EUA e Europa.
As propostas feitas pela Fiesp cobrem a integração regional e extrarregional, as negociações multilaterais, as parcerias econômicas e a reforma da estrutura institucional na área de comércio exterior.
No tocante à integração regional e extrarregional, a Fiesp propõe a imediata reincorporação do Paraguai ao Mercosul e a efetiva incorporação da Venezuela às regras do bloco. Além disso, sugere que o Brasil lidere a definição de países com os quais o bloco deveria negociar acordos de livre comércio. As negociações com Peru e Colômbia, cujo processo de desgravação em relação ao Brasil só se completará daqui a seis anos, deveriam ser aprofundadas e o acesso ao mercado desses países, consolidado. Complementando as negociações comerciais regionais, a Fiesp recomenda ainda a aceleração do processo de integração física pela realização de projetos prioritários para acesso aos portos do Pacífico, de modo a facilitar o escoamento de nossas exportações para a Ásia.
A integração com países de maior desenvolvimento tecnológico e geradores de inovação é outra prioridade. Com a União Europeia, o acordo de livre comércio, em negociação há mais de dez anos, deveria ser concluído até o final de 2014. Caso a Argentina e a Venezuela se tornem um empecilho para a conclusão do acordo, o Brasil deveria flexibilizar as regras atuais e, sob a égide do Mercosul, examinar as listas de produtos individualmente com o parceiro europeu. A decisão de negociar com uma única voz é um falso dilema, pois nada impede acomodar as circunstâncias econômicas e comerciais de cada país por meio de uma diferenciação de listas e cronogramas. Com a América do Norte, os entendimentos com o México e o Canadá deveriam ser acelerados e, com os EUA, iniciados estudos visando à celebração de um acordo de livre comércio.
O documento preconiza também apoio às negociações multilaterais no âmbito da Rodada Doha e, além disso, o fortalecimento da OMC, crucial para a transparência e a aplicação das regras comerciais.
Parcerias com potencial de desenvolvimento com países africanos, os Brics e países de língua portuguesa (CPLP) deveriam merecer apoio especial com vistas à ampliação das exportações de manufaturas.
Pelo lado das políticas públicas, além do aprimoramento dos mecanismos de financiamento, a Fiesp apoia a negociação de acordos para evitar a bitributação e de proteção de investimentos estrangeiros no Brasil e de empresas brasileiras no exterior, em particular na América do Sul e na África.
A interveniência de mais de dez ministérios e órgãos do governo no processo decisório de comércio exterior, além do número excessivo de normas legais, dificulta e burocratiza as atividades ligadas ao intercâmbio externo. Tendo em vista a estrutura do atual processo decisório interno, a Fiesp considera que será necessário priorizar e reforçar a Câmara de Comércio Exterior (Camex). Nesse sentido, a Fiesp propõe que a Camex seja o ponto focal da formulação da política de comércio exterior e da negociação externa e que o órgão seja vinculado diretamente ao presidente da República, de modo a que ganhe peso político maior no contexto da política econômica e possa ampliar a coordenação interna.
A Fiesp reconhece que a integração econômica com o exterior traz desafios à indústria. A baixa competitividade da economia do País representa um obstáculo quando se trata de negociar acordos que liberalizam o intercâmbio comercial brasileiro. Esse fato, porém, não deveria afastar a possibilidade de entendimentos com terceiros países, enquanto faz-se imprescindível que o governo e o setor privado avancem numa agenda de eliminação ou, ao menos, de redução do custo Brasil.
Para a Fiesp, o isolamento do processo de mudança no comércio internacional e o protecionismo não são opções para o Brasil.
* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os industriais domesticados da FIESP - Editorial Estadao

Empresários, via de regra, são pessoas focadas exclusivamente nos seus negócios, procurando extrair o máximo de lucros para suas contas privadas ou para a distribuição aos acionistas. Todo o mais deveria ser secundário: políticas públicas, balanço de pagamentos, preocupações sociais, nada disso deveria interferir na busca compulsiva de negócios lucrativos, que sempre podem ser facilitados por um bom ambiente de negócios, estabilidade econômica, câmbio favorável, etc.
Mas persiste a impressão de que o mundo microeconômico pode conviver em bons termos com o mundo macroeconômico, desde que este não atrapalhe a boa marcha do primeiro. E quando atrapalha?
Bem, aí os empresários, se possível unidos, devem pedir aos poderes públicos que consertem o que está errado, do contrário terá de despedir empregados, o setor recolherá menos impostos, etc.
Curioso é quando os empresários não conseguem fazer um diagnóstico correto da situação e se unir para pedir rumos adequados aos poderes públicos.
Esse tipo de cegueira parece caracterizar a FIESP atual, o que talvez se explique por razões eleitorais. Afinal de contas, seu líder máximo, que já foi discretamente social-democrata, depois virou socialista (!!!???), voltou a ser de direita, mas o que lhe interessa mesmo é uma carreira política, o que pode estar em choque com suas funções empresariais (se é que tem alguma).
O editorial do Estadão tenta entender por que a FIESP destoa das outras duas entidades empresariais do setor industrial que menciona. Acaba chamando a FIESP de "bolivariana". Será?
Acho que é só confusão mental, a mesma que está presente nas manifestações de rua.
Paulo Roberto de Almeida

Uma Fiesp bolivariana?
 Editorial O Estado de S. Paulo, 20/06/2013

Ou o Brasil busca novos acordos comerciais ou ficará isolado, alertaram recentemente duas das mais importantes entidades empresariais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi). O País é membro do Mercosul, um bloco marcado pelo protecionismo interno, por uma tarifa externa cheia de furos e por acordos preferenciais com parceiros em geral pouco significativos. O Mercosul é hoje muito mais um empecilho do que uma estrutura capaz de ter peso nas decisões internacionais, disse na terça-feira o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade. Opinião muito diferente aparece em estudo recém-lançado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo o documento, entender a participação do Brasil no Mercosul como um impeditivo a acordos preferenciais de comércio é apontar um falso problema. Além disso, os vizinhos do Cone Sul são apontados como "a prioridade da política comercial brasileira".
A frase do presidente da CNI é muito mais realista que a avaliação oposta. A opinião da Fiesp é mais alinhada com a do governo e mais adequada às boas relações com o ministro Guillermo Moreno, chefe do protecionismo argentino. Para justificar a prioridade atribuída ao Mercosul, os autores do estudo apontam a expansão do intercâmbio do Brasil com os membros do bloco. Desde o lançamento do Mercosul até 2011, essa corrente de comércio aumentou de US$ 4,5 bilhões para o valor recorde de US$ 47 bilhões, "com uma pauta altamente concentrada em produtos manufaturados". Faltou mostrar se o crescimento teria sido muito menor, se o bloco tivesse permanecido como área de livre comércio, sem os compromissos e amarras de uma união aduaneira.
Essas amarras limitam, sim, as possibilidades de acordos internacionais mais variados e comercialmente mais vantajosos. As limitações teriam sido mais evidentes se o governo brasileiro tivesse buscado esses acordos mais ativamente, em vez de se restringir a uma política terceiro-mundista. "O Brasil", segundo nota recente da CNI, "tem 22 acordos preferenciais, a maioria pouco relevante." Chile, Colômbia, México e Peru têm, cada um, mais de 50, muitos deles com parceiros de grande importância.
Segundo o estudo da Fiesp, o Brasil poderia "estruturar acordos-quadro amplos, com listas e cronogramas de desgravação diferenciados" para permitir a adesão gradual dos outros membros do Mercosul. Em outras palavras: pode-se contornar os limites da união aduaneira, por meio de compromissos menos ambiciosos que os acordos de livre comércio e sempre levando em conta a incorporação progressiva dos demais sócios do bloco. O principal problema continuaria sendo a resistência argentina, um dos principais obstáculos, por exemplo, à conclusão das negociações com a União Europeia.
Ainda segundo o estudo, o Brasil, com seu peso, "tem plenas condições de liderar o Mercosul" em negociações com países ou regiões de fora do bloco. Se tem essas condições, por que deixou de usá-las até hoje? Em termos práticos bem claros, o documento da Fiesp é mais um estímulo à manutenção da desastrosa diplomacia comercial dos últimos dez anos.
Mas o documento contém algo mais grave que argumentos discutíveis e propostas irrealistas. "Não apenas as regras do Mercosul são suficientemente flexíveis para acomodar as prioridades dos membros - vide a suspensão do Paraguai do bloco -, como há formas construtivas para acomodar as circunstâncias individuais de cada Estado." Mais que discutível, essa frase parece uma confissão: a Fiesp considera um exemplo de flexibilidade o golpe vibrado contra o Paraguai para que se pudesse admitir a Venezuela pela porta dos fundos?

Se é esse o caso, o alinhamento vai muito além da sujeição aos padrões de uma diplomacia econômica de quinta categoria. Envolve também o aplauso a uma política de apoio aos governos mais perigosos para a democracia na região. Será a Fiesp bolivariana?

terça-feira, 30 de abril de 2013

Mercosul paralisado; Argentina continua a impor barreiras ilegais contra o Brasil - FIESP dixit...

Uma matéria antiga, mas cada vez mais válida: o último encontro presidencial, aparentemente, não resolveu nenhum desses problemas...Paulo Roberto de Almeida 

Brazilian industry claims Mercosur is ‘paralyzed’ and blasts Argentina’s ‘illegal barriers’ on trade

MercoPress, Thursday, January 24th 2013 - 01:14 UTC

Brazil’s powerful manufacturers’ lobby openly criticized the “illegal barriers” imposed by the government of President Cristina Fernandez on Brazilian produce, and also lashed at President Dilma Rousseff for her administration’s “permissive attitude” towards Buenos Aires, a position that has “paralyzed Mercosur”.
“Argentina continues to impose illegal barriers to trade with its Mercosur partners”, claimed the head of Sao Paulo Federation of Industries (FIESP) Foreign Trade Council, Rubens Barbosa.
 The former Brazilian ambassador in Washington also made the criticism extensive to President Rousseff for her administration’s “permissive attitude towards Buenos Aires” in what he described as a “strategic patience” from Brasilia to avoid diplomatic tensions with a very important trade partner.
 In an article under the heading of “The state of the world 2013” the FIESP top official besides retaking the repeated questionings of the Argentine government position regarding foreign trade, including with its Mercosur partners, again underlines the difficulties and ‘illegal barriers’ faced by Brazilian businesspeople.
 Barbosa insists that Mercosur remains ‘paralyzed’ and has shown no advances towards and understanding on trade liberalization and the opening of the Argentine market for Brazilian produce.
 Next March Cristina Fernandez and Dilma Rousseff are scheduled to hold their next bilateral meetings, this time in the Patagonian city of El Calafate where the Argentine leader has her summer home.
 Argentina and Brazil hold top level meetings twice a year to address bilateral issues such as trade, investments and regional politics.
 Argentine ambassador in Brasilia Luis Maria Kreckler said that a preparatory meeting will be held at the end of February with an ‘open agenda’, which will be followed by the summit, ‘most probably March 4 in El Calafate, Santa Cruz province. The last bilateral top level meeting took place in Brasilia last December.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O pacto perverso da CUT com a FIESP, para atrasar o Brasil...

Este jornalista acredita que o lulopetismo e sua política comercial esquizofrenica nao tem nada a ver com o atraso, ou o recuo comercial do Brasil no plano das relacoes economicas externas. Ele atribui o problema aos industriais protecionistas do Brasil. Mas se esquece de mencionar que ambas ideologias protecionistas se casam perfeitamente.
Existe um pacto perverso, contra a sociedade brasileira, feita entre a CUT e a FIESP, mesmo se as duas entidades jamais sentaram-se para negociar tal pacto. Ele existe de fato e prescinde de qualquer acordo para existir.
Se trata do mesmo pacto que na Inglaterra pré-Thatcher unia a TUC (a CUT deles, o Trade Union Congress) ao Labour pré-Blair, o partido que ainda rezava pela cartilha marxista de 1919, que prometia nacionalizacoes, estatizacoes, controle do comercio exterior, etc. As mesmas velharias do passado que unem a CUT com a FIESP e impedem o Brasil de avancar.
Esse pacto perverso nao será vencido facilmente, e nem sabemos se será vencido, de fato, algum dia.
Quanto 'a OMC, se enganam aqueles que a veem como uma entidade promotora do livre comércio. Ela é apenas a favor de um mercantilismo bem-administrado.
Como a CUT e a FIESP, aliás. Elas se amam...
Unidos num mesmo combate contra a liberdade dos mercados...
Paulo Roberto de Almeida

Um brasileiro na OMC, para que, afinal?

Por Sergio Leo
Valor Econômico – pág. A2, 04.02.13

Quem se pergunta qual a importância, para o Brasil, de um candidato do país à direção-geral da Organização Mundial do Comércio deveria refletir sobre outra pergunta, mais relevante: qual a importância da OMC para o Brasil? É a resposta para essa indagação que justifica o lançamento do diplomata Roberto Azevedo como candidato ao comando dessa instituição multilateral. É também essa questão que permite situar mais corretamente certas críticas fora de foco à estratégia de negociação comercial adotada nos últimos anos pelo Brasil.
É frequente e equivocada a comparação entre o Brasil e países como Chile e México, os brasileiros atrelados ao Mercosul, com uma rede medíocre de acordos de livre comércio, e os outros dois (com Colômbia, Peru e outros) ligados a uma rede em expansão de acordos de redução de barreiras comerciais. O primeiro equívoco é atribuir a falta de acordos exclusivamente ao governo e à suposta influência do "lulopetismo" na estratégia comercial, como se não fosse o influente setor privado brasileiro um dos maiores opositores, no passado e mais ainda agora, à derrubada de tarifas e barreiras que orienta toda negociação de comércio.
O exemplo mais conhecido do bloqueio do setor privado às negociações comerciais é o acordo com o Conselho de Cooperação do Golfo, clube dos ricos países árabes que chegou a concluir um acordo com o Mercosul, detonado, à última hora, pela pressão da indústria petroquímica brasileira. Sem acordo, os árabes importaram, nos dois últimos anos, mais de US$ 7,6 bilhões anuais do Brasil, cerca de um terço disso em produtos industrializados. Para o lulopetismo, o acordo era querido por motivos políticos e econômicos, ao servir de contraparte ao acordo firmado com Israel e abrir espaço em um vigoroso mercado emergente. O empresariado brasileiro não teve o mesmo ânimo.
Azevedo se apoia na experiência com as manhas de Genebra
Enquanto o Chile sustenta sua economia com exportações sobretudo de produtos primários como cobre e pescado, e o México optou por vincular-se solidamente a segmentos de menor agregação de valor da cadeia produtiva dos EUA, o Brasil tem diferente estrutura industrial e distintos recursos naturais.
Grande produtor de commodities agropecuárias, que somam algo próximo a 30% do total das exportações nacionais, o Brasil tem entre as principais barreiras a suas vendas externas os programas de subsídios agrícolas dos países desenvolvidos e a aplicação discricionária de barreiras técnicas - dois temas de difícil solução fora de negociações multilaterais como a Rodada Doha, da OMC. Em geral, são baixas as barreiras nos principais mercados a exportações de manufaturados - a valorização do real faz mais estrago, nesses casos, do que qualquer benefício com corte de tarifas de importação.
A situação singular do Brasil não deve servir de pretexto para se abandonar o esforço por acordos comerciais, mas justifica a prioridade conferida às negociações abrangentes da OMC. A existência de regras multilaterais de proteção ao livre comércio interessa não só aos produtores como aos consumidores brasileiros. São elas que moderam os apetites protecionistas domésticos, e impõem limites e racionalidade a medidas governamentais voltadas ao fechamento do mercado. Um país de comércio diversificado como o Brasil se beneficia dessas regras, mesmo quando não derrota totalmente o protecionismo, como ficou evidente no caso, vencido pela diplomacia brasileira, contra os subsídios americanos aos produtores locais de algodão.
A candidatura de Roberto Azevedo está nesse contexto: seu discurso e a base da difícil campanha brasileira à direção da OMC se apoiam na necessidade de dar novo fôlego ao sistema multilateral de comércio. Ao defender a própria candidatura para os membros da OMC, em Genebra, na semana passada, Azevedo tentou provar que sua experiência nas negociações - respeitada e elogiada até por adversários em disputas duras, como os EUA - permitirá a ele conduzir pragmaticamente e eficientemente os novos capítulos da novela comercial multilateral.
Não basta entender de comércio e ter experiência internacional, argumentou o diplomata. É preciso conhecer a OMC por dentro, saber a história de cada negociação, evitar a repetição de impasses antigos, saber se uma bronca resulta de problemas reais dos governos ou de idiossincrasias de algum negociador.
Se falasse a brasileiros, Azevedo poderia ter dito que, para tirar o sistema multilateral de comércio do impasse, é preciso não só resgatar jabutis das árvores, mas saber quem e o que os colocou lá em cima. Ele, como nenhum dos outros candidatos, pode fazer isso, por experiência própria com os quelônios aéreos e os arbustos espinhosos do nº 154 da rue de Lausanne, em Genebra, sede da organização.
A disputa pela direção da OMC ocorre às vésperas de uma nova reunião ministerial para salvar a Rodada Doha, e, como deixou claro o atual diretor-geral, Pascal Lamy, no Fórum Econômico de Davos, está se formando um consenso para deixar de lado, pelo menos por enquanto, as grandes ambições de mudanças nas regras de comércio agrícola e concentrar a negociação em um tema menos charmoso, mas importante, a "facilitação de comércio" - remoção de burocracia, obstáculos de infraestrutura e ineficiências no trânsito de mercadorias, especialmente nas alfândegas.
A facilitação comércio trará ao mundo metade dos benefícios que se esperava com a rodada, garantiu Lamy, em Davos. Há controvérsias. O Brasil não quer que Bali seja um ponto final da rodada, e insiste em incluir, pelo menos, temas como regulamentação mais clara para cotas de importação e apoio aos países mais pobres, para atender às novas exigências multilateriais.
Azevedo defende o próprio nome como o mais adequado, com maior experiência, para conduzir essa reunião ministerial, em Bali, de forma a revigorar as regras multilaterais de comércio. Quanto mais fracas essas regras, mais dependente o mundo fica da lei dos mais fortes. O brasileiro não exagera ao falar da própria capacidade. A dúvida é se seus potenciais eleitores estão, de fato, interessados nesse projeto.
Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br

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sábado, 2 de fevereiro de 2013

FIESP: Negociacoes Economicas Internacionais - nova publicacao

A FIESP, por meio de seu Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior, acaba de dar início a uma nova publicação:
RELATÓRIO PERIÓDICO DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS,
cuja primeira edição foi dvulgad em 24/01/2013
A equipe técnica é da melhor qualidade, como constatado abaixo.
 Paulo Roberto de Almeida

RELATÓRIO DIVULGADO PELA FIESP APONTA TÍMIDO AVANÇO NA AGENDA DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS BRASILEIRA EM 2012.
O ANO TAMBÉM FOI MARCADO PELA CRISE INSTITUCIONAL DO MERCOSUL.
A Fiesp divulgou o  “Relatório Periódico de Negociações Internacionais”. A publicação, inédita, faz uma análise dos principais acordos comerciais  internacionais vigentes, e das mudanças ocorridas ao longo de 2012. Os desafios impostos à agenda de integração econômica regional e à expansão da rede de acordos comerciais assinados pelo Brasil foram marcados, principalmente, pela crise institucional do Mercosul, pela renegociação do acordo automotivo com o México e pelo tímido avanço na agenda de negociações internacionais brasileira, que ficou pra trás em todas as frentes tradicionais (bens, serviços e investimentos), quando comparada com outros países e blocos regionais. O Relatório traz ainda detalhes sobre a suspensão paraguaia e a adesão da Bolívia ao bloco sul-americano e a reforma do Sistema Geral de Preferências Europeu (SGP), a qual excluirá o Brasil a partir de 2014.

DOCUMENTO: http://www.fiesp.com.br/arquivo-download/?id=48843

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR
EQUIPE TÉCNICA
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP
Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREX
Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca
Diretor de Negociações Internacionais: Mário Marconini
Gerente: Frederico Arana Meira
ÁREA DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS
Coordenador: José Luiz Pimenta Júnior.
Equipe: Sabina Silva e Vinicius Santos
Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar – São Paulo/ SP – 01311-923
Telefones: (11) 3549-4615
Fax: (11) 3549-4730

terça-feira, 3 de julho de 2012

Yo te mato, tu me matas -- FIESP vs Argentina (Mercosul?: esquece...)

En Brasil acusan a Argentina de matar al Mercosur

La Federación de Industrias del Estado de Sao Paulo considera que Argentina puede llegar a ser el responsable del “fin del Mercosur”.
ABC Color, 03 DE JULIO DE 2012

/ ABC Color
A través de una entrevista otorgada a una radio en Buenos Aires y publicada igualmente en una de las principales revista de economía del vecino país, el presidente de la Federación de Industrias del Estado de Sao Paulo, Rubens Barbosa - considerado el gremio más poderoso de Brasil -, acusó al gobierno de Argentina “de herir a muerte el Mercosur”, alegando a la vez que en el bloque se busca más que nada un enfoque de política regional que comercial.
"En los últimos meses se adoptaron medidas que mataron al Mercosur. Argentina será responsable de la desaparición del Mercosur", dijo Rubens Barbosa a Radio Mitre de Buenos Aires.
Asimismo, el empresario insistió en que el Mercosur es un instrumento de política en donde el comercio no vale nada. “Lo que vimos el viernes fue el juicio del Paraguay y el ingreso de Venezuela, sin la negociación o el compromiso”, indicó a la revista brasileña Exame.com.
Igualmente, Barbosa denunció "la Argentina ha tomado medidas que van en contra del Mercosur, y Venezuela ahora acepta sin ningún tipo de negociaciones concretas", dijo.
La Federación de Industrias de São Paulo (Fiesp) es la asociación profesional más grande de la industria brasileña. Representa cerca de 130.000 industrias de diversos sectores de todos los tamaños y de diferentes cadenas de producción, distribuidos en más de 130 sindicatos.



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

FIESP ganha o Premio Nobel de Economia (sort of...)

Não exatamente a FIESP, mas seu Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos, e mais exatamente por prever uma coisa quase impossível para economistas normais, que é o nível de equilíbrio do real em relação ao dólar, ou vice-versa, ou qualquer outra coisa, vocês escolhem.
Bem, se finalmente aconteceu o ajuste que a FIESP esperava, seria preciso agora descobrir a quem agradecer por tão faustoso acontecimento: o Tesouro americano, o Banco Central brasileiro, os chineses, os gregos, os goianos, enfim, alguém há de ser responsável, ou culpado, por esse fenômeno fenomenal, se ouso dizer.
Então ficamos assim: o dólar se mantém a 1,85 e ninguém reclama mais: nem a FIESP, nem o BC, nem o ministro Mantega, nem o Bresser Pereira (que ainda certo tempo atrás achava que a taxa de equilíbrio estava mais próxima de 3,5, mas enfim...).
Vamos comemorar pessoal: pode mandar abrir uma garrafa de Veuve Cliquot -- como a presidente fez em NY -- agora um pouco mais cara, mas enfim, não se pode ter tudo na vida...
Paulo Roberto de Almeida


Dólar a R$ 1,85 está próximo do equilíbrio, diz diretor da Fiesp
Gustavo Machado
DCI, 30/09/2011

O diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Walter Sacca, disse ontem que o atual nível do câmbio, por volta de R$ 1,80 a R$ 1,85 por dólar, está muito mais próximo do que a indústria considera uma cotação de equilíbrio. "Finalmente aconteceu o ajuste que a Fiesp tanto desejava", afirmou, ressalvando que o dólar se desvalorizou em relação a moedas reconhecidas internacionalmente.

Na avaliação de Sacca, a recente alta da moeda norte-americana em relação ao real foi "súbita e acima da média". "Como todas as mudanças bruscas, temos efeitos negativos no curto prazo, mas no longo prazo teremos efeitos bons", afirmou, referindo-se à rentabilidade das exportações da indústria brasileira.

No início de setembro, em entrevisa a este DCI, João Medeiros, diretor da Corretora Pioneer, afirmou que o mercado desejava o dólar ao patamar de R$ 1,89. "Este é um consenso que existe no mercado. Esperam que neste nível, os manufaturados tenham um melhor desempenho", afirmou à época João Medeiros.

Apesar disso, Sacca manteve a projeção de crescimento da indústria paulista de 3,5% neste em relação a 2010. "Não haverá melhora no crescimento da indústria até o fim do ano", disse. "A evolução da produção industrial será de acomodação com viés negativo", justificou, numa referência aos termos utilizados nos comunicados do Banco Central.

Essa acomodação, na avaliação dele, pode ser observada na pesquisa Sensor divulgada no mesmo dia. Em setembro, o indicador, que varia de 0 a 100 pontos, atingiu 48,9 pontos. O valor abaixo da linha corte de 50 pontos denota uma deterioração do setor. Entre os itens que compõem o Sensor, o pior resultado foi o doe estoques, com 38,1 pontos, o mais baixo desde abril de 2009.

"Os estoques da indústria de transformação têm crescido muito", diz Sacca. O diretor comparou o desempenho da indústria com o do comércio, que segundo ele deve registrar expansão de 11% neste ano. "O comércio cresce com a venda de produtos importados", afirma.

Entre os destaques do Indicador de Nível de Atividade (INA), Sacca cita o setor de papel e celulose, que encolheu 0,9% ante julho, com ajuste sazonal. "Foi uma queda mais acentuada que a dos demais setores da indústria e a tendência não é positiva", afirmou. De acordo com ele, isso acontece porque o País exporta celulose e importa papel.

Outro setor citado por Sacca foi o de metalurgia básica, com alta de 1,2% no nível de atividade em agosto ante julho, com ajuste. "Tivemos uma recuperação neste mês, mas não suficiente para reverter a queda dos últimos meses", disse. O setor acumula retração de 1,5% nos últimos 12 meses. O destaque positivo foi o de minerais não metálicos, com alta de 1,5% ante julho, com ajuste.

domingo, 22 de maio de 2011

Acautele-se, leitor consumidor: estao construindo um pacto contra voce...

Eu chamo isso de "pacto perverso".
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.

Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:

Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização

Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).

Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.

Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.

Pelo menos a mim, não me enganam...

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP (2)

Desfaçatez em escala industrial
MARCELO DE PAIVA ABREU
O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/08/10

Decididamente, há algo de podre no reino da Dinamarca. A farta lubrificação fiscal promovida pelo governo para eleger a sua candidata tem feito os agraciados com as suas benesses perder a compostura na defesa de seus interesses privados, quase sempre tentando confundi-los com os interesses do País.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) concedeu memorável entrevista (jornal Valor de 17/8), em que defende as políticas públicas que o Brasil deveria adotar. As importações deveriam ser "penalizadas", controladas quantitativa e qualitativamente, o Brasil teria que, "de alguma forma, se fechar". "O duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado." "Importação benéfica para o país é aquela que complementa além do limite (que é possível) produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os 5 vêm de fora, para equilibrar a inflação." A taxa Selic deveria ser reduzida para permitir a desvalorização cambial. "A nossa taxa deveria ser um ou dois pontos porcentuais acima da inflação."
"Precisamos de três bancos como o BNDES para atender à demanda por investimentos." "Essa discussão sobre o BNDES é secundária e inoportuna."
Não há qualquer referência às raízes microeconômicas das dificuldades competitivas da indústria. Tudo é resultado da política macroeconômica indevidamente restritiva e do dumping praticado pelos nossos parceiros comerciais.

O primitivismo é estarrecedor. O modelo de crescimento advogado combina acesso a fontes de financiamento subsidiado do investimento, insumos baratos e reserva de mercado. Tudo apresentado como se fosse novidade e bom para todos nós. Em que isso se diferenciaria do que foi feito no passado? Muitas décadas de protecionismo redundaram em gordos lucros para os cartórios protecionistas e muito pouca inovação. Como é mesmo que essa tradição seria contrariada? O entendimento do presidente da Fiesp do que seja comércio internacional é uma completa sandice: os preços não têm função, o papel das
importações é meramente residual. Há clara tolerância quanto à aceleração inflacionária. O que se prega não tão veladamente é o abandono do regime de metas de inflação. Não interessa quem paga a conta da proteção ou da inflação. E o lamento vem de um empresário cujos negócios vêm sendo beneficiados por notável aumento de preços de commodities.

Em vista da pobreza da argumentação, a entrevista não é eficaz nem mesmo como defesa de interesses setoriais. Se a Fiesp desejasse seriamente abrir caminho para a redução de juros, deveria concentrar suas baterias na contenção de gastos públicos. E a agenda para reduzir o custo Brasil é longa: melhoria da infraestrutura, incentivos à inovação com o uso de subsídios seletivos. Não há objeção a gasto público efetivamente contracíclico - e não fantasiado de contracíclico - nem a defesa comercial sem viés protecionista.

A entrevista veio na esteira de um manifesto em defesa do BNDES, assinado por entidades que congregam empresas que se beneficiam dos empréstimos a taxas subsidiadas do próprio BNDES. Que valor efetivo pode ter manifestação que simplesmente afirma o seu apoio a um sistema que lhe permite acesso a benefícios que não são universalmente disponíveis. Tenho certeza de que 190 milhões de brasileiros assinariam um documento que expressasse a sua preferência por maior volume de recursos do que hoje dispõem. Tal documento, ao simplesmente expressar um axioma conhecido sobre o comportamento dos
agentes econômicos, seria tão trivial quanto o manifesto dos comensais da farra do BNDES.

O manifesto foi duramente criticado por analistas que questionaram a concessão de subsídios a projetos de duvidoso interesse público, a falta de transparência que cerca as operações do banco e as artimanhas que estão sendo utilizadas pelo governo para violar as suas próprias metas fiscais. E não é que surgem agora defensores ardorosos do manifesto e que pretendem inaugurar uma nova era no processo de mistificação da opinião pública? A história é assim. Funcionário de empresa multinacional é diretor de uma associação de classe signatária do manifesto pró-BNDES e também professor universitário. O manifesto, uma simples variante da frase trivial "prefiro mais dinheiro a menos", foi duramente criticado. A reação do diretor é vestir a pele de professor e, sem explicitar a sua condição de diretor da entidade signatária, defender o manifesto. Haja conflito de interesses...

Em tempo: os argumentos, sejam do professor, sejam do diretor, são péssimos. Os empréstimos do BNDES são subsidiados com base em qualquer análise econômica aceitável. A tentativa de ocultar o óbvio rentismo industrial com base na denúncia de rentismo financeiro é pífia. A taxa Selic poderia ser reduzida se os gastos públicos fossem disciplinados. Alternativamente, poderia ser abandonado o regime de metas de inflação, mas parece haver falta de coragem para usar este argumento publicamente.

É o país do "quero o meu", defendido com ares de que é bom para todos. Às favas com o interesse público. E danem-se os conflitos de interesses.

Marcelo de Paiva Abreu é DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE,
É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO.

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP

Quando eu escrevi neste mesmo espaço, pouco tempo atrás, que a FIESP era um sindicato de ladrões, e que seu presidente era um idiota, um dos leitores me escreveu preocupado, para dizer que eu podia ser processado por calunia e difamação.
Bem, não sei por que alguém poderia ser processado apenas por dizer a verdade, talvez não da forma que escrevi, mas em termos outros, disfarçados, para dizer a mesma coisa.
Acho que posso voltar aos meus termos habituais para acompanhar a leitura desta entrevista do mesmo personagem, sobre os mesmos problemas. Não preciso acrescentar nada ao que já disse. O próprio personagem se encarrega de confirmar o que eu penso dele.
Paulo Roberto de Almeida

''É preciso restringir o investimento chinês no Brasil''
Marcelo Rehder e David Friedlander
O Estado de S.Paulo, 23.08.2010

Benjamin Steinbruch, dono da CSN e presidente da Fiesp, diz que chineses podem 'tirar os competidores do jogo' e defende restrições à compra de terras e reservas minerais

"Eu não apareço na mídia com frequência. Isso não quer dizer que não seja ativo"

O empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defende restrições à onda de compra de terras e reservas minerais brasileiras por empresas da China. Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), diz que, como os chineses já são os maiores compradores de minério de ferro do mundo, se também dominarem a produção, "poderão tirar os outros do jogo".
Para o empresário, os asiáticos fazem concorrência desleal, porque possuem apoio maciço do governo de seu país. "É o Estado, não é iniciativa privada."

Steinbruch tem interesse direto no tema, já que mineração é uma das prioridades da CSN, que tem planos ambiciosos para o setor. Mas suas críticas têm o peso da instituição que o coloca hoje como uma das principais lideranças do empresariado nacional. Nesta entrevista, ele também fala dos planos para a CSN e da experiência de presidir a Fiesp, cargo que assumiu com a licença do titular Paulo Skaf para concorrer ao governo de São Paulo.

Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?
A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.

Quais seriam esses setores?
Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.

O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?
Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.

O sr. não está exagerando?
Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.

O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?
Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.

O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?
Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.

No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...
Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar.

O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?
Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.

Está olhando outros negócios?
Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.

Onde está procurando?
Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.

O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?
A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.

Quando isso vai acontecer?
A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.

O sr. já tinha anunciado isso para o primeiro semestre. Não deu certo?
A gente está trabalhando bastante nisso. A Namisa tem vários sócios, até conseguir convergir para fazer a unificação dos negócios demora mesmo. Está demorando mais do que a gente previa. Mas todos estão de acordo que vale a pena. Acho que sai agora no segundo semestre.

O sr. gostou da cadeira de presidente da Fiesp? Pensa em se candidatar na eleição do ano que vem?
A cadeira é igual, sabia? Mas a Fiesp é uma instituição muito forte. Engloba a indústria de todo o País, não só a paulista. Aqui passam presidentes, ministros, reis, príncipes, gente humilde... É uma experiência muito rica, não tem como não gostar. Agora, poder ficar é outra coisa. A Fiesp precisa de uma participação muito ativa, exige muito tempo. Minha prioridade é o grupo de empresas que a gente tem.

Como o sr. vê as críticas de que a Fiesp ficou acéfala depois da saída de Paulo Skaf?
Eu não me considero um cara acéfalo nem os diretores que estão aqui. É uma interpretação equivocada porque a maneira de ser de cada um é diferente. Eu não apareço na mídia com frequência. É meu estilo. Isso não quer dizer que a gente não seja ativo.

E o fato de não ter feito debates com os candidatos a presidente, como era tradição na casa?
A gente prefere uma abordagem direta. Estamos falando com os candidatos em separado. Eu acho que hoje é mais eficiente a gente ter essa postura de abordagem direta.

E o que vocês têm levado aos candidatos?
Aquilo em que a gente acredita. O modelo da produção e do emprego. Com todo respeito ao ministro da Fazenda, hoje o Brasil precisa de um ministro do Desenvolvimento mais forte que o da Fazenda. A parte financeira do País está resolvida. O que temos de desenvolver agora é a produção e o emprego. Isso é o que vai nos fazer diferentes.

Por que o sr. foi contra a filiação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA, uma sociedade entre a Vale e a alemã ThyssenKrupp) ao Instituto Aço Brasil?
Anos atrás, fomos sócios da Thyssen Krupp num projeto aqui, mas houve divergências, compramos a parte deles e ficou por aí. Quando a Thyssen veio para o Brasil com a CSA, agora, tirou 200 pessoas da CSN de uma só vez. E tirou só da CSN. Eu fui no Instituto Brasileiro de Aço e coloquei a discussão. Disse na mesa: "Eu posso tirar 200 pessoas da Gerdau, posso tirar 200 pessoas da Usiminas, desde que pague mais."

Qual o problema, então?
Numa mesa em que nós sentamos para discutir estratégia, sermos amigos, não faz sentido um ficar agredindo o outro. Então, o instituto decidiu que a CSA só seria aceita quando começasse a produzir aço no País. Só que ela tentou entrar antes e outros membros quiseram aceitar. Daí eu falei: "Não foi isso o combinado lá atrás. Então, a gente sai e a CSA entra". Como pediram para ficar, a CSN se licenciou do instituto. Não fizemos isso por nós, mas por todos os brasileiros. Não pense que se formos para os Estados Unidos a gente chega lá fazendo estripulia no mercado deles. Não pode.

Ano passado o presidente Lula implicou com Roger Agnelli para forçar a Vale a investir em siderurgia. Esta semana ele pegou no seu pé numa cerimônia da ferrovia Transnordestina por causa do atraso nas obras...

Ele saiu satisfeito com o que viu. A Transnordestina é uma obra complicada. São 1.728 quilômetros de ferrovia, envolvendo três Estados. Houve dificuldades em várias etapas, como desapropriação, parte ambiental, projeto. Demorou mais do que ele esperava, mas agora estamos a plena carga.

Mas, no discurso, Lula foi bem irônico. Disse que homens como o sr. não são queridos pela população mais humilde porque têm privilégios nos governos. Ou que o sr. não fazia ideia de quanto era xingado...

O presidente é muito espontâneo. Tinha uma massa grande de trabalhadores e ele estava emocionado. Ele brinca muito, interage com o povo. Não fez nada por mal, acho que ele saiu de lá contente.