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domingo, 18 de maio de 2014

Concurso do FMI: alguns comentários pessoais - Paulo Roberto de Almeida

O FMI anunciou um concurso, como vocês podem ver nesta postagem que efetuei anteriormente:

sábado, 17 de maio de 2014

- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/05/estudante-universitario-uma-boa-redacao.html#sthash.XrYb0HhW.dpuf

Sem pretender, e sem poder concorrer, ainda assim o tema me interessou. Mas, como só podia ser uma redação de 500 palavras, acabei escrevendo um pouco mais do que isso, mas acredito que os candidatos encontrarão o seu próprio estilo e preferências. Como sempre escrevo demais, eu também seria eliminado por isso.
Boa sorte, em todo caso...
Paulo Roberto de Almeida

Como construir um futuro melhor para a América Latina

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 17-18 de Maio de 2014

Tomei conhecimento, recentemente, deste concurso aberto pelo FMI, voltado para estudantes universitários (o que eu não sou mais), e destinado a selecionar cinco felizardos (ou respondedores merecedores) para um estágio na capital americana, à condição que a redação oferecida em respostas às questões colocadas abaixo seja considerada boa o bastante – na verdade teria que ser excelente – para corresponder ao prêmio oferecido. Creio que se trata de uma boa oportunidade para estudantes brasileiros, sobretudo porque oferecem inclusive a possibilidade de que a redação possa ser feita em Português. Suponho que tenha de ser em bom Português, ademais de certa consistência na argumentação, ou perfeita adequação do argumento às questões que foram colocadas. Leiam:

Concurso do FMI: 8 de março a 30 de maio de 2014
Prazo para envio da redação:
30 de maio de 2014, para o endereço: ConcursoFMI@imf.org

Como parte dos preparativos para as Reuniões Anuais de 2015, que serão realizadas em Lima, o FMI convida os estudantes universitários latino-americanos a escreverem uma redação curta (500 palavras) sobre o tema “Como construir um futuro melhor para a América Latina”. A redação deverá focalizar a opinião dos jovens sobre os temas e desafios que afetam as futuras gerações e suas possíveis soluções. O concurso está aberto a estudantes de vários países da região. Os idiomas oficiais são espanhol, inglês e português.

A redação deve ser estruturada em torno das seguintes perguntas:
i) Quais são, na sua opinião, os três maiores desafios que a região enfrenta?
ii) Qual é o tema que mais o preocupa sobre seu futuro?
iii) O que você e sua geração podem fazer hoje e nos próximos 10 anos para melhorar as perspectivas para sua região?


Não posso, como disse, participar do concurso, mas talvez possa oferecer algumas sugestões de redação aos candidatos, ou seja, aos estudantes interessados em apresentar suas redações de até 500 palavras sobre o tema geral e sobre as questões em especial. Não o faço com a intenção de sugerir a ninguém que copie as minhas propostas, mas apenas porque o tema me interessa e apresenta para mim o desafio de sintetizar uma vida de leituras, de estudo e de reflexões sobre a América Latina e o seu não desenvolvimento, eventualmente tocando nos pontos certos (não eventualmente aqueles esperados pelos organizadores, ou revisores das revisões, mas pelo menos aqueles que eu mesmo considero como corretos, ou necessários). Vejamos, portanto, o que eu poderia oferecer como sugestão.

Como construir um futuro melhor para a América Latina
A própria formulação do título já deixa supor, ou entender, que o passado, certamente, e o presente, possivelmente, não foram os melhores possíveis; ou seja, para haver um futuro melhor para a região, algumas coisas, certamente, ou mesmo muitas coisas, possivelmente, devem ser mudadas, novas políticas devem ser implementadas e diversas medidas precisariam entrar em vigor, imediatamente, em médio prazo e de forma contínua, para que o continente deixe de ser o marasmo que foi nas últimas décadas, de fato no último meio século, com seus altos e baixos em termos de crescimento, diversos surtos hiperinflacionários, planos frustrados de estabilização, trocas de moedas, calotes nas dívidas interna e externa, fuga de capitais, desvalorizações cambiais, desinvestimentos, dezenas de ministros de economia substituídos, sem falar de alguns golpes de estado e mudanças de regime completas (nem sempre para melhor).
A recomendação efetuada – “A redação deverá focalizar a opinião dos jovens sobre os temas e desafios que afetam as futuras gerações e suas possíveis soluções.” – também traduz esse sentido de urgência e frustração, pois desafios e soluções são termos que só se empregam quando existe uma percepção de carência quanto às políticas e resultados “normais”, ou considerados satisfatórios. Essa percepção não deveria surpreender, pois é um fato que a América Latina acumulou tantas carências sociais, e tantas políticas econômicas equivocadas, ao longo desse último meio século, que a conclusão a ser tirada dos diversos itinerários nacionais só pode ser a de um fracasso rotundo, ou pelo menos de insuficiências repetidas (embora existam exceções, mas depois dos referidos fracassos, como já referido). Vejamos agora as questões a que devem responder os candidatos.

i) Quais são, na sua opinião, os três maiores desafios que a região enfrenta?
Se dependesse exclusivamente de mim, eu diria apenas isto: educação, educação, educação, ponto. Com educação de qualidade, os próprios latino-americanos  poderiam resolver os seus problemas, e não precisariam da ajuda de nenhum organismo multilateral – seja ele o FMI, o BIRD, o BID, a ONU, ou qualquer outro – para ajudá-los a encontrar soluções feitas sob encomenda ou por sugestão de tecnocratas nacionais ou “multilaterais”. Como aparentemente o continente carece de pessoal capacitado, os tecnocratas estrangeiros se apresentam para “ajudá-los”, das mais diversas maneiras, inclusive promovendo concursos para estudantes. Talvez cabeças frescas, livres do peso da influência nefasta (ou pelo menos ultrapassada) de “economistas mortos”, possam oferecer novas soluções para velhos problemas, que são os mesmos: pobreza, miséria, pobreza, desigualdade, pobreza, distorções nas políticas econômicas, pobreza, corrupção, má governança, desrespeito às leis, violência criminosa, pobreza...
De toda forma, os problemas da região são muitos, mas uma má abordagem – de quem quer que tenha concebido a ideia do concurso e formulado as questões – seria começar por unificar a região num mesmo conjunto supostamente uniforme, a partir do qual o mesmo conjunto de prioridades devesse ser desenhado para responder a problemas e desafios supostamente iguais, ou pelo menos similares. Esse tipo de tratamento unificado simplesmente não funciona, pois a região não pode ser vista como um bloco dotado de características similares, com problemas e desafios mais ou menos semelhantes, aos quais devessem ser aplicado o mesmo conjunto de diagnósticos e, em seguida, um conjunto relativamente homogêneo de prescrições resolutivas. Isto é o que fazem burocratas externos à região, numa intensidade efetivamente bem maior em regiões e continentes mais atrasados, do que propriamente na América Latina.
O economista – ex-Banco Mundial – William Easterly acaba de publicar um livro, The Tyranny of Experts, que fala justamente dessas soluções prêt-à-porter, feitas justamente com essa intenção de resolver problemas de outros povos, mas que acabam atrapalhando a busca de soluções pelo próprio povo, no exercício de suas liberdades. Pois bem, independentemente da qualidade dessas expertises impostas de fora, e do fato que o continente não é um só, e não poderia receber soluções uniformes para problemas tão diversos entre os países, vejamos quais seriam os três grandes desafios para a média dos países da região:
1) Falta de educação de qualidade
2) Falta de boa governança
3) Falta de abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros
Como a redação necessita ser de apenas 500 palavras, não seria possível desenvolver em detalhes cada um dos desafios, mas algumas considerações são importantes, já que o candidato não vai perder tempo, como eu fiz, com comentários iniciais muito longos ou reproduzindo os termos do concurso ao início deste texto. O que poderia ser dito, portanto, sobre cada um das questões apontadas?
Não há novidade nenhuma na constatação de que, com algumas diferenças nos níveis, a qualidade da educação na América Latina é genericamente desastrosa em quase todos os países, em todos os níveis, e igualmente má no setor público ou na rede particular de ensino. Não se trata tão somente de falta de prioridade entre as elites e o próprio povo, mas de critérios deformados de formação de mestres e professores e de ausência quase total de controle de qualidade quanto aos conteúdos didáticos e as pedagogias selecionadas. O setor mereceria uma grande revolução, o que está longe de acontecer, inclusive porque ele é dominado por sindicatos comprometidos unicamente com a remuneração uniforme para todos os seus afiliados, sem qualquer concessão a critérios meritocráticos ou correlação com os resultados.
A governança é um conceito amplo que, posto em sua formulação mais simples, significa um governo capaz de oferecer serviços à população ao menor custo possível. No seu sentido amplo implica uma política econômica capaz de produzir crescimento sustentado, sobre a base de estabilidade de regras, baixa inflação, ambiente favorável aos negócios, respeito aos contratos, baixa taxação, infraestrutura adequada, justiça funcional e rápida e outras condições macro e micro compatíveis com a expansão da produtividade do sistema produtivo e a manutenção da competitividade do país. A experiência acumulada em anos e décadas de políticas econômicas equivocadas na América Latina deveria ensinar aos dirigentes atuais quais as que funcionam e quais aquelas condenadas inevitavelmente ao fracasso. Basta olhar para alguns países e seus indicadores econômicos e sociais para constatar quais são umas e quais são outras.
No que tange a abertura externa, trata-se igualmente de simples bom senso e uma rápida constatação visual: países abertos, grandes comerciantes, são, em geral, os mais ricos e prósperos, ao passo que os fechados vegetam no baixo crescimento e no atraso tecnológico. Não deveria haver muitas dúvidas quanto a isso tampouco.

ii) Qual é o tema que mais o preocupa sobre seu futuro?
Como estudante, deveria ser a possibilidade de encontrar emprego e poder ascender profissionalmente. Como cidadão, poder eleger políticos decentes, não corruptos, que saibam administrar um país a partir de políticas sensatas. Como futuro aposentado, gostaria que a aposentadoria oficial não fosse à falência antes do prazo, ou que as aposentadorias complementares não corressem o risco de quebra ou fraude. Como as duas últimas condições são extremamente aleatórias, volto à primeira, que por acaso se aproxima da minha prioridade educacional: com uma boa educação, posso conseguir um bom trabalho e aumentar o meu valor de mercado, o que corresponde, imagino, às aspirações que todo jovem estudante deveria ter. Mas, para que essa educação seja colocada a serviço de minha prosperidade pessoal, seria preciso que o país oferecesse as condições adequadas para um crescimento sustentado, o que nos faz voltar às outras duas prioridades, a boa governança e a abertura do país ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros diretos. O círculo se fecha e temos, portanto, prioridades que se casam com as expectativas futuras.

iii) O que você e sua geração podem fazer hoje e nos próximos 10 anos para melhorar as perspectivas para sua região?
A condição básica, no plano individual, é ter uma consciência adequada dos problemas do país, e preparar-se para colaborar na sua resolução. Em primeiro lugar, sendo um bom estudante, obter bons resultados e colocar a capacitação adquirida a serviço de meu próprio futuro, o de minha família, e o do país. Ao votar, saber escolher políticos não corruptos – talvez seja um pouco ilusório pedir que eles sejam ademais competentes? – e cobrar-lhes resultados, pelo acompanhamento de seu trabalho. Em terceiro lugar, tentar alguma participação cidadã, seja na escola, nas associações de pais e mestres, nos clubes de cidadania, ou em partidos políticos, o que for. Estas seriam tarefas básicas, de aplicação permanente e observância regular.
Numa perspectiva de dez anos, caberia uma reflexão de caráter estratégico, e talvez a elaboração, em bases individuais ou coletivas (via partido político, por exemplo), de algum plano de ação que melhorasse a qualidade de vida ou dos serviços públicos em alguma área de concentração pessoal, por identificação profissional, ou interesse pessoal. Mas, seria preciso não manter sonhos irrealistas, como essa de que minha geração vai fazer algo para a região: essa é uma perspectiva ilusória, pois ninguém trabalha com sua geração ou na sua região. Todos atuamos num círculo menor de pessoas, de grupos mais limitados, e localmente, nunca nacionalmente ou em escala regional. A perspectiva pode até ser nacional, mas a atuação sempre é local, em escala limitada à nossa capacidade de intervenção.
Ser realista não é uma opção, mas uma necessidade. Simples assim.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 18 de maio de 2014. 

sábado, 17 de maio de 2014

Estudante universitario: uma boa redacao, pode leva-lo a Washington

CONCURSO DE REDAÇÃO
Como construir um futuro melhor para a América Latina 
8 de março a 30 de maio de 2014

Como parte dos preparativos para as Reuniões Anuais de 2015, que serão realizadas em Lima, o FMI convida os estudantes universitários latino-americanos a escreverem uma redação curta (500 palavras) sobre o tema “Como construir um futuro melhor para a América Latina”. A redação deverá focalizar a opinião dos jovens sobre os temas e desafios que afetam as futuras gerações e suas possíveis soluções. O concurso está aberto a estudantes de vários países da região. Os idiomas oficiais são espanhol, inglês e português.

A redação deve ser estruturada em torno das seguintes perguntas: 
i) Quais são, na sua opinião, os três maiores desafios que a região enfrenta? 
ii) Qual é o tema que mais o preocupa sobre seu futuro? 
iii) O que você e sua geração podem fazer hoje e nos próximos 10 anos para melhorar as perspectivas para sua região? 

Critério de participação:
O concurso se dirige a estudantes universitários de graduação e pós-graduação na América Latina.
Limite da redação:
Máximo de 500 palavras.

Idiomas:
Espanhol, inglês, português

Prazo para envio da redação:
30 de maio de 2014, 23h59 (horário de Washington), para o endereço: ConcursoFMI@imf.org

Instruções gerais:
Todas as redações devem abordar as três perguntas acima, ser redigidas em um dos três idiomas oficiais do concurso e não ultrapassar o limite de 500 palavras. Ao avaliar o conteúdo das redações, a comissão avaliadora levará em conta esses requisitos e também considerará os seguintes atributos: pertinência, originalidade, coerência, estrutura e eloquência da redação; países de origem, sexo, representação equilibrada de universidades públicas e privadas e diversidade acadêmica.

Premiação:
Cinco finalistas serão anunciados em julho de 2014. Os cinco finalistas serão convidados a participar das Reuniões Anuais do FMI que serão realizadas em Washington, em outubro de 2014 (o FMI arcará com os custos de viagem e estadia por um período de cinco a sete dias). O vencedor do concurso será anunciado em Washington, e o vencedor e o segundo colocado serão convidados a participar da mesa-redonda “Diálogo com a Juventude” durante as Reuniões Anuais, um evento que será moderado um membro da alta administração do FMI e transmitido ao vivo no website do FMI.

sábado, 5 de abril de 2014

Por que a Asia resistiu melhor 'as crises do que a America Latina? - paper do FMI

A Ásia resistiu melhor às crises porque não perpetrou as mesmas bobagens que a América Latina nas décadas anteriores e no período recente. Senão vejamos:
1) crescimento moderado do crédito não é o que tivemos no Brasil no passado recente, ao contrário: ele dobrou nos últimos oito anos;
2) crédito baseado na poupança interna? Nem pensar...;
3) Financiamento externo reduzido? Ninguém consegue...
4) Transações correntes sólidas? Mas elas estão se degradando rapidamente...
Pois é, tudo o que temos de bom, que é um sistema bancário sólido (et encore) foi feito pelo governo anterior; a flutuação cambial também, que nos ajuda a aliviar os desequilíbrios externos e que os companheiros tanto criticaram quando foi feito.
Os companheiros, na verdade, são responsáveis por tudo o que está acontecendo de ruim na economia brasileira, e já nem falo da destruição da Petrobras e da Eletrobras, das patifarias em todas as áreas e da incompetência generalizada. Eles estão simplesmente afundando o Brasil.
Podiam pelo menos aprender como fazer as coisas direito.
Este paper do FMI sobre a Ásia ensina como...
Paulo Roberto de Almeida

Why Was Asia Resilient? Lessons from the Past and for the Future
Prepared by Phakawa Jeasakul, Cheng Hoon Lim, Erik Lundback
February, 2014
IMF Working Paper, WP/14/38
Monetary and Capital Markets Department 

Abstract:
Asia proved to be remarkably resilient in the face of the global financial crisis, but why was its output performance stronger than that of other regions? The paper shows that better initial conditions—in the form of lower external and financial vulnerabilities—contributed  significantly to Asia’s resilience. Key pre-crisis factors included moderate credit expansion, reliance on deposit funding, enhanced bank asset quality, reduced external financing, and improved current accounts. These improvements reflected the lessons from the Asian financial crisis in the late 1990s, which helped reshape both public policies and private sector behavior. For example, several countries stepped up their use of macroprudential policies, well before they were recognized as an essential component of the financial stability toolkit.
They also overhauled financial regulations and strengthened oversight of financial institutions, which helped reduce risk-taking by households and firms before the global financial crisis. Looking ahead, Asia is in the process of adjusting to more volatile external conditions and higher risk premiums. By drawing the right lessons from its pre-crisis experiences, Asia’s economies will be better equipped to address new risks associated with increased cross-border capital flows and greater integration with the rest of the world.

This Working Paper should not be reported as representing the views of the IMF.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Brasil esta doente, diz o FMI (e nao e' so' da cabeca...) - Editorial Estadao

Há muito tempo, desde Noé, mais ou menos, que este blog vem colocando o dedo na ferida dos principais problemas brasileiros, mesmo quando a maior parte dos observadores -- The Economist, inclusive -- achava que o Brasil estava decolando, ou navegando em mar de brigadeiro.
Inflação inaceitavelmente alta, para qualquer padrão que se tenha; contas públicas acumulando desequilíbrios crescentes, sendo maquiadas vergonhosamente pelo governo; balanço de pagamentos acumulando déficits crescentes de transações correntes, e investimentos se retraindo, insuficientes para cobrir os buracos que vão se acumulando.
O governo pretende que seu endividamento público é menor do que o de países ricos. Mas quem paga juros de 10% na média? Quem depende dos famosos capitais especulativos para fechar suas contas como o Brasil?
O governo só faz... (vocês completem com o que acharem mais indicado).
Mas essa é apenas a parte econômica, que, finalmente, pode ser corrigida entre 3 e 6 meses, bastando mudar as políticas econômicas e esperar o resultado entre um ano e dois. Essa é a parte fácil.
A parte difícil seria corrigir as mentalidades deformadas, que são as responsáveis por esses erros de políticas econômicas. Sim, porque os keynesianos de botequim do governo, do mais baixo ao mais alto escalão, estão convencidos de que estão fazendo tudo certo, e ainda estimulando a economia com as medidas anti-cíclicas.
A outra parte ainda mais difícil é inverter a deterioração das instituições, já que o Executivo abastardou os outros poderes, e corrompe abertamente o processo legislativo, inclusive aprovando leis ilegais (pois é) e medidas inconstitucionais. O governo, como sempre digo, é o principal fora-da-lei neste país: não sou eu quem diz: basta ver os casos no STF.
Uma outra, finalmente, é praticamente impossível corrigir, pois está entranhada de tal forma na cultura brasileira que vai demorar muitos anos antes de revertermos o desastre. Se trata da miséria educacional do Brasil, sob a influência das saúvas freireanas, os pedagogos que acham o idiota do Paulo Freire o máximo e que continuam imbecilizando crianças e adultos com um ensino muito pior do que sequer ousaríamos imaginar (com a cumplicidade das máfias sindicais de professores).
Sou pessimista?
Acho que não, apenas realista...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma e a imagem do Brasil

15 de outubro de 2013 | 3h 15
O Estado de S.Paulo
A mistura de baixo crescimento, inflação alta e contas públicas em deterioração, resumo da obra econômica da presidente Dilma Rousseff, começa a prejudicar a imagem do País, como se viu na semana passada, na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Ninguém chamou o governo de irresponsável ou incompetente, mesmo porque funcionários de organizações multilaterais são normalmente polidos e diplomáticos. Mas os danos causados à economia brasileira pelos erros acumulados nos últimos anos foram citados mais de uma vez, e da maneira mais contundente: apenas como fatos claros e bem estabelecidos, sem retórica política e sem juízos de valor. Nem as expectativas de melhora chegam a ser entusiasmantes. Se forem retomados de fato os investimentos em infraestrutura, o País crescerá, em média, 3,5% nos próximos cinco anos, bem menos e de modo menos equilibrado que os vizinhos sul-americanos mais dinâmicos.
Todos os países emergentes perderam um pouco do encanto dos últimos anos e para todos sobrou alguma recomendação, poderiam lembrar as autoridades brasileiras. Mas nem esse consolo vale muito. Vasculhando as tabelas, comentários e projeções, é difícil de encontrar uma conjunção de problemas tão perigosa quanto no caso brasileiro. O Brasil é citado três vezes na agenda política apresentada pela diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, ao Comitê Monetário e Financeiro, o órgão político mais importante da instituição. As três citações são negativas.
O País é mencionado pelas pressões inflacionárias preocupantes, pelo alto endividamento do setor público e pela necessidade urgente de investimentos em infraestrutura. As pressões inflacionárias deixam pouco ou nenhum espaço para estímulos monetários ao crescimento - um recurso disponível em países com inflação contida em níveis toleráveis.
Todas as sugestões e análises vão no sentido oposto ao da política formulada em Brasília nos últimos anos. Seria um erro, já haviam indicado outros documentos do FMI, recorrer a novos estímulos ao consumo, porque os limites ao crescimento estão do lado da oferta. Analistas vinham chamando a atenção para isso, no Brasil, pelo menos desde o ano passado. Agora o problema é discutido no mais importante foro internacional.
Os problemas fiscais são igualmente visíveis, num ambiente marcado pelo crescimento constante do custeio público, pela transferência de grandes volumes de recursos do Tesouro para bancos federais e pelo endividamento crescente.
Pelas contas do Fundo, a dívida pública brasileira equivaleu a 68% do PIB no ano passado, deve chegar a 68,3% neste ano, atingir 69% em 2014 e, a partir daí, declinar lentamente. A dívida projetada para 2018 corresponderá a 66,7% do PIB. A dívida bruta média dos emergentes foi estimada em 35,2% do PIB no ano passado e deve ficar em 34% em 2013. A dos latino-americanos ficou em 52% em 2012.
O governo brasileiro calcula sua dívida por um critério diferente do usado pelos economistas do FMI, mas, ainda assim, os números encontrados são muito maiores que a média dos emergentes. A dívida bruta no fim do ano passado, segundo as contas de Brasília, foi de 58,7%. Em agosto, chegou a 59,1%.
A presidente Dilma Rousseff e seus ministros costumam confrontar a dívida brasileira com os níveis encontrados no mundo rico, em média superiores a 100% do PIB. Mas a comparação só pode convencer os desinformados. O Brasil é um país emergente e convém comparar seus números com os de outros países da mesma categoria. Além disso, bastaria confrontar as classificações de risco para avaliar com mais realismo as condições do Brasil e as dos países mais avançados.
A recuperação da imagem do Brasil foi conseguida com ajustes muito trabalhosos nos anos 90, completados com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal em 2000. A imagem de seriedade permaneceu durante a maior parte dos últimos dez anos, mas a erosão é evidente. Retórica populista pode funcionar no País e para um público determinado. O público externo - e isso inclui os investidores - é muito mais exigente.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Brasil-FMI: companheiros ainda mantem relacao esquizofrenica - materias de jornais

Ué? A gente não era autônomo do FMI? Não éramos credores do organismo? Por que reter um relatório sobre nossa excelente situação econômica e nossa mais excelente ainda política econômica?
O que temos a esconder?
Paulo Roberto de Almeida

FMI sugere ao Brasil reduzir empréstimos a bancos públicos
Sergio Lamucci
Valor Econômico, 29/08/2013

Washington - O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda ao Brasil uma redução gradual da política de empréstimos aos bancos públicos, ressaltando a importância da adesão a uma meta de superávit primário que coloque a dívida pública numa trajetória de queda, segundo documento divulgado ontem, que elogia o ciclo de alta de juros promovido pelo Banco Central (BC) para conter a inflação.
Para o FMI, a economia brasileira está se recuperando da desaceleração que começou em meados de 2011, observando que os "ventos contrários" provocados pelas condições externas, "restrições domésticas de oferta e incertezas sobre políticas" parecem segurar o crescimento no curto prazo.
As informações fazem parte de nota de três páginas, que trata da conclusão das consultas ao artigo IV, o capítulo do estatuto do FMI que prevê raio-X anual da situação da economia dos países-membros. Não é contudo, o relatório completo, cuja publicação depende de autorização do Ministério da Fazenda, ainda pendente. (ver ao lado)
O FMI faz algumas críticas à política fiscal, na linha das realizadas por parte dos especialistas em contas públicas no Brasil, mas em tom mais brando. O aumento expressivo dos empréstimos do Tesouro para bancos públicos, especialmente ao BNDES, é malvisto pelos analistas por elevar a dívida bruta.
Segundo a nota do FMI, alguns diretores-executivos consideraram que "uma avaliação mais detalhada do que compreendem os conceitos da dívida pública bruta e líquida permitiria uma interpretação melhor da evolução e das perspectivas fiscais do país". A dívida líquida desconta ativos do governo, como reservas internacionais e créditos do Tesouro junto aos bancos públicos.
Em julho, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou carta para a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, pedindo uma mudança nos critérios de cálculo da instituição da dívida bruta brasileira. Nas conta do FMI, o endividamento bruto do país fica mais alto por incluir todos os títulos que estão na carteira do BC.
Os diretores-executivos da instituição, diz o documento, estimulam esforços do país para "manter a disciplina fiscal de Estados e municípios, o relaxamento da rigidez orçamentária para aumentar a poupança pública", além de encorajar o "reconhecimento mais completo de riscos fiscais associados a ativos de bancos públicos e acordos de concessão de infraestrutura." Eles ressaltaram a necessidade de ajuste fiscal firme e comedido, "ancorado à meta de longo prazo de superávit primário".
"Alguns diretores" acreditam, segundo a nota, que o estímulo fiscal pode ter papel de instrumento contracíclico. O FMI se mostrou satisfeito com o começo do ciclo de aperto monetário, destacando que a política monetária deve se voltar para conter pressões inflacionárias e ancorar expectativas de inflação. Para o FMI, a política monetária deve ter o papel principal na administração da demanda.
Ao falar da atividade econômica, o FMI aponta uma retomada gradual. "O consumo continuou resistente no ano passado, apoiado pelo baixo desemprego e amplos ganhos nos salários reais, embora tenha havido uma desaceleração mais recentemente", afirma. "Depois de período prolongado de fraqueza, o investimento começou a se recuperar nos últimos trimestres, enquanto a confiança dos empresários se firmou. Com a economia operando perto do potencial, restrições de oferta afetaram o crescimento de curto prazo e exacerbaram pressões inflacionárias."
Para o FMI, o baixo desemprego contribuiu para pressionar a inflação, impulsionando a demanda e elevando custos. O documento nota que o índice de preços ao consumidor tem rodado no limite superior da banda de tolerância da meta, de 6,5%, enquanto as expectativas de médio prazo acima do ponto central, de 4,5%. Nota que o déficit em conta corrente aumentou, refletindo demanda externa mais fraca, consumo forte e também aumento do investimento e interrupções temporárias na produção de petróleo. "A taxa de câmbio se depreciou ao longo do último ano, mais recentemente como parte de um amplo realinhamento nos vários mercados emergentes."
A nota destaca que fluxos de capitais, especialmente de carteira (para ações e renda fixa), diminuíram em 2012, devido à perspectiva de crescimento mais fraco, juros mais baixos no Brasil e ao uso de medidas de controle de capitais. "Mais recentemente, a volatilidade financeira global e o aumento da aversão global ao risco reduziram ainda mais os fluxos de carteira para ao Brasil." Os fluxos de investimento estrangeiro direto, porém, continuaram robustos, nota o FMI.
O fundo diz apoiar a decisão das autoridades brasileiras de limitar as intervenções no câmbio para moderar a excessiva volatilidade, destacando que o câmbio flutuante deve permanecer como o principal amortecedor de choques num cenário de turbulência. O documento, contudo, foi concluído antes de o real sofrer pressão mais forte, que levou o BC a decidir por uma atuação mais firme no mercado de moeda estrangeira.

Fazenda 'proíbe' FMI de divulgar relatório
 Adriana Fernandes, Laís Alegretti, Renata Veríssimo
O Estado de S. Paulo, 29/08/2013

Brasília - Fundo publicou apenas sumário de documento com dados da análise anual sobre a economia brasileira; governo cobra ajustes técnicos

Em mais um episódio envolvendo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo brasileiro não autorizou o organismo a publicar o relatório completo com os dados da análise anual feita sobre a economia brasileira.A entidade limitou-se a divulgar ontem apenas o sumário da publicação.
O Brasil cobra do FMI modificações e ajustes técnicos no documento antes de autorizar a publicação da íntegra do relatório. O Ministério da Fazenda não informou quais são as mudanças pleiteadas pelo Brasil. A assessoria do ministro Guido Mantega disse que se trata de discussões técnicas. O Brasil alega que precisa de mais tempo para autorizar a divulgação.
"A decisão sobre a publicação do artigo 4.º será tomada depois que esse diálogo (com o FMI) for concluído", comunicou a assessoria de Mantega.
Conhecido como "artigo 4.º", o relatório é feito depois de uma avaliação e troca de informações com a área econômica do governo sobre a estratégia de política econômica. Economistas do FMI visitam o País e, após o retorno, a equipe apresenta o documento para a discussão na diretoria do Fundo.
O relatório foi concluído pela diretoria executiva do FMI no dia 26 de julho, mas apenas o sumário foi divulgado ontem, nos Estados Unidos, com recomendações ao País como: a redução gradual na concessão de crédito por bancos públicos, disciplina fiscal e adoção de uma meta de superávit primário que coloque o déficit público em trajetória de queda. No sumário, o FMI também avalia que uma política monetária mais apertada vai ajudar o País a lidar com pressão de preços. Ou seja, sugere juros mais altos para combater a inflação.
Pressão. Nos últimos meses, o Brasil vem pressionado o FMI para revisar a metodologia de cálculo da dívida bruta do governo federal. Mantega chegou até mesmo a enviar uma carta à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. A mudança passou a ser questão de honra para o Brasil porque, pelos critérios do FMI, a dívida pública brasileira fica quase 10 pontos porcentuais mais elevada em comparação aos cálculos feitos pelo Banco Central brasileiro. A preocupação do governo é que o cálculo mais elevado prejudique a imagem do Brasil, justamente no momento de maior crítica à política fiscal.
Na carta, o governo critica a metodologia, considera que os dados do FMI estão "substancialmente superestimados" e que isso prejudica a percepção sobre a situação fiscal brasileira. Pelos dados do FMI, a dívida bruta do País fechou 2012 em 68% do Produto Interno Bruto (PIB). Já pelos dados divulgados pelo BC, o endividamento ficou em 58,7% ao final de dezembro do ano passado.
Grécia. Em outro episódio mais recente, o representante do Brasil no FMI, Paulo Nogueira Batista, se absteve na votação de liberação de mais uma tranche de ajuda à Grécia. O procedimento foi desautorizado pelo ministro Mantega, que telefonou para a diretora do FMI para explicar que essa não era a posição do governo. Em seguida, Batista foi chamado a Brasília, mas não perdeu o cargo.

O FMI e a escuridão do Brasil
Editorial O Estado de S. Paulo, 29/08/2013

Mistério insondável ou segredo? Não há cenário prospectivo da economia brasileira, nem para este ano nem para o próximo, no informe divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), na quarta-feira passada, sobre a recém-concluída coleta de informações sobre a situação e a evolução provável do País. Quem quiser conhecer as mais amplas e recentes projeções econômicas para Estados Unidos, Alemanha, China, Japão, Geórgia e República Eslovaca - para citar só uns poucos exemplos - poderá consultar os últimos relatórios do Fundo Monetário Internacional sobre as consultas realizadas periodicamente, quase sempre de ano em ano, com fontes oficiais, empresariais e acadêmicas desses países.
Os documentos e mesmo os comunicados breves à imprensa contêm, no mínimo, os números estimados para este ano e para o próximo. As estimativas alcançam, em alguns casos, os próximos cinco anos. No caso do Brasil, a série dos números termina, estranhamente, no ano passado. A nota publicada em julho de 2012 continha, pelo menos, as projeções para o ano. Naquele momento ainda se esperavam, por exemplo, um crescimento econômico de 2,5% e uma inflação de 4,8% - números fornecidos pelo governo, incorporados no relatório e errados.
Neste ano, nem as projeções para 2013 aparecem na tabela divulgada. Não foram citadas sequer as últimas estimativas do FMI: 2,5% de expansão do PIB neste ano e 3,2% no próximo. O governo terá, por insegurança diante dos maus resultados obtidos até agora, interferido para limitar os detalhes numéricos?
Mesmo com poucos números e com uma tabela encerrada em 2012, a nota evidencia uma avaliação pouco favorável da economia brasileira. Documentos desse tipo são em geral redigidos em linguagem diplomática, mas sem grandes contorções. A produção do texto recém-divulgado foi obviamente mais complicada, com muita interferência brasileira. A análise relevante, em geral crítica, aparece quase sempre depois de alguma referência positiva.
Exemplo de contorção: a economia melhora gradualmente, o investimento começou a recuperar-se e a confiança dos empresários se firmou. Mas - e aqui entra a parte substantiva - a economia deve estar operando perto do potencial, restrições do lado da oferta limitaram o crescimento no curto prazo e exacerbaram as pressões inflacionárias, com o baixo desemprego também contribuindo para pressões inflacionárias de custo e de demanda.
Qual o potencial de crescimento? Deve estar na faixa de 3% a 3,5%, pelas estimativas do Fundo, porque a projeção para o próximo ano indica 3,2%. No Brasil, há quem calcule margem ainda menor para uma expansão segura, isto é, sem pressão importante sobre os preços e sem desajustes perigosos nas contas externas. Sem entrar nesses detalhes, pelo menos no informe inicial para a imprensa, o pessoal do FMI é, no entanto, bastante claro quanto a esse ponto: o Brasil precisa de muito mais investimentos para crescer mais rapidamente.
A piora das contas externas também é mencionada. O câmbio desvalorizou-se, mas o custo da mão de obra em dólares se manteve. O rápido aumento do salário real e a estagnação dos ganhos de produtividade limitaram o efeito benéfico da depreciação do real sobre a competitividade. A mensagem é nítida: a deterioração do balanço de pagamentos, especialmente da conta de comércio, é atribuível apenas em parte à fraqueza da demanda externa. Neste, como em outros pontos importantes, o diagnóstico dos técnicos do Fundo diverge das explicações, ou justificativas, do governo.

Na avaliação da junta de diretores executivos, o crescimento deve estar sendo contido, no curto prazo, pelas limitações internas da oferta (dificuldades de produção) e pelas incertezas quanto à política econômica. O aperto monetário, segundo essa análise, é bem-vindo e seria conveniente mantê-lo para conter a inflação e ancorar as expectativas. Cuidar das contas públicas também seria, segundo essa análise, uma boa ideia.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Gustavo Franco, disfarcado de Mme Lagarde, humilha Guido Mantega: impagavel...

A resposta de Madame Lagarde


O Estado de S.Paulo, 04 de agosto de 2013

GUSTAVO H.B. FRANCO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dirigiu uma carta à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em julho de 2013, solicitando uma revisão metodológica no cálculo da Dívida Bruta do Brasil. O organismo trabalha com um valor correspondente a 68% do PIB e as autoridades brasileiras reconhecem apenas 58,7%. Logo abaixo, num exercício inteiramente ficcional, imagina-se o teor de uma carta resposta, de caráter pessoal e confidencial.
"Washington, 2 de agosto de 2013
Mon cher Guido,
Demos boas gargalhadas com a sua mui amável carta trazendo o seu pedido para mudarmos a metodologia de apuração da Dívida Bruta brasileira, que, de qualquer jeito, se me permite a piada insolente, continua sendo uma bruta dívida por qualquer critério que possamos escolher. Esteja certo que vamos trabalhar o assunto da maneira mais conveniente para todos, pois, como você bem sabe, não há outra instituição multilateral neste mundo de Deus que melhor compreenda a necessidade de as autoridades jogarem para a torcida. Ademais, em condições normais, as queixas e os pedidos que aparecem são sempre malcriados, pois, como sabemos, somos uma organização que todos adoram detestar, aí incluídos os representantes que mandam para cá.
Sei bem que o amigo anda enfrentando críticas centradas nos dribles contábeis que vocês inventaram para enfeitar os números fiscais. Aqui nesta casa, como você já terá observado muitas vezes, todos somos admiradores do futebol arte, e nesse quesito vocês são os indisputáveis campeões mundiais, os artistas que todos querem ver em ação.
Pena que nos últimos anos, desde a Copa de 1994, tenha havido certa "germanização" dos assuntos fiscais e monetários contrariando a vocação brasileira para a criatividade. Nossos analistas apaixonados pelo futebol brasileiro vinham se deslocando para a cobertura dos jogos de Espanha, Itália, Portugal e Grécia, a fim de melhor exercitar o fascínio pela inovação. Felizmente, todavia, graças ao trabalho de vocês, esse longo inverno chegou ao fim. Desde os tempos do ministro Delfim, e daquelas inesquecíveis cartas de pura embromação, nós não víamos nada tão interessante. Dê os meus parabéns ao moço do Tesouro, ele tem um futuro brilhante pela frente, talvez em Wall Street. Só posso imaginar o que será capaz de fazer quando aprender sobre derivativos.
Deve ter sido ele o autor da minha passagem favorita de sua carta, quando você diz que os títulos do Tesouro na carteira do Banco Central "não têm natureza fiscal". Que achado! Dívida de natureza não fiscal seria como dinheiro de caráter não monetário. Ninguém do "staff" tinha ouvido nada parecido, e seguramente a novidade vai causar sensação na França, posso lhe garantir. Jean Baudrillard, caso estivesse vivo, escreveria certamente sobre isso, nada pode ser mais pós-moderno e consistente com sua semiótica do simulacro.
Veja, Guido, eu sou advogada, não sei nada sobre números e, por isso, talvez não seja mesmo capaz de apreciar como deveria o trabalho de vocês. Mas de contabilidade eu entendo uma coisa ou outra, pois bastam as quatro operações e saber que a obrigação de um é a riqueza de outro. Com esse pouquinho de conhecimento, consegui capturar a malícia utilizada em seu texto quando você afirma que os títulos do Tesouro que não estão "em poder do público" não devem estar na estatística de "dívida bruta". Está tudo dentro de casa, não é mesmo? O "staff" diz que é um tolo argumento de senso comum, como costumam ser as grandes falácias em economia, o que, para mim, soa como uma espécie de elogio a seu texto.
É claro que eles dizem um monte de outras coisas horríveis de vocês, esses caras são pagos para achar defeito nas coisas. A maior parte dessas mesquinharias é muito difícil para uma advogada, mas o pedaço que eu entendi, eu não consigo contestar e, por isso, preciso que você me ajude. Eles dizem que topam excluir da estatística da dívida bruta qualquer coisa que você, Guido, possa cancelar sem que isso traga qualquer implicação patrimonial para ninguém, como títulos em tesouraria. Mas esse não é bem o seu caso, certo? Se você cancelar esses títulos que você quer tirar da conta, você vai quebrar o Banco Central, não? Afinal, são cerca de R$ 400 bilhões em títulos a cancelar no ativo e o patrimônio do BCB é de R$ 21,5 bilhões. Muito feio, não?
Mas quem se importa com o que diz o "staff". De minha parte, fico curiosa sobre o assunto, como dizem os advogados, "por amor ao debate". Importante mesmo é o que vai se passar diante dos olhos do distinto público, a saber: vou lhe escrever uma carta com felicitações pelos progressos alcançados no terreno fiscal, com uma reserva ou outra para não ficar adulatório, e vou acrescentar que, mesmo reconhecendo os méritos (vou precisar muito cuidado com a linguagem aqui) de seu pedido, não podemos mudar nada de natureza metodológica que não seja aplicável para todo o mundo, inclusive para aqueles alemães insuportáveis. Você sabe como é difícil conversar desses assuntos com esse povo. J'adore quando você implica com eles e com os americanos! Nisso você me faz lembrar o finado Jacques Rueff, ele não era do seu tempo e foi uma lenda na França. É invenção dele a expressão "privilégio exorbitante", para provocar os americanos (e que virou título de um livro recente do Barry Eichengreen, que trabalhou aqui conosco), mais ou menos como você fez com a sua já consagrada "guerra cambial".
Em ambos os casos, nós bem sabemos que se trata apenas de uma tola frase de efeito para consumo da imprensa não especializada e dos círculos alternativos, e Rueff não tinha nada que ver com você: era um liberal de corte austríaco, seguidor de Von Mises, apóstolo do padrão ouro e membro da Academia Francesa, onde ocupou a cadeira de Jean Cocteau. Por isso, talvez o marechal De Gaulle o chamasse de "meu poeta das finanças".
Seu texto não tem lá muita poesia, mas eu entendi bem o seu propósito. Eu escrevo a minha carta, você continua a fazer a conta do jeito que você achar mais conveniente, e a vida segue, cada um no seu quadrado.
Transmita meus cumprimentos à sua equipe, aos quais se junta o nosso querido DSK que apenas alerta para os riscos do excesso de maquiagem.
Um último ponto, já ia me esquecendo: obrigada pela sua rápida intervenção no affaire do pacote grego. Era só o que faltava, não é? Nunca sentimos tantas saudades do finado Alexandre Kafka, um homem gentil e sensato. Sei que vocês querem esse rapaz longe daí, mas você não acha que já sofremos o suficiente?
Cordialmente,
Christine."

terça-feira, 30 de julho de 2013

Maquiagem das contas publicas: ate na divida externa

FMI avalia pedido do Brasil para mudar cálculo da dívida

Na última quinta-feira, o ministro Guido Mantega encaminhou carta do Fundo solicitando mudança no cálculo da dívida bruta do país

Veja.com, 29/07/2013
O ministro da Fazenda, Guido Mantega
Divergência: Para o FMI, a dívida bruta do Brasil fechou 2012 em 68% do PIB. Pela metodologia do BC, ficou em 59% do PIB. (Ueslei Marcelino/Reuters)
O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai analisar o pedido do Brasil para que mude a forma como calcula a dívida do governo, disse um porta-voz do Fundo. "O FMI vai responder ao ministro (da Fazenda, Guido Mantega) no devido tempo, após analisar a questão", destacou.
Segundo o porta-voz, até lá, o FMI não fará comentários sobre o pedido feito por Mantega à diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde.
Radar on-line: Pedido ao FMI
Como adiantou a coluna Radar, de VEJAno sábado, Mantega encaminhou um pedido ao órgão para que seja revista a fórmula de cálculo da dívida. O ministro pede uma mudança na metodologia para o cálculo da dívida bruta brasileira, que é a soma de todos os débitos do governo federal, estados, municípios e estatais. 
Desde o ano passado, o Brasil tem o pior desempenho neste item entre os principais países emergentes. Segundo o FMI, a dívida bruta do Brasil fechou 2012 em 68% do PIB. Pela metodologia do BC, ficou em 59% do PIB.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Companheiros neoliberais se rendem ao capitalismo financeirointernacional: FMI

Brasil eleva participação em cotas do FMI para 2,3%

China, Índia e Brasil foram os mercados que mais ganharam peso dentro do Fundo, enquanto Alemanha, Estados Unidos e Grã-Bretanha foram os que mais perderam participação

Sede do FMI em Washington
A fatia do Brasil na participação do FMI passou de 2,2% para 2,3% das cotas do organismo multilateral (Chip Somodevilla/Getty Images)
O Brasil e outros países emergentes aumentaram novamente a participação no Fundo Monetário Internacional (FMI). A fatia do país passou de 2,2% para 2,3% das cotas do organismo multilateral, de acordo com relatório divulgado nesta terça-feira. China, Índia e Brasil foram os mercados que mais ganharam peso dentro do Fundo, enquanto Alemanha, Estados Unidos e Grã-Bretanha foram os que mais perderam participação. O relatório atualiza o documento anterior, que tinha dados de 2010. As participações no FMI agora apresentadas consideram estatísticas de 2011.
O maior crescimento econômico dos emergentes - em comparação com os países desenvolvidos - é um dos fatores que têm levado ao aumento da participação, de acordo com o documento. Além de ocorrer no campo das cotas, o bloco de países briga há alguns anos por mudanças nas fórmulas de cálculos para ganhar maior poder de decisão dentro do FMI. As cotas dos países desenvolvidos têm caído constantemente. Em 2008, por exemplo, antes da reforma nas cotas, o grupo representava 63,8% do Fundo. Agora, a participação caiu para 54,7%. Os EUA caíram de 19% para 15,6% no mesmo período de comparação. A China saltou de 6,4% para 10,1% e o Brasil, de 1,7% para os atuais 2,3%.
Numa reunião do G-20, o bloco das vinte economias mais ricas do mundo aprovou em 2010, na Coreia do Sul, uma nova reforma de cotas no FMI, que daria mais poder de voto aos emergentes. No último mês de janeiro, o próprio Fundo falhou em desenhar no prazo previsto uma fórmula que mostre a nova realidade econômica global, com os emergentes ganhando peso. A nova reforma deve ocorrer em 2014.
O documento atual discute o ponto e faz algumas simulações. Há consenso, por exemplo, de que o Produto Interno Bruto (PIB) de cada país deva ter o maior peso dentro da nova fórmula, que precisa ser "simples e transparente", segundo o relatório. Ao mesmo tempo, há divergências em outros campos. Entre eles, em relação ao peso da abertura econômica de cada nação.
Alguns países, notadamente os europeus, argumentam que o nível de abertura financeira e econômica é central para o poder de voto dentro do FMI e, por isso, a variável deve ter peso relevante na nova fórmula. Outros argumentam, principalmente os emergentes, que geralmente países menores são mais abertos e, se esse ponto for levado em conta, podem ter participação desproporcional ao seu tamanho no Fundo como ocorre atualmente. O argumento dos emergentes é que, pela fórmula atual, a Holanda tem peso semelhante ao do Brasil, apesar de ser uma economia muito menor, e Luxemburgo, tem cota maior que a da Argentina.
No relatório, os técnicos do FMI, com base nas simulações, falam que uma das possibilidades é reduzir o peso da abertura econômica de cada país na nova fórmula. Ao mesmo tempo, o peso do PIB seria aumentado, mas também são discutidas outras ponderações. O estudo faz várias simulações. A participação dos emergentes, incluindo o Brasil, aumenta no FMI, por exemplo, à medida que o peso da abertura econômica na fórmula se reduz.
(com Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

China: economia sob ameaca, Brasil vai sofrer - NYTimes

Epa! Agora a coisa parece séria: o próprio FMI fazendo alertas para os dirigentes chineses sobre a insustentabilidade das políticas atuais.
O Brasil, altamente dependente da demanda chinesa, já está se ressentindo da diminuição das taxas de crescimento naquele país, o que significa que, ademais dos problemas "made in Brazil", propriamente - inflação, desequilíbrio das contas públicas, perda de credibilidade das políticas macro e setoriais, corrupção, etc. -- também teremos de enfrentar um ambiente externo menos propício -- e cada vez mais competitivo, na nossa própria região -- à manutenção de taxas, já não digo altas, mas razoáveis, de crescimento econômico.
O Brasil, como já alertado diversas vezes, pode estar atravessando, por um largo período, o que foi designado como "estagnação no baixo crescimento".
Portanto, não esperem ficar ricos na sua geração: a renda, ao ritmo atual, só dobra em três gerações...
Paulo Roberto de Almeida

The New York Times, July 17, 2013

I.M.F. Tells China of Urgent Need for Economic Change


WASHINGTON — China’s growth has slowed significantly in recent months. But even its current pace of expansion may be unsustainable unless the country starts making significant and systemic changes to its economy, and soon, the International Monetary Fund warned Wednesday.
“Since the global crisis, a mix of investment, credit and fiscal stimulus has underpinned activity,” the I.M.F. said in a major annual assessment of the Chinese economy. “This pattern of growth is not sustainable and is raising vulnerabilities. While China still has significant buffers to weather shocks, the margins of safety are diminishing.”
The report emphasized downside risks to the Chinese economy, touching on familiar themes though imparting more of a sense of urgency than it has in the past.
The country still has large foreign-currency reserves and plenty of room for new government spending to buffer against any unexpected shocks, said Markus Rodlauer, the I.M.F.'s China mission chief, in an interview. But he said the Chinese economy was looking more and more vulnerable, with changes only getting harder to make as time goes on.
The I.M.F. — along with a range of international economic officials, research groups, academics and financial market participants — has raised concern that money is pouring into mispriced real estate and infrastructure investments in China that are increasing growth in the short term but might do little for the Chinese economy down the road.
For decades, a cheap currency, cheap labor and huge infrastructure investment fueled enormous growth in the Asian nation. China has made “substantial” progress on rebalancing its trade deficits with the rest of the world, the I.M.F. said, and its current account balance as a share of its total economy is less than a quarter of its precrisis peak.
The fund described the Chinese currency as “moderately” undervalued, as it has for about a year after a long stretch of describing it as “significantly” undervalued — a policy maneuver that helped boost China’s exports but angered many foreign countries whose goods became relatively less competitive.
But imbalances in China’s domestic economy “remain large,” the I.M.F. warned, with Chinese consumers failing to take over for consumers from the United States, Germany and other countries who helped stoke China’s growth for years. Consumption rates have barely budged from last year. But net purchases of physical assets like roads, hospitals and commercial buildings grew further as a share of the economy.
“A decisive shift toward a more consumption-based growth path has yet to occur,” the I.M.F. said. “Accelerating the transformation of the growth model remains the main priority.”
The I.M.F. focused on a few spots of acute risk in the Chinese economy.
One is the financial system. The country has seen huge boom in lending through “less regulated” parts of its financial system, it said. The report raised concerns about the adequacy of the country’s regulatory controls, and about the quality of underwriting and the pricing of risk.
The formal banking sector might not be as strong as it looks, either, the I.M.F. warned. “Based on reported data, bank balance sheets appear healthy and loan books show only a modest deterioration in asset quality,” it wrote. “However, banks remain vulnerable to a sharper worsening of corporate sector financial performance.”
Another issue is a proliferation of debt-financed spending by local governments without adequate tax bases, often through “local government financing vehicles” that have long been fingered as a weak spot in China’s markets. “Further rapid growth of debts would raise the risk of a disorderly adjustment in local government spending,” the I.M.F. warned.
Finally, it also cautioned about the possibility of sharp price drops in the real estate markets, which remain “prone to bubbles,” the I.M.F. said, in no small part because many Chinese savers do not earn interest on their deposits and thus push money into the housing markets.
Making adjustments to the financial markets and correcting the pace of infrastructure spending might mean slower growth in the near term, the I.M.F. has said. But it might mean more sustainable growth in the long term, with substantial benefits not just for China but for global growth as well.
But that message is coming as the Chinese economy is already slowing down considerably, with growth falling to an annual pace of about 7.5 percent, down from a peak of more than 14 percent in 2007, before the global financial crisis.
More broadly, the emerging market economies that helped pull the world out of the global recession have cooled of late, dragging down the global growth rate with them. Growth remains sluggish in the United States, and much of Europe is mired in a recession.
“Growth in emerging market economies will remain high, much higher than in the advanced economies, but may be substantially lower than it was before the crisis,” said Olivier Blanchard, the I.M.F.'s chief economist, at a news briefing this month.
China is aware of the issues that the I.M.F. and other analysts have raised, and it generally agrees with them. Chinese policy makers have in part engineered the recent economic slowdown and have shown a willingness to make changes. But there are few details now about how the new Chinese government might move to revamp the nation’s economy, with more elaboration expected after a major Communist Party meeting this fall.
Policy makers in Beijing are aware of the issues that the I.M.F. and other analysts have raised and are aiming to restructure the economy in a bid to make future growth more sustainable. The fact that China’s population is aging — and its labor force gradually shrinking — adds to the pressure for structural overhauls.
The authorities are now aiming to raise domestic consumption and productivity, reduce China’s reliance on exports and construction investment, and rein in financial risks flagged in the I.M.F.'s report.
In recent weeks, Beijing has made it increasingly clear that it is prepared to tolerate a slower pace of growth as it pursues those goals and that there will be no repeat of an aggressive stimulus that followed the global financial crisis.
Prime Minister Li Keqiang reiterated that message in comments reported by the official Xinhua news agency on Wednesday. Although he acknowledged that the economy faced risks and challenges, he said, it remained ‘‘generally stable,'’ according to Xinhua.
And while the authorities must work to "keep economic growth within a reasonable range," they would aim to deploy ‘‘targeted’’ policies and "not change the direction of policies based only on temporary changes in economic barometers," Xinhua quoted Mr. Li as saying.
“Beijing is trying to boost public confidence and emphasize the seriousness of its intention by reiterating the need to stabilize growth," Qu Hongbin, chief China economist at HSBC in Hong Kong, wrote in a note on Wednesday, referring to Mr. Li’s comments. "We expect further modest fiscal stimulus to put a floor on growth.”

Bettina Wassener contributed reporting from Hong Kong.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O (Nao) Sistema Financeiro Internacional, Fritz Machlup e o fim de Bretton Woods - book review

 EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: Reforming the World Monetary System: Fritz Machlup and the Bellagio Group

Published by EH.Net (June 2013)
Carol M. Connell, Reforming the World Monetary System: Fritz Machlup and the Bellagio Group.  London: Pickering & Chatto, 2013.  xi + 271 pp. $99 (hardcover), ISBN: 978-1-84893-360-6.

Reviewed for EH.Net by Herbert Grubel, Department of Economics, Simon Fraser University.

Carol Connell is Professor of Finance and Business Management at Brooklyn College.  Her book’s main focus is on the achievements of Fritz Machlup, a legendary personality who was a member of a group of economists who fled Austria during the 1930s and who for many years taught economics at Princeton University.  The material in the book is based on the study of Machlup’s letters and other documents archived at Stanford University.  The author writes with exemplary clarity in a superb analytical framework.
Machlup was keen on research methodology, which is one of Connell’s professional interests as it applies to decision making in business.  As a result she discusses in some detail how Machlup imposed his methodological ideas on the deliberations of groups of academics, officials and business leaders concerning the problems faced by the international monetary system starting in the late 1950s.  He insisted that conference participants present their views on current problems and spell out the assumptions they used reaching them.  He then encouraged participants to discuss and challenge each other’s views and assumptions, expecting the group to arrive at a clear understanding of the problems faced by the international monetary system at the time.  Out of this understanding was expected to emerge a solid set of recommendations for changes in policy and institutions.
These discussions started in 1964 at meetings held in Bellagio, at a Villa owned by the Rockefeller Foundation, overlooking beautiful Lake Como in Italy.  The leading personalities and intellectual driving forces behind the initial Bellagio group meetings besides Machlup were Robert Triffin and William Fellner, who both had great influence on my professional development and interests as my teachers at Yale (1958-62).  Connell meticulously lists all of the participants at the Bellagio group meetings and a number of other groupings of individuals that emerged later.  The list of participants reads like a Who’s Who of the international economics establishment of the period 1950-80.
The problems of the international monetary system in the 1950s had their roots in the decision made at Bretton Woods in 1944 to create a collective institution that centered on fixed exchange rates in an effort to avoid a repeat of the chaos caused by competitive devaluations during the Great Depression of the 1930s. 
In this system, dollars convertible into gold provided the world central banks with liquidity needed to deal with temporary payments imbalances.  Triffin in a 1960 book argued that this system resulted in a dilemma.  The supply of liquidity depended on continuous U.S. deficits, which were unsustainable as they decreased the ratio of the country’s gold holdings over the dollar obligations held by foreigners.  If the U.S. stopped running deficits, the supply of reserves would dry up.  If the price of gold were raised, countries would no longer be willing to hold dollars because of the risk that future price increases would result in financial losses.
The solutions needed to deal with this dilemma in principle were identified by Machlup’s groups as “adjustment, liquidity and confidence.”   The specific recommendations surrounding adjustment involved a wide range of ways in which exchange rates could be made flexible.  Milton Friedman was the dominant proponent of totally freely floating rates.  Adjustable pegs with and without bands, crawling pegs and other variants were advocated by different people. 
The solution to the liquidity problem similarly elicited many different suggestions involving such arrangements as multiple currency reserves, ex ante agreements among central banks to provide liquidity to each other and the expansion of IMF resources in the form of Special Drawing Rights.  No solutions were offered to speculative capital flows in the wake of confidence lost in countries’ ability to maintain an official exchange rate.  After she presents the gist of all of these ideas for reform, Connell concludes “These were exciting days to be an economist.”
The author considers what influence the work Machlup and his committees had on public policy.  She provides quotes from prominent economists and officials suggesting that the influence was substantial.  However, the professional consensus about the need for greater exchange rate flexibility was also driven by a paradigm shift away from reliance on all-knowing policy makers to the increased use of market signals and from Keynesian demand management and the Philips Curve concept to monetarism and its emphasis on price stability.
There is no doubt that the present international monetary system works better than it did in the period when Machlup did his work, not because of the adoption of any one of the grand reform schemes discussed in many of the meetings he had organized.  It works better for the practical reasons that the world has accepted the non-convertibility of dollars into gold and that if a country no longer wishes to accumulate dollar reserves, it can always use national policies to stop running payments surpluses.  The United States in essence is pursuing the policy of “benign neglect” proposed by Gottfried Haberler at the height of the international financial crisis in the late 1960s.  The IMF is a useful forum for discussion and source of intelligence, but the system works acceptably well without its exercise of power over national policies envisaged by utopian planners in the past.
The flexible exchange rate system has allowed countries the freedom to pursue domestic economic policies without external restraints, but it has given rise to the most pressing problems of our era – irresponsible politicians running unsustainable budget deficits. 

Herbert Grubel, Professor of Economics (Emeritus) at Simon Fraser University, is the editor of World Monetary Reform: Plans and Issues, Stanford: Stanford University Press (1963) and of The International Monetary System: Efficiency and Practical Alternatives, Penguin Books (first edition 1969, fourth and final edition 1987).
Copyright (c) 2013 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (June 2013). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview

Geographic Location: General, International, or Comparative
Subject: Financial Markets, Financial Institutions, and Monetary History
Time: 20th Century: WWII and post-WWII

sábado, 18 de maio de 2013

En Garde, Lagarde: a conversation with IMF's head (WSJ)


En Garde!



The Wall Street Journal, May 18, 2013
[image]Photography by Platon
Christine Lagarde
IT IS NO EASY JOB, being the grand negotiator at almost every financial crisis in the world in these troubled times. But as head of the International Monetary Fund, or IMF,Christine Lagarde has played a role in dealing with everything from the Cyprus bank scare to Chinese exchange rates.
A lawyer by training, she came to the post after a six-year stint in the French cabinet. She is described as warm, informal—and highly disciplined. She was, after all, a member of the French national synchronized swim team in her youth, and still hits the gym almost every day.

WSJ.Money Summer 2013

[image]
WSJ.Money: A magazine about the world of wealth and the pleasures and pitfalls of managing your money. Coming out this Saturday inside The Wall Street Journal.
Rumors persist that Lagarde may someday return to France and run for president. But these days, her focus is on repairing battered markets and an ailing global economy, a task that requires diplomacy and stamina. She recently sat down in her Washington, D.C., office with David Wessel, the Journal's economics editor, to talk about the state of the world. Her edited remarks follow:
Q: We've come through a devastating financial crisis. Are we out of this?
A: We avoided a collapse in 2012. We have to guard against a relapse, and we certainly do not have the luxury of relaxing. I think 2013 is going to be a critical year.
Q: In what sense?
A: A lot of the advanced economies' leaders, thinkers, decision-makers are tired with crisis management. They want out of it. In a way, that's good; but there is still work to be done. About 80 percent of the decisions have been made, for instance, in the strengthening of the European Union—a lot of the financial sector is better governed, better capitalized, better supervised. But if you don't do 100 percent of it, you're at risk again.
Q: There seems to be an unfortunate but understandable tension, particularly in Europe. When things start to get a little better complacency sets in. It's almost as if we need another crisis in order to get things moving again.
A: I don't think it's Europe specific. I think it's also true in other economies, including in the U.S. The fiscal cliff is dealt with, and yet there is more to be done. The moment yesterday's crisis is dealt with, you want to forget about tomorrow's issues. The central banks have been very helpful in that respect. They've accommodated a degree of slow-paced reforms and gradual fiscal consolidation.
Q: Have we done enough to renovate the financial system so we don't have another crisis, or is there still more work to do? Are we safe from the banks yet?
A: No, not yet. It's my 80/20 rule: I think 80 percent of the job has been done—liquidity ratios, identifying the systemically important international financial institutions—but if you turn to the over-the-counter derivative markets, for instance, it hasn't been done. It's still very obscure and not transparent at all. Plenty of work has been done, but international cooperation is going to be critically important, because otherwise you'll have people having done what they think is their job in their respective corner but it will not be consistent with what others will have done. Bankers, traders, financiers are very smart and astute people; they will find out what is the right channel to optimize the system—which is fine, as long as risks are taken care of and as long as, at the end of the day, it's not the taxpayer who picks up the bill.
There's another issue, which is much on my mind: the rapid growth and development of emerging-market economies. For the moment, they have been quite sheltered because they are not financially sophisticated. It sounds a little patronizing to say that, but when you look at the development of their financial sector, the size of their financial sector relative to total [GDP], it is not that mature. It will develop, it will increase, it will be more interconnected and, as a result, there will be crises arising. The last crisis was in the advanced economies, but there will be one in emerging markets as well.
Q: Do you think democracy is up to the challenges we face?
A: In the short run, it's a hurdle. You need to comply with the parliamentary rules, you need to communicate and you need to be transparent, which are the attributes of democracy. But in the long run, it's a win-win because if there is ownership, there is appreciation of what each and every one in the system has to do.
The last financial crisis was in the advanced economies, but there will be one in the emerging markets as well.
Q: Asia is about 60 percent of the world's population, and it will be about two-thirds by 2025. It's obviously a growing share of the world economy. What challenges do you see in that?
A: One of the key challenges will be aging. Whichever corner you look at, with a few exceptions, you have rapidly aging populations, and that will have consequences in terms of consumption patterns, saving patterns, productivity and general development—which these populations, governments and international institutions, including the IMF, will have to be cautious about. That will be the case for Japan and China. India is going to be a different story. But you take Japan and China, and you have the second- and third-largest economies of the world.
Q: And it comes at the same time as we have similar trends in the U.S. and Europe. So what's the problem? What are the tensions?
A: I think we need to be very open-minded about this, because typically the norm would be for aging people to actually save less. This is not what we are seeing in Japan. What we'll see in China will be interesting—a country where pension schemes, health benefits and welfare systems are certainly not as developed as they are in the advanced economies. How will people behave? How will they save? How will they consume? Will they rely on the next generation?
Q: Look at the other side of the coin: the youth bulge in the Middle East and Africa. What about that?
A: Big challenges. This youth bulge is located in countries that have a pretty high growth level, much higher than in many other places in the world. Starting from such a low base, the per-capita growth of those countries will very likely progress, and that will cause frustration, backlash, possibly social unrest, certainly population migrations. And again, from an economy point of view, things have to be thought through in advance. These big trends will not materialize in the next two or three years. You're talking not just 10 to 20 years, you're talking 10 to 50 years. But they should be anticipated now.
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Q: What kind of things do you think we should be doing to get ready for that? Is it a question of research, taxes, fiscal policy or immigration policy?
A: All of it.
Q: When you talk to leaders of governments, do they talk about these long-term demographic things?
A: They're more focused on the short term because that's where they have to make decisions, that's where their own personal future lies. And you tend to stand where you sit.
Q: How big an economic risk do you think climate change is?
A: It's a massive risk and it's a huge opportunity, and for the moment we are ignoring both risk and opportunities associated with it. At the IMF, we look at it from a narrow lens—energy-subsidy reform, the price of carbon, a market for carbon. You know about half a trillion dollars is actually spent directly on subsidies for fuel, gas and electricity. To engage governments to change that and to make sure they can encourage better spending—not encourage massive consumption of fossil energy—it's very difficult. Yet it's a risk and an opportunity. The risk is excessive consumption. The opportunities are huge, with the spending that is saved reoriented toward infrastructure, education, health, you name it.
Q: What are the risks of not addressing climate change?
A: Our kids will be grilled, fried, toasted and roasted.
Q: You have said economists and policy makers have unwisely downplayed inequality. Why does that concern you?
A: Point No. 1: What we see from just looking at the numbers is a massive unequal distribution of wealth around the world—and not just in advanced economies, pretty much everywhere. Point No. 2: We now have research that demonstrates more equal distribution of wealth is conducive to more sustainable growth. So if we all take the view that solid balance and sustainable growth is adequate, necessary for a more balanced world with less unemployment and less risk of social unrest, the conclusion is fairly straightforward. We must pay, and governments must pay, more attention to a more equal distribution of wealth. I'm not a communist, but the reality is there.
Q: I'm curious, what's at the top of your worry list when you go home at night?
A: Climate change is one for sure. So is the education of women. I know it's a little bit farfetched relative to the core business of the IMF and its mandate. But I'm personally convinced that it is the answer to many, many, many issues. Whatever we can do to encourage and facilitate the education of young girls, access to financing for women, I think will go a long way in the development and better stability of economies around the world. Those are sort of long-term goals. I go to bed at night thinking about more short-term issues: countries facing difficulties; the U-turn by the Japanese authorities and whether it's going to work; the U.S. challenge of coming up with a credible plan to reduce the deficit and to change the trend of debt.
Q: Do we have global governance that's adequate for the globalization of markets and corporations and for issues like climate change?
A: No, I don't think so. But I think that it is going to be difficult to achieve what would be desirable. Look at financial-market supervision, or the definition of norms and standards in all sectors and areas, or the organization of a carbon-emission market. It would be a good occasion to design a new system—or global economic and financial surveillance around the world—in order to anticipate a potential crisis. All these functions will be even more necessary in the future. But global governance is resented by governments, who have their own sovereignty.
Q: I sense a great deal of excitement about Africa at the moment. Is it justified and, more importantly, what has to happen for this momentum to continue?
A: I sense the same thing, particularly in the corporate world. I think it's partly caused by the richness of all sorts of commodities that lie out there underground. It's also prompted by the population size and the fact that there will be so many people between the ages of 16 and 40 who will be an available workforce. What will keep the momentum? I would say two things: peace and education of women, because if the education of women is not tackled promptly, then I think we will be heading for very difficult demographic challenges in Africa.
Q: Besides Europe and North America, you've been to Algeria, Brazil, Chile, China, Colombia, Egypt, Germany, India, Indonesia, Japan, Latvia, Malawi, Mauritius, Mexico, Malaysia, Niger, Nigeria, Peru, Philippines, Russia, Saudi Arabia, South Africa, Thailand, Tunisia and Turkey. If you were to go back and visit some places as a tourist—leaving out France and the United States—where would you most like to go?
A: I think I'd like to go back to Peru and to Tunisia.
Q: Why?
A: Peru because there's such a mixture of coastline, extraordinary colors, historical remains or sights that I haven't seen, and extremely gentle people that I've met. As for Tunisia, it's the warmth, and I want to see how changes are taking place. And you also have a mixture of beautiful sea. I think in a previous life I must have been a dolphin, so anything that has this attracts me.
Q: How do you manage the jetlag of all these trips?
A: First of all, I can sleep on a plane. I don't drink. I don't smoke. I don't eat meat. I think I have a healthy schedule that helps me cope with different time zones. I think it helps. I used to fight against my own body and tell myself don't doze, don't give up, you're on daylight. I don't fight with my body anymore. When I sense that it needs a 10-minute doze, I let myself doze. I might sit in the back of a car and tell the person next to me just give me a break, don't talk to me, I'm going to sleep.