O atual governo iraquiano do Primeiro Ministro Nuri al-Maliki, porém, não tem dialogado comos demais grupos do país e são constantes as críticas da parte de curdos, de árabes sunitas, de cristãos e até mesmo de outros xiitas. A brigada Mahdi, criada pelo clérigoMuqtada al-Sadr em 2003, e que enfrentou as forças americanas após a invasão, está entre os que não confiam em al-Maliki, declarando que combaterá os jihadistas sunitas mas sem nenhuma associação com o atual governo.
Com o avanço do ISIS no norte e oeste do Iraque e com a tomada de Mosul, a segunda maior cidade do país, estratégica em virtude de seus poços de petróleo, os jihadistas passaram a ameaçar diretamente as populações curdas e cristãs. O líder curdo Massoud Barzani declarou, no dia 27 de junho, que não pretende abrir mão do controle de Kirkuk,uma rica cidade multiétnica que os curdos, graças às suas bem equipadas forças militares, conseguiram defender dos violentos ataques do ISIS (Daily News, 2014). No rastro, portanto, destes enfrentamentos, os curdos do Iraque reafirmaram sua autonomia e se posicionaram de modo a deixar claro seu peso estratégico e político. Bem organizados e acostumados a viver em prontidão, são essenciais na defesa das fronteiras do norte do país, e o primeiro ministro al-Maliki ou qualquer outro governo que o suceda, não poderáprescindir de seu auxilio.
Vali Nasr, analista atento das questões sectárias no Oriente Médio já se referiu, antes mesmo da emergência do ISIS, à difícil situação que se delineava no Iraque com aascensão ao poder dos xiitas, majoritários no país. Para Nasr, durante a fase inicial de reestruturação após a derrubada de Saddam, os grupos xiitas consideraram o novo Estado como o “seu estado” enquanto para os sunitas, as forças de segurança que estavam se organizando eram xiitas, e não nacionais. Os confrontos foram frequentes e as divergências sectárias se mantiveram constantes (Nasr, 2006).
Com tantos conflitos, não é de se admirar que o ISIS tire partido da situação para fomentar o desmembramento do Iraque, o que servirá a seu propósito de enfraquecer sentimentosnacionais que possam se sobrepor à ideia do califado. No entanto, como o grupo jihadistaameaça outros poderes também sunitas, como a Jordânia, a Arábia Saudita e a Turquia, é possível que se aperte o cerco a ele, com apoios heterogêneos em torno do inimigo comum.
Os Estados Unidos continuam, ainda que de forma limitada, a auxiliar os rebeldes da Síria e apostam na possibilidade de que os grupos moderados venham a derrubar Assad. Trata-se, porém, de um cálculo perigoso que pode levar à abertura de mais espaço para o ISIS dentro do país. A Turquia teme a fragmentação do Iraque e o fortalecimento das reivindicações independentistas curdas nas suas fronteiras. O crescimento do fundamentalismo interno também é motivo de preocupação na sociedade turca e um hipotético retorno ao califado questionará, em última análise, todo o seu processo de modernização no decorrer do século XX, bem como sua aproximação com a Europa. Quanto aos xiitas iranianos e iraquianos, sua preocupação maior é o crescimento do terrorismo jihadista por parte dos sunitas radicais que atacam com muita frequência