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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Brasil atingido de psicose coletiva? - Luiz Olavo Baptista

 Meu amigo Luiz Olavo Baptista, horrorizado, como eu, com o espetáculo de ódios disseminados em todos os meios, com o cenário de divisão do país, e de fundamentalismo político (o religioso há muito existe) que tomou pé em nosso país desde algum tempo, faz estas reflexões que tenho o prazer de reproduzir aqui.
Paulo Roberto de Almeida 

Coxinhas, mortadelas e a psicose coletiva
  • Published on August 28, 2016
Experienced and Independent Arbitrator and Jurisconsult
Este texto, como outros que postei neste site contém anotações rápidas sobre coisas que chamam a minha atenção e não aspiram à dignidade dos textos acadêmicos, meros registros de sentimentos que são.
Pouco a pouco o país foi ensandecendo, dividindo-se fracionariamente, em polos opostos. Um conhecido me disse com cara séria e ar de quem acredita no que está dizendo que seu sonho era ver mortos todos os palmeirenses – ele é corintiano. Outro queria que se eliminassem os muçulmanos, ele integra um grupo que se intitula cristão (acho que há um novo significado para o termo) fundamentalista.
Nas mídias de comunicação social – aparentemente concebidas para congregar e aproximar pessoas, - alguns dirigem insultos a outros, os quais coroavam com a expressão coxinha; recebem respostas com agressões verbais de igual teor sendo e eram tachados como mortadelas. As mensagens de uns e outros exalam ódio exacerbado.
O ódio por razões políticas não é novo na história do Brasil. Antes de 1930, no Rio Grande do Sul, maragatos degolavam ximangos e vice versa. De novo os apelidos e o ódio assassino são coletivizados.
Essa atitude, para as pessoas não contaminadas pela psicose coletiva que ora grassa, é inaceitável. Não consigo aceitar ou compreender  o desrespeito ao direito de cada um pensar, falar e votar como quiser e suas manifestações, pacificas e ordeira serem respeitadas por todos mesmo que com elas não estejam de acordo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz clara mente que:

Artigo 18  - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
Artigo 19 - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

A psicose coletiva leva aos diferentes tipos de totalitarismo e desrespeito que ameaçam os direitos de cada um e das minorias.
Por isso é preciso voltar à sanidade, e lembrar que na origem da ideia de republica, lançada pela Revolução Francesa, o lema era liberdade igualdade e fraternidade. Com essa tríade, teremos de volta aquilo de que mais necessitamos para superar as dificuldades por que teremos que passar nos próximos anos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

STF no caso Battisti: corrigir agora as bobagens anteriores...

O STF, que considerou o italiano Cesare Battisti passível de extradição, cometeu a impropriedade de deixar esse decisão ao arbítrio do então presidente da República, que como é de seu costume, tergiversou exageradamente para no final adotar a pior solução, que é o descumprimento de um tratrado internacional que obriga o Brasil.
O fulano em causa achou que ele era o Brasil, e como tal atuou, quando o Brasil é a Constituição, as leis e os tratados internacionais pelas quais o pais se obrigou.
Cabe ao STF agora corrigir essa impropriedade, declarando que o referido indivíduo deve ser, efetivamente extraditado.
Abaixo um artigo de um especialista no tema.
Paulo Roberto de Almeida

Extradição e devido processo legal
Luiz Olavo Baptista
O Estado de S.Paulo, 23 de março de 2011

O filósofo José Arthur Gianotti, em excelente artigo sobre um caso de extradição que tem ocupado o Supremo Tribunal Federal (STF) e as manchetes, tratou de aspectos da questão que envolvem conceitos de ciência política, expostos de modo esclarecedor. Todavia há outra questão -, que não encarou -, que me parece também relevante. Sem dúvida, esta aparecerá no curso de um futuro julgamento do STF. É a da existência de um tratado e de como deve ser aplicado e interpretado.

A questão não é política, é jurídica, aplicável àquele caso, assim como a outros, e não só em relação à extradição.

Tratados, como sabe o leitor, são acordos celebrados entre Estados, ou entre estes e organizações internacionais, que estabelecem certas regras de conduta obrigatórias para as partes. Nisso se assemelham aos contratos privados, e também o fazem no estarem sujeitos à interpretação e aos princípios gerais de Direito, da boa-fé e da razoabilidade.

O caso objeto do artigo de Gianotti vai ao STF porque o Estado que solicitou a extradição alega que um tratado celebrado pelo Brasil em matéria de extradição não está sendo cumprido. Esse tratado, celebrado com a Itália, no seu artigo 3.º, item 1, letra r, admite a recusa de extradição quando houver "razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal, ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados".

Não há dúvida de que o referido tratado faça parte da legislação brasileira e que integre um sistema necessariamente coerente. Assim, a interpretação do tratado se fará levando em conta o conjunto das regras que compõe o sistema, a começar pela Constituição. Esta elimina a arbitrariedade nos atos dos governantes, submetendo-os ao princípio da legalidade. Este leva a que os agentes públicos devam agir nos limites das funções que lhes são atribuídas e obedecendo às normas vigentes no País. Quando há um espaço de discricionariedade, isto é, quando o agente público pode escolher entre várias soluções ou hipóteses, este deve fazê-lo atendendo à finalidade da lei e fundamentar sua decisão. Os juízes devem fundamentar suas sentenças; os integrantes do Poder Executivo, como o presidente da República, também.

A fundamentação serve, entre outras coisas, para assegurar que a discricionariedade não se torne um arbítrio. Permite o controle pelo Judiciário dos atos do Executivo, necessário para evitar o totalitarismo e proteger as liberdades públicas.

Assim, o STF vai examinar a justificativa ou motivação do ato do presidente da República que negou um pedido de extradição no quadro do tratado, para verificar se houve arbítrio intolerável ou exercício da discrição que a lei lhe dá, admissível. Ou seja, verá se as razões que levaram o presidente da República a recusar a extradição foram ponderáveis, como exige o tratado. Isso se fará, como é curial, avaliando a possibilidade concreta de virem a ocorrer "atos de perseguição". Depois, deverá avaliar se esses atos de perseguição e discriminação podem resultar num agravamento da situação do extraditando.

Com efeito, a interpretação dos tratados, segundo o Direito Internacional, deve ser feita de boa-fé e de acordo com o sentido comum dado aos termos do tratado, tendo em vista o objeto do tratado e o contexto.

O objeto do tratado é permitir a extradição e o do seu artigo 3, item 1, letra r, acima citado, é definir quando um dos Estados pode excepcionar a obrigação, que assumiu perante o outro, de concedê-la. E a regra diz que isso somente deve ocorrer quando houver "razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação".

A expressão é "razões ponderáveis". Não é simples suspeita, sensação, são razões. Não são simples razões, são razões qualificadas pelo adjetivo ponderáveis. Este significa o que pode ser pesado, medido, o que, aliás, a raiz etimológica, a mesma de peso, indica. Ou seja, devem ser razões de peso. Vejamos o contexto em que a expressão se insere. É o do respeito aos direitos da pessoa e ao devido processo legal que assegure esses direitos, no quadro da manutenção da ordem pública no país do extraditando.

Se um dos Estados signatários, por hipótese, não fosse uma democracia em que os direitos humanos são respeitados, sem dúvida, haveria uma razão ponderável para a negativa de extradição. Se as condições a que o extraditando seria submetido - por exemplo, o tratamento carcerário - forem piores do que as que o Brasil dá aos seus cidadãos, isso também é uma razão ponderável.

E é isso que o STF vai examinar agora no caso Cesare Battisti. Se há razões ponderáveis para supor que ele será perseguido e se na prisão será tratado pior do que qualquer cidadão brasileiro nas prisões brasileiras. Só isso. Não vai julgar o presidente nem o extraditando, não vai examinar a regularidade do processo e o julgamento dele. Isso já foi decidido.

Submetido aos princípios constitucionais da publicidade, legalidade, moralidade e eficácia, o ato do presidente da República pode e dever ser objeto do escrutínio dos tribunais. Sua validade será reconhecida se na motivação da recusa feita pelo presidente da República estiverem patentes as razões ponderáveis que o levaram a negar a extradição e a crer que no Estado que a pediu se perseguem pessoas "por motivo de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal, ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados", razões admitidas pelo Brasil no tratado.

ADVOGADO, FOI PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP E CONSULTOR DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES