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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Sucessos e fracassos da diplomacia brasileira: uma visão histórica (2009) - Paulo Roberto de Almeida

 Um texto de 2009 que talvez ainda tenha alguma validade 15 anos depois de escrito:

Sucessos e fracassos da diplomacia brasileira: uma visão histórica 
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 17 maio 2009, 4 p. 
 
Meridiano 47, Boletim de Análise de Conjuntura em Relações Internacionais (Brasília: IBRI; ISSN: 1518-1219; n. 113, Dezembro/2009, p. 3-5). 

Numa apresentação feita na quarta conferência de instituições para o estudo científico das relações internacionais, realizada em Copenhagen, em junho de 1931, o já renomado historiador britânico Arnold Toynbee relacionava o que lhe pareciam ser sucessos e fracassos da diplomacia multilateral e das relações mantidas no plano internacional pelas grandes potências, desde que a paz tinha sido restabelecida, doze anos antes, na sequência da mais devastadora das guerras que a humanidade tinha conhecido até então. Entre os primeiros ele relacionava a própria criação da Liga das Nações, o tratado de Paris de renúncia da guerra como instrumento de política nacional (também conhecido como pacto Briand-Kellog), a Corte Internacional de Justiça e a Conferência Mundial do Desarmamento, que deveria começar o seu trabalho alguns meses mais à frente. 
Dentre os fracassos, ele relacionava: a recusa do Senado americano de ratificar o ato de criação da Liga, a rejeição desta última pelo governo soviético, as dificuldades para a plena incorporação da Alemanha ao cenário estratégico do pósguerra e o duplo insucesso do Protocolo de Genebra para a solução pacífica das controvérsias internacionais e da conferência tripartite (EUA-Reino Unido-Japão) para a redução dos armamentos navais (Arnold J. Toynbee, “World Sovereignty and World Culture: the trend of international affairs since the War”, Pacif Affairs, vol. IV, n. 9, setembro 1931, p. 753-778).  
Toynbee registrava os grandes progressos feitos no plano econômico, mas lamentava os atrasos no âmbito da política, cuja característica mais importante era para ele o ‘estado de anarquia’, não muito diferente da situação em que se encontrava o Ocidente, no final da Idade Média. Um julgamento contemporâneo talvez não chegasse a conclusões muito distintas das de Toynbee, quase oitenta anos depois daquele seu diagnóstico otimista quanto à globalização – que ele chamava de “unificação econômica do mundo” – e das perspectivas relativamente pessimistas que ele denotava no plano da política internacional. Pode-se, em todo caso, retomar sua metodologia para analisar os sucessos e os fracassos da diplomacia brasileira nos planos regional, hemisférico e multilateral, com base numa visão de longo prazo.  Quais seriam, numa visão sintética, os grandes sucessos e os possíveis fracassos da diplomacia brasileira ao longo de seus quase dois séculos de existência continuada? Pode-se dizer, inclusive, que ela tem início, no plano exclusivamente locacional, em 1808, posto que seus primeiros passos serão dados no bojo da secular diplomacia lusitana, que então passa a formular sua agenda e a defender os interesses da Coroa portuguesa a partir do território brasileiro. A primeira diplomacia brasileira herda várias boas qualidades da diplomacia portuguesa, a começar pela memória de seus excelentes arquivos, a habilidade em defender os interesses nacionais num quadro internacional dominado por grandes potências e o cuidado em selecionar as melhores capacidades para a representar no exterior. Justamente, no momento da consolidação da independência, pode-se dizer que a diplomacia brasileira alcança seus primeiros sucessos ao obter o reconhecimento de várias nações importantes à época, a começar pelos Estados Unidos, ainda que parte do resultado tenha sido devido a compromissos e assunção de obrigações (pagamento a D. João VI, incorporação do empréstimo português feito pela Grã-Bretanha e a herança dos tratados desiguais concluídos entre esta e Portugal, que amarraram o Brasil até 1844, pelo menos). Mais para o final do século 19 e o início do seguinte, o Barão do Rio Branco concluiria o trabalho de consolidação do território brasileiro, iniciado ainda na era colonial, com a participação de brilhantes diplomatas brasileiros como Alexandre de Gusmão, ao negociar diretamente ou ao conduzir a defesa dos interesses nacionais em processos de arbitragem, os limites fronteiriços ainda pendentes com os vizinhos imediatos. Precavido, ele chegou inclusive a traçar os princípios pelos quais se estabeleceriam as fronteiras com o Equador, se este país não tivesse tido suas pretensões amazônicas diminuídas pela Colômbia e pelo Peru.  Ainda no século 19, um dos nossos maiores contenciosos diplomáticos foi a questão do tráfico escravo, a partir das pressões inglesas para o seu término e a recusa obstinada dos escravistas brasileiros em atender essas demandas (já garantidas num acordo bilateral de Portugal com a Grã-Bretanha, no quadro do Congresso de Viena, e novamente aceitas pelo Brasil no momento da independência, prometido o seu final para 1831, ‘para inglês ver’). José Bonifácio tinha sido derrotado em suas propostas constituintes (1823) para substituir o tráfico pela imigração de agricultores europeus, num prelúdio para a abolição da escravidão; mas desde o início dos anos 1840 a diplomacia brasileira teve de enfrentar, sem sucesso, a arrogância inglesa, que desrespeitava nossa soberania sobre o mar territorial e impunha humilhações ao Brasil que os ingleses não tinham coragem de repetir nas relações com os Estados Unidos. Pode-se registrar que nossa imagem de ‘país escravocrata’, constatada in loco por Darwin, alimenta desde um século e meio os boletins da mais antiga ONG do mundo, a Anti-Slavery Society, com quem interagiu Joaquim Nabuco, outro derrotado na mesma questão, posto que pretendia não a simples abolição, mas também a reforma agrária e a educação dos negros libertos. Nossa diplomacia conheceu momentos não exatamente gloriosos, ao ter de defender, durante anos a fio, o tráfico e a escravidão nos foros internacionais.  As relações regionais passaram por momentos difíceis, desde o início do século 19 e no decorrer de todo o século 20: pode-se dizer que nossa diplomacia foi bem sucedida ao evitar o isolamento de uma monarquia de estilo e raízes europeias num continente republicano e quase todo hispânico. Mas em algumas ocasiões – lutas contra os caudilhos Rosas, da Argentina, e Solano Lopez, do Paraguai – a diplomacia bastante competente do Império precisou recorrer à força militar para apoiar as teses brasileiras sobre o equilíbrio de poderes nos dois lados do Prata. Na Amazônia, a situação era inversa, posto que o rio corria dentro do território nacional. Ainda assim, foi possível desarmar pretensões estrangeiras quanto à internacionalização de sua navegabilidade, tese que a diplomacia defendia no Prata. De modo geral, a diplomacia foi bem sucedida no relacionamento com os vizinhos e no trato bilateral com o gigante hemisférico. Mas o desejo sempre implícito de uma ‘relação especial’ com o império do Norte, com vistas a reproduzir no continente meridional a sua preeminência setentrional – aliás, em todo o Caribe e até o Panamá – nunca foi aceita em tese e sequer implementada na prática. Essa sensação de copo meio cheio ou meio vazio continua a prevalecer em relação aos projetos de integração regional: as concepções mais flexíveis da diplomacia brasileira enfrentam resistências de alguns vizinhos – que temem o poderio da indústria brasileira – ou então são confrontadas a propostas utópicas de outros líderes, de cunho essencialmente político, cujo único resultado é a substituição do pragmatismo comercialista do Brasil por modelos irrealizáveis no plano da prática. No eixo vertical, a relutância em aceitar um acordo de comércio de âmbito hemisférico, supostamente porque as empresas do império seriam mais competitivas, ou porque este não retrocede substancialmente em seu protecionismo e subvencionismo agrícolas, termina por impor um fracasso diplomático, seja porque os demais vizinhos aceitam acordos de livre comércio com o mesmo império, seja porque a manutenção do status quo nem contribui para ganhos de competitividade das empresas brasileiras, nem salvaguarda os interesses destas últimas nos mercados dos vizinhos sul-americanos.  Por fim, o velho sonho das elites brasileiras – especialmente diplomáticas e militares – de ver o Brasil aceder ao ‘círculo íntimo’ do poder mundial, seja pela incorporação negociada ao clube dos ‘mais iguais’, seja pela detenção do poder nuclear, nunca pode ser concretizada, por razões basicamente internas, não por deficiências de ordem propriamente diplomática. A postura do Brasil sempre foi cooperativa, seja ao honrar seus compromissos financeiros internacionais, seja ao favorecer soluções negociadas para os conflitos entre Estados. Mas esse reconhecimento nunca bastou para converter o Brasil num sócio confiável aos olhos das grandes potências da Liga das Nações e, atualmente, do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ou seja, não basta a promoção do multilateralismo, o respeito ao direito internacional, o pacifismo inerente à nossa diplomacia para elevar o status do Brasil no plano mundial, e isso não tem a ver apenas com nossa postura ambígua no que concerne o protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear: o que as grandes potências realmente exibem, afinal de contas, é a disposição de coadjuvar sua ação diplomática com a capacidade efetiva de projetar poder real. Para isso são requeridos outros atributos, mas sua aquisição não se dá exclusivamente pela via diplomática.

  Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais e autor do livro O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (Brasília: LGE, 2006). Brasília, 17 maio 2009, 4 p.  Digressões históricas sobre conquistas e frustrações da diplomacia brasileira ao longo de dois séculos. Relação de Publicados n. 944.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Kindle book) - Paulo Roberto de Almeida


Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude 

(Portuguese Edition) eBook Kindle



Coletânea de todos os artigos publicados em Meridiano 47, desde 2001 a 2016, dividido em cinco partes: 1. Relações internacionais e política externa do Brasil; 2. Economia internacional, globalização; 3. Regionalismo, Integração; 4. Política internacional, Questões estratégicas; 5. Ideias, cultura, problemas.


All the Globes frame, and spheres, is nothing else
But the Meridians crossing Parallels.
The Cross
John Donne
(24/01/1572 – 31/03/1631, Londres, Inglaterra)





Índice

Apresentação
Freakdiplomacy, or the advantages of being an accidental diplomat


Primeira Parte
Relações internacionais e política externa do Brasil
1. Relações Internacionais e política externa do Brasil: perspectiva histórica
2. Ideologia da política externa: sete teses idealistas
3. Relações Brasil-Estados Unidos em perspectiva histórica
4. Um exercício comparativo de política externa: FHC e Lula em perspectiva
5. Sucessos e fracassos da diplomacia brasileira: uma visão histórica

Segunda Parte
Economia internacional, globalização
6. Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo
7. Debate sobre a globalização no Brasil: muita transpiração, pouca inspiração
8. Interessa ao Brasil uma taxa sobre os movimentos de capitais?
9. A distribuição mundial de renda: caminhando para a convergência?
10. Contra a antiglobalização
11. Perguntas impertinentes a um amigo antiglobalizador
12. Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos
13. Fórum Surreal Mundial: Pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
14. O Brasil e o G20 financeiro: alguns elementos analíticos
15. A longa marcha da OMC: das origens aos impasses atuais

Terceira Parte
Regionalismo, Integração
16. Mercosul e Alca na perspectiva brasileira: alternativas excludentes? 
17. O Mercosul não é para principiantes: sete teses na linha do bom senso
18. Problemas da integração na América do Sul: a trajetória do Mercosul
19. Acordos regionais e sistema multilateral de comércio: a América Latina
20. Contexto geopolítico da América do Sul: visão estratégica da integração
21. Mercosul: uma revisão histórica e uma visão de futuro
22. Regional integration in Latin America: an historical essay

Quarta Parte
Política internacional, Questões estratégicas
23. Camaradas, agora é oficial: acabou o socialismo
24. A China e seus interesses nacionais: reflexões histórico-sociológicas
25. Teses sobre o novo império e o cenário político-estratégico mundial
26. O legado de Henry Kissinger
27. Pequena lição de Realpolitik
28. Estratégia Nacional de Defesa (END): comentários dissidentes
29. A Arte de NÃO Fazer a Guerra: novos comentários à END

Quinta Parte
Ideias, cultura, problemas
30. Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?
31. Um Tocqueville avant la lettre: Hipólito da Costa como founding father do americanismo
32. Reflexões a propósito do centenário do Barão
33. Uma frase (in)feliz? O que é bom para os EUA é bom para o Brasil? 
34. O IBRI e a RBPI: contribuição intelectual, de 1954 a 2014


Apêndices
Relação cronológica dos ensaios publicados no boletim Meridiano 47
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor 


Detalhes do produto

  • Tamanho do arquivo: 1499 KB
  • Número de páginas: 556 páginas
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Edição de autor; Edição: 2 (20 de dezembro de 2019)
  • Data da publicação: 20 de dezembro de 2019
  • Vendido por: Amazon Digital Services LLC
  • Idioma: Portuguese
  • ASIN: B082Z756JH
  • Dicas de vocabulário: Não habilitado
  • Empréstimo: Habilitado
  • Configuração de fonte: Não habilitado 

Apresentação
Freakdiplomacy, or the advantages of being an accidental diplomat



Quando eu estava terminando de montar – esta é a palavra exata – este livro de ensaios publicados no boletim Meridiano 47 fui presenteado com o livro Freakonomics, o livro de um “rogue economist”, Steven D. Levitt, um desses pequenos gênios de Harvard e do MIT, e de um jornalista, Stephen J. Dubner, que estava pesquisando sobre a psicologia da moeda para o The New York Times Magazine. Do entendimento entre os dois nasceu esse livro, que eu já conhecia de ler aos pedaços em livrarias, de dezenas de resenhas e referências elogiosas publicadas em dezenas de outras publicações digitais ou impressas, e de um ou outro artigo da dupla reproduzido nos espaços virtuais que todos frequentamos atualmente.
Apressado para terminar a assemblagem dos mais interessantes artigos que eu  havia publicado, desde 2001, no mais dinâmico boletim de relações internacionais já inventado na academia brasileira, quase não pego o livro para, por uma vez, lê-lo atentamente. Bem, ainda não terminei de devorar esse pequeno volume de ensaios bizarros – oportunamente complementado por um novo, SuperFreakonomics, tratando dos mesmos assuntos pouco convencionais na economia e no jornalismo – mas já cheguei à conclusão que eu e os autores dos dois volumes (e outros virão) de economia contrarianista temos muito em comum: a coincidência se resume basicamente no fato de sermos, eu e a dupla Freak, contestadores das verdades reveladas, daquilo que os franceses chamam de idées reçues, ou seja, o pensamento banal, aceito como correto nos mais diferentes meios em que essas ideias se aplicam (mas geralmente de forma equivocada). 
E por que digo isto, ao iniciar a introdução de um livro de “ideias já recebidas”, ou pelo menos de ensaios já publicados? É porque eu já fui chamado, certa vez, de accident prone diplomat, ou seja, alguém que busca confusão, o barulho, no meu caso, de fato, mais a provocação do que a contestação gratuita. Com efeito, eu não consigo me convencer com certas idées reçues nos meios que frequento, e estou sempre à busca de seus fundamentos, justificações, provas empíricas, testemunhos de sua adequação e funcionamento no ambiente em que deveriam operar, em condições normais de pressão e temperatura, enfim, o entendimento convencional de como é ou de como deve funcionar a diplomacia, em especial, a nossa, esta sempre tida por excelente e que, aparentemente, não improvisa. Talvez devesse fazê-lo, em certas ocasiões...
Na verdade, antes de ser um accident prone diplomat, se isto é correto (o que duvido), creio ser um diplomata acidental, alguém que se dava bem na academia, tangenciando as áreas dos dois autores de Freakonomics, e que resolveu, num repente, ser diplomata. Posso até recomendar a profissão, aos que gostam de inteligência, de cultura, de viagens, de debates sobre como consertar este nosso mundo tão sofrido, aos que são nômades por natureza (como é o meu caso e mais ainda o de Carmen Lícia), menos talvez aos que apreciam pouco um ambiente meio Vaticano meio Forças Armadas. Com efeito, hierarquia e disciplina são os dois princípios que estão sempre sendo lembrados aos jovens diplomatas como sendo a base de funcionamento dessa Casa aparentemente tão austera, tão correta, tão eficiente no tratamento das mais diversas questões da nossa diplomacia.
Atenção, eu disse diplomacia, que é uma técnica, e não política externa, que pode ser qualquer uma que seja posta em marcha pelas forças políticas temporariamente dominantes no espectro eleitoral do país. Política externa pertence a um governo, a um partido; a diplomacia pertence a um Estado, que possui instituições permanentes, entre elas essa que aplica a política externa de um governo por meio da diplomacia. E por que então o título Freakdiplomacy que inaugura este prefácio? Não preciso responder agora, e provavelmente nem depois, mas a resposta talvez esteja em cada um dos ensaios reunidos nesta coletânea de artigos publicados desde 2001 no boletim Meridiano 47. Ninguém há de recusar o fato de que, desde 2003 pelo menos, o Brasil vive tempos não convencionais, nos quais assistimos coisas nunca antes vistas na diplomacia, que por acaso é o título de meu livro mais recente. 
Pois bem, reunindo tudo o que eu escrevi nos parágrafos anteriores – diplomata acidental, hierarquia, disciplina, ideias de senso comum, etc. – e juntando tais conceitos aos ensaios aqui compilados, vocês terão uma explicação para o sentido geral de minha obra, anárquica, dispersa, contestadora, por vezes contrarianista, mas explorando, como os dois autores de Freakonomicsthe hidden side of everything, ou, neste caso, o lado menos convencional da diplomacia, aquele que explora certas verdades reveladas e ousa apresentar outras ideias que não necessariamente fazem parte do discurso oficial. Esta talvez seja a razão de eu também apreciar, muitíssimo, uma seção da revista Foreign Policy, desde a sua reorganização por Moisés Naím, que se chama “Think Again”, ou seja, reconsidere, ou pense duas vezes, pois a resposta, ou a explicação pode não estar do lado que você costuma encontrar, mas que talvez esteja escondida em alguma dobra da realidade, por uma dessas surpresas do raciocínio lógico, por alguma astúcia da razão ou por algum outro motivo que se encontra enterrado, e quase esquecido, na história.
A vantagem de ser um diplomata acidental está justamente no fato de poder perseguir, nem sempre impunemente, o outro lado das coisas, e de poder contestar algumas dessas idées reçues que passam por certezas consagradas, ou pela única postura possível no funcionamento convencional da grande burocracia vaticana, que também leva jeito de quartel (mas acordando um pouco mais tarde). Durante todos estes anos em que venho colaborando com o boletim Meridiano 47, e desde algum tempo com seu irmão mais novo, digital, Mundorama, tenho podido exercer meu lado irreverente e pouco convencional para tratar de aspectos muito pouco convencionais de nossa Freakdiplomacy nestes anos do nunca antes (et pour cause).
Atenção: estes ensaios não brotaram, originalmente, de trabalhos de pesquisa, ou daquilo que se chama, usualmente, de scholarly work, isto é, o material resultante de estudos meticulosos, ou objeto de revisão cega por pares, que está mais propriamente coletado em meus livros publicados. Eles são, eu diria, peças de simples divertimento intelectual, ainda que vários deles contenham aparato referencial (notas de rodapé, bibliografia, citações doutas, etc.) e também sejam o reflexo de muitas leituras sérias e anotadas ao longo de meus anos de estudo e trabalho. Mas, destinados a um veículo mais leve, e não a uma revista científica, eles constituem reflexões de um momento, de um problema, de algum freak-event que valia a pena registrar em um artigo mais curto.
Devo a existência de mais este livro de coletânea de meus próprios textos a meu amigo, colega acadêmico e grande editor de publicações leves e mais pesadas, o professor Antonio Carlos Lessa, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, a quem aprendi a admirar desde nossos primeiros passos conjuntos na reorganização da Revista Brasileira de Política Internacional, recuperada por mim de uma morte certeira, quando do falecimento de seu editor no Rio de Janeiro, Cleantho de Paiva Leite, no final de 1992. O professor Lessa foi o animador constante, e mais ativo, de diversas outras publicações que marcaram, e ainda marcam sua trajetória na UnB, algumas desaparecidas, em forma impressa ou digital, como foi o caso de Relnet, por exemplo (onde foram publicados alguns destes ensaios em sua primeira encarnação), outras resistentes e persistentes, como a própria RBPI e este boletim Meridiano 47, justamente. Sem o professor Lessa, o boletim não existiria, e sem o seu trabalho incansável não teríamos tantos e tão bons produtos saindo das fornalhas do IBRI e do IRel-UnB. A ele dedico, portanto, esta compilação seletiva, com meus agradecimentos renovados pelo seu esforço e sua pertinácia nos empreendimentos.
Todos estes meus ensaios, na forma em que foram publicados, estão em princípio disponíveis nos arquivos digitais do boletim Meridiano 47. O que vai aqui compilado foi retirado de meus próprios arquivos, em processador usual de texto, para contornar os problemas de formatação de texto em suporte digital, mas corresponde, em princípio, ao que foi publicado. Nem tudo o que publiquei vai aqui reproduzido, em ordem não cronológica, mas organizada por grandes categorias de estudo. Ficaram de fora diversos artigos circunstanciais, todas as resenhas de livros – já coletadas em outras publicações digitais que organizei – e alguns textos de menor importância. Todos aqueles efetivamente publicados (salvo distração minha) estão ordenados cronologicamente no apêndice ao final do volume, onde também figuram os respectivos links para revisão dos mais desconfiados ou curiosos. Também tenho colaborado, agora como colunista não pago, de outra iniciativa do Prof. Antonio Carlos Lessa, Mundorama, um veículo ainda mais leve que Meridiano 47, e que libera eventualmente material para posterior publicação neste último (como ocorreu com alguns destes meus ensaios). 
O lado “freak”, ou divertido, de ser um diplomata acidental está justamente na possibilidade de poder escrever livremente sobre assuntos sérios e menos sérios, com a liberdade editorial que só existe nos veículos leves, sem precisar cumprir todo o ritual chato dos requisitos acadêmicos ligados às revistas “sérias” – como a RBPI, por exemplo, com a qual também colaboro, de diversas maneiras – e sem precisar atentar para a langue de bois normalmente associada às publicações oficiais, onde o lado vaticano inevitavelmente predomina. Foi nestes ensaios que eu explorei o lado meio escondido de certas verdades reveladas do meio profissional, uma atividade que sempre me deu imenso prazer por combinar com meu jeito contrarianista de ser. 
Dito isto, preciso voltar a coisas mais sérias, como o segundo volume de minha história das relações econômicas internacionais do Brasil, que me espera desde vários anos a partir da conclusão do primeiro volume (Formação da Diplomacia Econômica no Brasil). Assim que terminar, vou voltar a me divertir, nas páginas de Meridiano 47, nos arquivos digitais de Mundorama, ou nos meus próprios veículos de divulgação.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 16 de abril de 2015

Nota em 21/12/2019: Agreguei dois novos artigos publicados em Meridiano 47 em etapas posteriores, o primeiro, “A longa marcha da OMC: das origens aos impasses atuais”, sobre o congelamento da Rodada Doha; o segundo, “Regional integration in Latin America: an historical essay”, uma síntese sobre a integração e o Mercosul para um público estrangeiro.


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Meridiano 47: número especial sobre o Juca Paranhos de Luis Claudio Villafañe

 Roundtable Review do livro “Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco”, de Luis Cláudio Villafañe Gomes Santos

Introdução
·       Antonio Carlos LessaUniversidade de Brasília, Instituto de Relações Internacionais
·       Rogério de Souza FariasUniversidade de Brasília, Instituto de Relações Internacionais
Palavras-chave: História da Política Exterior do Brasil, Barão do Rio Branco, Política Externa da Primeira República

Resumo
Introdução ao Roundtable Review do Introdução ao Roundtable Review do livro “Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco”, de Luis Cláudio Villafañe Gomes Santos (Villafañe, L.C. Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560p.).
Almeida, Paulo Roberto de. A economia política de Rio Branco. Meridiano 47, 20: e20007, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20007
Burns, E. Bradford. The unwritten alliance: Rio-Branco and Brazilian-American relations. New York: Columbia University Press, 1966. 
Alsina Junior, João Paulo. Rio Branco, grande estratégia e poder naval. São Paulo: Editora da FGV, 2015. 
Farias, Rogério de Souza. A esfinge reexaminada: o Barão do Rio Branco e a política doméstica. Meridiano 47, 20: e20002, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20002
Ferreira, Gabriela Nunes. (Barão do) Rio Branco, entre a Monarquia e a República. Meridiano 47, 20: e20003, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20003
Franchini Neto, Helio. Realpolitik e o instrumento militar na vida e na obra do Barão do Rio Branco. Meridiano 47, 20: e20004, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20004
Pontes, Kassius Diniz da Silva . Fracasso Relativo? A política de Rio Branco para os Estados Unidos. Meridiano 47, 20: e20005, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20005
Santoro, Maurício. Rio Branco, jornalista. Meridiano 47, 20: e20006, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20006
Santos, Luís Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560p. 
Santos, Luís Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco: os comentários do autor. Meridiano 47, 20: e20008, 2019. http://dx.doi.org/10.20889/M47e20008
Rocha, Antônio Jorge Ramalho da e Lessa, Antônio Carlos. Meridiano 47: Relações Internacionais sob o prisma de Brasília. Meridiano 47, v. 1, n. 1, p. 1-2. 2000.