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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: a série de oito crônicas recebidas recentemente - Cronista Misterioso

 Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista

Cronista Misterioso


13) Era uma vez na Arábia um homem chamado Abu (Semana 13 - Parte 01)

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty.html

 

14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_25.html

 

15) O estranho caso de Abu (Semana 15 - Parte 03) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_43.html

 

16) A jornada do herói (Semana 16) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_19.html

 

17) Rumo à Idade Média (Semana 17) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_70.html

 

18) Patriotas? (Semana 18) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_57.html

 

19) Os leitões de Niemöeller (Semana 19) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_81.html

 

20) Receita contra o globalismo (semana 20) 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_58.html

 

 Bem, a safra acabou, por enquanto.

Suponho que nosso cronista misterioso continuará alimentando a série, uma vez que matéria prima não lhe falta: toda semana tem uma nova besteira a comentar.

Aposto como da próxima vez teremos algo sobre as mentiras ditas na abertura da AGNU e talvez algum reflexo da visita do enviado do Imperador Trump àquelas terras do Norte, para fazer mais um pouco de propagando para a reeleição do Bolsonaro do Norte. Ele está precisando coitado, arrisca perder...


Não adianta me cobrarem novas crônicas, que não sei quando virão.

Não tenho a menor ideia de quem seja o Cronista misterioso, onde ele se esconde.

Dependo dessas cadeias de intermediários.

O chanceler acidental deve estar colocando arapongas atrás destes pobres pombos-correio. 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25 de setembro de 2020

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 20) Receita contra o globalismo (semana 20) - Cronista Misterioso

20) Receita contra o globalismo (semana 20)

 


Sei que falo muito de comida, mas esse é um mal dos gordos, e muitos colegas me entenderão. Vivemos tempos ameaçadores e a espada de Dâmocles globalista pode ceder a qualquer momento sobre nossas cabeças. Precisamos defender a todo custo nosso campo de batatas!

 

Por isso, busquei uma receita que vou compartilhar com os poucos desocupados que ainda me leem. Primeiro, precisamos de uma boa dose de burrice. Mentes alertas não combinam com nossa conspiração. Misture a burrice com 4 ovos e bata bem, até formar uma clara cor de pele. Leve ao fogo médio.

 

Enquanto isso, pegue um quilo e meio de massa de crença cega, dessas que te fazem acreditar que máscara faz mal para a saúde, que termômetro frita o cérebro e que covid é invenção chinesa para vender 5G. Acrescente quatro xícaras de leite - entendedores entenderão, como diria o blogueiro - e quatro ovos de galinha de Glicério. Reserve.

 

Em uma tigela grande, junte um pouco de paranoia com algumas aulas do Olavo. A propósito, um anti-globalista de verdade deve ler alguns textos do Rasputin brasileiro. Pode ser daquele livro mais famoso; alguma coisa sobre ser um idiota, parece. Não leia o livro inteiro, porque é só um monte de palavra escrita. E não temos o mês inteiro, afinal. Corra que o globalismo vem aí!

 

Pegue a burrice que está fervendo no fogo e acrescente a esse caldo de olavismo. Misture bem. Quando formar um creme uniforme, misture à massa de cegueira. Como fermento, use intolerância mesmo, que está sobrando. Polvilhe um pouco de fascismo e leve ao forno por uma hora.

 

Pronto. Você terá a sua ração de anti-globalismo para consumir com sua dose diária de fake news. Ou de vídeos da FUNAG - desses recentes claro, não assista aos velhos, senão amarga.

 

Contra o globalismo, cozinhem.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

 

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 19) Os leitões de Niemöeller (Semana 19) - Cronista Misterioso

 19) Os leitões de Niemöeller (Semana 19)

 

Pode ser a senilidade batendo à porta, mas nunca lembro como viemos parar aqui. O amigo perdoará, que, afinal, a lucidez anda algo cabisbaixa no Brasil de 2020. As velhas estórias, de meninice, por sua vez, andam sempre frescas na memória. Também pudera, tantas vezes foram repetidas. Uma delas fez-me refletir sobre nosso atual desestado (SIC) das coisas: Os Três Porquinhos, consagrada em 1890, na coletânea de folclore inglês do australiano Joseph Jacobs. No conto, os três irmãos suínos, Cícero, Heitor e Prático, deparam-se com dilema de descaso e precaução, ao construírem suas moradas.

 

Cícero, preguiçoso e cultor do descaso, optou por uma choupana de palha. Era fácil de erguer, e não acreditava que pudesse correr algum

perigo. Heitor, sabendo que o frio do inverno penetraria a palha fina, foi um pouco mais prudente e construiu um chalé de madeira. Já Prático, velho sabido, insistiu em sólidos pilares fundacionais. Investiu seu tempo para construir uma casa de tijolos e cimento. Não faltaram troças de Cícero e Heitor ao irmão neurótico, mas Prático sabia que o perigo poderia vir.

 

Estava certo. Em pouco tempo, o lobo veio. Primeiro, na casa de Cícero, que se escondeu, tremendo, mas, com uma só bufada, o lobo soprou toda a palha da choupana. Cícero então correu a se esconder no chalé de madeira de Heitor, que confiava em sua estrutura de madeira. Mas bastaram duas boas bufadas do algoz para que todas as tábuas se despedaçassem. Desesperados, Cícero e Heitor correram para a casa do irmão precavido que, com certa dose de “eu avisei”, recebeu-os em sua casa de sólidas pilastras.

 

Novamente, o lobo veio. Bufou, bufou, bufou, mas não conseguiu trazer a casa a baixo. Segundo a estória, o lobo ainda teria tentado adentrar a fortaleça suína por duas vezes. Uma com disfarce de cordeiro e a outra pela chaminé, mas acabou com o rabo queimado em uma panela de água fervente que Prático fez borbulhar. O lobo mau, então, fugiu assustado e nunca mais voltou. 

 

Por esses dias, ao ler mais um disparate deste ministro ou daquele presidente, já não sei ao certo, pensei que, diante do mal do bolso-olavismo, eu mesmo fui Cícero. Sequer imaginei que um pensamento tão fraco e desconexo pudesse chegar perto de nossa Casa. Quando me dei conta que esses ventos sim sopravam por aqui, fui Heitor. Não podia acreditar que ameaçariam a nós, que tanto nos gabamos de nossa inteligência. Ao fim, talvez estejamos a repetir a estória dos porquinhos, mas com um toque de Martin Niemöller, já que nunca acreditamos que viriam por nós.

 

O que não consigo lembrar exatamente é como pudemos, Práticos que somos, permitir a entrada desse mal em nossa sólida Casa, construída sobre firmes alicerces de tradição e pragmatismo. Fiquei perdido na história e não sei como o lobo entrou. Ele já destruiu toda a Casa? Ou será que lhe abriram a porta da frente?

 

Para que não viremos pururuca, reflitam.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN


Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 18) Patriotas? (Semana 18) - Cronista Misterioso

 18) Patriotas? (Semana 18)


 

Alguém me explique esse patriotismo de quinta categoria. Hoje se enfia pátria para cá, pátria para lá, pátria acolá. E, ao mesmo tempo, bate-se continência para a bandeira de outro país. E flamula-se o símbolo de outros Estados em manifestações públicas. E se segue em tudo os desejos de outro país, como se a nossa grande pátria não tivesse vontade própria. Estamos fazendo nacionalismo para americano  ver.

 

Esta semana vimos, abobalhados, um vídeo do início de 2019 no qual o “Excelentíssimo” (atenção às aspas) Senhor Presidente da República afirma que gostaria muito de explorar a Amazônia junto com os Estados Unidos. A nossa reação é a mesma de Al Gore no vídeo: incompreensão e incredulidade

 

E qual não é a revolta de um velho ouvir isso? Um servidor que tanto trabalhou pela soberania da pátria e que tanto se empenhou para proteger nossas riquezas, sempre cobiçadas por potências estrangeiras. E que patriotismo é esse que dilapida o patrimônio da pátria?

 

Imagine, atento leitor, o que seria se outro infame governante batesse continência, em público, para a bandeira de, digamos, Cuba? Seria uma comoção nacional. Uma balbúrdia de copa do mundo.

 

A propósito, Sr. Presidente, por que Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz e esposa? Ou, em inglês, para melhor compreensão dos patriotas: Mr. President, why did your wife Michelle receive R$ 89,000.00 from Queiroz and his wife?

 

Pelo resgate do verdadeiro patriotismo nacional, comovam-se.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

 

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 17) Rumo à Idade Média (Semana 17) - Cronista Misterioso

 17) Rumo à Idade Média (Semana 17)

 

Por vezes me pergunto se, em seu delírio, Ernesto acredita ser Santo Agostinho, como o Quincas. Ou São Sebastião, que, se bem me lembro, acabou com a soberania de Portugal, e que nosso chefe reverenciou em sua possessão. Ou Santo Hilário, pois, afinal, a gargalhada é nosso último apupo. Fato é que o senhor ministro parece imbuído de missão divina, como quem busca salvar uma combalida civilização.

 

E dizem que ele conversa com as paredes, como eu. Mas que, em lugar de receber respostas desaforadas, ouve a voz de Deus. Sim, de Deus. E, talvez, esta suposta voz divina diga-lhe que, hoje, seu verdadeiro Vicário é Pio Trump; não o Papa, como creio eu, por dever cristão. Assim, seguimos, como bons fiéis, a Palavra de Trump, e combatemos o mal estar da civilização gestado pelos comunistas, pelo Papa e pelo Guterres. 

 

Deve ser mesmo um sábio iluminado, cumprindo sua cruzada divina. Rara avis in terris. Ou seria a voz divina que houve Ernesto um diabrete a passar-se por Deus? Ou seria ainda nosso líder um falso profeta, como em Mateus 7:22-23, a dizer asneiras em nome do divino?

 

Há pouco tempo, acreditava eu que retrocederíamos algumas décadas com esse desgoverno, apagando nosso capital diplomático em temas como meio ambiente, direitos humanos e desenvolvimento.

Hoje vejo que retrocedemos é em séculos. Os templários contemporâneos estão defendendo um governo centrado na figura do líder; atacando a separação de Poderes; criticando o racionalismo, a ciência e até o Iluminismo - que veem como espécie de “comunismo avant la lettre”. E, como não poderia faltar, estão nos ensinando que a Terra é plana!

 

Se seguirmos nesse passo, não nos bastará um chefe são. Precisaremos de um novo movimento das Luzes.

 

Pelo Iluminismo, reflitam.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

 

Novas crônicas do Itamaraty Bolsolavista: 16) A jornada do herói (Semana 16) - Cronista Misterioso

 16) A jornada do herói (Semana 16)

 

Meu saudoso Rubem Alves, de quem fui um dia discípulo, disse certa vez que a vida se compõe assim: fragmentos que arranjamos em torno de um tema. Este tema se apossa de nosso corpo (pode ser uma melodia, uma imagem, um toque), e as variações vão se repetindo, sempre iguais, sempre diferentes. Às vezes, o “script” é trágico. Mas ficamos fiéis a ele, por ser belo. Não é isto que nos faz continuar a ouvir a música que nos corta a alma, a continuar a leitura do livro que nos dilacera? A dor pode ser bela. 

 

Retomo as palavras de Rubem para trazer a tragédia de um nobre herdeiro de Rio Branco. Embora seja trágico seu “script”, é meu dever de ombudsman cantá-lo com beleza, pois é a jornada de um verdadeiro herói. Um dos poucos que tive a honra de conhecer, não pelos livros, mas pela vida. José Jobim, para sempre embaixador desta Casa, por mais que ainda se tente obscurecer sua memória. Quem sabe uma chefia com caráter ainda lembrará seu nome em uma placa, como Vinicius e Maria Rebello.

 

Jobim era peito ilustre brasileiro, sem arroubos de grandeza e com grande honradez. Serviu à Casa com moralidade, respeito pela coisa pública, honestidade e capacidade técnica (características de um comunista irridento, para os padrões asno-lunáticos atuais). Conservador progressista, um desses paradoxos sublimemente lógicos que só a casa de Rio Branco oferece, tinha consciência das insígnias que carregava.

 

Não chegamos a ser próximos, mas o conheci pessoalmente quando iniciava minha carreira no exterior. Aprendi muito sobre a Argélia e o Vaticano. Sobre os resultados do armistício de Evian e sobre o progressista Papa Paulo VI. Escutei histórias saborosas sobre seu trabalho com Raul Bopp na edição do mesário “Correio da Ásia”, redigido, em português, a partir do Japão. Conheci sua esposa, Lígia Collor Jobim, filha de Lindolfo Collor, o ex-ministro varguista, e seus filhos. Lembro de apreciar a leitura de seu livro “Hitler e seus comediantes”, de 1934, que ainda mantenho em minha estante.

 

Este herói, que como muitos, não desejava ser um herói, senão um homem honrado e vivo, foi arrastado para sua jornada por desejar respeitar seus princípios. Como bem relatou nosso colega Gustavo Pacheco, em 15 de março de 1979, nosso nobre e já aposentado herói esteve na posse de João Batista Figueiredo e do chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, seu amigo. Durante a cerimônia, aqui sigo as palavras de Pacheco, “comentou com alguns amigos que estava escrevendo suas memórias, que incluiriam denúncias de superfaturamento na construção de Itaipu, comprovadas por extensa documentação, guardada em uma mala xadrez azul e branca, que ficava trancada em seu quarto. Um desses amigos, o senador Gilberto Marinho, chamou Jobim num canto e pediu que ele por favor parasse de falar no assunto, porque as pessoas que ia denunciar estavam presentes ali, na recepção.” 

 

Cerca de uma semana depois, Jobim desapareceria. Em 24 de março, foi encontrado morto no Rio. Sequer fazíamos ideia da causa. Ouvíamos sempre as histórias de tortura e execuções políticas praticadas no Brasil, e nos calávamos, cada qual à sua maneira. Mas não imaginávamos que um colega - tanto mais um embaixador respeitado - pudesse ser vítima da repressão. Hoje conhecemos a Verdade, pela busca de sua filha Lygia. Por tentar denunciar a corrupção na construção de Itaipu, o embaixador José Jobim foi assassinado pelo regime militar.

 

Pela memória de um herói.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

 

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 15) O estranho caso de Abu (Semana 15 - Parte 03) - Cronista Misterioso

 15) O estranho caso de Abu (Semana 15 - Parte 03)

 

Já que navegamos pacificamente rumo ao abismo da terra plana, falemos de insignificâncias, Abu. Creio ter tido verdadeira revelação divina ao regar, hoje pela manhã, minha pequena jabuticabeira. Vejo que já estou me adaptando a esses trejeitos antirracionalistas da Nova Idade Média. Justo no instante em que a água flui do regador, e a mente se esvazia, tive a iluminação: trata-se Abu de espírito recalcado e com orgulho ferido.

 

O paladino do Levante ataca Pedro não pelo hábito, mas porque foi reprovado em sua tese de CAE. Como sabemos todos, a banca deste ano reprovou um sem número de trabalhos. Muitos por serem globalistas, suponho. Outros muitos por serem ruins. Entre estes, o de Abu. Não tenho provas do que digo. Mas tenho convicção, que é o que importa na nossa escola olavista.

 

Abu ataca o vizir da montblanc verde por puro recalque, vejam vocês. Acusa-o de favorecer esquerdistas apenas para justificar seu próprio tropeço na banca de CAE. Que injustiça seria, em se tratando de tese tão bem esculpida na extrema direita.

 

Fato é que, após algum alarde, Abu travestiu-se de “Sentinela do Planalto”, calou sua homofobia e sumiu sem deixar vestígio. Talvez tenha ido proferir seus impropérios em outras estâncias. Talvez tenha sido expulso da comunicação social. Isso a jabuticabeira não me revelou. 

 

Aqui jaz Abu que, ingênuo, tentou destronar Dulcineia.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN


Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02) - Cronista Misterioso

 14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02)

 

Como prometido, ou melhor, alertado. Inicio minha deambulação despretenciosa, não obstante analítica, sobre nosso suposto colega ABU V. Reitero, assim, meu pedido de perdão por mais esta digressão. A ver:

 

Ao preparar-me para esta análise, historiador diletante que sou, busquei em livros, enciclopédias e compêndios referências que apontassem para monarcas islamitas que carregassem o nome ABU em seus títulos. E pasme, amigo leitor, encontrei justamente quatro.

 

O primeiro de que encontrei registro, foi Abu Bakr Abdullah Ibn Uthman, um dos sogros do profeta e o primeiro Califa a sucedê-lo, em 632 d.c. Obviamente, a obsessão do chefe com seu ex-sogro ilustre não me passou despercebida, mas careço ainda de sinais enfáticos de que não é mera coincidência. 

 

O segundo, Abu Bakr II, nono Mansa do Império Islâmico do Mali (1230-1670), é pouco conhecido. Sabe-se, porém, que desapareceu em navegação atlântica, na qual buscava a borda do oceano da terra plana. Este detalhe, é necessário admitir, atiçou minha verve conspiratória e me fez questionar a aleatoriedade do nome. 

 

O terceiro, Abu Bakr Ibn Abd al-Munan, emir de Harar, cidade-estado muçulmana, reinou entre 1829-1852 e destacou-se em nossa análise por ter sido manipulado por um ardiloso e inescrupuloso vizir que atuava como líder de facto. Seria a história do terceiro Abu referência velada às acusações feitas pelo quinto Abu ao poderoso chefe de gabinete?

 

Por fim, o quarto monarca árabe com quem me deparei foi Abu Bakr al-Baghdadi, fundador e Califa do movimento Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Morto em 2019, é também simbólico que este antecessor tenha sido o líder de um movimento reacionário de combate aos valores do liberalismo ocidental, buscando uma reconexão com um conservadorismo utópico e arcaizante.

 

Ainda que na chave cristã, ABU V parece buscar referências no histórico de nossa atuação diplomática recente. Resta saber se se trata de estratégia cômica para encobrir suas críticas, de mera coincidência ou de real inspiração nos Abus que o antecederam.

 

Para mais elocubrações infundadas, aguardem.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN