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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista: 14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02) - Cronista Misterioso

 14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02)

 

Como prometido, ou melhor, alertado. Inicio minha deambulação despretenciosa, não obstante analítica, sobre nosso suposto colega ABU V. Reitero, assim, meu pedido de perdão por mais esta digressão. A ver:

 

Ao preparar-me para esta análise, historiador diletante que sou, busquei em livros, enciclopédias e compêndios referências que apontassem para monarcas islamitas que carregassem o nome ABU em seus títulos. E pasme, amigo leitor, encontrei justamente quatro.

 

O primeiro de que encontrei registro, foi Abu Bakr Abdullah Ibn Uthman, um dos sogros do profeta e o primeiro Califa a sucedê-lo, em 632 d.c. Obviamente, a obsessão do chefe com seu ex-sogro ilustre não me passou despercebida, mas careço ainda de sinais enfáticos de que não é mera coincidência. 

 

O segundo, Abu Bakr II, nono Mansa do Império Islâmico do Mali (1230-1670), é pouco conhecido. Sabe-se, porém, que desapareceu em navegação atlântica, na qual buscava a borda do oceano da terra plana. Este detalhe, é necessário admitir, atiçou minha verve conspiratória e me fez questionar a aleatoriedade do nome. 

 

O terceiro, Abu Bakr Ibn Abd al-Munan, emir de Harar, cidade-estado muçulmana, reinou entre 1829-1852 e destacou-se em nossa análise por ter sido manipulado por um ardiloso e inescrupuloso vizir que atuava como líder de facto. Seria a história do terceiro Abu referência velada às acusações feitas pelo quinto Abu ao poderoso chefe de gabinete?

 

Por fim, o quarto monarca árabe com quem me deparei foi Abu Bakr al-Baghdadi, fundador e Califa do movimento Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Morto em 2019, é também simbólico que este antecessor tenha sido o líder de um movimento reacionário de combate aos valores do liberalismo ocidental, buscando uma reconexão com um conservadorismo utópico e arcaizante.

 

Ainda que na chave cristã, ABU V parece buscar referências no histórico de nossa atuação diplomática recente. Resta saber se se trata de estratégia cômica para encobrir suas críticas, de mera coincidência ou de real inspiração nos Abus que o antecederam.

 

Para mais elocubrações infundadas, aguardem.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN


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