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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lendo George Orwell nos seus ensaios de política e literatura: Rudyard Kipling, Paulo Roberto de Almeida

 Sempre leio, ao acaso, um ou outro ensaio do grande jornalista britânico, socialista e anti-imperialista. Desta vez escolhi uma resenha sobre Rudyard Kipling, o poeta do imperialismo britânico, que Orwell escreveu em plena guerra, 1942, criticando o livro de T. S. Eliot, A Choice of Kipling's Verses (London: Faber & Faber).

A resenha está em: George Orwell: A collection of essays by George Orwell (New York: Harcourt Brace, 1953), pp. 116-132.

Mas o tema de Orwell é sempre político e ele critica o autor do livro e o próprio poeta na condição de político, não de poeta. Ele concorda com o autor, ao defender Kipling da acusação de "fascista", o que propriamente ridículo para um defensor do imperialismo no terço final do século XIX e no início do século XX. Kipling era um defensor do colonialismo britânico na Índia e na África, na Guerra dos Bôeres, por exemplo.

Mas também não concorda com a visão benigna sobre Kipling. Referindo-se ao seu próprio tempo, e à guerra iniciada por Hitler, Orwell diz: 

"No one, in our time, believes in any sanction greater than military power; no one believes that is possible to overcome force except by greater force. There is no 'law', there is only power. (...) Kipling's outlook is pre-Fascist. (...) Kipling belongs very definitely to the period 1885-1902. (...) He was the prophet of British Imperialism in its expansionista phase..." (p. 118)

"It is notable that Kipling does not seem to realise, any more than the average soldier or colonial administrator, that an empire is primarily a money-making concern. Imperialism as he [Kipling] sees it is a sort of forcible evangelising." (p. 119)

George estabelecer uma diferença entre o imperialismo britânico de Kipling e o totalitarismo de Hitler: 

"The modern totalitarians know what they are doing, and the nineteenth-century English did not know what they were doing." (p. 119)

Isso me parece um pouco enviesado, mas Orwell segue adiante: 

"Kipling's romantic ideas about England and the Empire might not have mattered if he could have held them without the class-prejudices which at that time went with them." (p. 122. 

"Kipling is the only English writer of our time who has added phrases to the language. The phrases and neologisms which we take over and use without remembering their origin do not always come from writers we admire. (...)

"East is East, and West is  West.

The white man's burden." (p. 126).

"One reason for Kipling's power as a good bad poet I have already suggested – his sense of responsibility, which made it possible for him to have a world-view, even though it happened to be a false one. Although he had no direct connection with any political party, Kipling was a Conservative, a thing that does not exist nowadays. (...) He identified himself with the ruling power and not with the opposition. (...) The ruling power is always faced with the question, 'In such and such circumstances, what would you do?', whereas the opposition is not obliged to take responsibility or make any real decisions. (...) Moreover, anyone who starts out with a pessimistic, reactionary view of life tends to be justified y events, for Utopia never arrives and 'the gods of the copybook headings,' as Kipling himself put it, always return. Kipling sold out to the British governing class, not financially but emotionally." (p. 131-32)

"He dealt largely in platitudes, and since we live in a world of platitudes, much of what he said sticks." (p. 132)


Um dos melhores ensaios deste volume é o conhecido "Politics and the English Language", trechos do qual eu já postei neste mesmo espaço de liberdade. Outro é "Inside the Whale", que é uma resenha de Tropic of Cancer, de Henry Miller, o romance semi-pornográfico do americano na Paris dos anos 1920 e 30.

"During the boom years, when dollars were plentiful and the exchange-value of the franc was low, Paris was invaded by such a swarm of artists, writers, students, dilettanti, sight-seers, debauchees, and plain idlers as the world has probably never seen. In some quarters of the town the so-called artists must actually have outnumbered the working population..." (p. 210).

Mas, os ensaios dos quais eu mais gosto é o primeiro, "Such, Such Were the Joys..." (1947), sobre seus tempos de internato inglês (ugt!), e, sobretudo, o último, "Why I Write" (1946), sobre sua infância, sobre sua decisão de se tornar escritor desde cedo, e sobre sua postura como escritor engajado.

Sobre este último, eu escrevi, não apenas um, mas dois textos, aos quais remeto aqui mesmo, pois eu me senti inteiramente contemplado por algumas das razões de George Orwell, não todas, pelas quais eu mesmo escrevo: 

2614. “Por que escrevo? (1)”, Hartford, 6 Junho 2014, 6 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I Write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-1-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-1-retomando-minhas.html).


2615. “Por que escrevo? (2)”, Hartford, 7 Junho 2014, 7 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I Write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-2-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-2-detalhando-as-razoes.html).

Convido meus 18 leitores a ler esse ensaio de George Orwell, que certamente deve estar disponível em algum clic do Google.

Enjoy, mas pensem...

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 29 de setembro de 2020.


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