Prosseguindo a série:
Across the Empire (3): Des Moines e
o caminho dos pioneiros...
Como antecipado no sábado – mais exatamente,
na madrugada deste domingo, que já passou -- Carmen Lícia e eu retomamos nosso caminho para Denver, no Colorado
(ainda muito distante), visitando duas cidades no caminho da I-80W: Des Moines,
basicamente o Des Moines Arts Center
(www.desmoinesartscenter.org),
a cidade mais importante do milharal que responde pelo nome de Iowa, e Omaha,
no limite de Nebraska com Iowa, terra do Buffalo Bill (mas ele está em todas as
partes, inclusive na cidade que escolhemos para pernoitar: North Platte).
O Arts Center de Des Moines não é um
simples museu, e sim um monumento arquitetural e artístico, em si e por si:
muito functional, em todas as suas salas e espaços abertos, inclusive com um
restaurante, que infelizmente estava fechado, quando chegamos justamente em
torno das 12hs deste domingo, famintos e desejosos de comer outra coisa que
sanduíches fast food. Não preciso descrever todas as maravilhas em termos de
obras de arte, de todas as épocas mais importantes da arte ocidental (e alguns
poucos exemplares de arte africana, e poucos japoneses e chineses na mostra,
entre estes últimos Wei Wei, o artista dissidente). Uma consulta ao site pode
revelar o que existe.
Interessei-me pela mostra permanente
logo na entrada: pinturas e texto de Henri Matisse para um “pochoir en papier”,
um livro ilustrado, feito inteiramente pelo artista francês, em 1947, e tirado
unicamente em 100 exemplares. Fotografei a placa VIII, um Ícaro figurativo, e
retirei do catálogo a ilustração da página completa; mas livro tem muitos
outros exemplos ilustrações retiradas da mitologia grega e de histórias da
literatura universal.
Passando a outras salas, comecei a
contemplar a arquitetura do centro de artes, dois edifícios que se
complementam, com muitas aberturas, diversos níveis e espaços amplos para as
obras de arte contemporânea, que apreciei menos. Mas um pátio interno, com
espelho d’água, revelou uma lindíssima escultura do artista sueco Carl Milles,
ativo nos Estados Unidos (morto em 1955), representando o cavalo Pégaso e um
cavaleiro sobre ele, chamada simplesmente Pegasus and the Man. Segundo
informação do catálogo do centro, existem outras cinco esculturas iguais,
espalhadas pelo mundo, numa cidade da Suécia, em Dallas, no museu aberto de
esculturas de Middleheim, em Antuérpia (justamente onde morei, e conheço bem
esse parque), e em Jakarta, na Indonésia.
Também figura no centro de Des
Moines o famoso painel de Andy Warhol com um retrato de Mao Tsé-tung em
diversas colorações, para mim apenas um ícone a mais da coleção kitsch desse
artista americana que era mais competente em chocar os incautos (épater le bourgeois, alguns diriam) do
que propriamente em pintar.
De Des Moines retomamos a I-80 em
direção a Denver, mas paramos em Omaha,
a primeira cidade do Nebraska, onde já tínhamos estado no ano passado, numa
incursão não prevista (pois tivemos de desviarmos, a partir de Kansas City, de
Denver, tomada por chuvas torrenciais que devastaram várias estradas no
Colorado). Fomos direto ao Joslyn Art Musem, chegando justa a tempo de visitar
o que eu mais queria ver: os cadernos de viagem de Maximilien de Wied, com as
ilustrações feitas pelo suíço Karl Bodmer.
O
museu é um enorme edifício moderno, grandioso, com uma bela escultura em bronze
de um guerreiro indígena em seu cavalo, no jardim da frente: minha foto talvez
não dê uma ideia da monumentalidade da escultura, aliás, maior do que o Pégaso
de Carl Milles.
Na própria exposição, que tivemos de
visitar muito rapidamente (pois o museu fechava às 4hs da tarde, em lugar das
5hs habituais, o que já acho um absurdo), tirei algumas fotos, Carmen Lícia
outras, e reproduzo aqui as mais bonitas.
No total da viagem, fizemos 577
milhas, incluindo as duas paradas (Des Moines e Omaha), um pouco menos das 600
milhas previstas inicialmente, mas já estamos avançados no planejamento
inicial, pois faltam apenas 240 milhas para fazer até Denver, quando segundo
meu caderno de viagem eu tinha reservado 474 para completar o trajeto até o
Colorado, na segunda-feira, 1 de Setembro (isto é, hoje). Além das duas paradas
culturais (que poderiam facilmente ter sido estendidas se o primeiro museu
tivesse comida, e o segundo não fechasse às 4hs), enfrentamos várias
tempestades no caminho, mais no Nebraska do que em Iowa, com direito até a
pedras de gelo.
Chegamos a North Platte, uma
simpática cidadezinha do Oregon Trail, que cultiva, como tantas outras nesta
região, Buffalo Bill. Bem em frente do nosso hotel existe um Fort Cody, um
simples trade post na origem, que serviu de ponto de apoio aos novos colonizadores
do oeste americano. Amanhã, ou melhor, nesta segunda, pela manhã, antes de
deixar a cidade, vamos visitar o museu que existe dentro do forte de madeira,
uma réplica exata do original, construído pouco depois da guerra civil. Tem
outras coisas por aqui, mas a mania mesmo é Buffalo Bill: Buffalo Bill
Ranch State Historical Park, além do Lincoln County Historical Museum, na
Buffalo Bill Avenue, claro…
Reproduzo novamente o mapa do Google
que havia postado ao final da postagem do sábado, reproduzindo o nosso caminho.
North Plate está quase no final do Nebraska, e daqui sairemos da I-80W para
tomar a I-97S, em direção a Denver.
Uma pequena jornada nesta segunda, de menos de
250 milhas, o que é quase uma corrida de taxi para nós, sem querer ofender os
taxistas, claro...
Encerro
esta postagem, e retomarei em Denver, uma primeira parada mais longa neste périplo
cultural de 8 mil milhas.
Até lá,
Paulo
Roberto de Almeida
North
Platte, Nebraska, 31/08 – 1/09/2014