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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Conferencia sobre Oriente Proximo em Varsovia: bad news (WP)

domingo, 28 de agosto de 2016

Equivocos arabes com relacao a Israel - Fred Maroun

Equívocos Históricos dos Árabes em suas Interações com Israel
por Fred Maroun
27 de Agosto de 2016
Original em inglês: The Arabs' Historic Mistakes in Their Interactions with Israel
Tradução: Joseph Skilnik
Fonte: Gatestone Institute
https://pt.gatestoneinstitute.org/8790/arabes-israel-equivocos

Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos. Nosso pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947.

Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.

Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.

A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe.

Esta é a primeira parte de um artigo dividido em duas partes. A segunda parte irá examinar as alternativas de hoje para nós árabes.

No estado atual das relações entre o mundo árabe e Israel vemos uma colcha de retalhos de hostilidades, paz tensa, cooperação limitada, tranquilidade e violência. Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos.

Primeiro Equívoco

Nosso primeiro equívoco durou séculos, ocorrendo bem antes da declaração de independência de Israel, em maio de 1948. Consistiu em não reconhecer os judeus como iguais a nós.

Conforme documentado por um proeminente estudioso americano da história judaica no mundo muçulmano, Mark R. Cohen, naquela época "os judeus compartilhavam com os demais não muçulmanos o status de dhimmis (não muçulmanos que pagam por proteção e obedecem leis humilhantes, distintas, para serem tolerados nas regiões controladas pelos muçulmanos)... Não era permitido construir novas casas de culto e as antigas não podiam ser reformadas. Eles deviam se comportar discretamente na presença de muçulmanos. Em suas práticas litúrgicas eles tinham que honrar a supremacia do Islã. Eram obrigados a se diferenciar dos muçulmanos no tocante às roupas e tinham que se abster de usar insígnias. Eles também eram proibidos de ocupar cargos de autoridade no governo muçulmano".

Em 1º de março de 1944, enquanto os nazistas massacravam seis milhões de judeus, bem antes de Israel declarar a independência, Haj Amin al-Husseini, então o Grande Mufti de Jerusalém declarou na Rádio Berlim: "árabes, levantem-se como se fossem uno e lutem pelos seus direitos sagrados. Matem os judeus onde quer que vocês os encontrem. Isso agrada a Deus, história e religião. Isso salva suas honras, Deus está com vocês."

Se não tivéssemos cometido esse erro, talvez nos beneficiássemos de duas maneiras.

Provavelmente os judeus teriam permanecido em maior número no Oriente Médio muçulmano e teriam desenvolvido a civilização do Oriente Médio ao invés de desenvolver as civilizações dos lugares para onde fugiram, sobretudo a Europa e posteriormente os Estados Unidos.

Em segundo lugar, se os judeus se sentissem seguros e aceitos entre os árabes do Oriente Médio, talvez não tivessem sentido a necessidade de criar um estado independente, o que teria nos poupado de nossos equívocos subsequentes.

O Pior Equívoco

Nosso segundo e pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947. A Resolução 181 da ONU forneceu o fundamento legal para o estabelecimento de um estado judeu e um estado árabe, dividindo o que costumava ser o Mandato Britânico da Palestina (controlado pelos britânicos).

Conforme divulgado pela BBC, a resolução estipulava:

"Um estado judeu cobrindo 56.47% da área do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com uma população de 498.000 judeus e 325.000 árabes; um estado árabe cobrindo 43.53% do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com 807.000 habitantes árabes e 10.000 habitantes judeus; um regime de tutela internacional em Jerusalém, onde a população era formada de 100.000 judeus e 105.000 árabes."

A despeito da terra alocada ao estado judeu ter sido ligeiramente maior do que a terra alocada ao estado árabe, a maior parte da região judaica era totalmente desértica, Negev e Arava, com as terras férteis destinadas aos árabes. O plano também era vantajoso para os árabes por duas outras razões:

O estado judeu tinha apenas uma minúscula maioria de judeus, o que teria dado aos árabes praticamente a mesma influência dada aos judeus na condução do estado judeu, mas o estado árabe era quase que totalmente árabe, sem nenhum benefício político aos judeus que nele habitavam.
Cada estado proposto consistia de três áreas mais ou menos desconexas, resultando em forte interdependência geográfica entre os dois estados. Se os dois estados tivessem relações amigáveis, eles provavelmente trabalhariam em diversos aspectos como uma federação. Na federação, os árabes teriam uma maioria esmagadora.
Em vez de aceitarmos um presente de plano como este quando ainda tínhamos condições, nós árabes resolvemos que não podíamos aceitar um estado judeu e ponto final. Em maio de 1948, Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, respondendo à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas". Iniciamos uma guerra destinada a erradicar o novo estado em sua incipiência, mas perdemos e o resultado de nosso erro foi um estado judeu muito mais forte:

A maioria judaica do estado judeu cresceu de forma dramática devido à troca de populações que se sucedeu, muitos árabes fugindo da guerra em Israel e muitos judeus fugindo de um mundo árabe hostil para se juntarem ao novo estado.
Os judeus adquiriram mais terras durante a guerra que nós iniciamos, resultando em linhas de armistício (hoje chamadas de Linha Verde ou fronteira pré-1967), que deram a Israel uma parte das terras anteriormente alocadas ao estado árabe. O estado judeu também adquiriu melhor contiguidade, ao passo que as porções árabes ficaram divididas em duas partes: (Gaza e Cisjordânia) separadas por quase 50 quilômetros.
Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.




Em maio de 1948, Azzam Pasha (direita), secretário-geral da Liga Árabe, reagiu à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas."


Mais Guerras e Mais Equívocos

Após a Guerra de Independência (nome que os judeus deram à guerra de 1947-1948), Israel ficou, para todos os efeitos práticos, confinado às terras dentro da Linha Verde. Israel não tinha autoridade ou demanda sobre Gaza ou a Cisjordânia. Naquela época nós árabes tínhamos duas opções se quiséssemos fechar um acordo de paz com Israel:

Nós poderíamos ter incorporado Gaza ao Egito e a Cisjordânia à Jordânia, proporcionando aos palestinos cidadania em um dos dois países árabes relativamente fortes, tanto numérica quanto geograficamente mais fortes que Israel.
Poderíamos ter criado um novo estado em Gaza e na Cisjordânia.
Mas preferimos optar por continuar as hostilidades com Israel. Na primavera de 1967 formamos uma coalizão para atacar Israel. Em 20 de maio de 1967, o Ministro da Defesa da Síria Hafez Assad declarou: "chegou a hora de travarmos uma guerra de aniquilação." Em 27 de maio de 1967, o Presidente do Egito Abdul Nasser declarou: "nosso objetivo fundamental é a destruição de Israel". Em junho, em apenas seis dias Israel nos impôs a derrota que nos humilhou perante o mundo. Na guerra, perdemos muito mais território, incluindo Gaza e Cisjordânia.

Após a guerra de 1967 (guerra que os judeus chamam de Guerra dos Seis Dias), Israel nos ofereceu território em troca da paz, oferecendo-nos assim a oportunidade de nos recuperarmos do equívoco da Guerra dos Seis Dias. Respondemos com as Resoluções de Cartum,afirmando: "não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel e não às negociações com Israel".

Não tendo aprendido a lição de 1967, formamos outra coligação em outubro de 1973 e tentamos de novo destruir Israel. Alcançamos algumas conquistas, mas depois a maré mudou e fomos derrotados mais uma vez. Após a terceira humilhante derrota, nossa coligação contra Israel ruiu e o Egito e a Jordânia decidiram assinar um acordo de paz com Israel.

Os outros árabes permaneceram obstinadamente contrários à existência de Israel, até mesmo a Síria que, como o Egito e a Jordânia, havia perdido território para Israel na Guerra dos Seis Dias. Hoje Israel ainda mantém esse território e não há nenhuma perspectiva real dele voltar para as mãos da Síria; recentemente o Primeiro Ministro de Israel declarou que "Israel jamais deixará as Colinas de Golã".

A Tragédia dos Palestinos

Nossos equívocos mais repreensíveis e mais trágicos se resumem na maneira que nós árabes tratamos os palestinos desde a declaração da independência de Israel.

Os judeus de Israel festejaram a vinda de refugiados judeus dos países árabes e muçulmanos para que se juntassem à comunidade israelense, independentemente do custo ou da dificuldade em integrar pessoas com backgrounds totalmente heterogêneos. Israel diligentemente integrou refugiados de terras longínquas, incluindo Etiópia, Índia, Marrocos,Brasil, Irã, Ucrânia e Rússia. Com isso eles demonstraram o poderoso vínculo que une os judeus. Ao mesmo tempo nós também tivemos a oportunidade de mostrar a ligação que une os árabes, mas em vez de darmos boas-vindas aos refugiados árabes da guerra de 1947-1948, n&oa cute;s os confinamos em campos, com rigorosas restrições na vida do dia a dia.

Conforme relatado pela Anistia Internacional, no Líbano "os palestinos continuam sofrendo discriminação e marginalização no mercado de trabalho, o que contribui para os altos índices de desemprego, baixos salários e péssimas condições de trabalho. Recentemente as autoridades libanesas suspenderam a proibição dos palestinos de trabalharem em 50 dos 70 empregos a eles vetados, os palestinos continuam a enfrentar obstáculos em achar emprego mesmo naqueles segmentos. A falta de perspectiva em encontrar emprego adequado, leva a um alto índice de abandono escolar de alunos palestinos, que também têm acesso limitado ao ensino médio público. A consequente miséria é agravada pelas restrições impos tas de acesso aos serviços sociais".

No entanto, nem o Líbano e nem Síria integraram os refugiados que haviam vivido anteriormente a poucos quilômetros de suas fronteiras e que compartilhavam praticamente as mesmas culturas, línguas e religiões. A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe. Vergonhosamente para nós, sete décadas após os refugiados palestinos terem fugido de Israel, seus descendentes continuam sendo considerados refugiados.

A pior parte no tocante à forma como temos tratado os refugiados palestinos é que mesmo na Cisjordânia e em Gaza, há até hoje uma distinção entre palestinos refugiados e palestinos autóctones. Naqueles territórios, segundo os levantamentos de 2010 fornecidos peloPalestinian Refugee ResearchNet da Universidade de McGill, 37% dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza vivem em campos! Gaza tem oito campos de refugiados palestinos e a Cisjordâniadezenove. Os judeus não mantêm os &aacut e;rabes em acampamentos, nós sim. O presidente palestino Mahmood Abbas quer um estado nesses territórios, mas nem sequer temos condições de levá-lo a sério, visto que ele deixa os refugiados palestinos sob sua autoridade em campos e não os integra aos demais palestinos. O absurdo dessa situação é somente comparável à sua insensibilidade.

Em que Pé Estamos Agora

Devido aos nossos próprios equívocos, nosso relacionamento com Israel hoje é um fracasso. A única força da nossa economia é o petróleo, um recurso perecível e, com o fracking, está diminuindo de valor. Não fizemos o suficiente para nos prepararmos para o futuro quando precisaremos de criatividade e produtividade. De acordo com a Foreign Policy Magazine: "embora os governos árabes tenham reconhecido, há muito tempo, a necessidade de procurar alternativas à excessiva dependência dos hidrocarbonetos, eles tiveram pouco sucesso em colocá-las em prática. ... Até a economia dos Emirados Árabes Unidos, um dos países mais diversificados do Golfo, é extremamente dependent e das exportações de petróleo".

O Business Insider classificou Israel como o terceiro país mais inovador do mundo em 2015. Países de todo o mundo se beneficiam da criatividade de Israel, incluindo países remotamente distantes e adiantados como o Japão. Mesmo assim esnobamos Israel, força motriz de inovação e tudo isso acontece nas nossas fronteiras.

Também fracassamos em não aproveitar a genialidade militar de Israel para nos ajudar a combater novos e devastadores inimigos como o ISIS.

O pior de tudo, os palestinos, parte do nosso próprio povo, estão dispersos -- divididos, desiludidos e completamente incapazes de recuperarem o projeto nacional que nós sequestramos debaixo dos seus narizes em 1948 e que, desde então, o desfiguramos a ponto de não o reconhecermos mais.

Dizer que temos que mudar nossa abordagem em relação a Israel é uma minimização. Há mudanças fundamentais que nós mesmos devemos realizar, e temos que encontrar coragem e força moral para executá-las.

Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.

Fred Maroun, árabe com viés de esquerda radicado no Canadá, autor de artigos opinativos para a New Canadian Media, entre outros veículos de mídia. De 1961 a 1984 residiu no Líbano.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Do Nascimento do Isla aos Conflitos Atuais do Oriente - Palestra Profa. Rosa Guerreiro, 24/08, RJ

Palestra que se reveste especial interesse para quem acompanha as questões e terríveis problemas que hoje assolam o Oriente Médio.
A Professora Rosa Guerreiro (filha do ex-Chanceler Saraiva Guerreiro, na gestão Figueiredo, 1979-1985) vai proferir no próximo dia 24, às 15:00, no Instituto Pró-Saber, no Humaitá, palestra intitulada "Do Nascimento do Islã aos Conflitos Atuais no Oriente".
A Prof. Guerreiro, portadora de Doutorado em Estudos Medievais pela Sorbonne, alia à sua sólida formação acadêmica a credencial de ter exercido, no âmbito da UNESCO, a coordenação do "Diálogo de Mediação Interreligiosa", no qual teve experiência concreta de atuação em busca de maior aproximação entre o Islã e o mundo ocidental.
Paulo Roberto de Almeida (via Roberto Abdenur)


Do Nascimento do Islã aos Conflitos Atuais do Oriente

Palestra de Rosa Guerreiro

Doutora pela Université Paris IV – Sorbonne
Historiadora especialista em Idade Média
Consultora para rede universitária para o diálogo interreligioso no âmbito da UNESCO.
Ex-Coordenadora na UNESCO para o Diálogo e Mediação Interreligiosos


Data: 24 de Agosto de 2015
Horário: 15 horas
Local: Instituto Superior de Educação Pró-Saber – Largo dos Leões, 70 - Humaitá
Promoção: ANASC-Brasil
  
Após a palestra haverá um lanche de confraternização.
ENTRADA FRANCA

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Oriente Medio: revisitando os 14 pontos de Woodrow Wilson - David Ignatius (WP)

Rethinking Woodrow Wilson’s 14 Points
David Ignatius
The Washington Post, 9/07/2014

As U.S. policymakers ponder the future shape of the Middle East, they should perhaps recall that the United States was opposed to the 1916 Sykes-Picot agreement, the famous “line in the sand” that is now said to be dissolving.
The United States’ opposition back then was based on its rejection of the secret diplomacy between Britain and France that produced the plan to divide the Ottoman Empire after World War I. The United States opposed this neo-colonial carve-up of the region and called instead for the right to national self-determination.
The tragedy of the U.S. role in the modern Middle East is that it became, without entirely intending or realizing it, the protector of the very post- imperial order it once resisted. That story could fill a book, but for now, let’s refresh our memories about the alternative U.S. vision when the Ottoman Empire collapsed.
President Woodrow Wilson enunciated his framework in his famous “Fourteen Points” statement in January 1918, nine months after the United States had entered World War I. Following the armistice in November 1918, Wilson’s idealistic formula was a contentious centerpiece of debate at the Versailles peace conference. It was an inspiration to those who felt victimized by the old order and an annoyance to France and Britain.
Britain and France prevailed at Versailles, imposing a peace settlement so selfish and shortsighted that it all but guaranteed the rise of a revanchist Germany leading to World War II, and the endless headaches of the modern Middle East. It was, as David Fromkin titled his great 1989 history, “A Peace to End All Peace.” It’s this very fabric that is now ripping apart, as civil wars in Syria and Iraq create de-facto partitions of those countries. The question facing policymakers is whether to redraw the lines or let the region devolve into smaller cantons, like the ethnically cohesive “vilayets” of Ottoman times.
My sense is that it’s too early to judge whether the post-1919 boundaries are finished. After all, Lebanon was effectively partitioned during its 15-year civil war, but Lebanese national identity proved strong enough that its sovereignty was restored in the Taif Agreement of 1989. I’d guess that the Syrian national idea will survive over time, too. I’m not as sure about Iraq, but in any event, these are questions for the peoples of the region to decide, not outsiders.
What can Wilson’s Fourteen Points teach us that’s relevant to the current debate? The first five have some bearing, and they’re worth noting carefully because they set a framework for any reexamination of the Middle East map. Let’s list them, with some notations:
(1) “Open covenants of peace, openly arrived at.” This was Wilson’s reaction to the cynical private deal-making of Sir Mark Sykes and Francois Georges-Picot, which appalled observers such as T.E. Lawrence. Lesson for today: Any new order in the region must have buy-in from the region itself, starting with regional kingpins Iran and Saudi Arabia.
(2) “Absolute freedom of navigation upon the seas.” Still crucial for the United States, the world’s leading maritime power, is ensuring oil flow in the Strait of Hormuz and the Persian Gulf. But as U.S. power recedes, will China embrace this open, rules-based maritime order?
(3) “The removal, so far as possible, of all economic barriers.” The only hopeful vision of the region is one that begins with free trade, in which labor and capital flow across Israeli and Arab boundaries. This economically integrated Middle East could be astonishingly profitable.
(4) “National armaments will be reduced to the lowest point consistent with domestic safety.” The logic of a nuclear-weapons-free Middle East is becoming increasingly obvious, even to Israelis. Does Israel really benefit from a world in which Iran, Egypt and Saudi Arabia compete to match Israel’s undeclared deterrent?
(5) “In determining . . . questions of sovereignty, the interests of the populations concerned must have equal weight with the equitable claims of the government whose title is to be determined.” The heart of the matter. One implication: Kurdish aspirations to nationhood don’t trump Iraqi sovereignty, but they deserve equal weight.
Let us ponder, finally, the self-declared “Islamic State,” which meets none of these Wilsonian conditions. Indeed, it is a textbook example of illegitimate state-making.
The only positive aspect of the Islamic State is that the jihadists, by declaring their caliphate, have given their neighbors (and the world’s counterterrorism forces) an address. Any state that makes itself a safe haven for terrorism becomes a target. In that sense, the Islamic State was born with a suicide pill in its mouth.

sábado, 28 de junho de 2014

A emergência do ISIS/ISIL e as ameaças ao equilíbrio de forças no Oriente Médio - Carmen Lícia Palazzo

A emergência do ISIS/ISIL e as ameaças ao equilíbrio de forças no Oriente Médio, por Carmen Lícia Palazzo

 
 
 
 
 
 
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O Oriente Médio, palco de incessantes conflitos com profundas raízes históricas, viu surgir recentemente um ator que é motivo de preocupação tanto regional quanto internacional já que prega a abolição de fronteiras, o desmantelamento dos estados nacionais e a imposição estrita da sharia, a lei islâmica. Trata-se do grupo que ficou conhecido como ISIS ou ISIL, siglas referentes às denominações de Islamic State of Iraq and Syria ou Islamic State of Iraq and Levant, uma organização muçulmana sunita que defende a jihad para alcançar seu objetivo finalo retorno ao califado extinto em 1924, e que deverá se sobreporà ideia de pertencimento nacional. Para o ISIS o califado, e portanto a umma, comunidade dos muçulmanos, é a única referência legítima de união dos fiéis.
A decisão das lideranças do ISIS de apoiar os rebeldes sírios coloca o grupogeograficamente próximo ao Iraque cujo governo xiita tem discriminado sua população sunita. Esta, entãotende a ver os jihadistas com certa simpatia. Além disto, fazendo causa comum com os rebeldes que desejam a queda do ditador sírio Assad, o ISIS se fortalece,levantando uma bandeira que não necessariamente tem a ver com o fundamentalismo religioso mas que, no momento atual, granjeia diversos apoios. O sucesso do grupo na região e sua eventual chegada a um poder, ainda que parcial, na Síria ou no Iraque, onde játomou territórios, poderá conduzir à consolidação do sunismo em sua vertente mais radicale, numa etapa seguinte, a um estrito controle não apenas político mas de comportamentosdos próprios sunitas moderados.
Uma das vozes mais lúcidas no Iraque tem sido a do Grande Aiatolá Ali al-Husayni al-Sistanique no passado foi duramente perseguido pelos sunitas no governo de Saddam Hussein. Al-Sistani pertence à corrente denominada “quietista” do xiismo, com pouco envolvimento em assuntos políticos, mas tem insistido na necessidade de que o Iraque impeça o avanço do ISIS em suas fronteiras, o que o grupo vem fazendo a partir de suas bases na Síria. Eleargumenta que a luta contra o ISIS deve ser de todos e não apenas dos xiitas pois o projeto do califado levará ao fim das nacionalidades e consequentemente do Iraque como país.Como pode ser visto na versão eletrônica do jornal libanês Daily Star, o ISIS distribuiu fotos mostrando sua ação nas fronteiras da Síria e do Iraque, sob o título de Smashing the Sykes-Picot border, uma clara contestação das fronteiras do Oriente Médio (Daily Star, 2014). Al Sistani conclamou a população a se unir contra este tipo de agressão que, segundo ele, coloca em risco a independência do país que é múltiplo tanto do ponto de vista religioso quanto étnico. De acordo com suas próprias palavras: “Nossa chamada [à luta contra o ISIS] foi para todos os iraquianos e não para uma seita particular [a dos xiitas]” (NPR, 2014).
O atual governo iraquiano do Primeiro Ministro Nuri al-Maliki, porém, não tem dialogado comos demais grupos do país e são constantes as críticas da parte de curdos, de árabes sunitas, de cristãos e até mesmo de outros xiitas. A brigada Mahdi, criada pelo clérigoMuqtada al-Sadr em 2003, que enfrentou as forças americanas após a invasão, está entre os que não confiam em al-Maliki, declarando que combaterá os jihadistas sunitas mas sem nenhuma associação com o atual governo.
Com o avanço do ISIS no norte e oeste do Iraque e com a tomada de Mosul, a segunda maior cidade do país, estratégica em virtude de seus poços de petróleo, os jihadistas passaram a ameaçar diretamente as populações curdas e cristãs. O líder curdo Massoud Barzani declarou, no dia 27 de junho, que não pretende abrir mão do controle de Kirkuk,uma rica cidade multiétnica que os curdos, graças às suas bem equipadas forças militares, conseguiram defender dos violentos ataques do ISIS (Daily News, 2014). No rastro, portanto, destes enfrentamentos, os curdos do Iraque reafirmaram sua autonomia e se posicionaram de modo a deixar claro seu peso estratégico e político. Bem organizados e acostumados a viver em prontidão, são essenciais na defesa das fronteiras do norte do país, e o primeiro ministro al-Maliki ou qualquer outro governo que o suceda, não podeprescindir de seu auxilio.
Vali Nasr, analista atento das questões sectárias no Oriente Médio já se referiu, antes mesmo da emergência do ISIS, à difícil situação que se delineava no Iraque com aascensão ao poder dos xiitas, majoritários no país. Para Nasr, durante a fase inicial de reestruturação após a derrubada de Saddam, os grupos xiitas consideraram o novo Estado como o seu estado enquanto para os sunitas, as forças de segurança que estavam se organizando eram xiitas, e não nacionais. Os confrontos foram frequentes e as divergências sectárias se mantiveram constantes (Nasr, 2006).
Com tantos conflitos, não é de se admirar que o ISIS tire partido da situação para fomentar o desmembramento do Iraque, o que servirá a seu propósito de enfraquecer sentimentosnacionais que possam se sobrepor à ideia do califado. No entanto, como o grupo jihadistaameaça outros poderes também sunitas, como Jordânia, a Arábia Saudita e a Turquia, é possível que se aperte o cerco a ele, com apoios heterogêneos em torno do inimigo comum.
Os Estados Unidos continuam, ainda que de forma limitada, a auxiliar os rebeldes da Síria e apostam na possibilidade de que os grupos moderados venham a derrubar Assad. Trata-se, porém, de um cálculo perigoso que pode levar à abertura de mais espaço para o ISIS dentro do país. A Turquia teme a fragmentação do Iraque e o fortalecimento das reivindicações independentistas curdas nas suas fronteiras. O crescimento do fundamentalismo interno também é motivo de preocupação na sociedade turca e um hipotético retorno ao califado questiona, em última análise, todo o seu processo de modernização no decorrer do século XX, bem como sua aproximação com a Europa. Quanto aos xiitas iranianos e iraquianos, sua preocupação maior é o crescimento do terrorismo jihadista por parte dos sunitas radicais que atacam com muita frequência
mesquitas e outros lugares sagrados do xiismo.
Entre as informações mais recentes chegadas da região está a de que o atual governo do Iraque, embora alinhado aos americanos, começa a demonstrar simpatia pelas ações de Assad no combate ao ISIS. Al-Maliki declarou ao BBC’s Arabic Service que apoia os ataquesaéreos que o governo sírio realiza na fronteira entre o Iraque e a Síria (BBC, 2014).
Neste contexto, o que se pode esperar, no Iraque, é o acirramento da violência sectária, e na Síria, o fortalecimento de Assad que cada vez mais contará com o apoio dos xiitas iranianos e mesmo iraquianos, como al-Maliki já sinalizou. Quanto ao Irã, este pode se beneficiar de um certo alívio das pressões norte-americanas na medida em que se torne um ator importante para conter a agressiva expansão do ISIS.
Nas próximas semanas deve haver uma recomposição de forças que inclua diversos países na tentativa de assegurar as fronteiras iraquianas mas também de impedir que o grupo fundamentalista se apodere de todas as ações contra Assad. Os Estados Unidos continuam fornecendo alguma ajuda aos rebeldes sírios moderados, o que, no entanto, talvez já seja um pouco tarde dada a considerável infiltração do radicalismo do ISIS no país. No Iraque, é possível que se tente um governo de união nacional e al-Maliki poderá ter dificuldades para se manter no poder, já que desagrada não apenas a curdos e sunitas mas também a diversos grupos xiitas, tendo recusado por diversas vezes o pedido de um encontro da parte do respeitado aiatolá Sistani. São muitas as mudanças que podem ocorrer e é difícil fazer previsões de médio prazo para um conflito de tamanha complexidade. A única certeza é a de que o atual equilíbrio de forças na região dificilmente se manterá por muito tempo semalterações significativas.
Referências:
BBC, June, 27, 2014, Disponível em: [www.bbc.com/news/world-middle-east-28033684] Acesso em: 27/06/2014.
DAILY NEWS, June, 27, 2014. Disponível em: [http://www.dailystar.com.lb/News/Middle-East/2014/Jun-27/261832] Acesso em: 2/06/2014
NASR, Vali (2006). The Shia Revival. New York; W.W. Norton, p.202.
NPR, June, 24, 2014, Disponível em: [http://www.npr.org/blogs/parallels/2014/06/24/325169087/ ] Acesso em: 26/06/2014.
Carmen Lícia Palazzo é Doutora em História pela Universidade de Brasília -mUnB, Pesquisadora associada do Centro Universitário de Brasília – UniCeub, Consultora do PEJ/UnB e Pesquisadora do Grupo Officium da Universidade Federal da Paraíba – UFPB (carmenlicia@gmail.com).