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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Afinal, o PT e' um partido comunista? - Alan Ghani (InfoMoney)

Afinal, o PT é um partido comunista?
Alan Ghani
InfoMoney, 13/10/2015

É um erro definir o comunismo apenas pela ótica econômica e não pela ótica política. O comunismo de hoje não passa de um projeto totalitário de poder, viabilizado com alianças corruptas ao grande capital, travestido de "boas intenções" com a população mais pobre. Age na destruição da democracia por dentro e na manipulação do comportamento da sociedade. A participação do PT no Foro de São Paulo, os contatos com as FARCs colombianas, o financiamento ao MST, o "Petrolão" (corrupção institucionalizada), o "Mensalão" (congresso paralelo), a tentativa de controle da imprensa, o aparelhamento do STF, o apoio e financiamento de projetos nas ditaduras cubanas e venezuelanas são fatos documentados neste texto que não restam dúvidas de que o PT não é apenas um partido oportunista, mas sim, um partido comunista.

Certamente este tema causa muita polêmica tanto na direita quanto na esquerda. Muitos na esquerda dizem que o PT não é comunista, ou socialista, por ter se aliado ao grande capital e favorecido empreiteiras e banqueiros. Essa visão equivocada é compactuada, inclusive, por alguns formadores de opinião de direita, como fica evidente na fala do historiador Marco Antônio Villa. As divergências de opiniões sobre a posição ideológica do PT decorrem da falta de conhecimento do que é de fato o comunismo real. Para esclarecer essa questão, precisamos primeiramente entender o que é comunismo para depois concluirmos com mais clareza se o PT é ou não um partido comunista.

Não tenho dúvidas de que todos aprenderam no colégio que socialismo é a coletivização dos meios de produção promovida por proletariados que assumiriam o controle do Estado através de uma revolução para acabar com a exploração capitalista e entregar posteriormente o poder e os meios de produção expropriados ao povo (etapa final chamada de comunismo). De acordo com essa visão, o grande capital deveria ser combatido ao promover à exploração do trabalho e às injustiças da sociedade. Vendiam o comunismo como um movimento bem intencionado, omitindo a realidade de miséria e de mais de 100 milhões de mortes. Diziam também também que o movimento comunista acabou com a queda do Muro de Berlim, atribuindo o seu fim ou aos EUA ou aos desvios cometidos pelos seus líderes que se distanciaram da cartilha marxista original.

Em suma, o aluno sai do colégio com a visão de que comunismo é bom, é contra o grande capital, nunca existiu de verdade - apenas tentativas mal sucedidas - e acabou após a queda do muro de Berlim, sem chances de retornar. Assim, muitos, baseados nos seus conhecimentos de colégio (ou de universidades militantes), argumentam cheio de razão que o PT não é comunista, seja porque é aliado do grande capital, seja por acreditar que este regime acabou sem riscos de voltar.
O primeiro erro desse argumento advém de uma definição simplista – para não dizer mentirosa - do que é o comunismo real. O comunismo real não é um sistema econômico, mas um movimento político totalitário que tem como objetivo o controle absoluto da sociedade civil sob a justificativa “bem intencionada” da socialização dos meios de produção, a qual é impossível ocorrer na prática, conforme demonstrado pelo economista prêmio Nobel Ludwig von Mises (Olavo Carvalho, 2014 – veja excelente artigo sobre o tema aqui). De outro modo, o comunista de hoje não visa à destruição do modo de produção capitalista, mas busca exercer o controle (poder) absoluto sobre a sociedade civil, ao mesmo tempo em que é sustentado por ela através de fartos impostos e de uma burocracia infernal.

Para conseguir este objetivo, o comunista moderno precisa acabar com a democracia, a qual representa resistência a seus projetos totalitários, uma vez que, por definição, democracia passa pela independência de poderes (Aléxis Tocqueville). Mas para isso ocorrer, o comunista moderno não fala em revolução armada, mas prefere corromper as
instituições democráticas por dentro, aparelhando o Estado com sua militância para agir de acordo com seus objetivos. Mais do que isso, o comunista moderno troca a Revolução de Karl Marx pela hegemonia cultural de Antônio Gramsci, ou seja, o controle da sociedade por meio dos valores esquerdistas passados nas escolas e na mídia devidamente aparelhadas. A lógica é simples: para que revolução armada, quando é possível adestrar ideologicamente a sociedade de acordo com seus objetivos?

O segundo erro é acreditar que o movimento comunista acabou com queda do muro de Berlim e jamais retornará. O fato de um regime ter acabado não significa que ele não possa voltar adaptado a uma nova realidade. É evidente que dificilmente voltará nos moldes do comunismo soviético, mas é perfeitamente possível a instauração de regimes totalitários travestidos de pseudos democracias. Um exemplo? Basta olhar a Venezuela, a qual tem eleições livres e periódicas e empresas privadas. Será que por conta disso a Venezuela está mais próxima de uma economia de mercado, livre e democrática ou do comunismo? Mutatis mutandis, o nazismo acabou, mas será que suas ideias e suas atrocidades nunca mais voltaram na humanidade? Quem tem dúvidas, veja os assassinatos e torturas em massa promovida pelo ISIS contra judeus e cristãos. É um erro grosseiro acreditar que a história não poderá se repetir, assumindo novas formas, novos nomes dentro de uma nova realidade.

Terceiro, em qualquer regime comunista houve uma aliança entre os comunistas recém
chegados ao poder e a classe empresarial. Foi assim com Lênin e com Stalin. Como explicar, na Rússia, o surgimento da noite para o dia de uma classe de milionários após a queda do regime comunista? Na China atual, o modo de produção capitalista convive em perfeita "harmonia” com uma ditadura comunista. Por exemplo, você pode comprar um carro, mas não existe oposição de ideias, o Estado controla o número de filhos que você terá - caso contrário é aborto compulsório - e seu acesso à Internet.

Em resumo, concessões à economia de mercado não inviabilizam um projeto totalitário de poder (comunismo). É um erro monumental definir o comunismo apenas pela ótica econômica e não pela ótica política.

Agora, voltamos ao PT para responder a pergunta inicial do texto. Se confrontarmos a definição de comunismo com os fatos atuais, não há dúvidas de que o PT é um partido comunista. Por exemplo, o "Mensalão" e o "Petrolão" são exemplos claros da destruição da democracia por dentro a serviço de um projeto totalitário de poder. O primeiro com a criação de um congresso paralelo, o segundo na criação de um sistema de arrecadação partidária capaz de fazer o PT ter dinheiro para ganhar eleições até 2038, de acordo com o Ministro do STF, Gilmar Mendes. E por falar em STF, este foi devidamente aparelhado, ao aprovar uma reforma política que favorece apenas o PT e ao melar qualquer tentativa de impeachment da presidente Dilma, abrindo caminho para "venezualização" do Brasil como observou o jornalista Felipe Moura Brasil.

Já o favorecimento do PT às empreiteiras exemplifica bem a aliança entre burocratas do poder e o grande capital, numa troca abjeta de propina por contratos lucrativos bilionários. Quem mais se favoreceu no lulopetismo: os "Marcelo Odebrechts" ou os pobres e a classe média que foram duramente atingidos pela forte crise econômica atual?

E como explicar a aproximação do PT com as FARCs colombianas, movimento revolucionário marxista que pratica terrorismo e tráfico de drogas? O contato do PT (Lula) com as FARCs é confirmada pelo próprio Hugo Chavez, pelo chefão da organização narcotraficante e pela participação de petistas "ilustres" no Foro de São Paulo, o qual apoia abertamente o movimento revolucionário colombiano. Já no Brasil, o governo petista financia o MST, grupo que defende o socialismo e expropria terras e depreda laboratórios de pesquisa, inclusive, como o uso da violência.

No âmbito internacional, Lula e Dilma apoiam as ditaduras venezuelanas e cubanas. Mais do isso, o governo petista financia por meio do do BNDES projetos em  países ditatoriais africanos, além de Cuba e Venezuela. Por que estes países são os escolhidos? E quanto as tentativas de controlar à imprensa. Alguma semelhança com a China comunista?

Se ainda resta dúvida sobre a ideologia e as intenções totalitárias petistas,veja as próprias falas de Lula e José Dirceu, os quais confirmam a adoção de estratégias comuns para implementação do socialismo bolivariano (eufemismo para comunismo) no Brasil, colocando a soberania nacional abaixo das estratégias comunistas do Foro de São Paulo.

Diante de todas as fontes primárias colocadas neste texto, não dá para dizer que o PT é apenas um partido oportunista - seria muita ingenuidade. Vamos defini-lo corretamente: o PT é um partido comunista!
InfoMoney :: Afinal, o PT é um partido comunista?
Veja mais em: http://www.infomoney.com.br/pages/news/newsviewprint.aspx?NewsId=4342837
InfoMoney :: Afinal, o PT é um partido comunista?
Veja mais em: http://www.infomoney.com.br/pages/news/newsviewprint.aspx?NewsId=4342837

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Octavio Brandao: o primeiro marxista-leninista da esquerda brasileira - Augusto Buonicore (Fundacao Grabois)

Uma análise da obra deste pioneiro do marxismo-leninismo, que já li décadas atrás, não sei em qual edição, e que agora volta pelas mãos (e gráfica) dos camaradas do PCdoB.
O livro é um exemplo de interpretação marxista-leninista extremamente sectária, com todos os chavões a que Brandão tinha direito nessa fase inicial do pensamento marxista no Brasil.
Esse mesmo caráter sectário, simplista, redutor, estaria presente, durante toda a sua vida, em líderes como Luiz Carlos Prestes e alguns outros stalinistas.
Mas, seja o antigo PCdoB -- que foi o nome do Partidão até 1962 -- seja o Partidão depois disso, teve gente melhor, como por exemplo Caio Prado Jr., Leandro Konder, e alguns poucos outros. Marxistas esclarecidos são poucos. Eles tendem a ser religiosos...
Paulo Roberto de Almeida
Artigos
http://www.grabois.org.br/cdm/artigos/141021/2012-03-23/agrarismo-e-industrialismo-o-primeiro-encontro-do-marxismo-com-o-brasil

Agrarismo e Industrialismo: o primeiro encontro do marxismo com o Brasil

Augusto Buonicore  
Fundação Grabois, 23.03.2012
Em 2006 a Editora Anita Garibaldi relançou uma obra fundamental para a reconstituição da história do pensamento político da esquerda brasileira no século XX: Agrarismo e Industrialismo: Ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil. Seu autor, Octávio Brandão, foi um dos principais dirigentes e ideólogos do Partido Comunista do Brasil que, na ocasião da publicação, dava seus primeiros passos. Não deixa de ser sintomático o fato de que apenas depois de 80 anos de sua publicação, tenha conseguido uma merecida segunda edição. Vários fatores contribuíram para este prolongado esquecimento. O primeiro deles, sem dúvida, é a cultura autoritária de nossas classes dominantes. O livro foi produzido e começou a circular em pleno Estado de Sítio imposto pelo governo de Arthur Bernardes. A Revolução de 1930, que pôs fim ao domínio da oligarquia paulista, também não deu trégua aos comunistas. Ainda em 1931, Octávio Brandão e sua família foram exilados pelo novo regime e só puderam voltar ao país após o fim do Estado Novo. A legalidade do Partido, conquistada em 1945, durou menos de dois anos. Ao longo do século XX, além da ditadura getulista, o Partido Comunista teve de enfrentar o governo autoritário do General Dutra (1946-1950) e uma ditadura militar que durou mais de 20 anos (1964-1985). Essas rupturas democráticas ocasionaram também rupturas na memória da esquerda brasileira. Foram muitos os recomeços e muitos os esquecimentos.
Nasce um clássico
“A 28 de julho de 1924, os revoltosos evacuaram a cidade de São Paulo. O governo Bernardes delirou com a ‘vitória’. Os pequeno-burgueses urbanos ficaram muito desanimados (...). No fundo da sala de jantar, sentado no primeiro degrau de uma escada de ferro, ouvi a narrativa da derrota e, serenamente, comecei a escrever Agrarismo e Industrialismo.
Terminei a parte fundamental menos de um mês depois, a 22 de agosto de 1924. Tirei imediatamente cópias à máquina e espalhei-as entre os amigos”. Assim Octávio Brandão descreveu o início da produção da obra que teria um impacto decisivo na vida do Partido Comunista do Brasil naqueles primeiros tempos.
No entanto, passaria mais de um ano e meio para que o livro pudesse, finalmente, vir a público. Período que Brandão aproveitou para adicionar-lhe mais duas partes: “Síntese”, datada de março de 1925, e “A revolta permanente”, de março de 1926.
Quando ainda estava sendo composto, a polícia política do governo Bernardes invadiu a tipografia. Ela pretendia dar o flagrante e apreender a edição, que supunha estar pronta. Enganara-se, pois o trabalho não havia começado.
Rapidamente, sem que ela percebesse, os operários “jogaram toda composição nas caldeiras das linotipos” destruindo-a. Não conseguindo as provas de que necessitavam, os policiais tiveram de se retirar. Na mesma noite, reiniciou-se o trabalho de impressão daquela que entraria para a história como a primeira tentativa de interpretação marxista-leninista do Brasil.
Em abril, ainda com a capital da República sob Estado de Sítio, Agrarismo e Industrialismo começou a circular. Ele trazia como autor um tal de Fritz Mayer e a informação de que tinha sido publicado em Buenos Aires. Os comunistas espalharam ainda que Mayer era um oficial alemão que tinha participado do levante tenentista de São Paulo e fugira para a Argentina. Tudo isso foi feito com o objetivo de despistar a polícia brasileira. A artimanha parece ter dado resultados.
Naquele mesmo ano, mais de uma dezena de exemplares foi levada a Moscou e um acabou chegando às mãos do líder dos tenentes revolucionários Luiz Carlos Prestes. Mas os mais entusiasmados com aquela obra foram os militantes ligados ao PC do Brasil. A grande imprensa, como era de se esperar, ignorou solenemente sua aparição.

Uma obra pioneira e original
Os objetivos centrais de Agrarismo e Industrialismo eram expor a dinâmica da revolução democrática em marcha no país e uma linha política adequada para o jovem movimento comunista. Não havia, até então, nenhuma formulação tática ou estratégica mais consistente que norteasse a ação da esquerda marxista brasileira. Por isso as teses ali expostas tiveram um forte impacto nas formulações do Partido Comunista e influenciaram as resoluções dos seus 2º e 3º Congressos, realizados em 1925 e 1928.
Octávio Brandão procurou apresentar as peculiaridades da revolução brasileira e o papel das diversas classes naquele processo. Ele foi um dos primeiros a compreender os danos causados pelo domínio imperialista e a identificar a competição existente entre os interesses do imperialismo inglês, decadente, e do norte-americano, ascendente.
Por fim, teve o mérito de destacar a importância da luta que se travava entre a oligarquia latifundiária (os agraristas) e os setores vinculados à indústria (os industrialistas).
Antes mesmo que o 6º Congresso da Internacional Comunista (1928) viesse a estabelecer o cânone da predominância de relações feudais (ou semifeudais) na totalidade dos países da América Latina e da Ásia, Brandão já afirmava o caráter feudal da nossa formação econômica, política e social. Escreveu ele:
“Dominado por esse agrarismo econômico bem centralizado, o Brasil tinha de ser dominado pelo agrarismo político (...). O agrarismo político é a dominação política dos grandes proprietários (...). O fazendeiro de café, no sul, como o senhor de engenho, no Norte, é o senhor. O senhor feudal implica a existência do servo.
O servo é o colono sulista das fazendas de café, é o trabalhador de enxada dos engenhos nortistas. A organização social proveniente daí é o feudalismo na cumeeira e a servidão no alicerce”.
A chamada “tese feudal” teria uma longa vida no interior do movimento comunista brasileiro, até começar a ser questionada mais fortemente por marxistas como Caio Prado Jr. nas décadas de 1950 e 1960.
 
Uma estratégia leninista para o Brasil
Para enfrentar o agrarismo dominante, Brandão propôs a constituição de uma frente única policlassista: “O fazendeiro de café só será derrubado pela frente única momentânea do proletariado com a pequena-burguesia e a grande burguesia industrial”. A estratégia da revolução no Brasil teria como paradigma a Revolução Francesa de 1789 e Russa de fevereiro de 1917. Buscou reproduzir, a seu modo, a tática leninista indicada por Lênin em 1905.
Continuou ele: “Apoiemos, como classe independente, a pequena-burguesia na sua luta contra o fazendeiro de café, pois, segundo Marx, é preciso sustentar os partidos pequeno-burgueses quando estes resistem à reação.
Empurremos a pequena-burguesia à frente da batalha (...). Procuremos arrastar as grandes massas operárias e camponesas em torno de palavras de ordem simples, concretas, práticas e imediatas. Não esqueçamos que o Brasil, como a Rússia, é um país agrário (...)
Empurremos a revolução da burguesia industrial – o 1789 brasileiro, o nosso 12 de março de 1917 – aos seus últimos limites, a fim, de, transposta a etapa da revolução burguesa, abrir-se a porta da revolução proletária, comunista”, escreveu ele.
Brandão tinha a convicção de que ocorreria uma terceira revolta tenentista e que esta seria uma consequência das duas anteriores, ocorridas em 1922 e 1924. Para ele, as contradições que geraram aquelas conflagrações armadas continuavam de pé e se agravando.
Tendo por base essa perspectiva, fez uma previsão genial sobre a crise revolucionária que se abriria alguns anos depois: “Temos, pois em perspectiva, sérias batalhas de classe, isto é uma situação revolucionária.
Se os revoltosos pequeno-burgueses souberem explorar a rivalidade imperialista anglo-americana e a luta entre os agrários e os industriais, se procurarem uma base de classe para a sua ação, se o proletariado entrar na batalha e se essas contradições coincidirem com a luta presidencial e as complicações financeiras, será possível o esmagamento dos agrários (...).
Dada esta situação objetiva, a vitória da pequena-burguesia aliada à grande burguesia industrial e, posteriormente, a vitória do proletariado, serão meras questões subjetivas. Dependerão da capacidade dos revoltosos pequeno-burgueses e dos revolucionários proletários”.
As resoluções do 2º Congresso do PC do Brasil (1925), baseadas no esboço inicial de Agrarismo e Industrialismo, apontavam a "luta entre o capitalismo agrário semifeudal e o capitalismo industrial moderno como sendo a contradição fundamental da sociedade brasileira após a República".
Tendo em vista as particularidades da primeira etapa da revolução brasileira, os comunistas a definiram como revolução democrático-pequeno-burguesa. Baseavam tal formulação na destacada participação política das camadas médias urbanas, através do movimento tenentista, nos processos revolucionários que vinham ocorrendo nos estertores da República Oligárquica.
Era nítida a confusão entre o conteúdo social das tarefas a serem realizadas pela revolução – burguesa ou proletária – e o das forças sociais que teriam um papel mais destacado no processo revolucionário em curso: a pequena-burguesia.
No entanto, devemos destacar que o próprio termo utilizado para definir a revolução brasileira (democrático-pequeno-burguesa) visava a distingui-la da revolução ocorrida na Rússia em 1917; ou seja, procurava captar as suas particularidades e sua originalidade.
Afinal, no Brasil, as classes médias urbanas estavam tendo uma importância política e social bem maior que a dos camponeses. A situação brasileira era bastante diferente da que existira na Rússia e na China revolucionárias.
Dentro desse esquema teórico-político – nascido com Agrarismo e Industrialismo – é que Astrojildo Pereira, secretário-geral do PCB, elaborou o relatório sobre a situação brasileira – que foi enviado ao Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista e publicado na revista Correspondência Internacional em 1928.
Vejamos o que afirmavam os comunistas brasileiros: “a situação econômica e política do país, objetivamente examinada, faz prever uma conjuntura francamente revolucionária, que resultará da coincidência dos seguintes fatores: 1º) Crise econômica resultante de uma catástrofe na política cafeeira (...); 2º) crise política vinculada ao problema da sucessão presidencial no Brasil (1930); 3º) possibilidade de uma repetição de um novo 5 de julho”.
Diante desta terceira revolta que se aproximava e “que tomará proporções muito maiores que as de 24-26”, afirmavam, “não era de se supor que as massas trabalhadoras se mantivessem indiferentes ou neutras (...). Nessas condições, o dever do partido comunista consistirá em colocar-se à frente dela, procurando conquistar não somente a direção da fração proletária, mas a hegemonia de todo o movimento”.
Para derrotar as possíveis tendências direitistas existentes no movimento tenentista, eles apresentavam sua proposta tática:
“No nosso entender, a intervenção decidida do Partido Comunista no movimento, em estreita aliança como os revolucionários pequeno-burgueses (...) na luta comum contra o inimigo, pelo menos dificultará e poderá vencer com maior facilidade essa tendência fascista”.
Esses parágrafos demonstram a sagacidade política daqueles jovens dirigentes comunistas. Eles previram, com anos de antecedência, a crise revolucionária de 1930 – e o fim da República Oligárquica – e apresentaram uma estratégia bastante ajustada àquela situação, especialmente tendo em vista o domínio ainda limitado que tinham do instrumental teórico fornecido pelo marxismo-leninismo.

A guinada esquerdista e a crise no PCB
Em 1929 o movimento comunista pendeu perigosamente para a esquerda. Ao lado do esquerdismo começavam a predominar práticas autoritárias e sectárias – a política leninista de proletarização se transformava em “obreirismo”. Nesse ambiente, marcado pela intolerância, é que foram analisadas a tática e a estratégia dos comunistas brasileiros.
As ideias de Octávio Brandão e Astrojildo Pereira sobre a terceira revolta e a política de aliança centrada na pequena-burguesia urbana – traduzidas nas resoluções dos 2º e 3º Congressos do PCB – foram duramente criticadas pela Internacional Comunista (IC).
Na Conferência do Bureau Sul-Americano da IC, realizada entre abril e maio de 1930, eles foram acusados de desvios de direita e de serem "pequeno-burgueses". A sua tese sobre o caráter "democrático-pequeno-burguês" da revolução brasileira foi alcunhada de menchevique, antimarxista e antileninista por, supostamente, negar a hegemonia do proletariado na revolução democrática e superestimar o papel da pequena-burguesia urbana (os tenentes) em detrimento das massas camponesas.
Logo após a Conferência Sul-Americana, Brandão e vários outros camaradas foram retirados do Comitê Central. Em novembro de 1930 foi a vez de Astrojildo Pereira ser afastado do cargo de secretário-geral, que exercia desde 1922, e do Comitê Central.
Assim, em poucos meses, quase toda a antiga direção, forjada no curso das lutas travadas nos anos 1920, foi afastada de seus postos e substituída por novos militantes que, em sua maioria, eram operários com pouquíssima experiência partidária.
Uma das resoluções do pleno que afastou Brandão afirmava: “O Partido Comunista do Brasil deverá acrescentar sua atividade em sua luta política, estabelecendo sua própria fisionomia, tendendo a adquirir a todo preço a hegemonia do movimento revolucionário que se desenvolve no Brasil, cujas principais forças motrizes serão o proletariado, a massa de assalariados agrícolas e os camponeses pobres”.
Esta era uma aplicação mecânica das resoluções da Internacional Comunista. Elas não tinham em conta o processo revolucionário real que já vinha se desenvolvendo no país e refletiam um profundo desconhecimento das forças sociais em presença, subestimando o papel das classes médias urbanas e superestimando o papel dos camponeses naquela conjuntura.
A partir de então o esquerdismo e o obreirismo, também, passaram a imperar no interior do partido. Abandonou-se a proposta de aliança preferencial com a pequena-burguesia urbana, através do movimento tenentista.
Os prestistas foram considerados os principais inimigos do proletariado revolucionário. No final de 1930 o Bloco Operário e Camponês – órgão de frente única criado pelos comunistas – foi fechado pela direção partidária.
Nesta mesma linha esquerdista, o vereador Octávio Brandão afirmou na tribuna da Câmara do Rio de Janeiro: “O que caracteriza a Aliança Liberal é a sua demagogia. Demagogia caracteristicamente fascista, empregada por Mussolini quando quis apoderar-se do poder, em 1922 (...) O fascismo declarado dos presidentes Washington Luis e Júlio Prestes a ninguém ilude. Mas o fascismo disfarçado da Aliança Liberal ilude muita gente”.
Aqui temos uma adaptação ao Brasil da nefasta teoria do “social-fascismo”, que vinha sendo fabricada no interior da Internacional Comunista, que afirmava serem a social-democracia e o liberalismo irmãos gêmeos do fascismo.
Em setembro de 1930, às vésperas da revolução, um documento do PC do Brasil dizia: “a Coluna Prestes era o inimigo pronunciado do movimento revolucionário, defendia os interesses dos capitalistas estrangeiros, sustentava os feudais e estava pronta a lutar contra todo verdadeiro movimento de massa”. A palavra de ordem dos comunistas passou a ser: “Criai o governo operário e camponês, baseado nos Sovietes!” e “Pela União das Repúblicas Soviéticas da América Latina!”.
As reflexões originais sobre a formação econômica e social brasileira foram abandonadas e substituídas por esquemas mais rígidos que não correspondiam a nossa realidade. Como resultado,  quando, em outubro de 1930, chegou a “terceira revolta”, prevista por Octávio Brandão e Astrojildo Pereira, os comunistas estavam desarmados teórica e politicamente para dela participar com firmeza e independência.
Os sucessivos erros políticos levaram ao isolamento do Partido em relação às massas populares e às correntes progressistas. Ao lado da crise política, ocorreu uma séria crise de direção que desorganizou quase completamente o Partido. Nos quatro anos que se seguiriam à destituição de Astrojildo, o PCB teve seis secretários-gerais.

Da crítica à reabilitação
Tendo em vista os nítidos limites teóricos desse trabalho pioneiro, alguns intelectuais buscaram, consciente ou inconscientemente, desqualificar o livro. Em geral, esses críticos caíram num evidente anacronismo ao cobrarem do jovem dirigente comunista um nível de conhecimento do instrumental teórico marxista que ele – e ninguém no país – poderia ter naqueles anos.
É bom lembrar que o Manifesto do Partido Comunista (1848) de Marx e Engels – obra seminal do socialismo científico – foi publicado no Brasil apenas em 1924, traduzido do francês pelo próprio Brandão.
Na década de 1980, Michel Zaidan Filho escreveu uma série de trabalhos que, entre outras coisas, enalteciam as contribuições originais de Octávio Brandão e Astrojildo Pereira. Nos anos 1990 Agrarismo e Industrialismo foi analisado, sem preconceito, por autores marxistas como Marcos Del Roio, Paulo Cunha, Ângelo José da Silva e João Quartim de Moraes. Este último, em seu ensaio introdutório, escreveu:
“A justiça histórica é lenta como a dos tribunais, mas às vezes não falha (...). Agrarismo e Industrialismo, assim, foi encontrando o lugar que merecia no pensamento marxista brasileiro”. O seu relançamento contribuiu, ainda que modestamente, para o processo de revalorização da elaboração teórica e da prática política dos primeiros comunistas brasileiros.
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*Augusto Buonicore é historiador e secretário geral da Fundação Maurício Grabois.

Bibliografia

BRANDÃO, Octávio. Agrarismo e Industrialismo: Ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil – 1924. São Paulo: Anita Garibaldi.
_________________. Combates e Batalhas – Memórias. São Paulo: Alfa-Ômega, 1978.
CARONE, Edgar. O PCB – 1922 a 1943. Vol. 1, São Paulo: Difel, 1982.
______________. Classe Sociais e Movimento Operário. São Paulo: Ática, 1989.
CUNHA, Paulo Ribeiro da. “Agrarismo e Industrialismo: pioneirismo de uma reflexão”, in: Novos Rumos, n. 26, São Paulo, 1998.
DEL ROIO, Marcos. “Octávio Brandão nas origens do marxismo no Brasil”, in: Crítica Marxista, n. 18, Rio de Janeiro: Revan, 2004.
DULLES, John W. Foster. Anarquistas e Comunistas no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
QUARTIM DE MORAES, João. “A influência do leninismo de Stalin no comunismo brasileiro”, in: QUARTIM DE MORAES, João (org.). História do Marxismo no Brasil, Vol. 1, São Paulo: Paz e Terra, 1991.
__________________________. “A evolução da consciência política dos marxistas brasileiros”, in: Idem, ibidem, Vol. 2, Campinas (SP): Ed. Unicamp, 1995.
SILVA, Ângelo José da. “Agrarismo e industrialismo: uma primeira tentativa marxista de interpretação do Brasil”, in: Revista de Sociologia Política, n. 8, Paraná: DCS-UFPR, 1997.
ZAIDAN FILHO, Michael. PCB (1922-1929) – Na busca de uma marxismo nacional. São Paulo: Global, 1985.
______________________. Comunistas em céu aberto. Belo Horizonte (MG): Oficina de Livros, 1989.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Serei eu, algum dia, um bom quadro do Partido Comunista Chines? Ou do governo companheiro?

Carmen Lícia retirou este livro da biblioteca pública de West Hartford, onde vamos regularmente para ver as novidades  que aparecem no mercado editorial -- o que permite de economizar algo em torno de 35 dólares cada vez que aparece um lançamento importante -- e também para pegar material de interesse para leitura e pesquisa (estou com seis livros, atualmente, de duas bibliotecas locais).

O livro é o que a capa indica: um breviário sobre a China, de Animals, até Zhong Guo (não me perguntem o que é, ou quem é, pois ainda não cheguei lá.
Seus autores? Pai e filha: Winberg Chai, nascido em Shanghai, mas com PhD da New York University, editor de Asian Affairs; May-Lee Chai, estudou em Yale, etc.; mais sobre ele em seu blog: mayleechai.wordpress.com.

Não li todo o livro, mas dei uma olhada na entrada sobre o PCC, e fui ver se passaria no teste para ser um bom quadro, podendo até ser dirigente do PCC e da China (o primeiro é mais importante do que o segundo, pois o PCC está inclusive acima da Constituição, mas abaixo da corrupção...).

Chinese Communist Party (p. 41-44) (mas pode ser do governo companheiro também...)

Como ser um bom comunista e dirigente do partido, e aspirar a ser um  líder potencial?

1) os candidatos precisam ter educação superior
     Oba! Eu tenho.

2) Os candidatos precisam ter uma experiência variada de liderança, como ter trabalho em diversas regiões do país e em diferentes funções
     Também passo nessa: não só no país, como em várias partes do mundo, desde lavador de pratos até chefe de alguma coisa num desses ministérios vistosos; acho que dá...

3) Os candidatos precisam estar firmemente enfronhados e inseridos na ideologia corrente do partido,  devem ter se graduado numa das escolas de formação de quadros do partido.
     Bem, eu li o meu Marx, o Lênin (até o Stalin eu li), o Trotsky (mas acho que esse não serve), Ché Guevara, Fidel Castro, e outros por aí, até o Hobsbawm, que nunca abandonou a fé, mesmo depois que russos e chineses se converteram ao capitalismo, para todos os efeitos práticos. Só não fiz escola do partido, porque sempre achei uma coisa muito chata. Aliás, desde que entrei no colegial (antes da universidade), já não assistia mais aula nenhuma; arranjava um jeito de ter frequência e passava o tempo nas bibliotecas, lendo aquelas inutilidades justamente.
    Mas não sei se posso me considerar inserido na ideologia corrente do partido: eles são capitalistas, e isso eu acho que sou, ainda que da vertente anarco-capitalista, ou libertária (mas eles ainda vão chegar lá); mas eles também são totalitários, ainda que se digam democratas; pois eu fico com a democracia e rejeito o totalitarismo, mas isso é um detalhe que não convem mencionar para eles agora.

4) Os candidatos precisam ter passado com sucesso a avaliação do Comité de Disciplina do partido, uma instância separada e independente do partido (não acredito nesta última parte).
    Não, isso eu não fiz, embora eu tenha sido disciplinado algumas vezes pelo comitê de conformidade com os estatutos da Santa Casa, por escrever e publicar várias vezes coisas heterodoxas, digamos assim. Acho que melhorando um pouco o boletim, daria para passar...

5) Os candidatos precisam pertencer a uma das principais facções dentro do partido, como a Liga da Juventude do Partido, ou aos militares, por exemplo.
    Ah, aqui já fica difícil: como sou anarco-libertário, nunca pertenci a facção nenhuma, nem mesmo a dos leitores compulsivos, à qual eu pertenço automaticamente. Vou ter me inscrever na Liga da Juventude, talvez...

6) Os candidatos precisam ter menos de 65 anos de idade.
    Acho que conseguirei passar raspando se for rapidamente, e com um pouco de Biotônico Fontoura.

Finalmente, termina esse verbete edificante, "uma vez que o partido é autoritário, ele sim impede pessoas não educadas de se tornarem líderes, por mais populares que sejam." (p. 44)
    Taí, gostei dessa regra. Quer se líder do Partido, e dirigente do país?: estude, negão. Não pense que vai subir só fazendo discurso e enganando as pessoas.

Topei, acho que eu faria um bom quadro partidário na China (se eles me deixassem, claro), trabalhando diligentemente na construção do capitalismo e de uma sociedade próspera, e aproveitaria também para minar o partido como organização totalitária (uma parada), e para acabar com a corrupção (uma parada ainda maior).
Acho que o PCC pode até acabar, mas o que não vai acabar é a corrupção, na China, ou em outro partido que conhecemos bem, que tem a desvantagem de ter gente inepta, deseducada, sem experiência, e só corruptas.
Não está bem assim?
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 17/02/2015

PS: Zhong Guo é o nome da China em mandarim, fui ler agora...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Frankenstein in Cuba, a longa transicao do totalitarismo para o... totalitarismo -- William Ratliff

Parece que as coisas são complicadas no último regime totalitário da América Latina (embora outros ainda possa surgir, dependendo dos companheiros dos companheiros), e as reformas econômicas são meramente cosméticas, feitas justamente para mudar um pouco sem mudar essencialmente nada, ou seja, aliviar as agruras da população que não tem o que comer e o que consumir, preservando o poder ditatorial do anacrônico, gerontocrático, esclerosado partido comunista cubano, que vem sendo, aliás, sustentado, com milhões de reais do povo brasileiro, pelos companheiros cubanos no poder no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida


Frankenstein in Havana
The Independent Institute, November 25. 2013

Will Raúl Castro’s reforms do much good for Cubans? Experts disagree. Carmelo Mesa-Lago says the measures are “the most extensive and profound” policy changes seen in decades, but Carlos Alberto Montaner says they’re only “token gestures.” Carlos Alzugary gives the most vivid assessment of all: he likens them to Frankenstein’s monster. Raúl Castro himself, it’s important to note, has indicated that he wants only to “update” the dictatorship’s economic model—to mend it, not end it. Independent Institute Research Fellow William Ratliff traveled to Cuba this summer to try to make sense of it all.
No clear answers emerged. In large part this is because the situation is indeterminate. The prospects for significant economic progress depend on individual, cultural, and institutional factors—and these factors may be in flux—Ratliff explains in The Intellectual Conservative. Regarding the first component, individualism and individual rights have always ranked low on Raul Castro’s list of priorities. If real reform comes during his rule, expect it to look a bit more like that of China and Vietnam rather than, say, the economic transformation of the Baltic states after the breakup of the Soviet Union. Fidel Castro himself frequently promoted dependence on the government, and his legacy is deeply entrenched in Cuba’s culture and government, even if baby brother Raúl has made vague criticisms of the revolutionary government’s “excesses.”
“Raúl’s reforms to date fall far short of what China and Vietnam have done and what is needed to bring Cuba into the economically developing world,” Ratliff writes. “Even so, more Cubans are moving in the right direction now than at any previous time in the past half-century. The bottom line for U.S. policy should be to let Cubans resolve their own domestic problems as best they can without frictions deliberately generated from abroad.”

by William Ratliff (The Intellectual Conservative, 11/20/13)

The Debilitating Legacy of Fidel: A Report from Havana 
By William Ratliff  |  Posted: Wed. November 20, 2013, 11:37am PT
Also published in The Intellectual Conservative on Sat. November 16, 2013







Is Raúl Castro simply a clone of his elder brother Fidel? Solving that evolving puzzle may be a step toward ending one of the most prolonged and divisive disputes in U.S. foreign policy today, though neither a positive nor negative conclusion justifies a continuation of the current embargo.
During the Cold War, trying to isolate Cuba served American security interests because Cuba was the most important ally of the Soviet bloc in the Western Hemisphere. But since the fall of the Soviet Union, U.S. policy toward Cuba has focused on “nation building” and agitation to improve lives for Cubans and overthrow the Castros. Analysts who reject those as adequate grounds for a legitimate policy, as I do, can also critique what Washington is doing on its own terms: has it been successful in nation building or ousting the Castros? No.
The first challenge is to see if Raúl’s reforms since taking the top political offices between 2006 and 2008 have really begun to change conditions on the island. The best Cuban exile experts disagree. Economist Carmelo Mesa-Lago has called the reforms “the most extensive and profound” changes on the island in decades, though still inadequate, whereas journalist Carlos Alberto Montaner calls them “token gestures.”
Raúl and the Cuban Communist Party (CCP) speak only of “updating the economic model.” At best, this a ploy to mask criticism of Fidel’s decades of economic failures while undertaking serious reforms. At worst, it is a fraud for policies truly intended only to apply bandages to policies recently characterized as Frankenstein’s “monsters”; they are welcome but in the end non-starters.
Changes and Conditions
I surveyed Raúl’s specific policy responses to Cuba’s challenges earlier this year in an essay entitled “Cuba’s Tortured Transition.” After a two-week visit to Cuba in mid-year, my sixth since 1983, I will here focus on the individual, cultural, and institutional factors that promote or impede substantive reform in the years ahead.
If Cuban leaders were free to think outside the socialist box, their best reform model would be Taiwan, where an authoritarian regime created a balanced and productive market economy and cultivated a democratic political system. Realistically, however, Cuba will not take this route under its current leadership, and thus its more likely near-term models are allies China and Vietnam. Former high-level Cuban officials who worked closely with Raúl and later coauthored articles with me affirm the younger Castro’s standing interest in systematic, long-term economic reforms in the direction of those undertaken by these Asian allies. Raúl’s current heir apparent, Vice President Miguel Diaz-Canel, visited both countries in June.
The Castros have never respected individual rights, though they claim to do so with education and preventive health programs for all. But in these and other socio-economic fields Cuba rated high among Latin American nations before the Castros arrived, though with an imbalance between urban and rural sectors. Under the Castros Cuba has fallen in the regional rankings. The United Nations Development Programme’s 2013 Human Development Index rates Cuba fifty-ninth in the world and sixth in Latin America, a respectable but not stunning record. The 2013 Human Rights Watch World Report concluded that Cuba “represses virtually all forms of political dissent” and economic freedoms are just beginning to sprout in a system recently branded “handcuffed capitalism.”
Frankenstein in Havana
Cuban professor Carlos Alzugaray has underlined the gravity of Cuba’s current economic problems by using what he calls the “Frankenstein metaphor.” Speaking in June at Stanford University, he said Fidel’s economic policies were meant to be a gift to mankind, like Frankenstein’s creature. But like the creature they turned out to be "monsters." Though Alzugaray did not openly criticize “Father” Fidel, he noted the latter’s debilitating insistence on state control of all economic policy and his long opposition to the free markets, individual initiative, and entrepreneurship.
Fidel’s freely chosen economic plan was, over the course of a half-century, uniformly disastrous in terms of political freedoms and economic development. From the 1960s on, Fidel’s policies paralyzed the nation.
Fidel Castro was one of modern history’s most arrogant leaders. He never learned about economic realities or human nature from his own studies or disastrous policy failures, nor from the collapse of his late allies in the Soviet bloc or his current friends in China and Vietnam. Fidel himself sometimes acknowledged that markets could be more economically productive than socialism, but only at the expense of “social justice.” Yet as Juan Antonio Rodríguez Menier and I show in our book Inside the Cuban Interior Ministry, some of Fidel’s policies deliberately limited economic growth simply because that kept Cubans more dependent on himself and his government.
Fidel’s Cuba is a case study in the tragic waste of opportunity and life that is inevitable under a Caudillo Messiah with a paternalist utopian domestic agenda and an expansive revolutionary international policy. Thus a key question today for Cubans is, what direction can the country take now that Fidel’s role is at the least very much reduced?
Raúl on Fidel’s Monsters
The most influential expert witness on Cuba’s economic condition today is Raúl, historically the more pragmatic of the brothers. Since taking power he has often critiqued deeply ingrained attitudes that have kept Cubans from openly recognizing, confronting and resolving problems.
In 2011, he said bluntly that changing Cuba would depend on “transforming erroneous and unsustainable concepts about socialism, deeply rooted in broad sectors of the public for years, as a result of the excessive paternalistic, idealistic, and egalitarian focus that the Revolution adopted in the interest of social justice.” After a visit to Cuba last year the head of the Vietnamese Communist Party, one of Cuba’s oldest and closest allies, said publicly that what the Cuban people need most is “a change of mentality at all levels, from the highest level to the grassroots.” Colleagues at the Chinese Academy of Social Sciences have said the same for more than a decade.
As soon as he took over in 2006 Raúl proclaimed, ”We’re tired of excuses in this revolution!” Cubans, he warned, must “erase forever the notion that Cuba is the only country in the world where one can live without working.” Shouting slogans and scapegoating will no longer do, he has said repeatedly. The farmland is there waiting to be cultivated, and jobs of all sorts are waiting to be created and done.
One of Raúl’s most revealing critiques emphasizes the challenge of simply getting things done when people have little motivation and a weak work ethic. He relates that decades ago Vietnamese leaders asked Cubans to teach them how to grow coffee, which Cubans did. Vietnam soon became the second largest coffee exporter in the world and a high Vietnamese official asked, incredulously, “How is it possible that you taught us to grow coffee and now you are buying coffee from us?”
Raúl has not fully owned up to the depth of the country’s problems, however, for he has downplayed the impact of Hispanic tradition. Fidel and his late acolyte Venezuelan President Hugo Chávez are just the most recent in a centuries-long parade of Latin American caudillos or dictators who have proclaimed themselves Messiahs and thus been welcomed or tolerated in societies that traditionally looked to paternalistic leaders. But the Castros squandered a half century, during which the Asian “tigers” demonstrated development prospects in the mid-20th century, and like most Latin caudillos they left their “children” in most ways far worse off than they found them.
Fidel’s Independence Fraud
One of Fidel’s proudest, most widely accepted and dishonest claims was that he finally made Cuba independent. True, under his leadership the island became a militant enemy of its dominant neighbor the United States, and he even sometimes bit the Soviet hand that fed him. But economically Cuba was always on the dole to foreigners who in various forms often sent him a quarter of the country’s annual GDP.
Thus the Soviet bloc subsidized Cuba throughout the Cold War, and when the bloc collapsed and aid stopped in the early 1990s Cuba’s economy crashed utterly. Thereafter Fidel arranged generous support from Chavez, China, and even indirectly from the United States, the latter allowing extensive trade in foodstuffs as a humanitarian gesture outside the embargo. Direct “aid” came from Cuban-Americans whom Fidel always called “worms,” who sent and still send remittances that, according to differing calculations, are today either the main source of foreign exchange revenue for the state or greater than all other sources combined.
Slogans, challenges, and the future
Despite Raúl’s rhetoric, however, the official vocal enthusiasm for socialism is as alive as ever. Buildings and roadsides in the cities and countryside are plastered with slogans like: “The Revolution Moves Ahead, Vigorous and Victorious”; “This is the Hour of Our True Greatness”; and “United, Vigilant and Combative in Defending Socialism.” Stultifying Cuban publications constantly rehash the great “triumphs” and heroes of decades ago when in fact those events and people were the chief reasons Cuba now has so many seemingly intractable problems.
As in the past, the most omnipresent image in Cuba is that of Che Guevara, the supposedly selfless “new man” who lauded moral over material incentives and was often even more violent, stubborn, and utopian than Fidel. His image is everywhere. Almost all postcards for sale across the island feature Che, but the most absurd and jarring adulation is the 120-foot-high “silhouette-outline” of him on the Ministry of the Interior building in Revolutionary Square. In truth, after 1959 Che was much more useful to Fidel and the Revolution dead than alive. First, he wasn’t around long enough to seriously challenge Fidel, who never tolerated competition. Like the men and maidens on Keats’s Grecian Urn, he “survived” in mythology and the unchanging glamorous photos of the forever-macho young hero in his prime rather than as the loser he really was from Cuba to the Congo to his death in Bolivia.
So contradictions and inconsistencies abound in Cuba today, and Raúl and his cohorts send mixed messages to the Cuban people and the world about their intentions and the island’s prospects. Does Raúl really support serious reform? Is he being sabotaged by middle-level bureaucrats and surviving ideologues, including Fidel? Is he being thwarted by rampant corruption at all levels of society? Are enough of the Cuban people willing to work hard and long enough to build and sustain a new economy and life if given the chance to do so? In the words of one of the most popular pre-revolutionary songs heard around the island, “Perhaps, perhaps, perhaps.”
Raúl’s reforms to date fall far short of what China and Vietnam have done and what is needed to bring Cuba into the economically developing world. Even so, more Cubans are moving in the right direction now than at any previous time in the past half-century. The bottom line for U.S. policy should be to let Cubans resolve their own domestic problems as best they can without frictions deliberately generated from abroad.

William Ratliff is a Research Fellow at the Independent Institute and a Research Fellow and former Curator of the Americas Collection at the Hoover Institution. He travels frequently in China and Asia. His latest book is Vietnam Rising: Culture and Change in Asia’s Tiger Cub.
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Cuba’s Tortured Transition 
By William Ratliff  |  Posted: Fri. February 1, 2013, 9:46am PT
Also published in Defining Ideas on Wed. January 30, 2013

America’s post-Cold War embargo on Cuba is a clear example of failed international interventionism. Making sanctions work, Henry Kissinger wrote in the Los Angeles Times, “depends on the ability to define an achievable objective.” Since the fall of the Berlin Wall, the United States has not had such an objective in its policy toward Cuba. Our policy, intended to isolate Cuba, has isolated the United States.
This has been most blatantly demonstrated for the past twenty-one years by the United Nations General Assembly’s annual call to lift the embargo—which Havana demagogically calls a “genocidal blockade”—because it adversely affects Cubans and the freedom of international trade. (The vote in 2012 to condemn the embargo was 188 to 3.) Cuba today does not warrant this extraordinary isolation. In 2010, former Senator Richard Lugar, then the top-ranking Republican on the Foreign Relations Committee, correctly noted: “We must recognize the ineffectiveness of our current policy and deal with the Cuban regime in a way that enhances U.S. interests.”
The Original Embargo Re-tooled
The Eisenhower administration recognized Fidel Castro’s government in early 1959 but soon broke diplomatic relations and imposed an economic embargo—tightened in 1962 by President John Kennedy—because Cuba nationalized American properties and became an ally of the Soviet Union. The embargo was an integral part of U.S. Cold War strategy against the Soviet bloc and should have been lifted after the bloc collapsed, but wasn’t. Though some security concerns exist today, including the gathering of Chinese intelligence from the island, and extensive Cuban meddling in Venezuela, these challenges are not lessened by the embargo.
Post-Cold War embargo supporters included some in government and think tanks, but most were Cubans who had fled to Miami after Castro took power. It seemed possible that given Cuba’s economic crisis following the sudden end of massive bloc aid, a little more pressure might bring Fidel down, but that required shifting the embargo’s focus from U.S. national security to nation building in Cuba. The key document was the revealingly titled, Cuban Liberty and Democratic Solidarity (Libertad) Act of 1996, which still forms the core of U.S. policy.
The embargo will be lifted only after decisive steps are taken toward democracy, respect for human rights, and a market economy. The departure of the Castros is also required. Only one of the six stated “purposes” of the Act referred (unconvincingly) to national security. One of the co-authors, Senator Jesse Helms, said that Fidel was sustained by foreign money and that his “Helms-Burton Act” would “choke off” the “life-support system keeping him in power.” He said that eighteen years ago.
President Bill Clinton signed legislation to tighten the embargo in 1992 and 1996 and President George W. Bush did so a decade later. But living conditions for Cubans did not improve. Instead Fidel used U.S. “proactive” measures to justify the further harassment and imprisonment of dissidents because of alleged traitorous links to Washington. The most dramatic instance was in 2003 when 75 were arrested and given long prison terms.
Conditions in Cuba Today
In 2006, sickness forced Fidel, now 86, to informally pass power to his brother Raúl. Raúl, now 81, became President in 2008 and head of the Cuban Communist Party (CCP) in 2011. A source close to Cuban intelligence now reports that Fidel has Alzheimer’s and will not survive long. Fidel’s passing, analysts expect, will heighten domestic tensions and perhaps spark another mass migration by sea. Raúl has always been the more pragmatic brother and, unlike Fidel, is eager to learn from the serious and systematic economic reforms of recent decades in China and Vietnam. On taking power, he immediately highlighted some of Cuba’s critical but previously unmentionable economic disasters under Fidel, and set out to “update the economic model,” a feel-good phrase that masks criticism of Fidel. The CCP adopted an “updating” blueprint in 2011.
The dean of Cuban-American economists, Carmelo Mesa-Lago, considers these reforms “the most extensive and profound” ever undertaken by the government. And yet the author of Cuba en la era de Raúl Castro (2012) added that they fall far short of those in China and Vietnam. New York Times correspondent Damien Cave has characterized Raúl’s reforms as “handcuffed capitalism.”
Specific problems range from inadequate infrastructure and pervasive corruption to disincentives imposed by officials who don’t understand or really support the “updating.” Thus more than five decades of stagnation and atrophied ideological dogmatism still impede Cuba’s morphing from a retrograde family dynasty dictatorship into a more modern nation. In general the opening undermines CCP control, as would an absence of reforms. Castroite leaders also fear the loss of oil handouts if Venezuelan President Hugo Chavez’s cancer gets the better of him.
There have not been equally significant non-economic reforms, though there has been a drift to somewhat greater freedom of expression than during the Cold War. Most of Fidel’s political prisoners have been released, but government critics under Raúl are still harassed and arrested and pro-democracy advocate Oswaldo Payá died in an automobile “accident” last July. Still, some changes may improve life, the most recent being the liberalization of laws on foreign travel.
Castro’s Legacy
When Fidel seized power in 1959 he formed an anti-American, anti-capitalist regime that quickly twisted one of Latin America’s most relatively advanced countries into a repressed and economically stagnant backwater. The still iconic and untouchable caudillo is responsible for his own legacy, with the only exceptions to his miserable failures being somewhat impressive programs in education and health.
Fidel had an unfailing talent for choosing allies, ideas, and policies that inflated his own international image above the interests of the Cuban people or other nations. The head of Vietnam’s Communist Party zeroed in on Cuba’s basic challenge last year when he said his visit to the island had convinced him that Cuba’s greatest need is “changing the mentality [of the people], from the highest level to the grassroots.”
One tragic irony is that the Cuban exiles that hate Fidel have propped him up by supporting the embargo, providing him with a scapegoat for his failures. Younger Cuban-Americans, and recent arrivals from the island, are usually less supportive of sanctions than the earlier refugees whose compulsion to “get even” with the Castros has often seemed dictated more by vengeance than logic or reality. This is shown by the fact that while a majority of Cuban-Americans still support the embargo, almost 85 percent believe it hasn’t worked well or at all, according to a 2011 poll by Florida International University.
A New Policy to Cuba
Since the early 1990s U.S. “proactive” policies have done more to stoke than reduce domestic tensions in Cuba, though we profess to seek a “peaceful transition.” Most U.S. legislators have supported pro-embargo Cuban-Americans even though Gallup polls have long shown that most Americans favor diplomatic relations with Havana and lifting the embargo. On balance, politicians don’t think Cuba policy is important enough to be worth stirring up the hornets in the still fairly militant and well-financed pro-embargo lobby. Not only have all presidential candidates including Obama supported the embargo, most have resisted even seriously discussing it.
This U.S. commitment to a failed policy has given Washington a “special stake” in the island’s so-called “independent” sector whose goals appeal to Americans. But tragically, paraphrasing journalist Scotty Reston, Americans will do anything for these dissidents except listen to them. My talks with many in Cuba and abroad suggest that most oppose the embargo and three have co-authored articles with me saying so. If these dissidents come under focused government fire in the years ahead, many Americans will feel compelled to intervene even more directly—perhaps militarily—on their behalf.
Two points stand out: Cuba is not the security threat that our current policy treats it as; and our sanctions do not advance the desirable political, economic, and humanitarian improvements that we say we seek on the island. The bottom line is that we must base our policy on national security interests and realities, not unattainable dreams, however noble those dreams may seem.
During his second and final term, and after having drawn unprecedented electoral support as a Democrat from Cuban-Americans in Miami, President Obama is in a position to make serious reforms, if he has the will to do so. He might begin by resurrecting a 1998-99 proposal—then endorsed by former secretaries of state Kissinger and George Shultz, but killed by President Clinton—for convening a Presidential Bipartisan Commission on Cuba to seriously examine the pros and cons of the policy. It would certainly see the need for change and its findings would give Obama cover for action.
Many significant changes can be made now without the support of Congress, though since 1996 the latter’s backing has been necessary to fully lift the embargo. Immediate reforms should include: securing the release of Alan Gross, the American contractor arrested in 2009 for doing his “proactive” U.S. government-funded job; ending provocative “proactive” programs; allowing more visits to Cuba by all Americans, not just largely Cuban-Americans; expanding trade beyond the foods and medicines now allowed; bringing our Cuba immigration policy into line with our policies toward immigrants from other countries; increasing discussions with Cuba’s political and military leaders on affairs of mutual interest; and looking objectively at the reforms under way today and deciding how Washington can promote change while defusing rather than stoking domestic conflict and tensions.
Whatever else we do, we must jettison our quid pro quo approach that holds essential U.S. policy changes hostage to repeated “vetoes” by both Cuban-Americans in the States and Castroites in Havana.

William Ratliff is a Research Fellow at the Independent Institute and a Research Fellow and former Curator of the Americas Collection at the Hoover Institution. He travels frequently in China and Asia. His latest book is Vietnam Rising: Culture and Change in Asia’s Tiger Cub.