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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Falecimento de um grande historiador: Ricardo Salles; nota da ABPHE

Morte de um grande historiador: Ricardo Salles; dele gostei muito de Nostalgia Imperial, mas ele tinha muito mais do que esse livro.

Caros sócios e sócias,
A Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) lamenta com profundo pesar o falecimento precoce do Prof. Ricardo Henrique Salles, professor titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e pesquisador do CNPq. Em sua profícua trajetória acadêmica, Ricardo Salles desvendou sob novos prismas as bases materiais da sustentação do Estado imperial e da reprodução da escravidão no Brasil oitocentista, sobretudo em seu núcleo no Vale do Paraíba. Desde a graduação na PUC Rio até seu doutorado em história na Universidade Federal Fluminense, Salles teve sua orientação conduzida pelo Prof. Ilmar Rolhoff de Mattos, cujas ideias ampliou e trouxe novos aportes. Combinando uma sólida fundamentação em bases documentais e uma ampla perspectiva teórica de matriz gramsciana, suas pesquisas históricas navegaram entre a economia, a sociologia e a política, entre as quais destacamos: E o Vale era o escravo. Vassouras - século XIX. Senhores e escravos no Coração do Império (2008), Nostalgia imperial. Escravidão e formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado (1996, 2. ed, 2013), Joaquim Nabuco. Um pensador do Império (2002) e Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército (1990). Em conjunto com outros historiadores, também coordenou várias obras importantes para a compreensão da história brasileira no século XIX, como A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica (2020), Escravidão e capitalismo histórico no século XIX. Cuba, Brasil e Estados Unidos (2016), O Vale do Paraíba e o Império do Brasil nos quadros da segunda escravidão (2015), O Brasil Imperial (2009). Foi presidente da ANPUH-RJ e coordenador do Grupo de Pesquisa “O Império do Brasil e a Segunda Escravidão”. Na ABPHE, Ricardo Salles teve contato frequente com seus sócios e colegas, participando de mesas-redondas e coordenando sessões em eventos da associação, bem como influenciando a todos com suas obras e posições teóricas. Nesse momento de grande tristeza e de estupor diante da perda precoce, a ABPHE manifesta sua solidariedade aos familiares, colegas e estudantes que acompanharam e conviveram com o Prof. Ricardo Salles.

Diretoria ABPHE - 2021/2023

Observação: a cremação ocorrerá dia 2 de novembro às 16h30 e o velório a partir das 13h30 cap. 8 do Cemitério Memorial do Carmo (Rua Monsenhor Manoel Gomes, 287 – Cajú – Rio de Janeiro). 

quinta-feira, 15 de julho de 2021

O grande ECOCIDA - Claudio Angelo (Blog da Companhia)

 O jornalista que primeiro detectou que o antiministro do 1/2 ambiente era um ECOCIDA relembra nesta matéria incontornável todos os seus alertas sobre o criminoso que fez mais mal ao Brasil, interna e externamente, do que o patético e pateta do ex-chanceler acidental: Ernesto era apenas ridiculo em suas investidas contra o dragão do comunismo. Salles destruiu o meio ambiente no Brasil, tudo isso a mando do degenerado, genocida e ecocida que lhe encomendou o serviço. Ambos merecem cadeia brava.

Paulo Roberto de Almeida


Ricardo e eu

Claudio Angelo

Da Casa, 14 de Julho de 2021 às 16:20

 

Jamais senti por outro homem o que senti por Ricardo. Ele fazia meu coração disparar como se fosse sair pela boca. Me dava descargas de adrenalina. Ver seu rosto me causava aquela coisa no estômago que a gente tem quando alguém mexe demais com a gente. Depois de um certo tempo, eu tremia só de ouvir sua voz. Minhas mãos suavam. Minha respiração se alterava. Ricardo me virou do avesso. Me deixou prostrado. Me adoeceu.

Não é para me gabar, mas eu já odiava Ricardo antes de isso virar modinha. Anos antes de Alexandre armar aquele barraco com ele em público. Muito antes de jornalistas equilibrados perderem a linha e o chamarem de “sinistro” no Twitter. Muito antes de a imprensa estrangeira se referir a ele como bête noire e de representantes de outras nações pedirem às suas equipes para checar os bolsos depois de reuniões com ele. Antes de o #ForaRicardo virar trending topic. Os neófitos que me perdoem, mas eu faço parte de um seleto grupo de pessoas que não se deixaram enganar por Ricardo nem por um segundo.

Paguei um preço por minha consistência. No dia em que Ricardo foi nomeado, em dezembro de 2018, e minha organização precisou emitir uma nota pública a respeito, um colega achou demais chamá-lo de “ecocida” assim, de cara. Me fez cortar a palavra da nota. Uma pessoa que eu então admirava me fez uma crítica pública pelo tom “agressivo” que eu e Carlos imprimíramos à comunicação da organização sobre Ricardo. André me pediu para “apagar o lança-chamas”. Cláudio perguntava se não estávamos exagerando. Era começo de governo, argumentava-se, e era preciso dar a Ricardo o benefício da dúvida. Bem ou mal, era o que tinha para hoje, era preciso sentar para negociar, não dava para explodir pontes etc. etc.

Só que eu tinha uma bola de cristal. Ela se chamava Maurício Tuffani.

Tuffa, como o chamávamos, era um jornalista experiente que cobriu com régua e compasso as aprontações de Ricardo quando este ocupou a secretaria de Meio Ambiente de seu Estado. Ouviu pesquisadores, servidores públicos, procuradores, levantou documentos ocultos e mostrou, numa série de reportagens, que Ricardo trabalhara consistentemente para desmontar a secretaria de Meio Ambiente em favor de interesses de industriais, mineradores, incorporadoras. O secretário acumulara uma série de inquéritos no Ministério Público até ser pressionado pelo próprio partido (o PP, daquele outro Ricardo) a entregar o cargo, em agosto de 2017. Em dezembro de 2018, foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa num processo por fraude ambiental – e feito ministro mesmo assim, apesar de a sentença lhe cassar os direitos políticos por três anos. Não era preciso ter lido Keynes três vezes no original para entender que, ao escalar Ricardo para um ministério que ele desejava fechar, Jair esperava que ele entregasse a segunda melhor coisa possível: desossar a pasta até que, na prática, ela virasse uma casca vazia.

Ricardo cumpriu a missão com louvor. Com o passar dos meses, foi mostrando mais claramente a que viera. Antes de maio de 2019, quando chamou uma coletiva para supostamente denunciar as ONGs por corrupção com o Fundo Amazônia e foi desmentido por ninguém menos que a Controladoria-Geral da União, meus críticos já estavam todos no meu time (à exceção da pessoa que não nomearei, que até hoje não entendeu que a gramática do poder mudou no Brasil). Um diplomata estrangeiro me agradeceu por ter sido a primeira pessoa a alertá-lo sobre com quem ele estava lidando.

Nesse meio-tempo Ricardo me ligou. Eu havia acabado de publicar um artigo sobre ele numa revista de grande circulação, na semana em que ele confessou ao país não saber quem era Chico Mendes e nunca ter lido um livro sobre meio ambiente. Era uma manhã de sábado e eu estava dirigindo quando o celular tocou, a caminho de uma cidade onde fiquei o dia todo sem conexão. Não retornei. Jamais soube o que ele queria.

Em junho, no dia de seu aniversário, Ricardo me levou às lágrimas ao conseguir um feito que todos os observadores da área ambiental no Brasil julgavam impossível: reunir presencialmente sete ex-ministros do Meio Ambiente em São Paulo. Todos denunciaram o desmonte que ele estava promovendo no edifício da governança ambiental brasileira, que desde 1988, com mais ou menos ênfase, vinha sendo construído e aprimorado. Eram pessoas de estilos e formações ideológicas distintas, que em diversas ocasiões já haviam quebrado o pau publicamente. Botar Marina e Izabella numa mesma foto não é para qualquer um. Ricardo conseguiu, ao ameaçar o legado de ambas. Elas descobriram que há muito mais a uni-las do que a separá-las.

Mais do que tudo o que ele fazia, o que me tirava do prumo com Ricardo era a maneira como fazia. O sujeito era tão bom de retórica que poderia estar rico trabalhando honestamente como advogado. Mentia e inventava dados sem enrubescer, a ponto de ter me obrigado a criar um site para checar seus discursos e suas entrevistas. Era um ignorante orgulhoso, um sofista de primeira linha, um mestre da erística como poucos que este país já viu. Todas as vezes que foi convocado a dar explicações no Congresso Ricardo passeou em cima de deputados e senadores – exceto em uma, numa sessão comemorativa ao Dia do Meio Ambiente no Senado, em que foi vaiado, chamado de mentiroso pela plateia e fugiu.

A maneira como manipulava a imprensa mereceria uma disciplina inteira nas faculdades de jornalismo. Primeiro, amordaçou todos os órgãos vinculados ao ministério para que toda a informação sobre a política ambiental federal fosse transmitida exclusivamente por ele. Ensinou o governo de Jair a não responder à imprensa quando questionado, para poder “dar título”, como dizemos, duas vezes no jornal: uma quando levava a paulada e outra quando, no dia seguinte, chamava os jornalistas para dar sua versão dos fatos e dizer que nada do que fora publicado era verdade. Escolhia os profissionais aos quais dava “furos” sobre sua não-gestão (factoides que nunca foram implementados) entre os que tinham muito prestígio nas redações e nenhuma ideia sobre o que era a área ambiental. Até que parassem de cair na patranha se passaram dois anos, e Ricardo conseguiu gerar muito “buzz” na mídia.

Ele era como um mestre de aikidô, a arte marcial em que se usa a força do adversário para derrubá-lo: aproveitava-se dos cânones de trabalho do jornalismo e dos hábitos arraigados dos jornalistas (sempre ouvir o outro lado, buscar acesso a informações privilegiadas junto a pessoas que detêm o poder, entender que tudo o que vem de governo, a princípio, é notícia) para usar a imprensa a seu favor. Funcionou: nunca na história tantos brasileiros souberam o nome e o sobrenome do ministro do Meio Ambiente. O propósito de Ricardo era ficar conhecido para se candidatar a algum cargo eletivo. Sua última campanha para deputado federal, em 2018, aquela em que prometia balas de fuzil contra “a esquerda e o MST”, não tinha dado muito certo.

A casa de Ricardo caiu em junho de 2021. A metafórica, não a da rua Honduras. Franco mandou dar uma batida em sua residência, Alexandre autorizou a quebra de seus sigilos, o outro Alexandre o denunciou para Cármen, que mandou apreender seu passaporte. Ricardo se foi enfim em 23 de junho, mas nos deixou o amigo Joaquim no seu lugar e um ministério que precisará ser reconstruído quase do zero em 2023 – isso se Arthur não derrubar todas as leis ambientais do país até lá. Tuffa, infelizmente, não pôde testemunhar o grande dia: morreu em 31 de maio, aos 63 anos. Ricardo submerge agora, mas anote aí: ele voltará em 22. Se estiver solto.

Nos últimos dias até pensei em ligar para Ricardo, mandar um “oi sumido”, saber como ele vai e perguntar, afinal, o que ele queria comigo naquele sábado de manhã nublado de 2019. Mas aí lembrei que ele está sem telefone: o celular cujo número tenho anotado até hoje aqui, com a foto de Ricardo e seus indefectíveis oclinhos de tartaruga, está na mão da Polícia Federal, sendo periciado nos Estados Unidos. Quem sabe eu não levo uns cigarros para ele qualquer dia desses onde quer que ele esteja.


Claudio Angelo nasceu em Salvador, em 1975. Foi editor de ciência do jornal Folha de S.Paulo de 2004 a 2010 e colaborou em publicações como Nature, Scientific American e Época. Foi bolsista Knight de jornalismo científico no MIT, nos Estados Unidos. Lançou, em 2016, pela Companhia das Letras o livro A espiral da morte, sobre os efeitos do aquecimento global, ganhador do Prêmio Jabuti na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática.

#ForaRicardo

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Com Biden na presidência dos EUA, o que acontece com os ministros brasileiros do Meio Ambiente e Relações Exteriores?

 No que depender de Bolsonaro, eles ficam...


Se Biden vencer, ministros Salles e Araújo devem perder espaço

Com a vitória de Biden, governo Bolsonaro avalia tirar dos holofotes os ministros integrantes da ala ideológica. Seria a maneira de construir uma ponte com o democrata

Augusto Fernandes
Correio Braziliense, 05/11/2020 07:40

Com o cenário eleitoral dos Estados Unidos apontando para uma vitória de Joe Biden contra Donald Trump na corrida pela Casa Branca, o governo brasileiro avalia como deve se comportar com o país norte-americano no caso de o candidato do partido Democrata ser oficialmente declarado como o novo presidente dos EUA. Por um lado, o Planalto está mais do que ciente de que as cobranças de Biden contra a política ambiental brasileira continuarão fortes. Por outro, sabe que não poderá cortar laços com a maior potência mundial por uma eventual derrota de Trump. Ante essa situação, o presidente Jair Bolsonaro pode promover mudanças no Executivo, em nome do pragmatismo político, e abrir mão de ministros da “ala ideológica”.

Interlocutores do governo ouvidos pelo Correio dizem que os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, poderiam perder a chefia das pastas ou serem realocados para cargos de segundo escalão. Apoiadores declarados do presidente republicano, ambos auxiliares de Bolsonaro, acumulam fortes críticas dentro e fora do Brasil, seja pelo desmatamento recorde na Amazônia e no Pantanal, seja por uma política externa que levou o Brasil à condição, nas palavras de Araújo, a “pária internacional”.

Tirar Salles e Araújo dos holofotes seria importante para o Palácio do Planalto construir uma ponte com Biden, em especial no quesito meio ambiente. O democrata ameaçou “congregar o mundo” contra o Brasil para garantir que a Amazônia seja preservada. Desde o início do ano, o bioma foi atingido por 94.169 queimadas. Esse registro é 5% superior ao que foi contabilizado em 2019 inteiro, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 89.176 pontos de calor na Floresta Amazônica.

Assessores de Bolsonaro reconhecem que o país pode ficar mais isolado, caso não tente se adequar ao perfil de um presidente norte-americano que não mantenha um alinhamento ideológico com o mandatário brasileiro. Dessa forma, a estratégia é encontrar a melhor maneira de Bolsonaro sinalizar a Biden que estará disposto a iniciar um diálogo.

As mudanças, contudo, não devem ser imediatas. O Executivo ainda espera a confirmação do resultado oficial. Se as urnas apontarem vitória de Biden, Bolsonaro deve aguardar até o primeiro trimestre do ano que vem para confirmar uma reforma ministerial. Enquanto isso, ele segue torcendo por Trump.

Ontem, o presidente brasileiro comentou a apoiadores que eventual vitória de Biden pode abrir espaço para uma interferência do governo norte-americano na política do Brasil. “O candidato democrata, em duas oportunidades, falou sobre a Amazônia. É isso que vocês tão querendo para o Brasil? Aí sim uma interferência de fora pra dentro”, alertou o mandatário.

Mais uma vez, Bolsonaro comentou que espera a vitória de Trump. O presidente evitou falar em derrota do republicano e disse que vai aguardar pelas decisões da Suprema Corte norte-americana. “Parece que foi judicializado o negócio lá, né. Um estado ou outro. Esperar um pouquinho. A esperança é a última que morre”, lembrou o presidente.

Reacomodação
Segundo cientistas políticos, a eleição de Biden deve impactar o Executivo brasileiro, em especial porque o Itamaraty tem sido pautado por um completo alinhamento a Trump. Diante disso, será imprescindível que o governo mude a forma de fazer política com o restante do mundo. “Bolsonaro terá de se acomodar à nova realidade. Será muito diferente com Biden, pois ele perderá o acesso privilegiado à Casa Branca. Então, há uma força no gabinete e, até certo ponto, na própria vice-presidência, de que é necessário ter uma boa relação com os EUA. Portanto, é provável que ele faça um gesto de acomodação. A mudança mais lógica seria com Araújo e Salles, que são os ministros mais desprestigiados no exterior”, analisa Eduardo Viola, professor titular de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

O cientista político Enrico Monteiro, da Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical, acrescenta que “a ideologia nos deixou isolados do mundo” e que Bolsonaro precisará mudar essa postura para não deixar o Brasil “completamente à margem do comércio internacional”. De acordo com ele, “isso seria péssimo para uma retomada econômica”. “Acho que a vitória do Biden vai trazer algumas reflexões: qual é o nosso posicionamento em relação a comércio internacional e qual é a nossa posição enquanto país com o maior potencial de economia verde do mundo e maior produtor do agronegócio mundial. Teremos a chance de fazer discussões que, até o presente momento, não ocorreram porque houve alinhamento automático com o Trump. Se Biden for confirmado, ele vai propor para os parceiros comerciais uma série de movimentos, sobretudo na área ambiental, aos quais o Brasil precisará se adequar.”

“Brasil não tem nada a esconder”
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, ontem, que as relações entre os Estados Unidos e o Brasil precisam continuar, independentemente do resultado das eleições. De acordo com o general, cada nação tem seus interesses e o diálogo é institucional. “Nosso relacionamento é de Estado. Independe do governo que está lá. É claro que o presidente Trump é mais próximo do presidente Jair Bolsonaro. Cada nação tem seus interesses”, disse Mourão, ao embarcar com uma comitiva de diplomatas para conhecer as ações de combate do governo federal ao desmatamento na Amazônia. Quanto à viagem, Mourão disse que “o Brasil não tem nada a esconder” e que o país reconhece suas dificuldades na área ambiental. (Renato Souza)

O que dizem os especialistas?
Voto e mobilização

“A polarização política tem o efeito de mobilização dos eleitores. Os democratas saíram de casa e os idosos votaram contra o Trump pelos correios, devido à gestão dele durante a pandemia. No entanto, por outro lado, o eleitor fiel a Trump, sentindo-se desamparado por outros governos, garantiu a ele vitórias importantes como na Flórida, onde o republicano teve um voto maciçamente masculino e branco. Embora a eleição norte-americana tenha impacto no Brasil, a vitória de Trump não acrescenta em algo prático, porque quem tem o maior impacto sobre o Brasil é o próprio Brasil. Temos que fazer o dever de casa, e o governo brasileiro deve realizar diálogos e levar adiante discussões importantes de melhorias deste governo”.
Creomar de Souza, fundador da Consultoria Política Dharma

É melhor não brigar
“Esta é uma eleição histórica porque ocorre no meio de uma pandemia, com um voto antecipado robusto e significativo, além de ter um dos maiores comparecimentos para votação do período recente, considerando que, nos EUA, a votação é facultativa. No Brasil, a eleição norte-americana exerce um poder simbólico de fortalecimento do posicionamento ideológico. Bolsonaro foi eleito na mesma onda conservadora de Trump, e uma eventual vitória do republicano terá um efeito revigorante neste movimento. Não acredito que a vitória de Biden trará muitas consequências. Os dois países são grandes parceiros econômicos, e o Brasil não vai brigar com a China e os Estados Unidos ao mesmo tempo. Na prática, não altera muito quem ganha ou perde”.
Lúcio Rennó, professor do Instituto de Ciência Política da UnB

Sequência de erros
“A postura de Trump com relação à pandemia, acrescida da retórica dele em relação à Europa e à Otan, além do desprezo dele em relação a alguns assuntos — como a ocasião em que ele se recusou a apertar a mão de Angela Merkel na Casa Branca —, foram fatores que o prejudicam agora. Além disso, o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) é pró-Biden, ainda que ele não seja o candidato dos sonhos para esse grupo. E caso Biden seja o vencedor, tanto EUA quanto Brasil devem ter bom senso para que a soberania do Brasil seja respeitada; para que o governo brasileiro reconheça os equívocos na área ambiental e mude de atitude a respeito disso.”
João Carlos Souto, professor de Direito Constitucional do Centro Universitário do DF (UDF)

O olhar do investidor
“Os Estados Unidos deram mostra de que o candidato favorito é Joe Biden. Apesar da política de Trump, favorável ao mercado interno americano, os investidores temem a guerra com a China e a beligerância com a Europa. No Brasil, isso acaba tendo um certo reflexo. Não podemos esquecer que o nosso maior parceiro comercial são os Estados Unidos — para efeito de importação e exportação, somados. A China é a maior compradora do Brasil. Qualquer movimento dos americanos afeta diretamente o Brasil. O mercado local olha esse termômetro. Mas, obviamente, existe um componente interno (no Brasil) que está afetando mais do que propriamente a eleição americana. Juntando esses dois fatores, temos altas elevadas nas Bolsas e uma volatilidade muito grande. E os espectadores, aqueles que estão com dinheiro, aguardam os passos corretos para fazer os seus investimentos.”
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia e diretor da Corretora OpenInvest

Efeito covid
“Se não tivesse ocorrido a pandemia, Trump teria uma vantagem extremamente expressiva. Mas a forma como ela foi tratada pelo presidente Trump trouxe prejuízo, junto com o viés econômico, que era a grande locomotiva que poderia colocá-lo bem à frente de Joe Biden. Com uma vitória de Biden, pode ocorrer instabilidade entre EUA e Brasil em um primeiro momento. Mas ambas nações são grandes parceiras históricas, trata-se de uma parceria de Estado, não de governo. Do ponto de vista comercial, não haverá uma catástrofe.”
Rodrigo Badaró, conselheiro federal da OAB e especialista em política dos Estados Unidos

Futuro da política
“O número oito é muito importante na história mundial. Em 1918, após a Revolução Russa, o mundo tinha duas ideologias: de um lado o liberal; e de outro, o comunismo. Em 1938, o mundo teve três para escolher, com o nazismo também. A partir de 1988, o socialismo cai. É só estudar a China que dá para ver que aquelas teorias não se encaixam muito. Depois de 2008, nem o liberalismo explica mais nossa nação. Eu creio que, em 2004, houve duas mudanças significativas: a internet, que ficou mais visível a todos, e o smartphone. Nessa junção, mudamos o DNA da humanidade e, com isso, todas as questões que estamos falando talvez sejam velhas demais. Em outras palavras, quem Bolsonaro vai enfrentar em 2022, talvez a gente nem conheça ainda.”
Rafael Favetti, advogado e cientista político

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BOLSONARO DIZ QUE ERNESTO ARAÚJO TEM 'CHANCE ZERO' DE CAIR SOB BIDEN PRESIDENTE

Presidente garante permanência de ministro trumpista
Época, 05/11/2020 - 07:10 

Jair Bolsonaro tem dito a interlocutores que o trumpista Ernesto Araújo tem "chance zero" de ser demitido sob a presidência de Joe Biden.

Aliás, Bolsonaro tem mostrado resistência a mudar radicalmente e da noite para o dia seu discurso e atitude por conta de Biden.

Prefere moderar o tom aos poucos — e só se Trump perder a batalha judicial.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/bolsonaro-diz-que-ernesto-araujo-tem-chance-zero-de-cair-sob-biden-presidente-24729522