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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 16 de maio de 2022

Empresas do agronegócio se distanciam da política ambiental destrutiva do governo Bolsonaro

 Congresso deveria apoiar iniciativa em prol da Amazônia

Editorial do jornal O Globo
16/05/2022

Numa iniciativa rara, 23 empresas e organizações da agroindústria e agropecuária, representando mais de 300 entidades, remeteram carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com o pedido de acesso ao fundo Amazon21, de US$ 9 bilhões, criado pelo Legislativo americano para projetos de preservação de florestas tropicais. Também enviada à presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, a iniciativa é a prova do isolamento do governo Bolsonaro em sua desastrosa política ambiental, que se resume a franquear o acesso de madeireiros e garimpeiros ilegais à Amazônia.

Empresas e entidades empresariais já haviam formalizado um pedido ao governo Bolsonaro para recuperar seu protagonismo na questão ambiental, antes da COP26, em Glasgow, na Escócia. A iniciativa foi em vão. Restou o apelo direto ao governo americano para obter recursos destinados a projetos para conter o desmatamento, com a participação de comunidades indígenas, pressionadas pelo avanço ilegal do garimpo em suas reservas sem nenhuma punição por parte do governo.

A iniciativa de enviar a carta a Biden e Pelosi é a demonstração concreta de que a antipolítica ambiental do governo prejudica os interesses de grandes empresas nacionais e globais exportadoras de alimentos. Dará trabalho ao Itamaraty e aos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente desfazer a imagem de inimigo do planeta que Bolsonaro construiu com afinco durante quatro anos. Ainda mais se o segundo semestre na Amazônia for mesmo o que as piores previsões esperam.

O mais novo avanço do projeto bolsonarista de liberar a floresta para madeireiros e garimpeiros ilegais gerou no mês passado um desmatamento de 1.012 quilômetros quadrados, esquadrinhados por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), equivalente a dois terços da área da cidade de São Paulo. Foi uma destruição recorde para um mês de abril, quando ainda chove na região. O pior pode estar por vir.

Com a chegada do verão amazônico a partir de julho e o fim da temporada de chuvas, madeireiros e garimpeiros poderão ampliar a devastação com menos dificuldade. Como pode ser o último ano do governo Bolsonaro, e as pesquisas não se mostram favoráveis ao projeto continuista do presidente, a conjuntura é um estímulo a quem vive da exploração predatória da Amazônia. Os desmatadores tentarão destruir (e faturar) o máximo que puderem, antes da chegada de um novo governo.

Se sair vitorioso nas eleições de outubro, Bolsonaro encontrará um ambiente internacional ainda mais inóspito para prosseguir com sua política de devastação. Mantido o ritmo do desmatamento, novas marcas serão alcançadas, com novas e inevitáveis reações nos Estados Unidos e na Europa, e o consequente fortalecimento de propostas de boicote a produtos brasileiros oriundos de áreas de desmatamento.

Um novo governo, em contrapartida, terá um enorme e decisivo trabalho para remontar as estruturas de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de modo a reduzir da maneira mais rápida possível os danos da gestão Bolsonaro, e não apenas na Amazônia. Por tudo isso, o apelo a Biden e Pelosi precisa ser apoiado no Congresso brasileiro.

https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/congresso-deveria-apoiar-iniciativa-em-prol-da-amazonia.html

quinta-feira, 15 de julho de 2021

O grande ECOCIDA - Claudio Angelo (Blog da Companhia)

 O jornalista que primeiro detectou que o antiministro do 1/2 ambiente era um ECOCIDA relembra nesta matéria incontornável todos os seus alertas sobre o criminoso que fez mais mal ao Brasil, interna e externamente, do que o patético e pateta do ex-chanceler acidental: Ernesto era apenas ridiculo em suas investidas contra o dragão do comunismo. Salles destruiu o meio ambiente no Brasil, tudo isso a mando do degenerado, genocida e ecocida que lhe encomendou o serviço. Ambos merecem cadeia brava.

Paulo Roberto de Almeida


Ricardo e eu

Claudio Angelo

Da Casa, 14 de Julho de 2021 às 16:20

 

Jamais senti por outro homem o que senti por Ricardo. Ele fazia meu coração disparar como se fosse sair pela boca. Me dava descargas de adrenalina. Ver seu rosto me causava aquela coisa no estômago que a gente tem quando alguém mexe demais com a gente. Depois de um certo tempo, eu tremia só de ouvir sua voz. Minhas mãos suavam. Minha respiração se alterava. Ricardo me virou do avesso. Me deixou prostrado. Me adoeceu.

Não é para me gabar, mas eu já odiava Ricardo antes de isso virar modinha. Anos antes de Alexandre armar aquele barraco com ele em público. Muito antes de jornalistas equilibrados perderem a linha e o chamarem de “sinistro” no Twitter. Muito antes de a imprensa estrangeira se referir a ele como bête noire e de representantes de outras nações pedirem às suas equipes para checar os bolsos depois de reuniões com ele. Antes de o #ForaRicardo virar trending topic. Os neófitos que me perdoem, mas eu faço parte de um seleto grupo de pessoas que não se deixaram enganar por Ricardo nem por um segundo.

Paguei um preço por minha consistência. No dia em que Ricardo foi nomeado, em dezembro de 2018, e minha organização precisou emitir uma nota pública a respeito, um colega achou demais chamá-lo de “ecocida” assim, de cara. Me fez cortar a palavra da nota. Uma pessoa que eu então admirava me fez uma crítica pública pelo tom “agressivo” que eu e Carlos imprimíramos à comunicação da organização sobre Ricardo. André me pediu para “apagar o lança-chamas”. Cláudio perguntava se não estávamos exagerando. Era começo de governo, argumentava-se, e era preciso dar a Ricardo o benefício da dúvida. Bem ou mal, era o que tinha para hoje, era preciso sentar para negociar, não dava para explodir pontes etc. etc.

Só que eu tinha uma bola de cristal. Ela se chamava Maurício Tuffani.

Tuffa, como o chamávamos, era um jornalista experiente que cobriu com régua e compasso as aprontações de Ricardo quando este ocupou a secretaria de Meio Ambiente de seu Estado. Ouviu pesquisadores, servidores públicos, procuradores, levantou documentos ocultos e mostrou, numa série de reportagens, que Ricardo trabalhara consistentemente para desmontar a secretaria de Meio Ambiente em favor de interesses de industriais, mineradores, incorporadoras. O secretário acumulara uma série de inquéritos no Ministério Público até ser pressionado pelo próprio partido (o PP, daquele outro Ricardo) a entregar o cargo, em agosto de 2017. Em dezembro de 2018, foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa num processo por fraude ambiental – e feito ministro mesmo assim, apesar de a sentença lhe cassar os direitos políticos por três anos. Não era preciso ter lido Keynes três vezes no original para entender que, ao escalar Ricardo para um ministério que ele desejava fechar, Jair esperava que ele entregasse a segunda melhor coisa possível: desossar a pasta até que, na prática, ela virasse uma casca vazia.

Ricardo cumpriu a missão com louvor. Com o passar dos meses, foi mostrando mais claramente a que viera. Antes de maio de 2019, quando chamou uma coletiva para supostamente denunciar as ONGs por corrupção com o Fundo Amazônia e foi desmentido por ninguém menos que a Controladoria-Geral da União, meus críticos já estavam todos no meu time (à exceção da pessoa que não nomearei, que até hoje não entendeu que a gramática do poder mudou no Brasil). Um diplomata estrangeiro me agradeceu por ter sido a primeira pessoa a alertá-lo sobre com quem ele estava lidando.

Nesse meio-tempo Ricardo me ligou. Eu havia acabado de publicar um artigo sobre ele numa revista de grande circulação, na semana em que ele confessou ao país não saber quem era Chico Mendes e nunca ter lido um livro sobre meio ambiente. Era uma manhã de sábado e eu estava dirigindo quando o celular tocou, a caminho de uma cidade onde fiquei o dia todo sem conexão. Não retornei. Jamais soube o que ele queria.

Em junho, no dia de seu aniversário, Ricardo me levou às lágrimas ao conseguir um feito que todos os observadores da área ambiental no Brasil julgavam impossível: reunir presencialmente sete ex-ministros do Meio Ambiente em São Paulo. Todos denunciaram o desmonte que ele estava promovendo no edifício da governança ambiental brasileira, que desde 1988, com mais ou menos ênfase, vinha sendo construído e aprimorado. Eram pessoas de estilos e formações ideológicas distintas, que em diversas ocasiões já haviam quebrado o pau publicamente. Botar Marina e Izabella numa mesma foto não é para qualquer um. Ricardo conseguiu, ao ameaçar o legado de ambas. Elas descobriram que há muito mais a uni-las do que a separá-las.

Mais do que tudo o que ele fazia, o que me tirava do prumo com Ricardo era a maneira como fazia. O sujeito era tão bom de retórica que poderia estar rico trabalhando honestamente como advogado. Mentia e inventava dados sem enrubescer, a ponto de ter me obrigado a criar um site para checar seus discursos e suas entrevistas. Era um ignorante orgulhoso, um sofista de primeira linha, um mestre da erística como poucos que este país já viu. Todas as vezes que foi convocado a dar explicações no Congresso Ricardo passeou em cima de deputados e senadores – exceto em uma, numa sessão comemorativa ao Dia do Meio Ambiente no Senado, em que foi vaiado, chamado de mentiroso pela plateia e fugiu.

A maneira como manipulava a imprensa mereceria uma disciplina inteira nas faculdades de jornalismo. Primeiro, amordaçou todos os órgãos vinculados ao ministério para que toda a informação sobre a política ambiental federal fosse transmitida exclusivamente por ele. Ensinou o governo de Jair a não responder à imprensa quando questionado, para poder “dar título”, como dizemos, duas vezes no jornal: uma quando levava a paulada e outra quando, no dia seguinte, chamava os jornalistas para dar sua versão dos fatos e dizer que nada do que fora publicado era verdade. Escolhia os profissionais aos quais dava “furos” sobre sua não-gestão (factoides que nunca foram implementados) entre os que tinham muito prestígio nas redações e nenhuma ideia sobre o que era a área ambiental. Até que parassem de cair na patranha se passaram dois anos, e Ricardo conseguiu gerar muito “buzz” na mídia.

Ele era como um mestre de aikidô, a arte marcial em que se usa a força do adversário para derrubá-lo: aproveitava-se dos cânones de trabalho do jornalismo e dos hábitos arraigados dos jornalistas (sempre ouvir o outro lado, buscar acesso a informações privilegiadas junto a pessoas que detêm o poder, entender que tudo o que vem de governo, a princípio, é notícia) para usar a imprensa a seu favor. Funcionou: nunca na história tantos brasileiros souberam o nome e o sobrenome do ministro do Meio Ambiente. O propósito de Ricardo era ficar conhecido para se candidatar a algum cargo eletivo. Sua última campanha para deputado federal, em 2018, aquela em que prometia balas de fuzil contra “a esquerda e o MST”, não tinha dado muito certo.

A casa de Ricardo caiu em junho de 2021. A metafórica, não a da rua Honduras. Franco mandou dar uma batida em sua residência, Alexandre autorizou a quebra de seus sigilos, o outro Alexandre o denunciou para Cármen, que mandou apreender seu passaporte. Ricardo se foi enfim em 23 de junho, mas nos deixou o amigo Joaquim no seu lugar e um ministério que precisará ser reconstruído quase do zero em 2023 – isso se Arthur não derrubar todas as leis ambientais do país até lá. Tuffa, infelizmente, não pôde testemunhar o grande dia: morreu em 31 de maio, aos 63 anos. Ricardo submerge agora, mas anote aí: ele voltará em 22. Se estiver solto.

Nos últimos dias até pensei em ligar para Ricardo, mandar um “oi sumido”, saber como ele vai e perguntar, afinal, o que ele queria comigo naquele sábado de manhã nublado de 2019. Mas aí lembrei que ele está sem telefone: o celular cujo número tenho anotado até hoje aqui, com a foto de Ricardo e seus indefectíveis oclinhos de tartaruga, está na mão da Polícia Federal, sendo periciado nos Estados Unidos. Quem sabe eu não levo uns cigarros para ele qualquer dia desses onde quer que ele esteja.


Claudio Angelo nasceu em Salvador, em 1975. Foi editor de ciência do jornal Folha de S.Paulo de 2004 a 2010 e colaborou em publicações como Nature, Scientific American e Época. Foi bolsista Knight de jornalismo científico no MIT, nos Estados Unidos. Lançou, em 2016, pela Companhia das Letras o livro A espiral da morte, sobre os efeitos do aquecimento global, ganhador do Prêmio Jabuti na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática.

#ForaRicardo

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O passivo ambiental e diplomático do Brasil - Carlos Bocuhy (PROAM)

Tenho de agradecer ao autor deste artigo, Carlos Bocuhy, ainda que ele tenha exagerado um pouquinho quanto ao meu estado de "degredado"; não fui abandonado aos canibais numa praia deserta, nem condenado às galeras, apenas lotado no Arquivo, meu segundo lugar preferido no âmbito do Itamaraty, depois da Biblioteca: 

"O embaixador Paulo Roberto de Almeida, crítico do aparelhamento ideológico que vem tomando o Itamaraty, foi degredado aos arquivos no subsolo da chancelaria, após apontar que textos de Araújo são puro delírio, bem a gosto de Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro e seus comandados."

Mas, ficou simpático, ser colocado ao lado do embaixador Ricupero, como crítico do PIOR DESGOVERNO de nossa história, e da horrorosa política externa ANTINACIONAL e ESQUIZOFRÊNICA. 

 

Carlos Bocuhy
Carlos Bocuhy é presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)

O passivo ambiental e diplomático do Brasil

Carlos Bocuhy
O ECO, segunda-feira, 1 fevereiro 2021 14:16
https://www.oeco.org.br/colunas/carlos-bocuhy/o-passivo-ambiental-e-diplomatico-do-brasil/
Foto: Alan Santos/PR.

O governo brasileiro tem agido de forma irresponsável na área internacional e vem acumulando perdas substanciais para a área ambiental. A começar pelo naufrágio do Fundo Amazônia, cujos recursos não são mais aportados pela Noruega e Alemanha, e cujo saldo em caixa está paralisado pela incompetência estatal.

A diplomacia brasileira encontra-se mais e mais desacreditada no cenário internacional. O Itamaraty tornou-se um pária entre seus pares na agenda global, diante da condução exótica do chanceler Ernesto Araújo, denunciada no estudo que aborda “A conspiração globalista de Jair Bolsonaro nas relações internacionais”, produzido pelo Instituto de Relações Internacionais da USP e da Fundação Getúlio Vargas. Foram analisados 480 pronunciamentos, vídeos e discursos do chanceler, que realizou em dois anos o maior número de manifestações entre outros personagens do 1º escalão e do próprio Jair Bolsonaro. Internamente, Araújo é considerado “descolado da realidade” por seus pares, devido à sua ideologia e fanatismo por teorias de conspiração.

O embaixador Paulo Roberto de Almeida, crítico do aparelhamento ideológico que vem tomando o Itamaraty, foi degredado aos arquivos no subsolo da chancelaria, após apontar que textos de Araújo são puro delírio, bem a gosto de Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro e seus comandados.

Para a área econômica, a atuação do Itamaraty não foi uma surpresa  e foi um desastre. A subserviência à figura do ex-presidente Donald Trump, objeto de impeachment e rejeição por lideranças americanas e internacionais; as sucessivas manifestações antagonizando a China, que consome grande parte das commodities brasileiras e detém poder na liberação de insumos e vacinas anti-Covid-19 para o Brasil, acabaram sendo motivo de chacota internacional e um tiro no pé dos brasileiros.

A antagonização da comunidade europeia afundou as tratativas de acordo com o Mercosul, uma distensão que se torna cada vez mais grave em função da degradação ambiental do cerrado e da Amazônia, em sua relação com os produtos agrícolas para exportação. Além disso, a OMC está apertando o cerco aos degradadores, ao sinalizar mecanismos de penalização a países que produzem às custas da destruição do meio ambiente. Com forte apelo ambiental, surge um novo regramento que visa evitar a concorrência desleal.

Agora, sem Trump no cenário, a política ambiental americana tende a apertar os acordos econômicos vinculando-os à regularidade ambiental, especialmente a climática. Joe Biden vem sendo fortemente pressionado por expressivos e articulados ativistas para tomar medidas que condicionem os acordos com o Brasil à conformidade de proteção da Floresta Amazônica.

Na área ambiental o Brasil perdeu liderança e protagonismo, desde que deixou de sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas, em 2019. Passou por vexame nas reuniões posteriores, onde o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi de chapéu na mão pedir recursos, enquanto não fazia a lição de casa.

“Agora, sem Trump no cenário, a política ambiental americana tende a apertar os acordos econômicos vinculando-os à regularidade ambiental, especialmente a climática”

O isolamento e a perda de imagem do Brasil no cenário internacional tendem a aumentar, pois o exótico modelo ideológico de Bolsonaro e Araújo não apresenta condições para arrefecer, pelo fato de que a ação política populista de Bolsonaro, sem conteúdo construtivo e sem sensibilidade ambiental, tende a continuar a desmantelar mecanismos de proteção ambiental, antagonizar e buscar inimigos, estratégia única da qual se utiliza para se manter junto à sua base sectária.

Recentemente Araújo começou uma guinada para tentar sua sobrevivência política diante do desgaste que provocou para o Itamaraty nos últimos dois anos. Iniciou uma série de pronunciamentos de que haveria alinhamento com a política ambiental de Joe Biden. Mas recentemente o chanceler discursou na formatura de novos diplomatas no Instituto Rio Branco afirmando que era melhor ser um país pária do que se render aos interesses “globalistas”. Joga com a imagem do Brasil a seu bel-prazer, orientado aparentemente pelos fantasmas de sua obsessão. Ao mesmo tempo lideranças no Congresso Nacional elegeram Ernesto Araújo o pior ministro do governo, seguido por Ricardo Salles.

Os indicadores de credibilidade da política externa brasileira encontram-se profundamente abalados. O ex-embaixador Rubens Ricúpero afirmou que levaremos ao menos duas gerações para recuperar a credibilidade no cenário internacional. Não será diferente internamente. Centenas de normativas ambientais, os sistemas de gestão pública federais e os mecanismos de gestão participativa foram fortemente desfigurados.  Serão décadas para sua reconstrução, quando este momento de horror para a área ambiental brasileira passar. Há um ditado na área geológica que afirma que a história geológica vive grandes períodos de estabilidade e curtos períodos de horror.

Desde o início dos 40 anos de construção da Política Nacional de Meio Ambiente, estruturada em 1981, foram 39 anos de construção e agora dois de horror, onde foi gerado um elevado passivo externo e interno.

O desenrolar da história recente mostra que governos despreparados, com falta de empatia para com o ser humano e a cadeia da vida, mereceram apenas um curto voo de galinha ou o ostracismo. É natural que assim seja, dentro de um mundo em constante avanço civilizatório. As estruturas suprainstitucionais, como as Nações Unidas, foram criadas depois de períodos conflituosos e a era atual, frente à ameaça global das mudanças climáticas, trará transformações estruturais para a proteção ambiental como já apontam as Nações Unidas, a OMC, a Comunidade Europeia e o governo de Biden. As tendências apontam o início do fim da era do petróleo e da sobrevida do isolacionismo dos párias das mudanças climáticas.

Será necessário reconstruir o bom perfil do Itamaraty e retomar uma saudável e proativa política multilateral, que privilegie a solidariedade entre as nações. Os brasileiros terão que despender muito esforço para a reconstrução da imagem externa e reestruturação da gestão institucional e normativa, além de promover um intenso trabalho de recuperação ambiental do que foi destruído neste lapso antissustentabilidade da história do Brasil.

 

As opiniões e informações publicadas na área de colunas de ((o))eco são de responsabilidade de seus autores, e não do site. O espaço dos colunistas de ((o))eco busca garantir um debate diverso sobre conservação ambiental.

 


segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A destruição da Amazonia no governo Bolsonaro - The Economist

Deathwatch for the Amazon
Brazil has the power to save Earth’s greatest forest—or destroy it
The Economist, Londres – 1.8.2019

Although its cradle is the sparsely wooded savannah, humankind has long looked to forests for food, fuel, timber and sublime inspiration. Still a livelihood for 1.5bn people, forests maintain local and regional ecosystems and, for the other 6.2bn, provide a—fragile and creaking—buffer against climate change. Now droughts, wildfires and other human-induced changes are compounding the damage from chainsaws. In the tropics, which contain half of the world’s forest biomass, tree-cover loss has accelerated by two-thirds since 2015; if it were a country, the shrinkage would make the tropical rainforest the world’s third-biggest carbon-dioxide emitter, after China and America.
Nowhere are the stakes higher than in the Amazon basin—and not just because it contains 40% of Earth’s rainforests and harbours 10-15% of the world’s terrestrial species. South America’s natural wonder may be perilously close to the tipping-point beyond which its gradual transformation into something closer to steppe cannot be stopped or reversed, even if people lay down their axes. Brazil’s president, Jair Bolsonaro, is hastening the process—in the name, he claims, of development. The ecological collapse his policies may precipitate would be felt most acutely within his country’s borders, which encircle 80% of the basin—but would go far beyond them, too. It must be averted.
Humans have been chipping away at the Amazon rainforest since they settled there well over ten millennia ago. Since the 1970s they have done so on an industrial scale. In the past 50 years Brazil has relinquished 17% of the forest’s original extent, more than the area of France, to road- and dam-building, logging, mining, soyabean farming and cattle ranching. After a seven-year government effort to slow the destruction, it picked up in 2013 because of weakened enforcement and an amnesty for past deforestation. Recession and political crisis further pared back the government’s ability to enforce the rules. Now Mr Bolsonaro has gleefully taken a buzz saw to them. Although congress and the courts have blocked some of his efforts to strip parts of the Amazon of their protected status, he has made it clear that rule-breakers have nothing to fear, despite the fact that he was elected to restore law and order. Because 70-80% of logging in the Amazon is illegal, the destruction has soared to record levels. Since he took office in January, trees have been disappearing at a rate of over two Manhattans a week.
The Amazon is unusual in that it recycles much of its own water. As the forest shrivels, less recycling takes place. At a certain threshold, that causes more of the forest to wither so that, over a matter of decades, the process feeds on itself. Climate change is bringing the threshold closer every year as the forest heats up. Mr Bolsonaro is pushing it towards the edge. Pessimists fear that the cycle of runaway degradation may kick in when another 3-8% of the forest vanishes—which, under Mr Bolsonaro, could happen soon. There are hints the pessimists may be correct (see Briefing). In the past 15 years the Amazon has suffered three severe droughts. Fires are on the rise.
Brazil’s president dismisses such findings, as he does science more broadly. He accuses outsiders of hypocrisy—did rich countries not fell their own forests?—and, sometimes, of using environmental dogma as a pretext to keep Brazil poor. “The Amazon is ours,” the president thundered recently. What happens in the Brazilian Amazon, he thinks, is Brazil’s business.
Except it isn’t. A “dieback” would directly hurt the seven other countries with which Brazil shares the river basin. It would reduce the moisture channelled along the Andes as far south as Buenos Aires. If Brazil were damming a real river, not choking off an aerial one, downstream nations could consider it an act of war. As the vast Amazonian store of carbon burned and rotted, the world could heat up by as much as 0.1°C by 2100—not a lot, you may think, but the preferred target of the Paris climate agreement allows further warming of only 0.5°C or so.
Mr Bolsonaro’s other arguments are also flawed. Yes, the rich world has razed its forests. Brazil should not copy its mistakes, but learn from them instead as, say, France has, by reforesting while it still can. Paranoia about Western scheming is just that. The knowledge economy values the genetic information sequestered in the forest more highly than land or dead trees. Even if it did not, deforestation is not a necessary price of development. Brazil’s output of soyabeans and beef rose between 2004 and 2012, when forest-clearing slowed by 80%. In fact, aside from the Amazon itself, Brazilian agriculture may be deforestation’s biggest victim. The drought of 2015 caused maize farmers in the central Brazilian state of Mato Grosso to lose a third of their harvest.
For all these reasons, the world ought to make clear to Mr Bolsonaro that it will not tolerate his vandalism. Food companies, pressed by consumers, should spurn soyabeans and beef produced on illegally logged Amazonian land, as they did in the mid-2000s. Brazil’s trading partners should make deals contingent on its good behaviour. The agreement reached in June by the EU and Mercosur, a South American trading bloc of which Brazil is the biggest member, already includes provisions to protect the rainforest. It is overwhelmingly in the parties’ interest to enforce them. So too for China, which is anxious about global warming and needs Brazilian agriculture to feed its livestock. Rich signatories of the Paris agreement, who pledged to pay developing ones to plant carbon-consuming trees, ought to do so. Deforestation accounts for 8% of global greenhouse-gas emissions but attracts only 3% of the aid earmarked for combating climate change.

The wood and the trees

If there is a green shoot in Mr Bolsonaro’s scorched-earth tactics towards the rainforest, it is that they have made the Amazon’s plight harder to ignore—and not just for outsiders. Brazil’s agriculture minister urged Mr Bolsonaro to stay in the Paris agreement. Unchecked deforestation could end up hurting Brazilian farmers if it leads to foreign boycotts of Brazilian farm goods. Ordinary Brazilians should press their president to reverse course. They have been blessed with a unique planetary patrimony, whose value is intrinsic and life-sustaining as much as it is commercial. Letting it perish would be a needless catastrophe.