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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Roberto Campos: receita para desenvolver um país - Paulo Roberto de Almeida


Roberto Campos: receita para desenvolver um país

Paulo Roberto de Almeida

Roberto Campos não foi provavelmente o primeiro, ou o único, membro do Serviço Exterior brasileiro dotado de formação econômica que tivesse desempenhado funções importantes na burocracia pública, ao longo da República de 1946, e depois sob o regime militar, assim como na redemocratização. Mas foi certamente um dos poucos, senão o único, economista de formação que tenha se beneficiado de suas atividades de diplomata para moldar suas ações e decisões de cunho econômico enquanto exercia funções públicas de relevo, ao longo desses diferentes regimes políticos, que se estendem de meados dos anos 1940 até o final do século 20. Mais do que isso, ele foi um verdadeiro intelectual humanista, alguém que se poderia chamar de renascentista.
Combinando um conhecimento profundo em economia com a vasta experiência adquirida no envolvimento direto nas conferências que moldaram a ordem econômica mundial contemporânea – a de Bretton Woods e a do sistema multilateral de comércio –, ele exerceu seus talentos na burocracia pública com o brilho invulgar que sempre o caracterizou, e que o marcou como um dos homens públicos que mais influência tiveram sobre o ambiente regulatório brasileiro do pós-guerra e sobre o próprio debate público na área econômica e política do Brasil na segunda metade do século.
Roberto Campos teve a rara chance de, começando sua carreira diplomática pela embaixada em Washington e pela delegação em Nova York, integrar a delegação à conferência de Bretton Woods, em julho de 1944, e de ter assistido ao momento definidor da ordem econômica mundial do pós-guerra. Depois, ele integrou a representação brasileira à Conferência das Nações Unidas sobre comércio e emprego, realizada em Havana, de novembro de 1947 a março de 1948, e que, na sequência das primeiras negociações do Gatt, em Genebra, definiu algumas das grandes linhas do sistema multilateral de comércio que ainda é o nosso. Parafraseando o ex-secretário de Estado americano Dean Acheson, em suas memórias, Roberto Campos esteve “presente na criação” das mais importantes organizações do multilateralismo contemporâneo.
Suas atividades governamentais e diplomáticas, numa primeira fase, estiveram concentradas, por um lado, no BNDE, criado em 1953 sob recomendação do relatório da Comissão Mista Brasil-EUA, e que teve papel importante na montagem do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek em meados dessa década; por outro, na de embaixador do Brasil junto aos Estados Unidos, nos governos Jânio Quadros e João Goulart, numa das conjunturas mais dramáticas da história política, e econômica, do Brasil moderno, quando processos inflacionários e estrangulamentos cambiais impactaram o ambiente político e econômico, culminando no golpe militar de 1964.
Com seu currículo teórico e um conhecimento prático da economia brasileira e mundial, foi naturalmente convidado a participar do novo governo, o que fez na condição de ministro do Planejamento, dando início, com o ministro da Fazenda, Octavio Gouvêa de Bulhões, ao mais importante ciclo de reformas econômicas jamais feitas no Brasil. Não obstante seu credo liberal e pragmático, contribuiu para reforçar o papel do Estado na vida econômica da nação, resultado que depois viria a receber sua declarada oposição, em vista das disfunções acumuladas ao longo do processo. Mais adiante, voltou a exercer uma chefia de missão diplomática, como embaixador junto ao Reino Unido, entre 1974 e 1982, ingressando logo em seguida, por 16 anos, na vida pública, no curso da qual expressou diversas vezes sua frustração com a baixa qualidade da maior parte dos integrantes da classe política e dos próprios dirigentes do país.
Com base em sua vasta obra de intelectual publicista, acumulada desde o início dos anos 1950 e exercida praticamente até os momentos finais de sua vida, a maior parte reunida em duas dezenas de livros, além das centenas, senão milhares, de artigos publicados nos mais importantes jornais do país desde o início dos anos 1960, é possível extrair um conjunto de cinco regras relevantes para a definição de um processo sustentado de crescimento econômico que, combinado a transformações de ordem estrutural no sistema produtivo e a políticas redistributivas de renda naturalmente exercidas pelo livre jogo dos mercados, bem mais do que pela ação estatal, poderia levar um país como o Brasil, dotado de vastos recursos naturais e relativamente inclinado a organizar-se enquanto democracia de mercado, a consolidar um processo inclusivo de desenvolvimento econômico e social. Estas cinco linhas de ação, não exclusivamente econômicas, poderiam ser sintetizadas por Roberto Campos nas diretivas seguintes de reformas sistêmicas e de políticas públicas transformadoras:
1) Estabilidade macroeconômica: antes de mais nada um ambiente econômico estável – ou seja, sem mudanças abruptas das principais regras do jogo pelo governo – e aberto ao empreendedorismo privado, com o Estado garantindo a manutenção de contratos e da propriedade; política monetária neutra, não expansionista, mas acompanhando naturalmente o crescimento da atividade econômica, sem concentração do crédito nas mãos do governo, ainda que este possa criar mecanismos carreadores da poupança privada para o investimento produtivo, via mercado de capitais funcionando essencialmente em bases competitivas, num país dotado de pouca propensão à poupança como é o Brasil; política cambial ligeiramente competitiva, sem indução a mecanismos automáticos de desvalorização, que podem alimentar a inflação e reduzir a indução a ganhos de produtividade por parte do setor exportador; os juros devem situar-se num patamar o mais próximo possível do equilíbrio de mercado, sem qualquer viés artificial por parte do Estado; a política fiscal deve ser obviamente equilibrada, evitando-se uma carga fiscal excessiva e uma dívida pública exagerada.
2) Competitividade microeconômica: evitar a concentração industrial, como em qualquer outro ramo econômico, combatendo carteis e monopólios, especialmente os estatais; favorecer um ambiente aberto ao ingresso da concorrência estrangeira, inclusive nos setores ditos estratégicos, como finanças, telecomunicações, produtos intermediários e bens de capital. Simplificação da regulação sobre o empreendedorismo.
3) Boa governança: Diminuir os custos de transação associados, por exemplo, ao funcionamento do Judiciário; eliminar a “justiça” trabalhista (causadora de litígios em excesso); diminuir a burocracia e reduzir o peso do aparelho estatal.
4) Alta qualidade do capital humano: concentrar recursos e ação pública na educação fundamental, compulsória, e abrir as universidades a uma gestão responsável, baseada na plena autonomia, mas com cobrança de resultados; alinhar os padrões do ensino básico do Brasil a métodos e mecanismos já testados amplamente no plano internacional; eliminar o isonomismo mediocrizante e introduzir sistemas de mérito na remuneração de um corpo professoral bem treinado, focado igualmente em metas a serem alcançadas pelo conjunto dos estudantes.
5) Abertura ao capital estrangeiro e ao comércio internacional: Não existe melhor fórmula para a modernização tecnológica e a prosperidade do que a plena inserção nos diversos tipos de intercâmbio de uma economia mundial interdependente; os investimentos diretos estrangeiros são a via mais direta para a competitividade nos mercados internacionais. O Brasil é um país notoriamente protecionista, praticamente mercantilista, em pleno século 21, e ganharia enormemente praticando um tipo de abertura unilateral, sem qualquer tipo de barganha, pois os ganhadores seremos nós.

Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira e diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE.

Texto destinado a um livro em homenagem ao diplomata-economista, estadista brasileiro, no ano em que completaria 100 anos, em 17 de abril próximo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Roberto Campos: O violinista do campo de concentracao (1993)

Comentário inicial de quem me enviou este artigo: 


Da  série: “parada obrigatória para pensar”


Este artigo foi escrito  10 anos antes de o PT chegar ao Poder,  O experimento custou caríssimo ao país. Será que, finalmente, aprendemos alguma coisa?
Ricardo Bergamini


Violinista do campo de concentração


Deputado Roberto Campos
O Globo, 18 de abril de 1993



Lembro-me vagamente de um filme de Claude Lelouch em que músicos judeus se enfileiravam para tocar na orquestra do campo de concentração. Com um pouco -de Mozart e Beethoven e -oh! suprema humilhação! - umas árias do antissemita Wagner, escapavam temporariamente à câmara de gás. E talvez conseguissem uma sopa reforçada.

Essa imagem me veio à mente ao saber dos jantares oferecidos a Lula por empresários paulistas. Certamente fantasiam que o sindicalista selvagem possa se transformar no capitalista domesticado. Não se trata, obviamente, de uma conversão na estrada de Damasco, mas talvez de um desvio eleitoral na estrada de Garanhuns. Esperam não apenas ser poupados, mas até arranjar um pequeno cartório. Afinal de contas, o PT apoiou os cartórios de informática e agora parece inclinado a proteger a pirataria das patentes.

Hoje acredito que os únicos esquerdistas que entendem a economia de mercado são aqueles que experimentaram, na carne, a cruel ineficiência do "socialismo real". Não os nossos socialistas de bar, de púlpito ou de palanque.

O sonho presidencial de Lula é um pesadelo para os que sonham com a modernização do Brasil. Seu partido é excludente, pois prega o conflito de classes, coisa obsoleta nas modernas sociedades integrativas. De seu nome, "Partido dos Trabalhadores", infere-se que os outros são partidos de vagabundos...

A modernização brasileira passa pela renúncia dos "ismos": nacionalismo, populismo, estruturalismo e estatismo doenças que no PT têm a irreversibilidade da Aids. As curas são conhecidas: desinflação, privatização, desregulamentação, destributação, liberalização comercial e reinserção no sistema financeiro internacional.

A ideologia petista está seguramente desequipada para todas essas tarefas. Em matéria de inflação, sua propensão é atribuí-la não aos desmandos do Governo e sim à ganância dos empresários. Dificilmente resistiriam à tentação de controlar preços, pelo menos os dos oligopólios e da cesta básica. A privatização é relutantemente aceita como um modismo liberal a ser estudado. "Estamos interessados", diz Lula, "em discutir os setores estratégicos que deverão continuar subordinados ao Estado". Lula, aparentemente, ignora que o que se chama no Brasil de “setores estratégicos” como petróleo, eletricidade e telecomunicações; sempre foram privados (ou estão sendo privatizados) nas sete economias mais poderosas do mundo...

Não é de admirar, aliás, que Lula não-entenda a essencialidade da privatização, quer para a cura da inflação, quer para a retomada do crescimento. O PT é cada vez menos um partido de operários e cada vez mais um partido de funcionários. E estes estão incrustados nas estatais, como carrapatos burocráticos. Para a CUT, a privatização não significa-melhoria da eficiência e redução da corrupção. Veem-na apenas como um ''harakiri" do corporativismo! Também não se pode esperar de Lula o apostolado da desregulamentação. Basta lembrar o apoio do PT à máfia portuária, no caso da extinção do monopólio dos sindicatos.

Pouco se pode esperar, outrossim, em matéria de destributação. Isso pressuporia a redução do tamanho e funções do Estado e o reconhecimento realista de que "não se consegue enriquecer os pobres empobrecendo os ricos" (para lembrar a expressão do líder trabalhista inglês, Hugh Dalton, que aprendeu na década de 50 o que os nossos trabalhistas ainda não aprenderam).

Pouco se poderia esperar também em termos de abertura comercial. É um caso em que empresários e trabalhadores se irmanam na proteção de empregos nas indústrias ineficientes, esquecendo-se da alternativa melhor de geração de empregos por exportadores eficientes. Quanto à reinserção no mercado financeiro internacional, nem é bom falar! O PT sempre foi favorável à moratória e tem muito menos entendimento das funções do FMI do que russos e chineses, os quais deixaram de considerá-lo apenas como o “comitê executivo do capitalismo”, para nele ver uma fonte de recursos e de assistência técnica para a estabilização dos preços.

Não há sinais, outrossim, de que o PT se tenha convencido de que a decretação, como o fizemos na Constituição de 1988, de amplas "conquistas sociais", não elimina a lei da oferta e da procura no mercado. Para trágico desapontamento-da população brasileira, depois das "conquistas sociais", nunca o salário mínimo real foi tão baixo, nunca o nível de desemprego foi tão alto, nunca pior a distribuição de renda. 

À parte Brizola, cujo relógio mental parou há 30 anos, não parece haver, não galeria de presidenciáveis, ninguém mais despreparado que Lula para a responsabilidade presidencial. Brizola dá-lhe um conselho prudente: administrar  primeiro pelo menos uma prefeiturazinha. Talvez no ABC paulista hoje ameaçadas de  desindustrialização, pela fuga" de empresas intimidadas por experiências recentes de sindicalismo selvagem.

Com sua conhecida delicadeza de sentimentos, Brizola mimoseou seu contendor com o apelido de "sapo barbudo''. Isso cria incertezas para os investidores, sobretudo os estrangeiros, que desconhecem as sutilezas de nossa linguagem política. É que não se sabe se se trata de um sapo útil, dos que comem insetos (Bufo terrestris americanus), ou daqueles sapos amazônicos que emitem borrifos venenosos (dendrobotidae). Enquanto isso os investidores suspenderão suas decisões de investimento, prolongando nossa estagflação.

Consta que os empresários paulistas, que tomaram a iniciativa de banquetear Lula, são da indústria de brinquedos. Talvez a esperança deles seja que Lula aprenda a brincar de capitalismo. O mais provável é que estejam desempenhando o papel dos violinistas do campo de concentração.



O conselho de Deng Xiaoping aos chineses é: “Enriquecei-vos”. O conselho de Lula aos brasileiros é: "Sindicalizai-vos e contribuais para a CUT". É o fim da picada ... 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Roberto Campos: o profeta ainda nao vindicado - Marcos Troyjo (FSP)

Roberto Campos assume, na história econômica do Brasil, um papel similar ao que Raymond Aron teve na história política da França: a de um profeta que, tendo razão muito antes do seu tempo, ficou clamando anos contra os equívocos clamorosos de seus contemporâneos, sem conseguir corrigir os erros que continuavam sendo cometidos pelos responsáveis econômicos e políticos de suas respectivas épocas.
Incrível como os true believers permanecem impérvios às evidências mais gritantes de que políticas e ideias anacrônicas continuam sendo aplicadas contra os alertas feitos por esses clarividentes intelectuais.
Paulo Roberto de Almeida

'Roberto Campos e a armadilha da renda média'
MARCOS TROYJO
Folha de S. Paulo, Quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Expoente liberal não previu Estado-capitalismo da era petista

O último dia 9 marcou os 15 anos da morte de um grande pensador brasileiro, o embaixador Roberto Campos. Para quem quiser saber se o Brasil está avançando —na riqueza dos cidadãos e das ideias— vale a pena não apenas revisitar sua grande produção ensaística, mas também os vídeos de suas deliciosas entrevistas.

As idas de Roberto Campos ao programa "Roda Viva" são particularmente importantes. A natureza dos debates registrados nos anos 1990 dá a incômoda impressão de que o tempo não passou. Quaisquer das ideias do grande liberal caberiam no debate do Brasil de hoje. Se isso oferece a dimensão de como a visão de mundo de Roberto Campos estendia-se ao futuro, mostra também como o Brasil ainda se prende aos debates privatização/estatização, liberalização/protecionismo.

Evelson de Freitas-14.fev.00/Folhapress
Sao Paulo - 14.02.00 - foto: Evelson de Freitas/Folha Imagem//O diplomata, economista e membro da ABL Roberto Campos durante a palestra "Cadê o neoliberalismo?", do ciclo "Com Todas as Letras", no auditório da Folha. ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
O diplomata e economista Roberto Campos durante palestra em fevereiro de 2000
Das palavras de Roberto Campos, depreende-se também que ele não conseguiu realizar um sonho —o de ver, ao final da vida, um Brasil liberto de ideias insularizantes. E tornar-se, assim, um país de elevada renda per capita. Para isso, Campos sabia do imperativo de conjugar liberdade, instituições e estratégia.

A necessidade de se postar a liberdade a serviço de um projeto estratégico, convida, de fato, ao repensar de um conceito que continua bastante atual: a chamada "armadilha da renda média". Trata-se do "ponto de inflexão" na trajetória de desenvolvimento dos países, tal como formulou Arthur Lewis, vencedor do Prêmio Nobel em Economia, em 1979.

Ferramenta utilizada para analisar a estagnação da economia brasileira a partir dos anos 1980, a noção de "armadilha" hoje vem sendo empregada para examinar o futuro das economias de renda média da Ásia que experimentaram elevado crescimento do final da década de 1970 até hoje. Mais do que tudo, examinar hoje a "armadilha" traz à tona os verdadeiros elementos que permitem crescimento elevado —e sustentado— ao longo do tempo.

Os pressupostos dessa maneira de analisar o problema são os seguintes: é mais fácil —e rápido— para uma nação deixar um nível de renda baixa para o de renda média do que sair da renda média e ingressar no clube de países de renda elevada. O percurso da renda baixa à média se faz por "imitação" (adaptação criativa); o da média à alta por "inovação" (destruição criativa). Países de crescimento rápido são aqueles cuja economia expande-se a níveis superiores a 3,5% ao ano em ciclos de no mínimo 7 anos.

No limite, países de renda média têm dificuldade de competir com nações de renda mais baixa em produtos de menor valor agregado. Sofrem também com a competição dos mais ricos em bens e serviços mais sofisticados. Em suma, a "armadilha" implica que aqueles nela enredados padecem das limitações do crescimento elevado e rápido, sem, no entanto, haver atingido o grau de especialização da produção e a qualidade de vida das nações mais desenvolvidas.

O Brasil tem como romper as amarras da armadilha da renda média? Não é fácil, pois, como bem aponta o professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia-Berkeley, a desaceleração do crescimento é sinônimo de desaceleração da produtividade total dos fatores (PTF). Este é um parâmetro esclarecedor. Reforça a noção de que os períodos de elevado crescimento da economia brasileira associam-se (1) à vigorosa demanda global por commodities em que o Brasil apresenta vantagens comparativas ou (2) a períodos de proteção do mercado via substituição de importações, forte papel do Estado na composição da demanda e consumo interno voraz.

O primeiro parâmetro nos atrela à expansão da infraestrutura e a uma aquecida demanda por bens agrícolas de países como a China ou a Índia. O segundo aposta numa veloz —e duradoura— construção de capacidades locais, de modo a compensar pela ineficiência e pelos altos custos dos estágios iniciais das políticas de favorecimento de conteúdo local. Além, é claro, de instigar crescentemente a disposição a consumir do cidadão brasileiro. Este segundo parâmetro foi aposta recente das administrações Lula-Dilma, com desastrosas consequências.

Que bom seria utilizar nossas credenciais agrícolas e minerais como base para incrementar os vetores (educação, ciência, tecnologia, inovação) que, de fato, empurram para cima a produtividade total dos fatores. São eles que permitem a um país escapar da armadilha da renda média. Para esse fim, o Estado tem de estar liberado de tarefas pseudorregulatórias para realmente dedicar-se ao fortalecimento dos elementos-chave do desenvolvimento.

Na entrevista ao "Roda Viva" em maio de 1997, Roberto Campos dizia "venho defendendo, há muitos anos, ideias liberais, abertura econômica, internacionalização da economia, o Brasil está marchando nesse sentido. Está longe de ser um país liberal, não somos vítimas do liberalismo, nem sequer somos ameaçados pelo neoliberalismo".

Campos não previu a ascensão do Estado-capitalismo no Brasil de 2003 a 2016. Esta é uma das razões pelas quais seu sonho de um Brasil próspero continua irrealizado.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2016/10/1824021-roberto-campos-e-a-armadilha-da-renda-media.shtml

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

15 anos sem Roberto Campos - Jose Pio Martins (Gazeta do Povo)

15 anos sem Roberto Campos

 Roberto Campos faleceu no dia 9 de outubro de 2001 – portanto, há quase 15 anos, um mês após o atentado terrorista contra as Torres Gêmeas do World Trade Center e o Pentágono. Formado em filosofia e economia, em seus 84 anos de vida ele teve longa carreira de diplomata, embaixador, ministro, senador, deputado e escritor. Era um gênio de cultura enciclopédica, economista preparadíssimo, polemista de lógica implacável, um futurista que via à frente de seu tempo.
Como secretário da embaixada brasileira nos Estados Unidos, Roberto Campos participou, em 1944, da conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, nos Estados Unidos, que criou o padrão-dólar em substituição ao padrão-ouro, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as regras que moldaram a ordem econômica do mundo atual. Sua sabedoria econômica e a enorme competência técnica levaram governos de diferentes matizes ideológicos e partidários a dar-lhe importantes funções e missões.
Foi o criador do BNDES e seu primeiro presidente, autor do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e, como ministro do Planejamento de Castello Branco, foi o principal idealizador e executor das reformas tributária, trabalhista e bancária, do que resultou a criação do ICMS, do FGTS, do Banco Central e da Lei do Sistema Financeiro Nacional. A partir dos anos 80, ele passou a dizer que sua obra fora deturpada e transfigurada por modificações deletérias, inclusive pela Constituição de 1988.
A experiência internacional de Roberto Campos foi consolidada nas funções de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, durante o governo João Goulart, e embaixador na Inglaterra, no período de Ernesto Geisel, retornando ao Brasil em 1982 para se eleger senador pelo estado de Mato Grosso e duas vezes deputado pelo Rio de Janeiro. Roberto Campos era um liberal clássico, defensor da liberdade, dos direitos individuais, da democracia política e da economia de mercado.
Como secretário da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos na época da Segunda Guerra Mundial, desenvolveu a crença de que a intervenção estatal, sobretudo na infraestrutura física, era necessária para promover o desenvolvimento dos países; que a superação da pobreza dependia da abertura ao exterior; e que o governo devia regular as atividades privadas para direcionar os investimentos e o sistema produtivo.
Após longa experiência no setor público, ele se desiludiu com o governo, ao qual acusava de precária conduta moral e baixa capacidade gerencial. Descrente do Estado como agente do desenvolvimento, aderiu ao liberalismo como saída para a superação do atraso. Após acreditar nas ideias e soluções estatizantes de John Maynard Keynes e ver que elas acabariam em desastre, aderiu às ideias de Friedrich von Hayek, para quem a solução está na iniciativa individual, não na intervenção estatal.
Roberto Campos era pessimista com a América Latina, a cujos esquerdistas ele acusava de brigar com a lógica e ignorar a racionalidade econômica, e os ironizava, dizendo: “Se os esquerdistas latino-americanos fossem administrar o deserto do Saara, logo haveria escassez de areia”. Durante décadas, alertou sobre a vocação do governo para se tornar, cada vez mais, um guloso sugador e um péssimo provedor.
Nos tempos modernos, em que homens brilhantes andam raros, reler Roberto Campos é um prazer e um alento contra a mediocridade. Ele se foi há 15 anos, mas suas ideias continuam válidas e atuais.

Fonte: “Gazeta do povo”, dia 30 de setembro de 2016.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Roberto Campos fala sobre o capitalismo do povo, em 1985

O Capitalismo do Povo
*Roberto de Oliveira Campos (11/08/1985)

“A coisa mais importante para os governos não é fazer as coisas que os indivíduos já estão fazendo, ou fazê-las um pouco melhor ou pior; e sim fazer aquelas que no presente ninguém possa fazer” (Lord Keynes).

Para o começo de conversa precisamos de uma revolução semântica. A expressão “setor privado” inspira uma conotação de egoísmo e apropriação. A expressão “setor público” transmite a ideia de generosidade. Isso é injusto e inadequado. Mais correto seria, como sugere o economista paulista Rafael Vechiatti, chamarmos o setor público de “setor coercitivo”, e o privado de “setor voluntário”.

Sempre que se fala em desestatização, surge logo a indagação: de onde virão os recursos para o setor voluntário comprar as empresas do setor coercitivo? Uma resposta complexa é explicar que: 1) o governo não gera recursos e sim administra os recursos hauridos do setor voluntário por tributação ou tarifas; 2) que a poupança do governo é hoje negativa e que seu déficit é coberto mediante sucção da poupança privada; 3) que, na medida em que o Governo corte suas despesas, liberando a poupança privada, esta poderia comprar as empresas do “setor coercitivo”. Estas, aliás, não nasceram do nada e sim de tributos pagos pelo “setor voluntário”. A velocidade de geração de recursos para a privatização dependeria assim apenas da velocidade da redução do déficit público e da liberação das poupanças do setor voluntário. 

Num sentido fundamental, entretanto, o problema é simples e não exige qualquer despesa. Basta uma revolução conceitual, que pode ser feita por definição legal. O importante, num primeiro estágio, é separarmos o conceito de propriedade, do direito de gestão, diferenciando-se “ações de propriedade” de “ações de gestão”. O Governo é gestor das despesas públicas. Mas não precisa ser seu proprietário. As empresas públicas devem ser do público.

É esse o objetivo do projeto de lei número 139 que apresentei ao Senado Federal, em junho de 1983, e que há dois anos ali dorme o sono dos justos, pois as ideias simples são em princípio escandalosas. Nesse projeto se prevê que o governo devolva aos cidadãos a propriedade das poupanças deles arrecadadas, mediante a transferência gratuita de ações integralizadas – boas ou más – que sejam de propriedade da União, suas autarquias e entidade públicas, a um grande fundo de repartição de capital. Todos nós, contribuintes do INPS ou IPASE ou Funrural receberíamos gratuitamente frações ideais desse fundo. Os dividendos eventualmente resultantes seriam creditados aos cotistas, vale dizer, ao universo dos contribuintes, cujos impostos financiaram originalmente a criação dos elefantes estatais. As ações ficariam em custodia num organismo central, que poderia ser a Caixa Econômica Federal, ou qualquer outro órgão suficientemente computadorizado, que manteria escrituração da carteira de ações dos beneficiários. Enquanto mantidas em custódia, essas ações seriam de propriedade, porém não de gestão. O poder de voto e de gestão continuaria, como no presente, nas mãos dos administradores governamentais, até que essas ações doadas se transformassem em ações vendidas ou negociadas, através dos mecanismos normais de Bolsas de Valores ou de licitação de ações. O projeto de lei acima citado prevê que a alienação das ações ou a retirada da custodia se faça gradualmente (à razão de 5% ao ano), a fim de na se congestionar o mercado de valores.

Se a privatização da propriedade pode ser resolvida, resta o problema da privatização da gestão, indispensável para aumento da produtividade global do sistema. Esta continuaria a ser buscada através dos programas correntes de desestatização, por venda em bolsa ou licitação. O importante seria abandonarmos a ideia – usada pelos estatizantes para sabotar a desestatização – de que o Governo tem que reaver integralmente o capital investido. Em muitos casos, os investimentos foram superdimensionados, com custos financeiros tornados proibitivos pela lerda execução, de sorte que seria irrealista esperar vendê-las senão pela rentabilidade real ou esperada do patrimônio, aferida segundo as regras do mercado.

O programa de “repartição do capital” inauguraria imediatamente o capitalismo do povo. O programa de “desestatização” aumentaria gradualmente a eficiência de gestão, além de trazer receitas, que o Governo utilizaria para sanar aflitivas carências básicas – analfabetismo, endemias e epidemias, desnutrição e insuficiência dos serviços básicos de infraestrutura. Não faz sentido o governo ter postos de gasolina quando não tem postos de saúde, ou competir na fabricação de computadores quando não tem dinheiro para cuidar da malária...

Se há hoje uma constatação universal é a da falência do Estado-empresário. Até mesmo os regimes socialistas estão sentindo a rigidez e o desperdício dos sistemas centralistas. No universo das estatais brasileiras, o julgamento da eficiência é dificultado porque, contrariamente ao previsto no Art. 170, Parágrafo 20 da Constituição Federal, elas desfrutam de privilégios de mercado ou vantagens fiscais inacessíveis às empresas privadas. A Petrobrás, por exemplo, é lucrativa, mas desfruta de um monopólio que impede a aferição de eficiência. O Banco do Brasil é lucrativo, mas recebe recursos trilionários da Conta de Movimento do Tesouro a juros simbólicos, e coleta depósitos compulsórios de entidades públicas, sem ter que pagar os altos custos de captação. A Vale do Rio Doce e Usiminas, que operam superavitariamente e sem subsídio, em mercados competitivos, figuram talvez entre as únicas empresas sobre cuja eficiência não pairam dúvidas. Os grupos Telebrás e Eletrobrás não podem ser julgados porque operam em condições monopolísticas, caso em que o lucro pode resultar de manipulação tarifária e não eficiência competitiva.

O importante é acentuar que o Ministro Dornelles e Roberto Gusmão, que pregam a privatização por sentirem na carne os abusos dos elefantes enlouquecidos do setor coercitivo, não precisam se preocupar inicialmente com a carência de recursos para a privatização. Podemos privatizar imediatamente a propriedade por transferência gratuita, e, mais gradualmente, o voto e a gestão, pela venda convencional das ações à medida que o mercado as absorva. Mas mesmo o primeiro passo tem consequências psicológicas importantes. Sentindo-se proprietário, ainda que em frações minúsculas, das empresas públicas, os contribuintes se interessariam em fiscalizá-las, na esperança de algum dividendo, e para isso se organizariam em associações civis, a fim de se manifestarem nas assembleias gerais. Os gestores, sentindo-se também coproprietários, ainda que microscópios, talvez deixassem de considerar os dinheiros públicos um bem de ninguém. E o lucro da empresa passaria a ser considerado o que realmente é, um prêmio do desempenho e não uma secreção de cupidez capitalista. É uma perfeita imbecilidade dizer-se que não se pode privatizar as estatais porque elas são “patrimônio do povo”. Precisamente por isso é que devem ser privatizadas, na forma indicada no projeto de lei número 139. Para que sejam do povo. Hoje são dos tecnocratas, que às vezes delas abusam, ou dos políticos, que as desfiguram. O povo não tem vez....

*Defensor apaixonado do liberalismo. Economista, diplomata e político também se revelou um intelectual brilhante. De sua intensa produção, resultaram inúmeros artigos e obras como o livro A Lanterna na Popa, uma autobiografia que logo se transformou em best-seller. Foi ministro do Planejamento, senador por Mato Grosso, deputado federal e embaixador em Washington e Londres. Sua carreira começou em 1939, quando prestou concurso para o Itamaraty. Logo foi servir na embaixada brasileira em Washington, e, cinco anos depois, participou da Conferência de Bretton Woods, responsável por desenhar o sistema monetário internacional do pós-guerra.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Autonomia do Banco Central do Brasil: proposta de Roberto Campos (anos 1980)

Recebido via circular do economista Ricardo Bergamini, do Grupo Pensar+:

Propostas de Roberto Campos (anos 1980)
Autonomia do Banco Central do Brasil

Quando propusemos em, 1965 - o professor Bulhões e eu -, a criação do Banco Central, como controlador e guardião da moeda, jamais imaginávamos que ele se transformaria em um grande banco rural, cúmplice ao invés de disciplinador da expansão monetária. Teve suas funções ampliadas e sua independência reduzidas. É preciso retorná-la à sua concepção original.

Outro exemplo de perversão institucional é o open market. Concebido originalmente como instrumento de controle monetário, tornou-se um grande acelerador da velocidade de circulação de vários tipos de quase-moeda. A regulação da base monetária perdeu eficácia, porque pouco adianta controlar o estoque de meios de pagamento sem controlar a velocidade do fluxo de quase–moeda. Com o open market conseguimos o feito singular de criar um mercado secundário sem um mercado primário!

Já que estamos neste tema, que dizer das excruciantes taxas de juros no segmento livre do mercado, que afligem nossas empresas? Ab initio, descartemos duas soluções que nada solucionam:

- O tabelamento dos juros; e
- A nacionalização dos bancos privados.

A primeira causa dos juros altos é a “expectativa” de inflação e de desvalorização cambial, que alimenta a inflação e dela se realimenta. Em segundo lugar a bizarra coexistência de taxas negativas para dois terço dos empréstimos e taxas explosivas para o terço restante, pois que a isso se limita o segmento livre de mercado. Este mercado não é caldeira; é a válvula de escape da excessiva pressão da procura.

Eliminando o crédito subvencionado, descobriríamos o milagre aritmético da média: os juros tenderiam a baixar pela diminuição da procura e pela mudança de expectativa! E o mercado bancário se tornaria mais competitivo, pois os bancos não mais precisariam ser racionados, dado que o governo poderia melhor controlar a base monetária, e cessaria de pressionar o mercado financeiro que reflete fielmente o excesso de demanda de recursos por parte do setor público, quer federal quer estadual.

Nota de Ricardo Bergamini: Apesar de ter sido escrito na década de 1980 se ajusta perfeitamente aos dias atuais, sem alterar uma única palavra.

sábado, 7 de novembro de 2015

Roberto Campos e Eugenio Gudin: duas sumidades economicas desprezadas no Brasil - Ricardo Bergamini

Roberto Campos por ele mesmo:

"Estou administrando a velhice por absoluta falta de alternativa", disse o economista, diplomata e político Roberto Campos ao completar 80 anos. Ontem, já a caminho de fazer 82, em abril próximo, fez seu discurso de despedida na Câmara de deputados, ressaltando que o Brasil continua com os mesmos problemas de quando iniciou sua vida parlamentar, como senador, em 1983. Naquele tempo, disse ele em entrevista aos meios de comunicação, o país vivia uma recessão e uma desvalorização da moeda. Agora, é tudo exatamente igual. Foram 16 anos de "mesmice" em que nada mudou, constata.

Comentário de Ricardo Bergamini:

Cabe lembra que esse gênio Roberto Campos, juntamente com o outro gênio mais antigo Eugênio Gudin fizeram todas as propostas econômicas para tirar o Brasil da abissal escuridão em que sempre viveu, e humildemente reconheceram os seus fracassos e receberam como prêmio dos brasileiros o desprezo, a humilhação e o deboche.

Cabe lembrar que nesse seu discurso de despedida do Congresso Nacional somente havia três parlamentares presentes, sendo esse o destino de todos os gênios brasileiros em todas as áreas do saber e do conhecimento.

Em economia sabemos que a moeda má expulsa a boa. Da mesma forma na sociedade a estupidez coletiva brasileira expulsa os sábios e os gênios. Maldita nação.

Ricardo Bergamini
Em 6/11/2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Roberto Campos: as melhores frases sobre um pais sem palavras...

Algumas frases do diplomata, economista, grande burocrata, estadista, ministro, parlamentar (nessa ordem), mas sobretudo um pensador em favor do Brasil.
Neste site: 
http://kdfrases.com/autor/roberto-campos

No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla.
O governo não passa de um aglomerado de burocratas e políticos, que almoçam poder, promoção e privilégios. Somente na sobremesa pensam no ‘bem comum’
A diferença entre a inteligência e a estupidez é que a inteligência é limitada.
No meu dicionário, 'socialista' é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros...
Nossas esquerdas não gostam dos pobres. Gostam mesmo é dos funcionários públicos. São estes que, gozando de estabilidade, fazem greves, votam no Lula, pagam contribuição para a CUT. Os pobres não fazem nada disso. São uns chatos...
Continuamos a ser a colônia, um país não de cidadãos, mas de súditos, passivamente submetidos às 'autoridades' - a grande diferença, no fundo, é que antigamente a 'autoridade' era Lisboa. Hoje é Brasília.
A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor.
Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje acho que o que dá para fazer é evitar o mal.
Os esquerdistas, contumazes idólatras do fracasso, recusam-se a admitir que as riquezas são criadas pela diligência dos indivíduos e não pela clarividência do Estado.
A rés publica se transformou em cosa nostra.
Tributar pesadamente, tirando do mais capaz e do mais motivado para dar ao menos capaz ou menos disposto, em geral redunda  em punir aqueles, sem corrigir estes.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Privatizar a Petralhabras: a unica solucao para salvar a Petrobras -Rubem Novaes

Clarao que não vai ocorrer e não apenas porque o governo é estúpido, mas é que os chefes da quadrilha não podem permitir, pous do contrário se revelaria toda a extensão dos seus crimes. 
Paulo Roberto de Almeida

A Petrobras é do Povo
Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou“. (Victor Hugo).
Petrobras: edifício-sede no Rio de Janeiro
Petrobras: edifício-sede no Rio
d
É sabido que não bastam a correção e a qualidade de uma proposta para que esta encontre respaldo político para sua materialização. Quem quer que, até bem pouco tempo, falasse em privatizar a Petrobras no ambiente parlamentar, por exemplo, seria recebido com desdém, senão com repulsa, pela quase totalidade dos congressistas. Agora, entretanto, diante dos descalabros havidos na administração da empresa durante os últimos governos, esta não é mais a realidade. Administração pública da Petrobras passou a ser sinônimo de incompetência gerencial e corrupção desenfreada em proveito de um projeto de poder. A população clama por fortes mudanças, embora sem saber bem o rumo a seguir.
Pois bem, em 30/01, o Fórum do “Estadão” publicou sintética proposta minha de privatização de seguinte teor: “A Petrobras transformou-se num monumental abacaxi para a União e para o BNDES, seus grandes acionistas. A União provavelmente terá de honrar parcela de suas dívidas e recursos terão de ser injetados na empresa para o cumprimento de obrigações financeiras e de investimentos. É chegada a hora, portanto, de promover a privatização da empresa, transferindo, gratuitamente, todas as ações em poder do setor público para o povo brasileiro, com base nos CPFs devidamente habilitados. O mercado se encarregaria, com o correr do tempo, de definir uma nova estrutura de controle, livre da ingerência e ganância de nossos governantes de plantão. Uma expressiva valorização das ações da empresa seria decorrência natural do processo de privatização. É óbvio que a proposta não é de fácil nem de imediata implementação, mas deve ser encampada como um objetivo a ser alcançado no médio prazo, após afastados impedimentos legais e financeiros.”
Como era de se esperar, surgiram críticas respeitáveis, muitas delas dirigidas ao aspecto da gratuidade embutida na proposta de transferência das ações ao público. É certo que a doação para todos os detentores de CPFs visa a conquista de apoios políticos e poderia ser substituída por venda em leilão. Mas é importante lembrar que não se deve tomar o Estado como algo acima dos cidadãos, possuidor de vontade e independência próprias. O Estado – União, Estados e Municípios – nada mais é que um meio para realizar objetivos colimados pela população. Seus direitos e obrigações são de segunda ordem, derivados de um poder popular que se consubstancia no voto e no pagamento de impostos financiadores das despesas públicas. Quando governantes gastam, com muita propriedade diz-se que o dinheiro sai do meu, do seu, do nosso bolso. Quando governantes roubam, o dinheiro também sai do meu, do seu, do nosso. E é isso mesmo. O Estado é apenas uma ficção jurídica que nos representa. Nós, cidadãos contribuintes, é que somos a realidade. Assim sendo, já que nós cidadãos-contribuintes não estamos satisfeitos com a administração da Petrobras através da União, que, simplesmente, nos devolvam as ações para que se encontre um rumo melhor para a empresa.
Outro questionamento está ligado à desorganização e riscos que poderiam advir da estrutura pulverizada de controle decorrente da distribuição de ações por CPFs. Alega-se que as ações poderiam acabar em mãos indesejáveis de pessoas ou instituições mais próximas às camadas menos informadas da população. Igrejas populares e Partidos políticos com boa capilaridade teriam vantagens em “raspar” as ações por preços muito baixos e, certamente, direta ou indiretamente, não seriam bons gestores da Petrobras.
Ora, não será desta forma que uma nova estrutura de controle será formada. De início, é verdade que alguns blocos de ação surgirão do trabalho de profissionais do mercado que se disporão à tarefa de mascates, correndo o país e convencendo instituições, tipo Igrejas, a colaborar na sua lida. Mas as etapas realmente importantes surgirão quando, em leilões transparentes em Bolsa de Valores, surgirem grupos capazes de bem administrar a empresa explicitando propostas de compra. Em suma, pouco importa a distribuição inicial das ações na conformação final dos novos controladores. Desde que não existam restrições à livre negociação de ações, é possível prever que, ao cabo, estejam no controle aqueles dispostos a pagar o melhor preço. E estes, normalmente, são os capazes de obter os melhores resultados para a empresa.
Contestadas, então, as críticas mais importantes, cabe dizer apenas que esta nota (e a proposta nela contida) não tem qualquer pretensão de originalidade. Brasileiros ilustres, como Eugênio Gudin e Roberto Campos, mostraram, por muitas décadas, os malefícios do monopólio estatal e a conveniência da privatização da Petrobras. Mais recentemente, Rodrigo Constantino, em seu livro “Privatize Já”, voltou ao tema, acrescentando importantes argumentos ao assunto. Que sirva então de mais um carvãozinho nesta fogueira que se transforma em incêndio, na medida em que novas revelações são feitas sobre o “petrolão”.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Politica externa brasileira: um debate envenenado desde o comeco

O "debate" começou, como se sabe, pela entrevista do Senador Ricardo Ferraço à revista Veja, aqui sinalizada:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/senador-ricardo-ferraco-vivemos-um.html

Depois, o chanceler paralelo, ou talvez o chanceler oficioso, como querem alguns, tentou responder ao senador, com palavras muito duras, o que foi aqui registrado:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/debate-sobre-politica-externa-e-seu.html

Agora, um economista liberal responde ao assessor presidencial, neste link, também transcrito abaixo.



03/07/2014
 às 20:29 \ ComunismoLiberdade de ImprensaPolíticaSocialismo

Marco Aurélio Garcia: apenas um bom aluno de Gramsci, mas com enorme poder de estrago!

Marco Aurelio Garcia
A Argentina e a Venezuela são dois países altamente democráticos, completamente distantes de qualquer tirania autoritária, e com uma imprensa livre, crítica e independente. Essa é a hilária mentira que Marco Aurélio Garcia conta, e ainda temos que prender o riso!
O “chanceler de fato”, responsável pela desgraça de nossa política externa totalmente ideologizada, escreveu uma resposta à entrevista de Ricardo Ferraço publicada nas páginas amarelas de Veja semana passada. Penso no consumo de óleo de peroba após um texto desses. Diz o filhote de Gramsci:
Tal qual uma Mãe Dinah das relações internacionais, Ferraço prognostica que Argentina e Venezuela, apesar de seus Governos terem sido eleitos pelo voto popular, caminham para uma ditadura. Menciona o cerco à imprensa nos dois países, ocultando, por exemplo, que em Caracas e Buenos Aires os principais órgãos de imprensa – El Nacional, El Universal, Clarín e La Nación, respectivamente – são há anos duros opositores dos governos de Nicolás Maduro e de Cristina Kirchner.
Oh, God! Há “excesso de democracia” na Venezuela! Bem, se o sujeito em questão elogia o modelo cubano, podemos ter em mente o tipo de “democracia” que ele defende, não é mesmo? Os veículos de imprensa citados são perseguidos há anos, como o mais desatento dos leitores sabe. A imprensa é alvo dos mais absurdos ataques por parte desses governos.
Fico a pensar: quem que o “top top” quer enganar? Não é possível que alguém acredite nele. Nem mesmo os típicos leitores desse site chapa-branca. Mas o cara-de-pau continua:
Já que o “comunismo” deixou de ser fantasma, como nos tempos da Guerra Fria, Ferraço levanta como novo espantalho o “bolivarianismo”, que não explica o que é.
Como é? Gramsci na veia! Como alguns sabem, Garcia é o ideólogo gramsciano por excelência no Brasil, um dos principais responsáveis pela disseminação da tática comunista de “comer pelas beiradas”, dominar a cultura, produzir dissonância cognitiva e doutrinação ideológica, solapar a democracia “burguesa” de dentro (e tem tido grande sucesso, não podemos negar).
Ora, bolivarianismo precisa ser definido? É a bandeira da própria esquerda jurássica que o chanceler apóia! O tal “socialismo do século 21″, nas palavras do falecido Hugo Chávez. Esses que repetem que o Muro de Berlim já caiu são os mais canalhas, pois querem convencer os leigos que falar em ameaça vermelha ou comunista é coisa de paranoico preso no tempo, enquanto são eles mesmos que ainda pregam exatamente essa ideologia carcomida e fétida, ignorando a queda do Muro!
Espantalho? O sonho de todo comunista é ninguém mais acreditar na ameaça comunista. Assim ele pode avançar em paz, sem resistência, sem obstáculo, já que “não existe”. Não? E a Venezuela? Bolívia? Equador? Argentina mesmo? Todos caminhando cada vez mais na direção de Cuba, uma ditadura comunista há mais de meio século! Hei, mas o comunismo… acabou. Onde? Na Coreia do Norte?
Garcia escreve:
Ricardo Ferraço utiliza informações a seu gosto. Desconhece a ação conjunta que os Governos do Brasil e da Bolívia têm desenvolvido nos últimos anos no combate ao narcotráfico. Prefere insultar o Presidente Evo Morales que deve seu mandato ao voto popular.
Bom, vamos então citar um trecho do ótimo livro recém-lançado, A vida secreta de Fidel, de ninguém menos que Juan Reinaldo Sánchez, que foi guarda-costas particular do ditador cubano por 17 anos, gozando do círculo seleto de sua confiança:
Nada menos que um enorme tráfico de drogas era praticado no topo do Estado! [...] Foi como se o céu caísse em cima da minha cabeça. Estupefato, incrédulo, petrificado, eu preferiria acreditar que tinha ouvido mal ou que estava sonhando, mas infelizmente era verdade. Em poucos segundos, todo o meu mundo, todos os meus ideais, ruíram. Entendi que o homem a quem eu sacrificava minha vida desde sempre, el líder que eu venerava como um deus e que, a meus olhos, era mais importante que minha própria família, estava envolvido no tráfico de cocaína a ponto de comandar operações ilegais como um verdadeiro mafioso. [...] Para ele, o narcotráfico era uma arma de luta revolucionária antes de ser um meio de enriquecimento ilícito.
Isso, não custa lembrar, de uma testemunha presencial, que escutou do próprio Fidel uma conversa sobre o assunto com seu ministro de confiança, que logo depois foi oficialmente “julgado” (em quatro dias, sob controle do próprio ditador) e condenado por tráfico, como bode expiatório, e fuzilado, para não deixar rastros. Basta pensar nas Farc para constatar que os comunistas latino-americanos jamais tiveram problemas com o tráfico de drogas, visto por eles como fonte legítima de recursos “revolucionários”.
Por fim, Garcia mostra sua visão rousseauniana de democracia e “interesse nacional”, deixando claro que não tem nenhum apreço por limites constitucionais impostos ao estado. Para ele, se a “presidenta” foi eleita, ponto final: ela é o interesse nacional em pessoa, e pode tudo:
O interesse nacional que alguns gostam tanto de citar para justificar posições político-partidárias não é fruto de mentes supostamente iluminadas. É, antes, expressão da vontade geral e esta, em uma democracia, resulta da expressão popular que as urnas periodicamente recolhem. O resto é apagão.
Apagão é ser governado por gente assim, extremamente perigosa, autoritária, que usa a mentira como tática deliberada o tempo todo. Um defensor da ditadura mais antiga e cruel do continente afirmar que preza a democracia é algo tão chocante que produz um efeito anestésico em muitos, confundindo suas mentes. Um homem que tece os maiores elogios a Fidel Castro e logo depois acusa o outro de não ser democrata é um espanto tão grande que paralisa o raciocínio de muitos.
Marco Aurélio Garcia não mereceria um segundo de meu tempo, não fosse o “chanceler de fato”, responsável pela completa destruição de nossa política externa e do Mercosul, hoje apenas uma camisa de força ideológica que tanto prejudica a economia de nosso país.
Só nos resta refrescar a memória com a surra intelectual que o gramscista levou de Roberto Campos no programa Roda Viva: http://www.youtube.com/watch?v=tgTcREyhEcE

Rodrigo Constantino
Retomo:
Bem, como diriam os cubanos, "a luta continua", e, no nosso caso, "o debate continua", mas a impressão que eu tenho é que não se trata bem de um debate, mas de uma troca de acusações.
Creio ser importante retornar à entrevista original do Senador Ricardo Ferraço, às Páginas Amarelas de Veja, e verificar cada uma de suas críticas à política externa do governo petista, para ver se ele está errado ou certo, nos seus argumentos.
Muitos deles podem ser subjetivos, ou impressionistas, como o de "apagão" na política externa, uma vez que se acredita que o Itamaraty não esteja dormindo, ou apenas entregando flores.
Mas cabe sim verificar o que está sendo feito.
Vemos, por exemplo, uma contínua erosão das liberdades democráticas e um profundo desrespeito aos direitos humanos num país membro do Mercosul, e temos o direito de perguntar o que o Itamaraty está fazendo em relação a isso.
Talvez coubesse lembrar um pouco a cláusula democrática no Mercosul, que foi acionada em toda a sua potência contra a destituição legal de um ex-presidente paraguaio, ao passo que no caso da Venezuela nada está sendo feito, pelo menos publicamente.
Talvez seja o caso de invocar a imagem dos três macacos...
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 31 de julho de 2012

Friedman: o baixinho mais influente do pensamento econômico do seculo XX

OK, eu sei que o teórico mais influente do pensamento econômico no século XX foi o "altinho" John Maynard Keynes, mas este era um semi-aristocrático pensador, ligado ao mundo das artes e da alta finança, e talvez não tenha conhecido a economia real dos homens que trabalham com seus braços e suor, como fez Milton Keynes, filho de imigrantes pobres que se converteu do New Deal ao liberalismo clássico, que ele enriqueceu com seu pensamento inovador. Keynes saiu da economia neoclássica -- com algumas tinturas de socialismo fabiano -- para o intervencionismo salvacionista, que Friedman rejeitava com base em seus raciocínios e a experiência de vida, ao registrar tantos fracassos do dirigismo estatal.
Um homem que ainda não triunfou totalmente, mas que vai triunfar ainda mais, ao assistirmos por ele ao fracasso dos experimentos keynesianos. 
Alguns anos atrás, eu também escrevi uma homenagem a ele e a Roberto Campos, o economista brasileiro provavelmente mais próximo das ideias de Milton Friedman; ver aqui: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1686FriedmanBobFields.pdf
Paulo Roberto de Almeida 



Monetarism and the Man
Remembering Milton Friedman on his 100th birthday
The City Journal, 31 July 2012 (Summer 2012, vol. 22, n.3)

After Milton Friedman’s death on November 16, 2006, the diminutive intellectual cast such a long shadow that even as staunch an adversary as Paul Krugman begrudgingly remembered him as “a man of intellectual courage who was one of the most important economic thinkers of all time, and possibly the most brilliant communicator of economic ideas to the public that ever lived.” But upon his birth to immigrant parents 100 years ago today, the chances of Friedman’s becoming an academic, let alone one of the century’s most influential, seemed remote. And yet it’s Friedman’s obscure beginnings—not the months he spent on the bestseller list in 1980 or the day in 1976 when he shook hands in Stockholm with the King of Sweden—that best explain his impact.
Milton Friedman changed the world. The University of Chicago professor touted floating exchange rates, an end to wage-and-price controls, legalization of private gold ownership, dramatic tax reductions, and an end to conscription. And all of these things came to pass. Friedman the monetarist warned in the 1960s of “inflationary recessions” and rejected a tradeoff between inflation and unemployment presumed by the Phillips Curve. Fellow economists laughed at him before the 1970s laughed at them. Fledgling market economies from Europe to South America to Asia relied on Friedman as a guide.
How did this small man make such big changes? The answer lies as much in his story as it does in his solutions.
Friedman’s economics worked because he had worked. Friedman explained to fellow economists in the 1950s that “theory is to be judged by its predictive power for the class of phenomena which it is intended to ‘explain.’” He rejected ideas that worked in smart men’s heads but failed in working men’s lives. Former Obama cabinet member Austan Goolsbee (Skull & Bones ’91) can afford his bad ideas; his most famous forebear on the University of Chicago faculty couldn’t. The future Nobel Prize winner scooped ice cream in his parents’ in-home parlor, sold fireworks by the roadside, waited tables in exchange for lunch, and peddled clothing and books to his fellow Rutgers undergraduates. Friedman came from the real world. So did his economics.
Friedman sought to persuade adversaries, not demonize them. Friedman shifted from New Dealer to libertarian. If he could be won over, then others could, too. He converted without condemning, and he debated adversarieswith unfailing patience and graciousness. When conversing with progressives, the modern-liberal-turned-classical-liberal found it easier to offer counterproposals (e.g., a negative income tax to replace welfare) than to use a word—“no”—that progressives don’t appreciate. “If someone wants to achieve something, it’s easier to say ‘here is a better way of achieving your objectives’ than to say ‘you’re wrong,’” Friedman’s son David, also an economist, told me. “He made arguments that people found hard to answer. He made them politely, and without implying that the people who disagreed with him were stupid or wicked.”
A product of the concrete jungle didn’t retreat into an idealist’s fantasyland. Friedman was an odd creature: a pragmatic libertarian. Instead of arguing for the privatization of schools, a position that might have made him feel good but would have done no public good, he advocated vouchers, so that parents could choose among competing public and private institutions. Some communities adopted the policy. His arguments appealed to his opponents’ sympathies, which left friends and foes exasperated. Consider some quotes from his fascinating, lengthy 1973 Playboy interview: “Under free enterprise, a person who has a prejudice has to pay for that prejudice”; “the minimum-wage rate is the most anti-Negro law on the books”; “you tax the people of Watts to send children from Beverly Hills to college.” In life and work, the ever-practical Friedman approached the world as it was. He earned a state scholarship to a state college, worked for the federal government during Franklin Roosevelt’s presidency, and propagated his ten-part 1980 documentary series, Free to Choose, via public television.
“If my fellow citizens are going to be so foolish as to establish these [programs], there is no reason I shouldn’t benefit from them,” he explained to the Associated Press on the eve of Free to Choose’s PBS premiere. “I was long an enemy of rent control, but that did not prevent me from living in a rent-controlled apartment.”
The son of immigrants appropriately judged ideas on merit, not connections. At a time when pundits often echo party talking points, Friedman’s principled public intellectualism was bracing. He opposed the Iraq war, the drug war, and the draft. He didn’t mute his criticisms of Richard Nixon, Ronald Reagan, or even Fed chairman Arthur Burns—his former professor—when they ran afoul of his principles. Friedman embodied the Aristotelian wisdom: “Where both are dear, it is right to prefer truth to friends.” Good ethics proved a good career move. When honesty talks, people listen.
Friedman spoke the everyman’s language so well because it was his native tongue. Economists do numbers; words, not so much. Friedman spoke with the authority, but not the pedanticism, of an academic. “Professors sometimes have the habit of writing only for other professors, but your book is written in a way that the man on the street will understand and get your message,” Senator Barry Goldwater observed on the eve of Capitalism and Freedom’s 1962 publication. Every three weeks, from 1966 to 1984, Friedman descended from the ivory tower, and readers ascended from the style section, to tackle complex matters accessibly in his Newsweek column. So relaxed with his ideas was Friedman that he spoke to viewers of Free to Choosewithout a script. TV, glossy magazines, pamphlets—Friedman took his ideas to the people. The banker’s suit and geeky glasses may have deluded some into thinking that he was raised in an economics department; he grew up in Rahway, New Jersey. Coming from the masses made him better equipped to speak to them.
Ironically, Friedman regarded biography as nothing; ideas, everything. Behind the scenes, Friedman confessed to the Free to Choose producers that he was “unhappy with any [narrative] string that is not primarily intellectual.” The proposed reliance on the star’s compelling life story made him uneasy in the extreme. The documentary had to be about his ideas, not him.
That was part of his decency. But in reflecting on the economist’s influence on the 100th anniversary of his birth, biography matters. A good man is the best salesman of great ideas. Knowing how Milton Friedman remade the world requires knowing Milton Friedman.