Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 2 de agosto de 2014
MAG: "Querem desacreditar a politica externa" (companheira)! Uau! Que malvados...
Eles insistem em querer "nos" desacreditar, só porque apoiamos Cuba, Venezuela, Rússia, China, só porque somos contra as arrogantes potências do capitalismo hegemônico, só porque conduzimos uma diplomacia independente, aliás até independente do Itamaratty, só guiada por nossos princípios, causas e objetivos. Só por isso.
Sempre se pode confirmar as expectativas, para uns piores, para outros as melhores possíveis.
Nunca Antes, ou Nunca Mais?
Paulo Roberto de Almeida
Marco Aurélio Garcia: "Querem desacreditar a política externa brasileira"
RODRIGO TURRERER
Revista ÉPOCA, 01/08/2014
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais diz que as críticas à diplomacia brasileira são eleitoreiras e movidas por ideologia. Apesar de despachar ao lado da presidente Dilma Rousseff, ele nega ser o chanceler de fato do Brasil
Marco Aurélio Garcia é uma das figuras mais controversas do Palácio do Planalto. Nos 12 anos em que ocupa o cargo de assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, foi a vitrine predileta das pedras atiradas pela oposição nos inúmeros momentos em que a política externa brasileira esteve na berlinda. No episódio mais recente, o Brasil foi chamado de “anão diplomático”[1] por um porta-voz do governo de Israel[2] e recebeu críticas por ser seletivo nos alvos de suas condenações. Garcia saiu em defesa da posição brasileira. “Não há nenhum relativismo moral na política externa do Brasil”, afirma nesta entrevista.
ÉPOCA – A condenação feita pela diplomacia brasileira às ações de Israel contra o Hamas soou como uma jogada eleitoral, movida apenas por ideologia. Como o senhor avalia essa posição?
Marco Aurélio Garcia – É uma crítica eleitoral, movida por ideologia.
ÉPOCA – Então não há uma influência ideológica na política externa brasileira?
Garcia – Há uma influência da ideologia da Constituição. Seguimos as dez alíneas do artigo 4º da Constituição Brasileira. Querem desacreditar a política externa brasileira e fazem essa crítica. É normal, vivemos numa sociedade democrática, e cada um pode dizer o que quiser. E isso tem sido dito com certa exuberância.
ÉPOCA – O Brasil não errou ao omitir os ataques do Hamas e ao se precipitar em chamar de volta o embaixador em Israel?
Garcia – O Brasil se expressou em duas notas. Uma no dia 27 de julho, em que fez uma crítica equilibrada aos dois ataques, de mísseis do Hamas contra Israel e dos bombardeios e da invasão da Faixa de Gaza por Israel. O agravamento e a deterioração da situação levaram o Brasil a focar em Israel na segunda nota. A convocação do embaixador para consultas é um procedimento diplomático clássico diante de situações graves. O Equador já tomara essa decisão. Outros três países decidiram o mesmo, na esteira da posição brasileira. O Chile não só chamou o embaixador, como interrompeu as relações comerciais com Israel. O Peru convocou seu embaixador, e El Salvador também. São países com perspectivas políticas muito distintas. Tanto o Chile quanto o Peru fazem parte da Aliança do Pacífico, tão festejada aqui no Brasil.
ÉPOCA – O Brasil chamou a ação de Israel de desproporcional, mas calou sobre os ataques do Hamas, sobre a guerra civil na Síria, sobre a ação da Rússia na Ucrânia. Não há um “relativismo moral” nessa postura?
Garcia – Não. Em absoluto. Não há nenhum relativismo moral na política externa do Brasil. Nossa política externa está regulada por uma série de princípios, um dos quais é o respeito aos direitos humanos, um preceito constitucional. Temos de aplicá-lo indistintamente. No caso da Síria, nossa posição não é diferente da posição adotada pelos países da Europa, pelos Estados Unidos e pela Rússia. A menos que alguém quisesse que defendêssemos a intervenção militar na Síria. Os Estados Unidos chegaram a cogitar isso, mas depois recuaram, numa atitude de sabedoria política. É preciso ter muita serenidade nessas questões. No caso da Síria, basta olhar os votos do Brasil no Conselho de Direitos Humanos na ONU. Sempre manifestamos uma grande preocupação com a degradação da situação na Síria. Por extensão, tratamos de expressar nossa preocupação com a Faixa de Gaza. O que acontece na Faixa de Gaza, hoje, é o que aconteceu no começo da guerra na Síria. De dezenas e centenas de mortos em alguns dias podemos chegar a milhares de mortos, algo absolutamente intolerável.
ÉPOCA – Como justificar o silêncio e a brandura da posição brasileira em casos como a prisão de um opositor legítimo na Venezuela ou a derrubada do avião da Malaysia Airlines por separatistas na Ucrânia?
Garcia – Aqui você parte de uma premissa que eu não sabia: que o avião foi derrubado por separatistas. Essa é uma suposição. É muito provável, mas um governo não pode operar com caráter especulativo, como é normal num órgão de imprensa. É preciso entender que há uma seletividade na leitura das declarações do governo brasileiro. A presidenta deu uma declaração dizendo que o Brasil exigia o esclarecimento imediato do que acontecera nos céus da Ucrânia, um crime abominável. Há todas as evidências de que não foi um acidente normal. Mas ela exigiu que isso fosse esclarecido. Sobre a Venezuela, o deputado Leopoldo López foi preso com um mandado judicial. Mesmo assim, reconhecíamos na ocasião que havia uma crise grave na Venezuela, de instabilidade. Razão pela qual participamos ativamente para estabelecer um diálogo entre governo e oposição. Esse trabalho se desenvolveu com resultado positivo. Mas não peçam para o Brasil adotar um comportamento que outros países têm, ao distribuir seletivamente certificados de boa conduta para tal ou qual país. O Brasil não se mete nos assuntos internos de outros países. A não ser para ajudar, quando entendemos que há possibilidade de bons resultados para a paz e a preservação da democracia.
ÉPOCA – O Brasil tem buscado parcerias com países da África, da Ásia e do Oriente Médio. O efeito colateral disso foi se aliar a ditaduras. Como justificar essa aproximação?
Garcia – O presidente George W. Bush era um grande parceiro do Brasil. O Brasil é uma dos poucas nações que mantêm relações diplomáticas com todos os países que integram a ONU. Citei Bush para mostrar que o Brasil preserva um espectro muito amplo de relações externas. Deve ser o caso de um país com o tamanho e a relevância do Brasil. Bush esteve duas vezes no Brasil, coisa que não fez com outros países da América Latina. Quando Obama fez seu tour pela América Latina, visitou três países, um deles o Brasil. Isso não nos impede de ter relações com outros países.
ÉPOCA – A política externa brasileira se apequenou e perdeu relevância no governo Dilma?
Garcia – Não, de forma alguma. O Brasil não perdeu relevância. Mas o mundo mudou. Nesse período, tivemos um deslocamento maior para questões de natureza econômica. Talvez por causa dos efeitos da crise iniciada em 2008. Os temas econômicos ganharam, num período de crise, relevância muito maior. Para quem diz que a presença internacional do Brasil diminuiu, digo: diminuiu tanto que elegemos o diretor da OMC (Roberto Azevêdo, presidente da Organização Mundial do Comércio), da FAO (José Graziano da Silva, presidente da Organização Mundial da Agricultura), e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Paulo Vannuchi). Um país que está tão depauperado do ponto de vista de sua presença internacional não teria recolhido os êxitos que recolheu. No caso da OMC, a maioria dos países desenvolvidos se opôs à candidatura brasileira. Ele foi eleito com os votos dos países muitas vezes exorcizados como má companhia para o Brasil.
ÉPOCA – O Brasil deverá investir US$ 38 bilhões no Banco de Desenvolvimento dos Brics. Não é um montante excessivo?
Garcia – Não. A participação num megabanco de fomento garante uma alavancagem de recursos muito forte. Isso constituirá um impulso a investimentos de grande importância no Brasil e noutros países em que o Brasil tem interesse econômico. Os analistas que criticam o aporte brasileiro, ou são ignorantes ou agem de má-fé. Eles não criticam o Banco Mundial, o BID, a Corporação Andina de Fomento, instituições em que o Brasil investe e de cuja capitalização participa. Essas pessoas se incomodam com o surgimento de um banco não vinculado aos bancos de sempre.
ÉPOCA – Muitos afirmam que o Brasil tem dois chanceleres, um de direito, o ministro Luiz Alberto Figueiredo, e outro de fato, o senhor. Qual é seu papel na política externa?
Garcia – Meu papel é aconselhar, informar, subsidiar a presidenta da República. Ela está apoiada nessa tarefa de condução da política externa por uma instituição exemplar, o Ministério das Relações Exteriores. Ditos analistas e críticos se incomodam com o papel da política externa brasileira. Os néscios discutem pessoas, os outros discutem ideias. Temos uma tergiversação sobre a relação entre política de Estado e política de governo. Há uma versão dessa noção de política de Estado, que a considera imutável por séculos e séculos. Essa percepção quer conservar valores de sempre. Agindo assim, não poderíamos pensar nenhuma das mudanças que ocorrem no mundo e no Brasil e ajustar nossas políticas públicas a esse sentimento de mudança. Essas pessoas precisam entender que o Brasil é uma sociedade democrática. Nessa democratização, que se acelerou nos últimos anos, as eleições têm consagrado grupos políticos – não partidos, mas coligações – que pensam as políticas públicas numa determinada direção. Se querem mudar a política externa, uma política pública, que disputem eleições, produzam ideias novas, analisem as mudanças no mundo e, a partir daí, se instalem no governo e formulem outras políticas. Nunca, em nenhum momento, tive qualquer rusga, atrito ou diferença com o Ministério das Relações Exteriores.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Politica externa brasileira: um debate envenenado desde o comeco
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/senador-ricardo-ferraco-vivemos-um.html
Depois, o chanceler paralelo, ou talvez o chanceler oficioso, como querem alguns, tentou responder ao senador, com palavras muito duras, o que foi aqui registrado:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/debate-sobre-politica-externa-e-seu.html
Agora, um economista liberal responde ao assessor presidencial, neste link, também transcrito abaixo.
Marco Aurélio Garcia: apenas um bom aluno de Gramsci, mas com enorme poder de estrago!
Bem, como diriam os cubanos, "a luta continua", e, no nosso caso, "o debate continua", mas a impressão que eu tenho é que não se trata bem de um debate, mas de uma troca de acusações.
Creio ser importante retornar à entrevista original do Senador Ricardo Ferraço, às Páginas Amarelas de Veja, e verificar cada uma de suas críticas à política externa do governo petista, para ver se ele está errado ou certo, nos seus argumentos.
Muitos deles podem ser subjetivos, ou impressionistas, como o de "apagão" na política externa, uma vez que se acredita que o Itamaraty não esteja dormindo, ou apenas entregando flores.
Mas cabe sim verificar o que está sendo feito.
Vemos, por exemplo, uma contínua erosão das liberdades democráticas e um profundo desrespeito aos direitos humanos num país membro do Mercosul, e temos o direito de perguntar o que o Itamaraty está fazendo em relação a isso.
Talvez coubesse lembrar um pouco a cláusula democrática no Mercosul, que foi acionada em toda a sua potência contra a destituição legal de um ex-presidente paraguaio, ao passo que no caso da Venezuela nada está sendo feito, pelo menos publicamente.
Talvez seja o caso de invocar a imagem dos três macacos...
Paulo Roberto de Almeida
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Debate sobre a politica externa e seu grau de bolivarianismo - Site 247
Todas as opiniões podem ajudar ao debate, desde que sejam esclarecedoras...
Paulo Roberto de Almeida
GARCIA REBATE FERRAÇO: "DESINFORMAÇÃO E INSULTOS"
Marco Aurélio Garcia
COMENTÁRIOS
dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247
- Ramalho 3.07.2014 às 10:18Canalhice, ignorância histórica e desconhecimento dos fatos explicam a demonização do bolivarianismo. Bolívar é herói das independências de vários países sul-americanos por ter ajudado a retirá-los do jugo espanhol, a Espanha era o colonizador de outrora. Bolívar, porém, teve sorte, viveu em um período em que não havia testas de ferro de colonizadores, os maus não se camuflavam. Hoje, a canalhice não tem limites e os quintas-colunas, testas de ferro dos colonizadores modernos, dissimulam seus interesses e intenções, e Ferraço é um destes. O Bolivarianismo (passo agora a iniciá-lo por maiúscula em razão de sua importância) inspira-se em Bolívar. Tem por propósito livrar a América do Sul do jugo dos impérios modernos, a exemplo do que Bolívar fez no passado. O que há de errado nisso? Nada, ao contrário, isso é bom para a América do Sul e para o Brasil, em particular. Então, qual mal o Bolivarinismo fez ao Brasil? Nenhum. Pois é, qual a razão do ódio e ofensas de Ferraço por causa da política externa brasileira? É uma boa questão. Será que Ferraço é contra a independência da América do Sul e do Brasil? Será que deseja que sejamos maus vizinhos, voltando as costas à Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador? Se não for, parece, e muito. Tudo leva a crer que Ferraço é um quinta-coluna infiltrado no Senado que opera contra o Brasil e contra a América do Sul, o que, convenhamos, é uma vergonha.
- Samuel dos santos rocha 3.07.2014 às 09:09esse e do es nunca trabalhou na vida filho da direita e neto da ditadura e ex dem estou aguardando ele na proxima eleiçao
- Buca Dantas 3.07.2014 às 07:18aos poucos vamos desmoralizando essa canalha direitosa subserviente e ignorante (apesar do letramento). À falta de votos só lhes resta a verborragia. Mas só por umas 2 gerações a mais, porque seus argumentos de ódio encontram cada vez menos gente que lhes dê a menor atenção.
- ronaldo 3.07.2014 às 05:21Garcia nada sabe de Constituição, e acredito mesmo que não esteja interessado nisto, pois é ativista comunista que vivia no lado oriental do muro de Berlim e aposta no bolivarianismo. Não aprendeu democracia. Se quiser aprender, é só ver este vídeo do eminente Ives Gandra Martins sobre o processo em andamento.. https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/146e06450e43d1d8?projector=1
- sergio 3.07.2014 às 02:07Só faltou o turbante na foto do Ferraço, quem é este elemento? Será o novo informante da Veja.
- sergio 3.07.2014 às 02:04Quem é este elemento, Ferraço, metido a cartomante. Será que ele ao menos sabe onde fica a Argentina e e a Venezuela. Bom se saiu na Veja ..... é pura perca de tempo.
- TOC TOC TOC 3.07.2014 às 00:56Ta explicado o mau-halito do toc toc. E' a merda evaporando pela boca.
- Marcela Cadela 2.07.2014 às 23:31Marcela é um direitista estúpida, uma das piores comentaristas do 247, está aqui só para falar besteiras e denegrir qualquer um da esquerda democrática eleita pelo voto popular. É uma viúva do golpe de 64. Deveria recolher-se a sua insignificância de subnitrato de pó de peido.
- Ferraço? Quem? 2.07.2014 às 23:26Quem é Ferraço? Quais são seus projetos? O Que ele já fez pelo Brasil? Absolutamente nada. Um zero absoluto. Tá querendo levar um Ferraço? Vote nele.
- marcela 2.07.2014 às 23:26Marco Aurélio Garcia seguramente é um dos petistas mais retrógrados e sectários ! Parou no tempo, venera Fidel e acredita que Cuba é um paraíso socialista. Venezuela e Argentina só não são ditaduras plenas, porque suas populações resistem bravamente ... só mesmo a esquerda brasileira mofada, bolorenta defende os tiranetes que governam esses países.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Politica Externa: de sapatos retirados a calcas arriadas...
"Melhor ter retirado os sapatos, por causa de uma exigência de segurança nos EUA pós-11 de Setembro de 2001, do que ter abaixado as calças para os cubanos, por uma questão de identidade de projetos totalitários".
J.A.
Em todo caso, aqui vai, por uma questão de simples informação, sem preconceitos. Leitores inteligentes, como os que frequentam este blog, saberão tirar suas conclusões.
Paulo Roberto de Almeida
MAG: a política externa
que não tirou os sapatos
O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, na Carta Maior, sobre o trabalho de Marco Aurélio Garcia:
Uma ponte itinerante chamada ‘MAG’
Garcia, ou simplesmente MAG, como é tratado pelos mais próximos, participou diretamente ou testemunhou todos – repita-se, todos – os principais episódios da construção inconclusa da nova agenda regional, destinada a devolver aos povos latino-americanos o comando de seu destino histórico e geopolítico.
Ao lado de Samuel Pinheiro Guimarães e do ex-embaixador Celso Amorim, ele compôs o trio que definitivamente reposicionou a política externa brasileira no século 21.
E o fez para bem longe daquilo que ficou conhecido como ‘a diplomacia dos pés descalços’.
Em 31 de janeiro de 2002, o então chanceler do governo FHC, Celso Lafer, submeteu-se ao humilhante ritual de tirar os sapatos no aeroporto de Miami. Uma imposição da segurança ianque, se quisesse ingressar no país.
Se essa condição um dia fosse imposta a MAG, o que aconteceria?
Alguma dúvida?
Nem ‘eles’, nem os seus assemelhados nativos, as tem.
Discreto sem nunca ser acanhado, MAG sabe a hora certa de ser contundente com os poderes e os poderosos que em relação a ele nutrem justificados temores.
Professor aposentado do Departamento de História da Unicamp, esse gaucho que lecionou também em universidades de Paris e Santiago, ocupou a vice -presidência da UNE nos anos 60 e, coisa que poucos sabem, exerceu um mandato de vereador em Porto Alegre, nunca foi visto, à direita ou à esquerda, como um assessor comum.
Seu nome é uma espécie de carimbo presente nos principais capítulos da luta política da esquerda brasileira nas últimas décadas.
Ecumênico nesse campo, com bom trânsito entre as variadas correntes políticas, de suas convicções mais fundas apenas Lula costuma às vezes ironizar: ‘ Ele não diz nada, mas batizou o filho de Leon…’
MAG coordenou o Programa de Governo do Presidente Lula nas eleições de 1994, 1998 e 2006.
Exerceu a mesma coordenação sobre o Programa de Governo da Presidente Dilma Rousseff na eleição de 2010.
Na luta pela reeleição de Lula em 2006, antecedida da tentativa de impeachment contra o presidente com base na ‘denúncia’ do chamado ‘mensalão’, foi ele quem comandou a campanha vitoriosa.
O cerco conservador era absoluto.
Muitos dentro do próprio PT defendiam genuflexões à mídia; os mais afoitos avocavam a prerrogativa de promover expedições ‘pacificadoras’ junto a donos de corporações que vergastavam o partido e o Presidente diuturnamente.
Traziam promessas de ‘trégua’ que nunca se confirmaram.
Ao contrário.
Reinava um clima de ‘agora ou nunca’.
Insuficiente porém para dobrar a altivez de MAG.
Em meio à beligerância ostensiva, às vésperas do primeiro turno, o então colunista de Veja, Diogo Mainardi, que dispensa apresentações, solicitou-lhe por e-mail uma entrevista exclusiva.
“Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista,”, assegurava a solicitação que chegou a MAG.
A resposta, também por email, condensa a conhecida capacidade maguiana de associar altivez, mordacidade e contundente elegância:
“Sr. Diogo Mainardi,
Há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta — aliás, republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.
Explica-se o, digamos, ‘desconforto’ dos meios & dos mainards com a presença constante e ativa desse espírito crítico, nos circuitos que decidem a política externa brasileira, desde 2003.
Derrubá-lo daí foi sempre o troféu cobiçado e ao mesmo tempo inalcançável do conservadorismo local e forâneo.
A trajetória de MAG diz muito sobre essa obsessão fracassada.
MAG era o Secretário de Relações Internacionais do PT, em 1990, quando foi criado o Foro de São Paulo.
Seu objetivo estratégico: promover a nucleação de todos os grupos de esquerda da América Latina e Caribe.
Para quê?
Para lançar as sementes de uma integração latinoamericana e caribenha oposta à agenda regional secularmente subordinada aos impérios.
Remonta daí a sua imbatível rede de relacionamento com lideranças e forças regionais que hoje estão no poder, exercem cargos relevantes na estrutura do Estado, ocupam cadeiras nos Legislativos, comandam partidos, dirigem organizações sociais.
Seu papel como ponte itinerante nesse diálogo agigantou-se no governo Lula, quando assumiu missões decisivas, em momentos graves e estratégicos da vida regional.
A maioria delas exitosas para decepção do conservadorismo que o mantém sob permanente suspicácia.
Os interlocutores da constelação de governos e lideranças progressistas da AL e Caribe sabem com quem estão falando quando o telefone toca e é MAG que chama.
Emotivo, perspicaz e fraterno, dono de um coração que rivaliza em generosidade com o tamanho de suas convicções progressistas, MAG coleciona amigos na grande pátria latinoamericana e caribenha que ajuda a delinear.
Dos prováveis aos mais improváveis.
A um Humala candidato, de perfil algo endurecido, ainda engomado pela farda militar, MAG surpreendeu um dia ao sugerir: ‘O senhor deveria se fazer acompanhar sempre de sua esposa; ela é muito inteligente.E muito bonita’.
De fato.
A carismática Nadine Heredia acabou se transformando em uma coadjuvante decisiva na renhida final das eleições peruanas de 2011, vencidas por Humala.
Hoje sua figura é cada vez mais popular. Com índices de aprovação superiores aos do marido, seu protagonismo suscita especulações de uma candidatura em 2016, se obstáculos jurídicos forem superados.
A eventual ascensão dessa nova estrela regional não surpreenderá MAG.
Como não o surpreendeu a do velho amigo Maduro, na Venezuela, bem como a de outras lideranças da grande constelação em cujos bastidores a sua presença sempre brilhou.
De volta de uma missão a Cuba, para onde fora enviado pela Presidenta Dilma em manifestação de alto zelo com a evolução da saúde do presidente Chávez, MAG submeteu-se a exames cardiológicos rotineiros no último sábado.
O cuidado preventivo diante da dura agenda de viagens que teria pela frente, antes e depois do Carnaval, desdobrou-se em uma cirurgia cardíaca.
MAG recebeu duas pontes de safena nesta 5ª feira. E passa bem.
Manifestações de toda a América Latina e Caribe evocam a sua rápida volta à estrada
Um caminho que ele conhece melhor que ninguém.
Um caminho que ainda não está pronto.
Mas que sem dúvida está sendo construído.
E nele o acrônimo MAG pontua a pavimentação de vários trechos, antes considerados intransponíveis.