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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Governo mente sobre apoio na Venezuela - senador Ricardo Ferraco (Congresso em Foco)

Política
 
Governo mente sobre apoio na Venezuela, diz senador
Congresso em Foco, 23/06/2015 - as 13:00:00
Brasil - Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) era o único peemedebista presente na comitiva de oito senadores que voltou ao Brasil após ser hostilizada durante frustrada tentativa de visitar políticos presos na Venezuela. Integrante de um dos principais partidos da base aliada, Ferraço faz coro à oposição e acusa o governo brasileiro de mentir sobre o tratamento dispensado aos parlamentares em Caracas. O senador afirma que o grupo foi abandonado pelas autoridades diplomáticas do Brasil na Venezuela e, em momento algum, foi informado de que não seria acompanhado por representantes do consulado. “Isso é uma brutal mentira”, rebateu Ferraço, nesta entrevista concedida ao Congresso em Foco.


Ele disse que Henrique Capriles, um dos líderes da oposição venezuelana ao governo Maduro, é a prova viva de que a diplomacia brasileira mentiu no episódio. Fundador do partido Primero Justicia e governador do Estado de Miranda, Capriles pediu desculpas aos senadores brasileiros e confirmou que havia uma agenda pré-definida com eles na Venezuela, contrariando versão divulgada por governistas como o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia. Marco Aurélio acusou os senadores de tentar fazer da visita frustrada um embate ideológico.

“Há a manifestação pública do Capriles nessa direção. O Capriles, inclusive, virá ao Brasil agora em agosto, e poderá falar. No fundo, no fundo, não desejaríamos qualquer tipo de privilégio da embaixada brasileira lá em Caracas. O que desejávamos era ter o apoio institucional que nos faltou. Não apenas o embaixador, como nenhum membro da chancelaria do Brasil na Venezuela nos acompanhou. Nenhum conselheiro, nenhum diplomata esteve conosco, de modo que as ações deliberadas pelo governo da Venezuela contaram com a conivência, lamentavelmente, do Itamaraty”, protestou Ferraço.

Coincidências

“Foi uma ação deliberada. As coincidências são extraordinárias. A primeira delas é que, quando os oficiais do avião da Força Aérea Brasileira desejaram fechar o avião para irem almoçar, os membros da polícia nacional bolivariana da Venezuela disseram a eles: ‘Não precisa fechar, não precisa almoçar, eles [senadores] logo estarão voltando’. Foram muitos os fatos que se seguiram para impedir que nós pudéssemos cumprir a agenda que havíamos estabelecido”, declarou o senador.

A comitiva pretendia visitar prisioneiros como o líder do partido de oposição Vontade Popular, Leopoldo López; o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma e o ex-prefeito de San Cristobal Daniel Ceballos. Entre outras acusações, eles estão presos por incitar a violência em protestos nacionais que paralisaram o país vizinho no início de 2014. Eles se queixam de não ter direito a ampla defesa. Preso desde fevereiro do ano passado, López está em greve de fome há quase um mês.

Segundo relatos ouvidos pelo Congresso em Foco de jornalistas brasileiros que estavam em Caracas, ficou evidente que o protesto foi armado propositadamente por simpatizantes de Maduro. O grupo, de acordo com esses profissionais, pretendia fazer os senadores voltarem ao país com agressões verbais e socos no veículo em que circulavam. Além disso, observam esses jornalistas, o bloqueio da pista foi seletivo. Figuras conhecidas que defendem o governo Maduro tiveram acesso livre. O deputado petista João Daniel (SE), que também estava em Caracas naquele dia, contestou a versão dos senadores. Segundo ele, um acidente é que impediu a passagem dos parlamentares.

Vídeo feito pelo líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), mostra homens esmurrando o micro-ônibus alugado pela Embaixada do Brasil e entoando palavras de ordem de apoio ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Houve relatos de que pedras foram atiradas no veículo, que transitou por poucos quilômetros, a partir do aeroporto de Caracas, até ser parado por um bloqueio na pista.

Ditadura?

Herdeiro político de Hugo Chávez (1954-2013), Maduro é visto como ditador também pela oposição brasileira e por organismos internacionais como a Human Rights Watch, a Anistia Internacional e a própria Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Ferraço, houve omissão por parte do governo Dilma Rousseff e uma ação orquestrada, inclusive com a participação de brasileiros, para impedir o cumprimento da agenda dos senadores, que incluía uma visita à prisão militar de Ramo Verde, onde López, Ledezma e Ceballos estão presos.

O incidente provocou imediata reação no Congresso brasileiro e teve repercussões na própria Venezuela e por todo o mundo. Moções de repúdio foram aprovadas na Câmara e no Senado, onde autoridades diplomáticas darão explicações à Comissão de Relações Exteriores – colegiado presidido por Ferraço entre 2013 e 2014. Diversos parlamentares já defendem a exclusão do país vizinho no Mercosul, bloco comercial que reúne, além do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e, desde 2012, Venezuela. Com críticas ao grupo de senadores da oposição, uma nova comissão do Senado tentará manter o diálogo bilateral. O Ministério das Relações Exteriores, por meio de nota, lamentou o episódio e pediu esclarecimentos ao governo Maduro “pelos canais diplomáticos” e “à luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países”.

“Existem questionamentos muito vigorosos de que todos nós que somos parte do bloco temos obrigações, deveres e responsabilidades. E, se a Venezuela não está cumprindo com essas pré-condições – e cláusulas democráticas são premissas –, o Senado vai discutir caminhos para que ou a Venezuela reveja todo esse modelo que está levando o país para o buraco, ou de fato tenhamos que discutir o afastamento dela do Mercosul”, emendou o senador capixaba, para quem os indicadores socioeconômicos venezuelanos são os piores possíveis.

Confira a íntegra da entrevista:

Congresso em Foco – Há ditadura na Venezuela?

Ricardo Ferraço - O déficit de democrático na Venezuela me faz afirmar que o não funcionamento das instituições e a escalada do autoritarismo, que a falta de uma Justiça neutra e independente e que a ausência de liberdade de expressão me dão a conclusão de que, sim, a Venezuela está mergulhada em uma ditadura.

Houve uma ação orquestrada pelo governo venezuelano em relação à comitiva?

Foi uma ação deliberada. As coincidências são extraordinárias. A primeira delas é que, quando os oficiais do avião da Força Aérea Brasileira desejaram fechar o avião para irem almoçar, os membros da polícia nacional bolivariana da Venezuela disseram a eles: “Não precisa fechar, não precisa almoçar, eles [senadores] logo estarão voltando”. Foram muitos os fatos que se seguiram para impedir que nós pudéssemos cumprir a agenda que havíamos estabelecido.

E a versão de que os senhores sabiam que não receberiam acompanhamento do consulado brasileiro em território venezuelano? Também foi falado que não havia agenda definida com os presos políticos…

Isso é uma brutal mentira. Já foi desmentido. Já há a manifestação pública do Capriles nessa direção. O Capriles, inclusive, virá ao Brasil agora em agosto, e poderá falar. No fundo, no fundo, não desejaríamos qualquer tipo de privilégio da Embaixada Brasileira lá em Caracas. O que desejávamos é que pudéssemos ter o apoio institucional que nos faltou. Não apenas o embaixador, como nenhum membro da chancelaria do Brasil na Venezuela nos acompanhou. Nenhum conselheiro, nenhum diplomata esteve conosco, de modo que as ações deliberadas pelo governo da Venezuela contaram com a conivência, lamentavelmente, do Itamaraty.

O aparato de segurança era suficiente?

Era uma piada. Nós fomos levados para um corredor polonês. E, nesse corredor polonês – uma espécie de funil –, os manifestantes milicianos contratados estavam lá na hora em que chegamos, no dia em que chegamos. Os batedores que nos estavam acompanhando assistiam a tudo pacificamente.

Houve um acidente com um caminhão de farinha na pista em que os senhores tentavam se deslocar? O deputado João Daniel (PT-SE), que estava lá, disse que o automóvel estava atravessado na rodovia, de maneira a impedir o tráfego…

O que houve, na prática, foi que na exata hora em que nós chegamos havia um congestionamento monstruoso em toda a região metropolitana de Caracas. Para sairmos do aeroporto para chegar a Caracas, tínhamos que passar por três túneis. Exatamente no dia em que chegamos, na hora em que chegamos, eles [membros do governo venezuelano] resolveram fazer manutenção nesses túneis. Essa manutenção impediu o livre trânsito. E nesse mesmo dia, nessa mesma hora, eles afirmam que estavam recebendo um criminoso venezuelano que cometeu um assassinato na Colômbia. Esse dois fatos levaram a uma paralisia da região metropolitana de Caracas. E tudo isso, ao meu juízo, foi deliberado. Uma ação absolutamente orquestrada.

O fato de o escritor brasileiro Fernando Morais ter cumprido agenda na Venezuela, nesse mesmo dia, com um grupo de esquerdistas alinhados ao governo Maduro tem a ver com essa confusão toda?

É evidente. Isso foi organizado de modo a neutralizar a nossa visita, que era uma visita de solidariedade a presos políticos – uma outra coisa que reforça essa minha convicção de ditadura: que país democrático tem preso político? E sem direito a defesa? Que país democrático cassa mandato de parlamentar sem direito a contraditório, sem direito a defesa, como foi o caso da Corína [Machado, líder oposicionista], que foi cassada? Que democracia cassa o mandato o prefeito da capital [Caracas], acusando-o de golpismo sem fundamentação de provas? Enfim, a produção em série desses fatos é que confirma que estamos, de fato, diante de uma ditadura.

Mas não há um numeroso contingente populacional que apóia o governo Maduro?

Mas nas poucas ditaduras que existem no mundo há manifestações favoráveis. Em Cuba há manifestações favoráveis ao regime. Porque, na verdade, o que o ditador [Hugo] Chávez fez, e o que o atual faz? O Chávez governou em um momento de preços extraordinários do barril de petróleo. A Venezuela é um país que depende, fundamentalmente, da produção de petróleo. Nada produz além de petróleo, e importa 70% de seus alimentos. O Chávez e o Maduro se favoreceram desse modelo em que os preços do petróleo estavam lá em cima para se apropriar da PDVSA e financiar um conjunto de programas sociais que, no começo, foi importante. Houve, nos últimos anos, avanços sociais na Venezuela, mas esses avanços foram financiados por programas que não são sustentáveis. É como você…

O senhor parece falar do Brasil…

Evidentemente que sim, porque também no Brasil o governo da presidente Dilma, nos últimos anos, meio que desafiou a Lei da Gravidade, meio que quis fazer chover debaixo para cima, convivei com a inflação, não respeitou as regras de governança fiscal, e estamos mergulhados aí nessa crise. Há pouquíssimos meses tínhamos a presidente falando na expansão do ProUni [Universidade para Todos], na expansão do Fies [financiamento estudantil], do Pronatec [ensino técnico]. E hoje, na verdade, todos esses programas estão sofrendo recessão. Por quê? Porque por trás desse programas não tinha uma estrutura consistente de manutenção de sua sustentabilidade por anos a fio. Então a Venezuela, durante alguns anos, produziu ganhos e conquistas sociais que estão se dissipando. A Venezuela deve ter, se não me engano, a maior inflação do mundo. A então está calculada entre 80% e 120%. Com um dólar, compra-se 400 bolívares! A miséria e a pobreza avançam a olhos nus na Venezuela. Aquilo ali está se desmanchando, porque esses governos que preconizam essa coisa de socialismo do século 21 se estabelecem por meio da mentira, do populismo e da demagogia. Esses são princípios e valores que não se sustentam no tempo.

Mas é apenas isso o que está por trás da situação na Venezuela?

Não apenas isso. Evidentemente, esses programas sociais só com porta de entrada e sem porta de saída são uma forma de se manter a dependência das pessoas do modelo e do regime. Em algum período, por algum momento, dá-se o peixe, mas isso tem de ser um processo progressivo para você ir substituindo o peixe pela vara, para as pessoas irem pescar – até porque, eu percebo também, as pessoas não querem viver de favor. Esses programas sociais e assistencialistas, na prática, são formas modernas, e até mesmo sofisticadas, de se manter o povo administrado pelo estômago.

O que será feito a partir de agora? A intenção é mesmo a exclusão da Venezuela do Mercosul?

Existem questionamentos muito vigorosos de que todos nós que somos parte do bloco temos obrigações, deveres e responsabilidades. Da mesma forma que o Brasil tem deveres e responsabilidades, o Paraguai, o Uruguai, a Argentina e a Venezuela também têm que ter. E, se a Venezuela não está cumprindo com essas pré-condições – e cláusulas democráticas são premissas –, o Senado vai discutir caminhos para que ou a Venezuela reveja todo esse modelo que está levando o país para o buraco, ou de fato tenhamos que discutir o afastamento dela do Mercosul. Isso é uma regra comum aos nossos países – se a Venezuela puder violar, significa dizer que o Brasil pode, também? Significa dizer que os outros podem? A regra precisa valer para todos. Esse debate vai se acelerar na medida em que a escalada da violência, da truculência e do autoritarismo na Venezuela está chegando a níveis insuportáveis. E não somos nós que falamos. Primeiro, nós constatamos isso lá. Mas são organismos insuspeitos que acompanham essas regras democráticas. Tem Cruz Vermelha, Anistia Internacional, OEA [Organização dos Estados Americanos], a própria ONU [Organização das Nações Unidas], a Human Watch, que é uma instituição de presença global, que fez um capítulo específico sobre Venezuela, colocando um conjunto de coisas que eles estão vendo.

Há espaço, no Congresso, para a expulsão da Venezuela?

Não posso afirmar que haja espaço para expulsão, mas ambiente para debater o tema já está posto, está colocado, formado. É preciso ver que o juízo de valor os senadores vão formar. Mas não dá para a gente assistir a tudo isso como se nada estivesse acontecendo.

O senhor foi presidente da Comissão de Relações Exteriores e integrou a comitiva que foi impedida de cumprir a missão oficial. No dia seguinte à tentativa frustrada, uma nova comitiva, com viés de esquerda, foi criada para visitar a Venezuela – na justificativa de criação do colegiado, senadores dizem que desfarão o atrito que teria sido provocado pela primeira comissão. Como o senhor reage a isso?

Meu desejo é que essa comitiva possa ser bem sucedida na sua missão. O que não tem cabimento é uma missão formada por simpatizantes do regime [venezuelano] sem bem recebida e uma missão que não é simpatizante ser mal recebida, como nós fomos. Isso não tem cabimento, é preciso haver respeito institucional.

Como a CRE procederá daqui em diante, no que diz respeito às futuras convocações?

Já esteve aqui a Maria Corína; já estiveram aqui as esposas do Antonio López, do Ledezma… O que está na pauta, na quinta-feira [25], é a deliberação para convocação do chanceler [DelcyRodriguez] e do embaixador [Ruy Pereira], para que a gente possa discutir não apenas as questões relacionadas a essa nossa missão e a omissão do Itamaraty em nos dar apoio institucional. O Itamaraty, efetivamente, nos entregou à própria sorte. Mas vamos discutir até mesmo as questões relacionadas à escalada do autoritarismo.

Há quem diga que os senhores fizeram uma espécie de intervenção na soberania nacional da Venezuela. Como o senhor responde a isso?

Isso é uma coisa absolutamente descabida. A nossa missão – e, agora, eu sou informado que o Parlamento Europeu está constituindo uma missão para visitar a Venezuela. É óbvio que não se trata de intervenção, até porque nossa Constituição define que nossa política externa será movida e presidida pela autodeterminação dos povos. Agora, na medida em que somos membros do mesmo bloco, e à medida que há, nesse bloco, algumas premissas e pré-condições como cláusulas democráticas, temos a obrigação e a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento desse acordo. Por que o estamos fazendo? Porque o governo brasileiro tem sido omisso e tem silenciado diante das atrocidades que temos percebidos. E a Unasul [União de Nações Sul-Americanas], que poderia atuar nessa direção, se transformou em uma instituição absolutamente parcial.

Questiona-se, também, por que os senhores não vão visitar Guantánamo. Lá também é América…

É uma boa ideia. Esse tema pode ser discutido, sim, na Comissão de Relações Exteriores. Acho que faz sentido, sim, que a gente possa ampliar esse nosso protagonismo para que não pareça que estamos agindo seletivamente. Acho que a prisão de Guantánamo merece, sim, e acho que com essa sua pergunta eu vou fazer um requerimento na Comissão de Relações Exteriores visando fazer uma visita a Guantánamo. Não pode haver dois pesos e duas medidas.

O senador Aécio Neves está usando o episódio eleitoralmente, em um momento de fragilidade da presidenta Dilma Rousseff, como também o têm acusado?

Acho que não. O senador Aécio Neves está no exercício do seu mandato. Como senador da República, tem manifestado toda a preocupação com o futuro do Mercosul. E a nossa obrigação, como senadores, é fiscalizar o cumprimento das cláusulas constitutivas do Mercosul.

domingo, 28 de setembro de 2014

Politica Externa: um discurso na AGNU para nao ser lembrado - Ricardo Ferraco


Ricardo Ferraço
O BRASIL NA 69A ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU
Diário do Poder, 27 de setembro de 2014

O discurso da Presidente Dilma Rousseff na abertura da 69ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, dia 24 de setembro, revelou uma Chefe de Estado em plena campanha eleitoral, com invencível dificuldade de despir as vestes de candidata ao expressar ao mundo uma mensagem que representasse a Nação brasileira.
O pronunciamento não foi além do autoelogio pomposo, desconectado do Brasil real que não habita a propaganda televisiva do marqueteiro João Santana, o qual não tem cabimento em recinto solene, por onde passaram tantos ilustres brasileiros que nos orgulharam com sua firmeza de princípios em tempos de acirramento ideológico, na denúncia de injustiças e mazelas da guerra, no amor ao multilateralismo, à pluralidade de visões e aos direitos da pessoa humana.
Sua eleitoreira passagem por Nova York serviu, ainda, para mostrar que o Brasil perdeu protagonismo no debate mundial sobre mudança do clima, uma vez que sua Ministra do Meio Ambiente defendeu que o Brasil, “por não ter sido chamado a participar das negociações”, devia omitir-se na Declaração adotada sobre florestas. Por que fomos excluídos desse diálogo? Logo o Brasil que sediou a Eco-92 e a Rio+20 e que sempre ostentou posição de vanguarda nesta temática?
Como se isso não bastasse, Dilma deu declarações superficiais, simplistas, amadorísticas e inaceitáveis sobre o enfrentamento à barbárie terrorista do chamado Estado Islâmico.
A recente viagem da presidente Dilma a Nova York, contudo, não será lembrada pelo provincianismo de seu discurso perante a qualificada Assembleia-Geral da ONU. Inesquecíveis, infelizmente, são as declarações irresponsáveis que cometeu durante coletiva de imprensa. Dias após os EUA, em conjunto com coalizão de forças que reúne países de quatro continentes – algo em torno de 40 nações –, iniciaram o bombardeio de alvos do Estado Islâmico, no Iraque e na Síria, Dilma fez de sua já conhecida incontinência verbal uma arma de destruição da credibilidade do Brasil perante o concerto das Nações. Sem reflexão, sem ouvir os especialistas, sem sopesar consequências e repercussões, a Presidente confundiu episódios e conceitos, demonstrando desconhecimento da complexidade daquela problemática.
Uma frase da presidente Dilma merece destaque entre outras tantas platitudes e reducionismos simplificadores sobre o quadro altamente complexo e conflituoso que se espalhou pelo Oriente Médio após a chamada Primavera Árabe. Em retrospectiva, pode-se afirmar que os despotismos, então derrubados em movimentos de massa, foram substituídos por forças antes dormentes, sendo algumas destas altamente perigosas e radicais. Para uma plateia atônita, a Presidente Dilma “lamentou enormemente” os ataques desferidos contra alvos do grupo terroristas pelos EUA – esquecendo-se de estender a reprimenda para os demais parceiros da empreitada – e “repudiar o morticínio dos dois lados”.
A presidente Dilma repudiou a morte dos terroristas do Estado Islâmico, cujos militantes trucidam membros da minoria Yazidi, vítimas de ataques genocidas, e covardemente decapitam, diante das câmaras, reféns ocidentais? As declarações de nossa Chefe de Estado deram margem para especulações que depõem contra nossas melhores tradições. O problema é que a presidente Dilma fala por um país inteiro e deveria observar maior decoro em suas manifestações sobre questões que requerem maior estudo. Nem a mais benevolente interpretação do nonsense presidencial retira do discurso seu significado deplorável.
A indecorosa fala da Presidente Dilma ainda repercutirá por longo tempo em nossas relações, não apenas com os EUA, mas com o resto do mundo, especialmente entre alguns de nossos mais importantes parceiros. Por trás da incoerência, da ligeireza e da leviandade com que tratou de tema tão sério, identifica-se um renitente e antiquado antiamericanismo que não tem mais cabimento no século XXI.
Em questão de poucos meses, o Estado Islâmico ocupou vasto território na fronteira entre o Iraque e a Síria, reeditando práticas de crueldade como crucificações de cristãos, sequestro de mulheres e de crianças, forçando a conversão dos “infiéis”. Dados dos serviços de inteligência dos EUA estimam haver mais de 15 mil cidadãos, de 80 nacionalidades diferentes, que integram o bando criminoso. Esse contingente inclui cerca de 2 mil europeus e outros 100 norte-americanos, os quais podem retornar aos seus países para promover ataques contra inocentes no Ocidentes. Segundo denunciado por uma mãe desesperada, pelo menos um brasileiro se juntou àquelas falanges da intolerância e do radicalismo.
Os resultados da passagem da presidente Dilma por Nova York constituem mais uma evidência de que interesses ideológicos capturaram uma politica que deveria ser de Estado. Dito de outra maneira, a lógica partidária insiste em se sobrepor à generosa visão do todo nacional, o que é perigosamente antirrepublicano.
A crítica mostrou-se tão destoante que nos situou além do Governo russo, ora às voltas com grave contencioso com as potências Ocidentais, após os episódios ainda não superados na Ucrânia. Com efeito, a Rússia do presidente Putin já declarou seu apoio à intervenção militar em território iraquiano com o propósito de debelar os invasores terroristas, colocando de lado, mesmo que temporariamente, arraigadas diferenças com os EUA e a União Europeia. O próprio Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki-Moon teve oportunidade de emprestar seu apoio à inédita coalização organizada em torno do objetivo comum de destruir a ofensiva terrorista que agrava e ameaça a paz e a segurança não apenas no Oriente médio, mas de todo o mundo. Além do referido apoio, o dirigente máximo da ONU afirmou, acertadamente, que a ação deflagrada contra o Estado Islâmico prescindiria de autorização do Conselho de Segurança, por se tratar de entidade terrorista sem qualquer foro de legitimidade, portanto, perante a comunidade internacional.
Para se concordar com as declarações da presidente Dilma seria necessário acreditar na possibilidade de diálogo entre Estados nacionais com encapuzados sanguinários do Estado Islâmico. Só os muitos ingênuos ou desavisados apostariam que o Estado Islâmico seja capaz de entender linguagem que não seja da força. Tamanha ingenuidade beira a irresponsabilidade, inaceitável para um País que se pretende líder. Coincidentemente, suas declarações aconteceram horas após a decapitação de um turista francês por jihadistas argelinos ligados ao Estado Islâmico…
O Brasil é membro relevante e respeitado do sistema internacional. Essa ordem mundial é integrada por nós e dela somos beneficiários. A manutenção da ordem mundial é essencial ao nosso bem-estar e a nossas perspectivas futuras de desenvolvimento. Isto implica, porém, que também tenhamos responsabilidade na manutenção dessa ordem. Por fim, basta que se pergunte: depois da inolvidável passagem do furacão Dilma por Nova York, aumentaram ou diminuíram as chances de o Brasil ser percebido como país líder com aspiração legítima a integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e outras instâncias e grupos com voz na governança do sistema internacional.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Debate sobre a politica externa e seu grau de bolivarianismo - Site 247

Um instrumento auxiliar do Palácio do Planalto, mais exatamente dos companheiros, se apressa em alimentar o debate com o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, e publica opiniões contrárias.
Todas as opiniões podem ajudar ao debate, desde que sejam esclarecedoras...
Paulo Roberto de Almeida

GARCIA REBATE FERRAÇO: "DESINFORMAÇÃO E INSULTOS"

:
Assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia publica dura resposta às críticas, feitas à Veja, do senador Ricardo Ferraço (PMDB) sobre a política externa brasileira e ao governo Dilma Rousseff; "Tal qual uma Mãe Dinah das relações internacionais, Ferraço prognostica que Argentina e Venezuela caminham para uma ditadura", diz Garcia, que define o discurso como de "muito barulho, pouca consistência"; para ele, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara ostenta desinformação e lugares comuns; desconhece ação conjunta de Brasil e Bolívia e "prefere insultar o presidente Evo Morales", assim como anunciar um novo "espantalho", o bolivarianismo, "que não explica o que é".
2 DE JULHO DE 2014 ÀS 17:20
247 – As críticas do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) à política externa brasileira e à gestão da presidente Dilma Rousseff, desferidas em entrevista às páginas amarelas da revista Veja do último fim de semana, foram duramente rebatidas nesta quarta-feira 2 pelo assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Em artigo, ele define o discurso do parlamentar como de "muito barulho, pouca consistência" e acusa o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara de ostentar desinformação e lugares comuns em seus ataques.
Leia aqui a entrevista do senador à revista Veja e, abaixo, o artigo de Garcia:
Política Externa: entre luzes e apagões.
Marco Aurélio Garcia
"O meio é a mensagem" disse McLuhan.
O senador Ricardo Ferraço, Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa de nossa Câmara Alta, escolheu as páginas amarelas da revista VEJA para destilar sua ojeriza à política externa brasileira e ao governo da Presidenta Dilma Rousseff. Maior adequação entre continente e conteúdo seria impossível.
Mas, se a pretensão era a de uma artilharia pesada, o resultado não passou de fogos de artifício. Muito barulho, pouca consistência.
VEJA anuncia que a Comissão presidida por Ferraço é "um contraponto ao Itamaraty", instituição que o senador vê "apequenada" e submetida a um duplo comando – o do "chanceler de direito" (o Ministro Luiz Alberto Figueiredo) e o do "chanceler de fato" (quem assina esta nota).
Café requentado nos últimos 12 anos, a suposta duplicidade na condução da política externa não é capaz de encontrar um só grão de verdade. Esconde muitas mentiras.
Ferraço percorre distraído a América Latina, ostentando sua desinformação, reproduzindo todos os lugares comuns possíveis e arrogando-se a função de politólogo, sem ter recursos suficientes para sê-lo. Ao final desvela seu propósito: o de atacar o Governo Dilma Rousseff e a falta de um projeto de nação, que ele atribui à Presidenta. Fica-se à espera de qual projeto seria esse. Silêncio ensurdecedor.
Tal qual uma Mãe Dinah das relações internacionais, Ferraço prognostica que Argentina e Venezuela, apesar de seus Governos terem sido eleitos pelo voto popular, caminham para uma ditadura. Menciona o cerco à imprensa nos dois países, ocultando, por exemplo, que em Caracas e Buenos Aires os principais órgãos de imprensa – El Nacional, El Universal, Clarín e La Nación, respectivamente – são há anos duros opositores dos governos de Nicolás Maduro e de Cristina Kirchner. O senador menciona o testemunho crítico da deputada venezuelana María Corina sobre a situação de seu país. Tivesse convidado, como fez a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, aos Professores Gilberto Maringoni, Igor Fuser e ao economista do IPEA Pedro Barros, poderia ter uma opinião mais aprofundada e plural. Seria de perguntar-se porque o vigilante senador não ouviu, como lhe foi proposto, o deputado venezuelano Rodrigo Cabezas. Pergunto-me, igualmente, por que não teve ainda curso o convite que me foi feito para ir à Comissão do Senado, assim como o Embaixador do Brasil em Caracas, Rui Pereira.
Ricardo Ferraço utiliza informações a seu gosto. Desconhece a ação conjunta que os Governos do Brasil e da Bolívia têm desenvolvido nos últimos anos no combate ao narcotráfico. Prefere insultar o Presidente Evo Morales que deve seu mandato ao voto popular.
Sobram desinformação e insultos em suas declarações: à Presidenta, ao Ministro Figueiredo (chanceler de direito e não de fato, segundo ele) e ao Itamaraty, quando acusa a instituição de coagir diplomatas para seguir ao "bolivarianismo", sob pena de perder cargos e salários. Acusação grave, que só pode fazer impunemente quem se esconde sob o manto da imunidade parlamentar.
Já que o "comunismo" deixou de ser fantasma, como nos tempos da Guerra Fria, Ferraço levanta como novo espantalho o "bolivarianismo", que não explica o que é.
O que venha a ser o bolivarianismo, é evidente que se trata de um fenômeno com sabida particularidade histórica que não tem nenhuma influência, nem mesmo presença, no ambiente político-ideológico brasileiro.
É curioso que o Senador mencione os importantes debates organizados pelo Itamaraty para a preparação de um Livro Branco sobre a política externa brasileira – onde fez longa exposição na sessão de abertura – para tentar diminuir a figura respeitável do Ministro Figueiredo, que está realizando importante processo de reorganização do Ministério e de requalificação de nossa presença no mundo.
A prova do respeito que tivemos vis-à-vis a intervenção de Ferraço e a de tantos outros, está no fato de que a discutimos serenamente e, mesmo discrepando de alguns de seus conceitos, a levamos em conta como importante contribuição ao debate.
Entre os nostálgicos dos fracassados projetos de constituição de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), virou moda a celebração da Aliança do Pacífico como contraponto ao MERCOSUL e a nossas concepções de integração continental.
Não há um "Tordesilhas do Século XXI", separando MERCOSUL da Aliança do Pacífico. Ao contrário, os dois blocos estão em processo de aproximação e, sem perder suas respectivas identidades, propõe-se fortalecer, num diálogo respeitoso, os grandes eixos de integração da região – a UNASUL e a Comunidade de Nações Latino-Americanas e do Caribe (CELAC).
Finalmente, já está passando a hora de desmistificar supostos exercícios teórico- políticos, em nome dos quais se pretende desqualificar a atual política externa como "de Governo" e não "de Estado". Essa diferenciação tem sido utilizada nos últimos tempos por aqueles que buscam aprisionar políticas públicas – na economia, na defesa e também nas relações exteriores – a cânones conservadores, forjados no passado, no contexto de uma outra realidade nacional e mundial e de uma distinta correlação de forças sociais e políticas.
O interesse nacional que alguns gostam tanto de citar para justificar posições político-partidárias não é fruto de mentes supostamente iluminadas. É, antes, expressão da vontade geral e esta, em uma democracia, resulta da expressão popular que as urnas periodicamente recolhem.
O resto é apagão.
=================
Nota PRA: 
Alguns comentários são reveladores do estado do "debate" no Brasil atual. Eram 72 até o momento da leitura desta postagem. Provavelmente vão aumentar. Quem desejar pode percorrer todos neste link: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/145484/Garcia-rebate-Ferra%C3%A7o-desinforma%C3%A7%C3%A3o-e-insultos.htm
Transcrevo apenas os mais recentes: 

COMENTÁRIOS

72 comentários em "Garcia rebate Ferraço: "desinformação e insultos""
Os comentários aqui postados expressam a opinião
dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

  1. Ramalho 3.07.2014 às 10:18
    Canalhice, ignorância histórica e desconhecimento dos fatos explicam a demonização do bolivarianismo. Bolívar é herói das independências de vários países sul-americanos por ter ajudado a retirá-los do jugo espanhol, a Espanha era o colonizador de outrora. Bolívar, porém, teve sorte, viveu em um período em que não havia testas de ferro de colonizadores, os maus não se camuflavam. Hoje, a canalhice não tem limites e os quintas-colunas, testas de ferro dos colonizadores modernos, dissimulam seus interesses e intenções, e Ferraço é um destes. O Bolivarianismo (passo agora a iniciá-lo por maiúscula em razão de sua importância) inspira-se em Bolívar. Tem por propósito livrar a América do Sul do jugo dos impérios modernos, a exemplo do que Bolívar fez no passado. O que há de errado nisso? Nada, ao contrário, isso é bom para a América do Sul e para o Brasil, em particular. Então, qual mal o Bolivarinismo fez ao Brasil? Nenhum. Pois é, qual a razão do ódio e ofensas de Ferraço por causa da política externa brasileira? É uma boa questão. Será que Ferraço é contra a independência da América do Sul e do Brasil? Será que deseja que sejamos maus vizinhos, voltando as costas à Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador? Se não for, parece, e muito. Tudo leva a crer que Ferraço é um quinta-coluna infiltrado no Senado que opera contra o Brasil e contra a América do Sul, o que, convenhamos, é uma vergonha.
  2. Samuel dos santos rocha 3.07.2014 às 09:09
    esse e do es nunca trabalhou na vida filho da direita e neto da ditadura e ex dem estou aguardando ele na proxima eleiçao
  3. Buca Dantas 3.07.2014 às 07:18
    aos poucos vamos desmoralizando essa canalha direitosa subserviente e ignorante (apesar do letramento). À falta de votos só lhes resta a verborragia. Mas só por umas 2 gerações a mais, porque seus argumentos de ódio encontram cada vez menos gente que lhes dê a menor atenção.
  4. ronaldo 3.07.2014 às 05:21
    Garcia nada sabe de Constituição, e acredito mesmo que não esteja interessado nisto, pois é ativista comunista que vivia no lado oriental do muro de Berlim e aposta no bolivarianismo. Não aprendeu democracia. Se quiser aprender, é só ver este vídeo do eminente Ives Gandra Martins sobre o processo em andamento.. https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/146e06450e43d1d8?projector=1
  5. sergio 3.07.2014 às 02:07
    Só faltou o turbante na foto do Ferraço, quem é este elemento? Será o novo informante da Veja.
  6. sergio 3.07.2014 às 02:04
    Quem é este elemento, Ferraço, metido a cartomante. Será que ele ao menos sabe onde fica a Argentina e e a Venezuela. Bom se saiu na Veja ..... é pura perca de tempo.
  7. TOC TOC TOC 3.07.2014 às 00:56
    Ta explicado o mau-halito do toc toc. E' a merda evaporando pela boca.
  8. Marcela Cadela 2.07.2014 às 23:31
    Marcela é um direitista estúpida, uma das piores comentaristas do 247, está aqui só para falar besteiras e denegrir qualquer um da esquerda democrática eleita pelo voto popular. É uma viúva do golpe de 64. Deveria recolher-se a sua insignificância de subnitrato de pó de peido.
  9. Ferraço? Quem? 2.07.2014 às 23:26
    Quem é Ferraço? Quais são seus projetos? O Que ele já fez pelo Brasil? Absolutamente nada. Um zero absoluto. Tá querendo levar um Ferraço? Vote nele.
  10. marcela 2.07.2014 às 23:26
    Marco Aurélio Garcia seguramente é um dos petistas mais retrógrados e sectários ! Parou no tempo, venera Fidel e acredita que Cuba é um paraíso socialista. Venezuela e Argentina só não são ditaduras plenas, porque suas populações resistem bravamente ... só mesmo a esquerda brasileira mofada, bolorenta defende os tiranetes que governam esses países.