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domingo, 21 de setembro de 2014

Seis invenções geniais que foram esquecidas - SuperInteressante

Tecnologia esquecida

Seis invenções geniais que foram esquecidas

Confira seis invenções fantásticas que, injustamente, não receberam a devida atenção

fonte | A A A
 
As contínuas evoluções tecnológicas facilitam dia após dia a vida de todos. Com isso, invenções se tornam obsoletas e esquecidas rapidamente. Na história da humanidade, esse descarte tecnológico de inventos – muitas vezes extraordinários – se tornou ainda mais claro. Confira seis invenções esquecidas e que se tornaram lendas tecnológicas:
1- Máquina de Antikythera
Historiadores afirmam que esse objeto foi o primeiro computador da história. Recebeu esse nome por ter sido descoberta em 1900 no meio dos destroços de um navio naufragado perto da ilha grega de Antikythera. A tecnologia do objeto, datado do século 2 a.C, desperta interesse de vários pesquisadores.
O mecanismo metálico da máquina de Antikythera era usado para realizar marcações das posições do Sol, Lua e planetas. Ele previa o movimento dos astros e de eclipses. Além disso, funcionava como calendário que mostrava determinadas datas.

2- Fogo grego
O fogo grego foi uma importante arma bélica utilizada pelos bizantinos no século 11. Com a sua utilização o Exército do Império Romano do Oriente venceu inúmeras batalhas no mar. Contudo, a origem desse importante armamento bélico é desconhecido. Por se tratar de um fogo que queima no mar, o crédito pela invenção é atribuído aos químicos de Constantinopla.
Entretanto, há relatos que um arquiteto da província de Fenícia, em 672, o teria criado. Até aos deuses gregos a criação do fogo grego é creditada. Por conta disso, até hoje, ninguém sabe como essa arma foi feita, e a composição química que permite que o fogo queime na água permanece desconhecida.

3- Vidro flexível
Como o próprio nome diz, esse material não quebra. O vidro flexível foi criado por um artesão romano na época do imperador Tiberius Caesar (42 a.C – 37 a.C). A história conta que esse artesão mostrou o invento ao imperador e, para testá-lo, derrubou o objeto no chão. Porém o ponto atingido ficou apenas amassado. Entretanto, o imperador Tiberius Caesar considerou que o novo material faria com que o ouro e prata perdessem o valor. Por conta disso, sentenciou o artesão à morte.
Hoje em dia, empresas e pesquisadores procuram um meio de recriar o objeto da lenda. A empresa norte-americana Corning anunciou, em 2013, o Willow Glass que é uma espécie de vidro ultrafino e flexível.

4- O primeiro sismoscópio
O primeiro equipamento desse tipo foi criado por Zhang Heng, astrônomo, matemática e engenheiro. A tecnologia criada por Zhang era composta por um grande vaso de bronze, com quase dois metros de altura. Nas laterais oito dragões, que representavam os pontos cardeais, e pequenas estátuas de sapo completavam o objeto.
Quando ocorria um tremor, uma bola saía da boca do dragão e cai no sapo, indicando a direção e o momento que ocorria o terremoto. Contudo, não existem documentos explicando o funcionamento dele e o aparelho original nunca foi encontrado. Em 2005, cientistas chineses recriaram o sismógrafo de Zhang e o testaram em terremotos reais. Tal os sismógrafos modernos e o antigo marcaram os mesmos dados.

5- O navio “bola rolante”
No século 20, era comum ler notícias da criação de projetos de navios que seriam movidos por rodas. Em 1933, uma proposta para a criação dessa tecnologia foi patenteada.
Com o nome de “the rolling ball” (a bola rolante), o navio seria construído em uma esfera de metal gigante e oca, conectada a um carro-navio por meio de uma estrutura em “y” invertido. A tripulação seria alocada nessa área. O projeto alçaria novas águas, em especial as do Oceano Atlântico.

6- Lentes preguiçosas
Essa invenção, criada pelo publicitário americano Clarence Warner, era para os leitores mais preguiçosos. Com o nome de Beds Specs (óculos de cama), essa invenção consistia em um prisma triangular que faria um ângulo de 70° graus para a visão. Essa angularidade permitia que uma pessoa com o livro apoiado sobre o corpo, enquanto deitada, tivesse uma leitura confortável.

domingo, 16 de junho de 2013

Economia inflacionaria do Brasil: a gota d'agua que faltava para o descontentamento - Alexandre Versignassi (SuperInteressante)

Uma boa, aliás excelente, explicação, de Alexandre Versignassi, voltada para os jovens leitores de SuperInteressante (revista de que fui assinante durante vários anos, para meus filhos, e sempre me arrependi de ter interrompido, depois que eles foram para a universidade), sobre o descontentamento difuso entre os cidadãos brasileiros a respeito do desgoverno atual, não apenas em matéria de corrupção, superfaturamento, desvios de dinheiro público, enfim, essas coisas muito comuns no sistema político brasileiro (especialmente depois que os companheiros estão no poder), mas sobretudo em termos de gestão (a)normal da economia, o que acaba redundando em mais inflação e menos crescimento.
O autor, formado em economia, aprendeu bem as lições elementares do jogo econômico e as expõe com clareza nesta nota gentilmente enviada por um leitor fiel deste blog.
Não existe, obviamente, uma explicação única para as manifestações que ocorrem em diversas capitais do país, algumas contra aumento de passagem de transportes públicos, outras por descontentamento com a precariedade dos serviços públicos, em face da gastança política em obras supérfluas, que vão virar elefantes brancos.
Algumas manifestações são conduzidas por movimentos politicamente motivados -- como o dos idiotas do Passe Livre, que são apenas militantes do caos e da imbecilidade econômica -- outras são ativadas por razões eleitoreiras -- com destaque para os companheiros totalitários -- mas o fato é que há um sentimento difuso de mal estar na população, o que faz juntar pessoas do bem com os militantes do mal, uma combinação nem sempre desejável e bem vinda. Sobre isso se acrescenta a incompetência da polícia e sua raiva dos "pequenos burgueses" bem vestidos que saem às ruas com iPhones e gadgets que os policiais não conseguem comprar para si mesmos ou seus filhos.
Sobre tudo isso, e esta é a responsabilidade maior, se coloca a incompetência e a corrupção dos estratos dirigentes, que se acham no direito de gastar o dinheiro dos impostos com suas tramoias mal arquitetadas e mal conduzidas.
A inflação é apenas um efeito secundário da má gestão da economia, por incompetentes que se acreditam espertos.
O mais grave é a decadência moral do país, e o mal estar generalizado de se sentir num país sem lei e sem governo decente. Era a gota que faltava.
Parabéns ao Alexandre Versignassi.
Paulo Roberto de Almeida

A gota que faltava

Alexandre Versignassi 
SuperInteressante, 12 de junho de 2013
Para entender melhor o que está acontecendo na rua, imagine que você é o presidente de um um país fictício. Aí você acorda um dia e resolve construir um estádio. Uma “arena”.
O dinheiro que o seu país fictício tem na mão não dá conta da obra. Mas tudo bem. Você é o rei aqui. É só mandar imprimir uns 600 milhões de dinheiros que a arena sai.
Esses dinheiros vão para bancar os blocos de concreto e o salário dos pedreiros. Eles recebem o dinheiro novo e começam a construção. Mas também começam a gastar a grana que estão recebendo. E isso é bom: se os caras vão comprar vinho, a demanda pela bebida aumenta e os vinicultores do seu país ganham uma motivação para produzir mais bebida. Com eles plantando mais e fazendo mais vinho o PIB da sua nação fictícia cresce. Imprimir dinheiro para construir estádio às vezes pode ser uma boa mesmo.
Mas e se houver mais dinheiro no mercado do que a capacidade de os vinicultores produzirem mais vinho? Eles vão leiloar as garrafas. Não num leilão propriamente dito, mas aumentando o preço. O valor de uma garrafa de vinho não é o que ela custou para ser produzida, mas o máximo que as pessoas estão dispostas a pagar por ela. E se muita gente estiver com muito dinheiro na mão, essa disposição para gastar mais vai existir.
Agora que o preço do vinho aumentou e os vinicultores estão ganhando o dobro, o que acontece? Vamos dizer que um desses vinicultores resolve aproveitar o momento bom nos negócios e vai construir uma casa nova, lindona. E sai para comprar o material de construção.
Só tem uma coisa. Não foi só o vinicultor que ganhou mais dinheiro no seu país fictício. Foi todo mundo envolvido na construção do estádio e todo mundo que vendeu coisas para eles. Tem bastante gente na jogada com os bolsos mais cheios. E algumas dessas pessoas podem ter a idéia de ampliar as casas delas também. Natural.
Então as empresas de material de construção vão receber mais pedidos do que podem dar conta. Com vários clientes novos e sem ter como aumentar a produção do dia para a noite, o cara do material de construção vai fazer o que? Vai botar o preço lá em cima, porque não é besta.
Mas espera um pouco. Você não tinha mandado imprimir 600 milhões de dinheiros para fazer um estádio? Mas e agora, que ainda não fizeram nem metade das arquibancadas e o material de construção já ficou mais caro? Lembre-se que o concreto subiu justamente por causa do dinheiro novo que você mandou fazer.
Mas, caramba, você tem que terminar a arena. A Copa das Confederações Fictícias está logo ali… Então você dá a ordem: “Manda imprimir mais 1 bilhão e termina logo essa joça”. Nisso, os fabricantes de material e os funcionários deles saem para comprar vinho… E a remarcação de preços começa de novo. Para quem vende o material de construção, tudo continua basicamente na mesma. O vinho ficou mais caro, mas eles estão recebendo mais dinheiro direto da sua mão.
Mas para outros habitantes do seu país fictício a situação complicou. É o caso dos operários que estão levantado o estádio. O salário deles continua na mesma, mas agora eles têm de trabalhar mais horas para comprar a mesma quantidade de vinho.
O que você fez, na prática, foi roubar os peões. Ao imprimir mais moeda, você diminuiu o poder de compra dos caras. Inflação é um jeito de o governo bater as carteiras dos governados.
Foi mais ou menos o que aconteceu no mundo real. Primeiro, deixaram as impressoras de dinheiro ligadas no máximo. Só para dar uma ideia: em junho de 2010, havia R$ 124 bilhões em cédulas girando no país. Agora, são R$ 171 bilhões. Quase 40% a mais. Essa torrente de dinheiro teve vários destinatários. Um deles foram os deputados, que aumentaram o próprio salário de R$ 16.500 para de R$ 26.700 em 2010, criando um efeito cascata que estufou os contracheques de TODOS os políticos do país, já que o salário dos deputados federais baliza os dos estaduais e dos vereadores. Parece banal. E até é. Menos irrelevante, porém, foi outro recebedor dos reais novos que não paravam de sair das impressoras: o BNDES, que irrigou nossa economia com R$ 600 bilhões nos últimos 4 anos. Parte desse dinheiro se transformou em bônus de executivo. Os executivos saíram para comprar vinho… Inflação. Em palavras mais precisas, o poder de compra da maioria começou a diminuir. Foi como se algumas notas tivessem se desmaterializado das carteiras deles.
Algumas dessas carteiras, na verdade, sempre acabam mais ou menos protegidas. Quem pode mais tem mais acesso a aplicações que seguram melhor a bronca da inflação (fundos com taxas de administração baixas, CDBs que dão 100% do CDI…, depois falamos mais sobre isso). O ponto é que o pessoal dos andares de baixo é quem perde mais.
Isso deixa claro qual é o grande mal da inflação: ela aumenta a desigualdade. Não tem jeito. E esse tipo de cenário sempre foi o mais propício para revoltas. Revoltas que começam com aquela gota a mais que faz o barril transbordar. Os centavos a mais no ônibus foram essa gota.
Alexandre Versignassi
Editor da Superinteressante. Escreveu o livro Crash - Uma Breve História da Economia, finalista do Prêmio Jabuti 2012. Acredita que física, cerveja, biologia, pebolim e ciências econômicas são assuntos intercambiáveis. Aqui ele tenta provar essa tese.