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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Brasil se abstém em resolução contra apedrejamento e violações no Irã

Faz sentido. Não tem por que sair "apedrejando" o regime iraniano, pelo qual Nosso Guia tem especial carinho, apenas porque ele aplica a sua lei contra uma adúltera, que deve justamente merecer o castigo imposto pela justiça do seu país.
Melhor mesmo é dialogar, se possível "olho no olho", entre amigos...

Brasil se abstém em resolução contra apedrejamento e violações no Irã

País mantém postura de encontrar soluções pelo diálogo; documento foi aprovado na ONU

Jamil Chade, correspondente em Genebra
O Estado de S. Paulo, 19 de novembro de 2010 
GENEBRA - A diplomacia brasileira se absteve de apoiar uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que pede o fim do apedrejamento no Irã e o condena como forma de punição. A resolução ainda condena Teerã por "graves violações de direitos humanos" e por silenciar jornalistas, blogueiros e opositores. A votação da resolução ocorreu na noite da quinta-feira, 17, em Nova York. O governo iraniano acusou a ONU de estar "politizando a questão do apedrejamento".
Nos últimos anos, a estratégia do Itamaraty tem sido a de não usar os órgãos da ONU para condenar outros países. A ideia é de que a cooperação e o diálogo são as melhores formas de garantir que um país caminhe em direção ao respeito dos direitos humanos. A posição brasileira é criticada por ONGs, que insistem que o País, na condição de democracia, deveria pressionar demais governos para que sigam no caminho da abertura política.
Na quinta-feira, porém, o Brasil voltou a demonstrar que não está disposto a criticar o Irã publicamente, nem mesmo no caso do apedrejamento. O Brasil ainda tem esperanças também de ser chamado para fazer parte do grupo que negociaria uma solução para o impasse nuclear no Irã.
O País foi um dos 57 países que optaram pela abstenção na votação da resolução na Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU. Entre os outros países que se abstiveram estão Angola, Benin, Butão, Equador, Guatemala, Marrocos, Nigéria, África do Sul e Zâmbia.
Um dos pontos principais da resolução aprovada é a condenação do apedrejamento como método de execução. O texto pede o fim da prática, assim como a discriminação contra mulheres. O documento foi apresentado pela delegação do Canadá como uma forma de mandar uma mensagem de que não se poderia tolerar atitudes como a de condenar a iraniana Sakineh Ashtiani à morte por apedrejamento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a oferecer asilo à iraniana, o que foi recusado por Teerã. Há uma semana, a presidente eleita Dilma Rousseff criticou o método iraniano. Mas na ONU o Brasil não deu seu voto a favor da resolução.
Votaram ainda contra a proposta países como Venezuela, Síria, Sudão, Cuba, Bolívia e Líbia. A resolução foi aprovada com o apoio de 80 países, entre eles um dos membros do Mercosul, a Argentina, além de todos os países europeus, EUA, Canadá, Chile e Japão.
'Politização'
Para o governo iraniano, o que está sendo feito é a "politização" do assunto como forma de pressionar Teerã. "Essa resolução não é justa e não contribui com os direitos humanos. Essa resolução é fruto da hostilidade americana em direção ao Irã. É a politização dos direitos humanos", acusou Mohammad-Javad Larijani, representante de Teerã para a reunião.
Para ele, o país tem o direito de usar a ameaça do apedrejamento e insistiu que há anos ela não é usada. Ativistas negam que haja uma moratória na prática. "O apedrejamento significa que você deve fazer alguns atos, jogando um certo número limitado de pedras, de uma forma especial, nos olhos de uma pessoa. Apedrejamento é uma punição menor que a execução porque você a chance de sobreviver. Mais de 50% das pessoas podem não morrer", defendeu Larijani.
O texto ainda condena as violações contra mulheres, assim como a perseguição contra Baha'i. A resolução ainda pede o fim da restrição de liberdade de expressão e de associação, o fim da intimidação contra ativistas, advogados, políticos da oposição, bloggers e jornalistas, além de condenar o desaparecimento de pessoas que tenham participado de demonstrações.
O documento ainda pede o fim de restrições para jornalistas, como as interferências nos sinais de satélite, uma prática comum adotada por Teerã, segundo ONGs. O texto ainda exorta o governo de Mahmoud Ahmadinejad a lançar investigações "independentes e imparciais" sobre as violações de direitos humanos e que acabe com a impunidade.
Larijani se defendeu, alegando que não há um silenciamento de advogados e nem jornalistas. "Todos podem falar com a imprensa estrangeira. Mas depende do que querem dizer", disse o iraniano. "Se estão difamando o sistema legal, devem ser responsáveis por isso", acusou.
A resolução condena a alta taxa de casos de pena de morte anunciadas pelo governo iraniano, a execução de pessoas com menos de 18 anos que tenham cometido crimes e a existência de leis que permitem a pena de morte contra pessoas que sejam "inimigas de Deus".
Em uma declaração enviada à imprensa após a votação, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, comemorou a aprovação da resolução. "O governo do Irã continua a assediar, prender de forma arbitrária e reprimir de forma violenta sua própria população", afirmou.
Veja também:
linkBrasil se abstém de condenar abusos em Mianmarespecial
As punições da Sharia, a Lei Islâmica
documento As origens do sistema jurídico do Islã
especialEntenda o caso Sakineh Ashtiani

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Diplomacia da generosidade em escala internacional....

...como nunca antes na história do mundo, nossa diplomacia generosa sempre salva perseguidos e oprimidos em qualquer contexto (falta cuidar de alguns milhões de norte-coreanos).
Em todo caso, aqui vai o registro da matéria:

Lula influenciou decisão de suspender execução de iraniana, diz Amorim
O Estado de S.Paulo, 08 de setembro de 2010

Segundo o chanceler, 'gestões' do presidente tiveram 'peso' na decisão de Teerã.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira que as "gestões" do presidente Luiz Inácio da Silva em contato com o governo do Irã tiveram "peso" na suspensão da sentença de apedrejamento de Sakineh Ashtiani.

"Não podemos atribuir só a nós, mas certamente as gestões do presidente Lula terão tido um peso, como creio que já tiveram até agora, inclusive no que já aconteceu até hoje", disse o chanceler, em Brasília.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã anunciou nesta quarta-feira que a sentença de morte por apedrejamento contra Sakineh Ashtiani foi suspensa, embora seu caso continue sendo analisado e ela ainda possa ser executada.

Aos 43 anos e mãe de dois filhos, a iraniana foi condenada pela Justiça à morte por prática de adultério e a dez anos de prisão por participação no assassinato de seu marido.

Amorim voltou a defender o diálogo com o governo de Mahmoud Ahmadinejad, acusado por organismos internacionais de não respeitar os direitos humanos.

O governo brasileiro tem sido criticado internamente e por entidades internacionais em função de sua aproximação com o Irã e por supostamente ignorar possíveis abusos em direitos humanos no país.

"A maneira de defender a melhora real das pessoas não é com estridências e com condenações fáceis. É mantendo o diálogo, que é o que nós fazemos", disse o ministro. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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Por outro lado, tem sempre gente desagradável, que não acredita nas palavras do nosso chanceler:

Amorim: a mistificação ornada pela adulação subserviente. Ou: ele apedreja a verdade!
Reinaldo Azevedo, 9.09.2010

Lula tem uma penca de ministros que seguem, assim, mais ou menos o seu padrão moral. Mas poucos, talvez nenhum outro, são tão exímios na arte da mistificação, ornada pela adulação subserviente, quanto Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores.

A proximidade de Lula com Ahmadinejad calcinou a imagem internacional do petista. Por que o governo brasileiro foi tão longe nesse apoio? Esse, para mim, ainda é um dos grandes mistérios da República. Como vocês viram, a tirania iraniana suspendeu a condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Leiam agora o que vai no G1. Volto em seguida:

Por Iara Lemos:
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou na tarde desta quarta-feira (8) que “as gestões do presidente Lula” tiveram um peso na decisão das autoridades iranianas de suspender a sentença de morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada por adultério. Durante as negociações com o Irã, o governo brasileiro chegou a oferecer asilo político para Sakineh. Apesar da oferta, a proposta foi rejeitada pelo governo iraniano. Ashtiani, 43 anos, foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério e a dez anos de prisão por cumplicidade no assassinato de seu marido.

“Não podemos atribuir só a nós, mas certamente as gestões do presidente Lula terão tido um peso, como creio que já tiveram até agora, inclusive no que já aconteceu até hoje”, afirmou o chanceler. Segundo Amorim, o governo Brasileiro foi comunicado oficialmente da suspensão da sentença de morte da iraniana pelo governo do Irã ainda nesta manhã. O ministro considerou como positiva a decisão.

Mesmo assim, afirmou que suspensão por parte do governo é apenas “um passo”. Nesta manhã, Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana, afirmou que o veredito sobre o caso foi suspenso, mas que está sendo revisto. “Eu acho que é positivo que tenha sido suspenso. Evidentemente isso é apenas um passo. Nós sempre atuamos nisso com muito cuidado, porque a maneira real de defender a melhora real das pessoas não é com estridências, não é com condenações fáceis, mas mantendo uma atitude de diálogo como sempre fizemos. Se der certo, ótimo”, disse o chanceler brasileiro.

Amorim reafirmou que é necessário, contudo, respeitar a soberania dos países. Mesmo assim, ele se mostrou confiante em que o governo iraniano suspenda em definitivo a condenação de Sakineh. “Vamos respeitar a soberania dos países e ao mesmo tempo esperar que um assunto como esse, que tocou na sensibilidade do mundo inteiro, possa ter uma boa conclusão”, afirmou.

Comento [Reinaldo Azevedo]:
Viram? Sempre contem com o governo brasileiro para apoiar uma ditadura e impedir que os ditadores matem as pessoas por apedrejamento. Lula pode abraçar tiranos que prendem as pessoas por crimes de opinião. Juta-se àqueles que os deixam morrer à míngua nas prisões. Mas apedrejamento? Ah, isso não!

Bem, ao ponto: Amorim está só tentando pegar uma carona num fato que tem repercussão mundial. A influência brasileira nessa história é nenhuma! Na entrevista ao Jornal da Globo no dia 1º, Dilma Rousseff já havia afirmado que Lula atuara para libertar prisioneiros políticos de Cuba. Mentira! Lula apoiou os irmãos Castro. Quem pressionou em favor da libertação dos presos foram o governo espanhol e a Igreja Católica.

O governo Lula tem, de fato, muitas características únicas, que não repetem as de antecessores: nunca antes nestepaiz um governo foi capaz de mentir com tamanha cara-de-pau. Nisso, eles são absolutamente inimitáveis, inigualáveis, insuperáveis.

domingo, 8 de agosto de 2010

Juntando pedras diplomaticas, literalmente... (a proposito de um caso muito conhecido)

Duas cartas que seriam horrendas, em quaisquer circunstâncias, mas que revelam o espírito da época, seja no país que degradou completamente o sentido da democracia e dos direitos humanos, seja num outro país, onde também muitos personagens, patéticos, estão se esforçando para chegar ao mesmo nível de coerência que o primeiro.

1) Carta de Mina Ahadi, Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, ao presidente do Brasil

Carta aberta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva
Um regime que apedreja não deveria ser reconhecido

Caro presidente Lula da Silva,

Sua oferta de conceder asilo no Brasil a Sakine Ashtiani, sentenciada à morte por adultério, é um passo importante para salvá-la, assim como a seus filhos. Espero que, com os esforços internacionais e com as ações de milhares de pessoas, nós possamos salvar Sakine. Que ela e seus filhos se abracem novamente em breve.

Enquanto escrevo esta carta, vejo à minha frente o rosto de Maryam Ayoubi, que foi apedrejada até a morte em 2001. Vejo os rostos de Shahnaz, Shahla, Kobra e dezenas de outras mulheres que foram enterradas até o peito e mortas por pedras arremessadas contra elas. Eu ainda vejo tudo isso diante dos meus olhos. As vozes das crianças que me ligaram para dizer: “Nossa mãe foi apedrejada até a morte” – ainda consigo ouvi-las. Esse é o regime islâmico. Os governantes do Irã não sobreviveriam um dia sem execuções e terror, sem espalhar o medo. Mesmo que o regime islâmico tenha retrocedido um pouco por conta da pressão em favor de Sakine, ele ainda espalha o medo na sociedade executando outros prisioneiros, especialmente os políticos.

Hoje, dia 2 de agosto, nove prisioneiros foram sentenciados à morte em Kerman. Em Teerã, seis prisioneiros políticos foram sentenciados à morte, entre eles Jafar Kazemi, que pode ser executado a qualquer momento. Zeynab Jalalian, um outro prisioneiro político, também corre o risco de ser morto em breve. Há mais pessoas na lista de execução: Mohammad Reza Haddadi foi setenciado à morte enquanto era menor; acaba de completar 18 anos e pode ser executado a qualquer momento. Há mais de 130 menores na prisão, com penas semelhantes. O regime islâmico é o único do mundo que executa menores.

Presidente Lula da Silva, hoje há 17 famílias de prisioneiros políticos em greve de fome na frente da prisão de Evin, em Teerã. Elas prestam solidariedade à greve de fome que seus filhos começaram lá dentro, dias atrás. Esse é um protesto contra a brutalidade das autoridades carcerárias com os presos políticos. O destino de três jovens alpinistas americanos e as lágrimas de suas mães também entristeceram a população. Esse regime prendeu parentes do senhor Mostafaei, o advogado de Sakine Ashtiani, e os levou como reféns até que ele se entregue.

Presidente Lula da Silva, o Irã é um país com um regime criminoso e brutal. É um regime assassino que deve ser condenado por todas as pessoas e governos. Permita-me, como uma representante do povo oprimido do Irã, dizer que não quero apenas salvar Sakine e abolir o apedrejamento, mas também pedir a todos os líderes nacionais que não reconheçam o regime islâmico como representante dos iranianos, mas sim como o assassino desse povo.

Esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta suas mãos e pés. Nenhum outro governo do mundo realiza tantas execuções per capita quanto ele. Tal regime não deveria ser reconhecido por organizações internacionais ou chefes de estado.

Cordialmente.
Mina Ahadi
Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento

2) Mulher condenada à morte por apedrejamento acusa Irã de mentir
O Estado de S.Paulo, 7 de agosto de 2010

LONDRES - A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, acusou o Governo de seu país de mentir para poder executá-la em segredo.
Em entrevista exclusiva ao The Guardian, Sakineh diz que foi condenada por ser mulher

Segundo as autoridades iranianas, Sakineh, de 43 anos, foi condenada por tentativa de assassinato do marido e adultério, mas ela nega as acusações em declarações enviadas ao diário britânico "The Guardian" por meio de um intermediário que, de acordo com o jornal, não pode ser identificado por motivos de segurança.

"Eles mentem. Estão envergonhados pela atenção internacional dada ao meu caso, realizam manobras de distração e tentam confundir os veículos de comunicação para poder me matar em segredo", afirmou a iraniana.

"Me declararam culpada de adultério, mas me absolveram da acusação de assassinato. O homem que matou meu marido foi identificado e preso, mas não foi condenado à morte", disse Sakineh.

O homem acusado, cuja identidade não se conhece, não corre perigo de execução porque o filho de Sakineh o perdoou.

"A resposta é muito simples. É porque sou uma mulher e acham que podem fazer o que querem com as mulheres neste país. Para eles, o adultério é pior que o assassinato, mas não todos os adultérios: um homem adúltero pode acabar na prisão, mas para as adúlteras significa o fim do mundo".

"Tudo isto ocorre porque vivo em um país onde as mulheres não têm direito a se divorciar de seus maridos e são privadas de seus direitos fundamentais", protesta Sakineh.

A iraniana teme que a fuga de seu ex-advogado, Mohammad Mostafaei, deixou-a mais vulnerável.

"Queriam se livrar do meu advogado para poder me acusar do que quisessem sem encontrar oposição de sua parte. Se não tivesse sido por ele, já teriam matado me pedradas", diz.

Mostafei defendeu-a gratuitamente e conseguiu chamar a atenção do mundo sobre seu caso, mas fugiu para a Turquia quando as autoridades iranianas emitiram uma ordem de busca e captura contra si.

A esposa do advogado está detida na prisão iraniana de Evin sem acusações.

Sobre sua vida na prisão, Sakineh disse que é maltratada diariamente por seus carcereiros.

"Suas palavras, o jeito que me olham - uma mulher adúltera que deveria ser apedrejada -, é como se me apedrejassem até a morte todos os dias".

Ahmadinejad põe em dúvida mortes do 11/9
Entrevista: 'Lula trai os iranianos ao não falar das violações'
25 pessoas aguardam execução por apedrejamento no Irã, estima ONG

sábado, 31 de julho de 2010

Diplomacia da avacalhacao; ops, perdao, da nao-intervencao...

Para não virar avacalhação, atitude se converte em participação conivente...

O presidente que exige uma mulher no Planalto nega socorro à mulher condenada à morte por apedrejamento
Augusto Nunes, Direto ao Ponto
30/07/2010 - às 19:20

Até na morte por apedrejamento o Irã dos aiatolás consegue ser mais brutal com as mulheres. Os homens, enterrados até a cintura, ficam com os braços livres para proteger o rosto. Nem isso será permitido a Sakineh Mohammadi Ashtiani, viúva de 43 anos, já punida com 99 chibatadas e agora à espera do ritual instituído em 1983. O Código Penal determina que as mulheres sejam enterradas até a altura do busto, com as mãos amarradas por cordas e o corpo envolvido por um tecido. Não podem sequer defender-se das pedras atiradas a curta distância sob o olhar da multidão reunida na praça.

O grupo de executores, liderado pelo juiz que assinou a sentença, inclui os jurados que ordenaram a condenação, parentes da vítima, figurões da comunidade e voluntários anônimos. Todos são homens: no Irã, mulheres não apedrejam; só podem ser apedrejadas. Para que a plateia não se sinta frustrada pela morte rápida, as pedras que circundam o alvo são pequenas. O juiz atira a primeira. A agonia que se encerra com o traumatismo craniano não dura menos que uma hora.

Tanto pelo espetáculo da perversidade primitiva quanto pela ausência de motivos para a condenação, o caso de Sakineh provocou uma intensa mobilização na internet. Como em quase todos os países, multidões de brasileiros decidiram lutar pelo cancelamento do espetáculo da barbárie. E alguém teve a ideia de lançar a campanha “Liga, Lula”, inspirada na convicção de que Mahmoud Ahmadinejad não se negaria a atender a um pedido de clemência formulado pelo amigo brasileiro.

Lula também acha que ouviria um sim. Mas não vai ligar. Caso ligasse, não iria além de observações sobre o método escolhido para o assassinato. “Eu, sinceramente, não acho que nenhuma mulher deveria ser apedrejada por conta de… ter, sabe, traição”, gaguejou nesta quarta-feira. Adultério – ou “traição”, prefere Lula – não chega a ser um crime hediondo, certo? Se é assim, estariam am de bom tamanho a cadeira elétrica, uma injeção letal, a câmara de gás, até mesmo a forca. Matar a pedradas pode parecer um exagero aos olhos dos ocidentais, talvez ponderasse na conversa telefônica.

Mas a conversa não haverá, sublinhou a continuação da discurseira. “Um presidente da República não pode ficar na internet atendendo tudo que alguém pede de outro país”, justificou-se. “Veja, eu pedi pela francesa e pelos americanos que estão lá, pedi para a Indonésia por um brasileiro, pedi para a Síria por quatro. É preciso cuidado, porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras, as pessoas, sabe… Se começam a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, vira uma avacalhação”.

Avacalhar quer dizer desmoralizar, ridicularizar, tratar desleixadamente, não levar a sério. Não combina com a história de Sakineh. Mas a expressão usada pelo campeão da vulgaridade se ajusta admiravelmente ao próprio governo: a Era Lula é uma avacalhação. Há sete anos e meio, em seus vários significados, o verbo é conjugado o tempo todo pelo governo em geral e pelos condutores da política externa em particular.

Lula se desmoraliza ao tratar como problema político uma causa humanitária. Para defender o parceiro, virou ajudante de carrasco. Não pode ser levado a sério alguém incapaz de compreender que os direitos humanos prevalecem sobre todas as leis ou regras. Lula encara dramas com desleixo e participa de chanchadas com muita aplicação. É ridícula, enfim, a argumentação invocada para mascarar a verdade escancarada. Para recusar ou endossar pedidos, para estuprar ou tratar respeitosamente normas legais, Lula não se orienta por princípios. Segue a partitura do hino à avacalhação.

O que importa é a conveniência eleitoreira, o parentesco ideológico, a cumplicidade mafiosa. Fidel Castro, por exemplo, emplacou três pedidos em três anos. Foi para atender ao ditador-de-adidas que o presidente autorizou a deportação dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, fez que não leu a carta da blogueira Yoani Sanchez e acusou o preso político Orlando Zapata de se se deixar morrer no 85° dia da greve de fome. Hugo Chávez emplaca todos, até os que declamados ao som da lira do delírio. Foi para agradar ao bolívar-de-hospício que Lula violentou as leis de Honduras e transformou em pensão a embaixada brasileira. É para ajudar o comparsa venezuelano que hostiliza o governo colombiano e afaga as FARC.

Para eleger Dilma Rousseff, tornou-se um colecionador de delinquências eleitorais. Para fechar negócio com José Sarney, promoveu-o a homem incomum. Para chegar à presidência, exigiu que os corruptos fossem justiçados. Para consolidar-se no poder, tratou de nomeá-los amigos de infância. No momento em que se recusou a estender a mão a Sakineh em respeito às leis do Irã, estava ajudando Hugo Chávez a desrespeitar as leis da Colômbia. Enquanto o chefe adulava os narcoterroristas das FARC, o ministro Celso Amorim tentava estuprar a legislação israelense que proíbe a entrada na Faixa de Gaza de autoridades estrangeiras que podem ser utilizadas pelo Hamas como peças de propaganda.

Lula acha que uma brasileira merece a Presidência sobretudo por ser mulher. Mas acha que não merece misericórdia uma iraniana que só foi condenada à morte por apedrejamento porque é mulher. Anda chorando quando lembra que a longa temporada no poder está acabando. Não se comove com a prisioneira angustiada com a aproximação do fim macabro. Pune brasileiros que dão palmadas nos filhos. Absolve iranianos que matam a pedradas.

O candidato sem chances ao Nobel da Paz nem imagina o que é um humanista. Desde sempre fez a opção preferencial pelos pastores da violência. Dilma Rousseff acha que todas as mulheres devem apoiá-la porque é mulher. Não deu um pio sobre a saga da iraniana que vai morrer por ser mulher. Lula só pensa em Lula. Dilma não consegue pensar.

Como Sakineh, o Brasil merece e precisa ser salvo. Ela depende da solidariedade internacional para livrar-se do horror. O país só depende da sensatez dos brasileiros.

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O que é avacalhação
Coluna Carlos Brickmann
Coluna de domingo, 1º de agosto de 2010

Avacalhação, conforme nos ensina aquele a quem o chanceler Celso Amorim chama de "Nosso Guia", o presidente Lula, é apelar para que seu aliado, o presidente do Irã, suspenda a pena de morte por apedrejamento contra uma mulher iraniana, Sakineh Ashtiani. Qual foi o horrível crime cometido por ela? Depois de levar 99 chibatadas, ela confessou ter cometido adultério (depois de 99 chibatadas, quem não confessaria?). "As pessoas têm leis, as pessoas têm regras, as pessoas, sabe, se começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação", ensina nosso presidente.

Já considerar que um amplo movimento popular contra a fraude eleitoral no Irã é chororô de torcedor que perdeu o jogo, isso não é avacalhação.

Também não era avacalhação apelar pelo líder sindical Lula e por tantos de seus companheiros (hoje no Governo), que foram presos de acordo com as leis vigentes na época da ditadura militar brasileira.

Também não é avacalhação, de acordo com o presidente Lula (e assessores como Top Top Garcia), considerar que as denúncias da Colômbia sobre a presença de narcoguerrilheiros colombianos na Venezuela, sob a proteção e com apoio do presidente Hugo Chávez, são apenas um problema pessoal entre dois presidentes. As denúncias colombianas podem ser falsas, podem ser verdadeiras, é preciso analisá-las, verificá-las. Mas não podem ser tratadas com leviandade.

A avacalhação, como a define Lula, pode também chamar-se seriedade.