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domingo, 8 de agosto de 2010
Juntando pedras diplomaticas, literalmente... (a proposito de um caso muito conhecido)
1) Carta de Mina Ahadi, Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, ao presidente do Brasil
Carta aberta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva
Um regime que apedreja não deveria ser reconhecido
Caro presidente Lula da Silva,
Sua oferta de conceder asilo no Brasil a Sakine Ashtiani, sentenciada à morte por adultério, é um passo importante para salvá-la, assim como a seus filhos. Espero que, com os esforços internacionais e com as ações de milhares de pessoas, nós possamos salvar Sakine. Que ela e seus filhos se abracem novamente em breve.
Enquanto escrevo esta carta, vejo à minha frente o rosto de Maryam Ayoubi, que foi apedrejada até a morte em 2001. Vejo os rostos de Shahnaz, Shahla, Kobra e dezenas de outras mulheres que foram enterradas até o peito e mortas por pedras arremessadas contra elas. Eu ainda vejo tudo isso diante dos meus olhos. As vozes das crianças que me ligaram para dizer: “Nossa mãe foi apedrejada até a morte” – ainda consigo ouvi-las. Esse é o regime islâmico. Os governantes do Irã não sobreviveriam um dia sem execuções e terror, sem espalhar o medo. Mesmo que o regime islâmico tenha retrocedido um pouco por conta da pressão em favor de Sakine, ele ainda espalha o medo na sociedade executando outros prisioneiros, especialmente os políticos.
Hoje, dia 2 de agosto, nove prisioneiros foram sentenciados à morte em Kerman. Em Teerã, seis prisioneiros políticos foram sentenciados à morte, entre eles Jafar Kazemi, que pode ser executado a qualquer momento. Zeynab Jalalian, um outro prisioneiro político, também corre o risco de ser morto em breve. Há mais pessoas na lista de execução: Mohammad Reza Haddadi foi setenciado à morte enquanto era menor; acaba de completar 18 anos e pode ser executado a qualquer momento. Há mais de 130 menores na prisão, com penas semelhantes. O regime islâmico é o único do mundo que executa menores.
Presidente Lula da Silva, hoje há 17 famílias de prisioneiros políticos em greve de fome na frente da prisão de Evin, em Teerã. Elas prestam solidariedade à greve de fome que seus filhos começaram lá dentro, dias atrás. Esse é um protesto contra a brutalidade das autoridades carcerárias com os presos políticos. O destino de três jovens alpinistas americanos e as lágrimas de suas mães também entristeceram a população. Esse regime prendeu parentes do senhor Mostafaei, o advogado de Sakine Ashtiani, e os levou como reféns até que ele se entregue.
Presidente Lula da Silva, o Irã é um país com um regime criminoso e brutal. É um regime assassino que deve ser condenado por todas as pessoas e governos. Permita-me, como uma representante do povo oprimido do Irã, dizer que não quero apenas salvar Sakine e abolir o apedrejamento, mas também pedir a todos os líderes nacionais que não reconheçam o regime islâmico como representante dos iranianos, mas sim como o assassino desse povo.
Esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta suas mãos e pés. Nenhum outro governo do mundo realiza tantas execuções per capita quanto ele. Tal regime não deveria ser reconhecido por organizações internacionais ou chefes de estado.
Cordialmente.
Mina Ahadi
Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento
2) Mulher condenada à morte por apedrejamento acusa Irã de mentir
O Estado de S.Paulo, 7 de agosto de 2010
LONDRES - A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, acusou o Governo de seu país de mentir para poder executá-la em segredo.
Em entrevista exclusiva ao The Guardian, Sakineh diz que foi condenada por ser mulher
Segundo as autoridades iranianas, Sakineh, de 43 anos, foi condenada por tentativa de assassinato do marido e adultério, mas ela nega as acusações em declarações enviadas ao diário britânico "The Guardian" por meio de um intermediário que, de acordo com o jornal, não pode ser identificado por motivos de segurança.
"Eles mentem. Estão envergonhados pela atenção internacional dada ao meu caso, realizam manobras de distração e tentam confundir os veículos de comunicação para poder me matar em segredo", afirmou a iraniana.
"Me declararam culpada de adultério, mas me absolveram da acusação de assassinato. O homem que matou meu marido foi identificado e preso, mas não foi condenado à morte", disse Sakineh.
O homem acusado, cuja identidade não se conhece, não corre perigo de execução porque o filho de Sakineh o perdoou.
"A resposta é muito simples. É porque sou uma mulher e acham que podem fazer o que querem com as mulheres neste país. Para eles, o adultério é pior que o assassinato, mas não todos os adultérios: um homem adúltero pode acabar na prisão, mas para as adúlteras significa o fim do mundo".
"Tudo isto ocorre porque vivo em um país onde as mulheres não têm direito a se divorciar de seus maridos e são privadas de seus direitos fundamentais", protesta Sakineh.
A iraniana teme que a fuga de seu ex-advogado, Mohammad Mostafaei, deixou-a mais vulnerável.
"Queriam se livrar do meu advogado para poder me acusar do que quisessem sem encontrar oposição de sua parte. Se não tivesse sido por ele, já teriam matado me pedradas", diz.
Mostafei defendeu-a gratuitamente e conseguiu chamar a atenção do mundo sobre seu caso, mas fugiu para a Turquia quando as autoridades iranianas emitiram uma ordem de busca e captura contra si.
A esposa do advogado está detida na prisão iraniana de Evin sem acusações.
Sobre sua vida na prisão, Sakineh disse que é maltratada diariamente por seus carcereiros.
"Suas palavras, o jeito que me olham - uma mulher adúltera que deveria ser apedrejada -, é como se me apedrejassem até a morte todos os dias".
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