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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

E por falar em inteligencia... tem gente querendo extingui-la, aqui mesmo...

Eu sempre me pergunto em que escola estudaram, que livros leram, que tipo de raciocínio econômico aprenderam certas pessoas que assumem responsabilidades políticas para guiar o país em direção a um futuro melhor do que o que temos hoje.
Por vezes eu penso que esse pessoal quer nos levar de volta ao passado...
Senão vejamos:


O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), enalteceu a atuação do ministério e a mudança de rumos na política de ciência e tecnologia.
“Desde o governo Lula o Brasil começou a reverter a sua trajetória histórica de depender fortemente do setor agrário e agora passamos a investir fortemente na produção de conhecimento, de inovação tecnológica. (...)
A exemplo do líder Paulo Teixeira, o deputado Sibá Machado (PT-AC) entende que o Brasil deve diminuir o peso do agronegócio na economia e fortalecer os setores que produzem tecnologia e conhecimento. “O Brasil não pode se acostumar a ter um PIB cuja composição tem um percentual altíssimo de commodities e de produtos com baixíssimo valor agregado”.
(Boletim da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, 16/09/2011)

Essas pessoas não devem ter ouvido falar em vantagens comparativas, não sabem que o agronegócio tem tanto conteúdo industrial quanto alimentos industrializados e que uma semente de soja é pura tecnologia e conhecimento.
Onde eles estão com a cabeça? Vão querer diminuir o peso do agronegócio na economia?
Precisariam ser tão malvados assim?
Ou apenas um tantinho estúpidos...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A "democracia" deles: um Carlos Magno que nao honra seu antecessor

Um Carlos Magno que desconheço exatamente quem seja, mas que se revela um desses intolerantes antidemocráticos típicos em certos partidos ascendentes (por enquanto), escreveu um comentário em um dos meus posts.
Não importa qual seja, agora, pois seus comentários tem muito pouco, ou quase nada de aproveitável. Trata-se de uma assemblagem de invectivas contra meu direito de expressar uma opinião no meu blog, pois ele ficou visivelmente possesso por eu não defender os seus pontos de vista. Que pena: isso o deixou irritado.
Mais do que isso, furibundo contra minha liberdade de opinião.
Deixo de lado suas invectivas impressionistas, já que não contêm nenhum argumento que valha a pena reproduzir -- justamente pela ausência de argumentos, apenas ofensas -- e me concentro na única coisa de concreto que ele disse.
Em linguagem diplomática, transcrevo o que é o seu parágrafo operacional, este aqui:

"Por fim, se esquece de diplomatas que defendem a não intervenção do estado na economia, seguidores da Escola Austríaca!?. A primeira coisa que o estado deveria fazer era parar de pagar o salário desse tipo de idiota. Aliás, esse tipo de ´´gente`` deveria ser privatizada, vendida para algum museu ou zoológico, ou melhor, pra um ferro velho mesmo."

Eis um perfeito retrato da "democracia" deles: na verdade um totalitarismo mal disfarçado.
Contrariado com a ideia (maluca?) de que alguém, no caso eu mesmo, possa defender a não intervenção do Estado na economia, ele recomenda a demissão pura e simples, ou pelo menos a interrupção dos vencimentos.
Creio que tudo está dito. Este é o totalitarismo que nos aguarda...
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O modo idiota de produção e o aumento do sofrimento dos estudantes

Caro leitor, caro estudante universitário,
Tente entender esta passagem do texto que vai reproduzido abaixo, in totum:

Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.”

Ou, então, tente entender esta outra passagem:

Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.”

Compreendeu? Não!? Não se preocupe, caro leitor. Nem eu! Aliás, nem qualquer pessoa medianamente educada e razoavelmente bem informada sobre as realidades do mundo – este nosso mundo, real, concreto, não o mundo esquizofrênico de certos acadêmicos – seria capaz de entender o que está escrito, ou subentendido nas passagens acima.
Ou se preocupe sim, se você tiver a má sorte de ter o autor desse texto como seu professor ou orientador (que azar, não é mesmo?).
O que mais me surpreendeu nesse texto, além do caráter obscuro de sua escrita, é o total descompromisso e o desconhecimento do autor em relação à conjuntura europeia, à crise de alguns dos países da região, ao funcionamento do capitalismo tal como o conhecemos, enfim, à simples realidade presente, ali, e em todas as demais regiões que parecem sofrer sob o jugo do capitalismo fetichista.
Até parece que a vanguarda esclarecida da “proletariedade” – a expressão é do autor – está apenas aguardando o agravamento da crise estrutural do capitalismo para relançar a luta revolucionária em favor de uma alteração radical da alienação atual e, finalmente, inaugurar um novo modo de produção, que talvez seja apenas um modo acadêmico de produção de teses, artigos, teses, antíteses ou de qualquer outra coisa, que eu não hesitaria em chamar de modo idiota de produção.
Confesso que tive certa dificuldade em selecionar as passagens para colocar em epígrafe, como fiz acima. Não que eu não encontrasse passagens suficientemente confusas para ser vir de exemplo desse novo modo idiota de produção acadêmica. Mas é que existem passagens demais, todo o texto é uma assemblagens de frases e parágrafos incompreensíveis, obscuros, totalmente sem sentido. Uma incrível proliferação de non-sense, de equívocos conceituais, de erros factuais, de simples bobagens textuais.

Enfim, não quero prolongar a ansiedade de todos vocês para ler – se desejarem meia hora de surrealismo acadêmico – estendendo-me demasiado neste simples texto introdutório.
Apenas quero terminar por duas mensagens a dois públicos específicos.

1) Aos infelizes alunos desse professor na UNESP: meus cumprimentos pela sorte que vocês têm, neste semestre, de não tê-lo atuando na sua (como diremos?) “alma mater”; vocês escaparam pelo menos por um semestre, talvez por dois, de um besteirol certamente maior do que este;

2) Aos colegas (por sorte temporários) deste “estagiário” no seu pós-doutorado na Universidade de Coimbra: meus pêsames, a todos vocês, pelo esforço que terão de dispender para tentar compreender o que ele quer dizer em sua linguagem gótica e absolutamente incompreensível aos comuns dos mortais.

Paulo Roberto de Almeida

PS1: O autor pode me agradecer por ter aumentado a esfera de audiência de um artigo de dificílima compreensão aos comuns dos mortais, em setores que normalmente não tomariam conhecimento desse tipo de material.

PS2: O autor parece ter passado impune pela mais recente reforma ortográfica, que eliminou diversos acentos que ele continua usando indevidamente, a começar por europeia; mas são muitos mais os erros de ortografia, os descuidos de revisão, a insistência em certos cacoetes de linguagem (como o uso do “Ora,...”), além do próprio caráter obscuro de seu modo de expressão.

PS3: Ele deve copyrights, ou pelo menos moral rights, ao verdadeiro autor da frase "moinho satânico", que ele nem mencionou quem é...

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A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
A crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. O artigo é de Giovanni Alves.
Carta Maior, 8 de junho de 2011

Publicado no site CARTA MAIOR de 08/06/2011 – www.cartamaior.com.br

A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
Giovanni Alves (*)

A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros. 


Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.


Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.


Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. 


Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania...


Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional. 


É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.


Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.


Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido. 


Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia - e talvez no mundo em geral - é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira - e muito menos será a última - crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras. 


Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas. 


Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras. 


Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital. 


Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização - adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio. 


Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha. 


Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado. 


Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.


Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.


Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor. 


Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão - “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).


Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!



(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “ Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br

sábado, 4 de junho de 2011

Maravilhas da preferencia pela industria nacional... (David Ricardo adoraria este caso...)

Apenas constatando a evidência: você paga, eu pago, todos nós pagamos, e alguns ficam ricos, mesmo sem fabricar muita coisa...
Eu só não sei, e confesso que gostaria de saber, por que o governo se esforça tanto para desmentir David Ricardo.
Ele pode até conseguir, durante certo tempo. Mas que sai caro, disso não tenho nenhuma dúvida.
O governo precisaria fazer um curso de Economics 101...
Paulo Roberto de Almeida

Em dificuldades, estaleiro modelo do governo Lula terá aporte bilionário
O Globo, 2 de junho de 2011

Estaleiro Atlântico Sul, de Pernambuco, ainda não conseguiu entregar nenhum dos 22 petroleiros encomendados pela Transpetro

Os sócios do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, preparam capitalização bilionária para o empreendimento, vencedor da licitação para a construção de 22 petroleiros encomendados pelo Transpetro. As empresas Camargo Corrêa (40%) e Queiroz Galvão (40%), com o aporte, tentarão sanar grave problema de fluxo de caixa do EAS, sem receita para os pesados investimentos.
Ainda há dúvidas se os outros sócios, a coreana Samsung Heavy Industries (10%) e a brasileira PJMR Empreendimentos (10%), acompanharão o aporte ou diluirão as participações no processo de aumento de capital. O estaleiro assinará o contrato de construção das primeira sondas de perfuração da Petrobrás fabricadas no Brasil.

O primeiro petroleiro encomendado pela Transpetro, entregue em maio de 2010, ainda está no estaleiro, por conta de problemas de fabricação. Uma segunda unidade já deveria estar em construção, mas atrasou. Por enquanto, o EAS tem recebido as parcelas do financiamento obtido no BNDES, com verba do Fundo de Marinha Mercante e pagamento direto à Transpetro, subsidiária da Petrobrás.

O BNDES informou ter aprovado três financiamentos para o estaleiro, que somam R$ 1,3 bilhão. Segundo a Agência Estado apurou, em levantamento extraoficial, já foram aprovados no banco de fomento financiamentos de, pelo menos, R$ 5,7 bilhões desde 2007, quando começaram as obras do estaleiro. Do total, R$ 2,6 bilhões foram aprovados para a Transpetro repassar à construção dos navios (procedimento comum em empréstimos para construção de equipamentos de grande porte). Não há informações sobre quanto já foi efetivamente liberado.

As construtoras negam que a capitalização esteja em curso, mas executivos ligados a elas admitem preocupação com o negócio. Fontes que acompanham o processo argumentam que o aporte é a única solução para resolver o fluxo de caixa de uma empresa em "pleno investimento", com carteira grande de encomendas de longa maturação.

Empresa paralela. A preocupação chega ao ponto de as duas empresas estarem constituindo uma empresa paralela, a Drill Corporation, que ficaria responsável pela construção das sondas. A estratégia tem por objetivo não repassar o risco financeiro do EAS para o novo contrato, que deve ser assinado ainda neste semestre com a empresa Sete Brasil, formada por fundos de pensão, bancos e Petrobrás.

O EAS, idealizado entre 2003 e 2004, foi por bom tempo chamado de "estaleiro virtual" ou "de papel", pois o projeto incluía a construção simultânea das instalações e de navios e plataformas. Ao vencer a primeira licitação da Transpetro para construir dez navios e na sequência, a plataforma P-55, o EAS foi tratado como "jóia da coroa". Ao ser criado, em 2005, tornou-se o maior estaleiro da América Latina e prometeu criar quase 20 mil empregos, então metade da mão de obra da indústria naval brasileira.

Ante os rumores sobre as dificuldades financeiras, a administração do EAS foi sucinta. Em nota de uma linha limitou-se a informar que desconhece "qualquer operação de aporte dos seus acionistas".

No último dia 12, o Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante aprovou a ampliação da área do estaleiro. A empresa embasou a solicitação na necessidade de ter mais espaço para construir os sete navios-sonda que atuarão no pré-sal, ao custo de US$ 4,6 bilhões. O EAS negocia no BNDES mais recursos para aumentar as instalações.

Ouvido pela Agência Estado, integrante do conselho disse que há preocupação quanto ao EAS. "Nas condições atuais (técnicas e de capacitação de mão de obra), o estaleiro não faz as duas coisas (sondas e petroleiros) ao mesmo tempo", afirmou.

Um dos principais problemas do estaleiro é a qualidade da formação de mão de obra local, o que atrasou as obras e causou problemas estruturais que impediram a entrega do primeiro navio, o João Cândido, em agosto, três meses após ser lançado ao mar pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A ineficácia do estaleiro provocou até a demissão de parte dos executivos responsáveis pelo petroleiro: o presidente Ângelo Bellelis; o diretor industrial, Reiqui Abe, e seu adjunto, Domingos Edral; e o diretor de Planejamento, Wanderley Marques.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O besteirol da semana: protecionismo linguistico (um dos mais estupidos)

Politicos costumam gastar (mal) o nosso dinheiro, isso sabemos todos.
Eles também costumam aprovar projetos absolutamente inócuos, verdadeiras jabuticabas ambulantes, que ficam por aí, pendurados na legislação, sem pegar, mas provocando uma tremenda poluição legal.
De vez em quando, a estupidez baixa com toda violência e ocorre exemplos deste tipo.
Surpreende que um dos estados mais diversificados em sua origem étnica e cultural, dotado de um dos maiores IDHs do Brasil, senão o maior, com escolas supostamente de qualidade, tenha sido capaz de aprovar, por meio de sua Assembléia Legislativa, uma das leis mais estúpidas de que já se ouviu falar no Brasil desde Cabral.
Só podia ser emanada de deputados do PCdoB, esse monumento stalinista ao atraso e à boçalidade cultural.
Claro, não vai pegar, e só vai ser objeto de gozação, sem deixar de provocar novas "contaminações" de estrangeirismo no gauchês -- que diga-se de passagem já contem vários --, por pura vontade de contrariar de quem for um pouco mais gozador.
Eu inscreveria os deputados responsáveis por essa legislação estúpida no Guinnes da burrice nacional e internacional, com prêmio "data venia" (se é que pode o latim...).
Enfim, lamento pelos gaúchos, que contam com mulas de gravata na sua Assembléia...
Paulo Roberto de Almeida

No RS, estrangeirismo serão proibidos
GRACILIANO ROCHA, DE PORTO ALEGRE
Folha de São Paulo, 24/04/2011

Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita

Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado.

Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita" no Estado.

Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT) sancionar ou vetar a lei.

O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de "liquidação", mas a lei vai além.

Quando não houver uma expressão equivalente em português, diz o texto aprovado, uma tradução deverá acompanhar com o mesmo tamanho e destaque o intruso linguístico.

Fosse aplicado tal qual o texto aprovado, o princípio obrigaria uma propaganda de restaurante japonês, por exemplo, a explicar que sashimi são fatias de peixe cru.

A reportagem não conseguiu falar com o deputado. No texto de justificativa do projeto, ele acusa a existência de uma "acelerada descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária".

Além de ser considerada inócua por linguistas, para quem idiomas são sistemas "vivos" em constante transformação, a iniciativa enfureceu o mercado publicitário gaúcho, potencialmente o maior prejudicado pela lei.

"É uma coisa insana querer engessar a língua. Mas, como não prevê punição, é mais uma lei que não vai pegar", diz Alfredo Fedrizzi, dono de uma agência de publicidade em Porto Alegre.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A frase (arrogante) da semana: o sistema eletrico do Brasil é o mais moderno do mundo

Parece até coisa saída do governo "nunca antes", e de certa forma é mesmo: o mesmo ministro de "energia" (ou dos apagões), que, atacado por um ufanismo exacerbado, acaba de proclamar:

"Não existe nada mais moderno no mundo como o sistema elétrico brasileiro."

Isso dito no momento em que procurava encontrar uma explicação (esfarrapada) para mais um apagão (ops, uma "interrupção temporária de energia", mas que durou mais de 6hs em oito estados do Nordeste), ocorrido sob sua gestão (o primeiro tinha sido em Itaipu, em novembro de 2009).
Segundo ele o sistema é forte, é robusto e outras maravilhas mais...

Parece que não resiste a uma simples quebra numa subestação secundária.
E o ministro patético disse que o desligamento se deu por razões de "segurança".
Nunca antes, de fato...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Faz bem consultar o dicionario: palavra "idiota" desta vez...

Nesta data, 1 de fevereiro de 2011, na abertura do Congresso (mas a tortura deve continuar pelos dias seguintes), imagens, matérias e reportagens foram dominadas por três ou quatro personagens bizarros que tomavam posse na Câmara dos Deputados.
Eles eram, ou são, supostamente (como os jornalistas dizem, frequentemente) famosos: um palhaço analfabeto, um jogador de futebol preguiçoso e de hábitos pelo menos suspeitos, um lutador de boxe e um outro indivíduo sobre o qual não tenho a menor informação quem seja, mas que também deve ser famoso, pois também foi assediado pela imprensa, filmado, questionado, enquadrado pela mídia, como dizem muitos...
Eu fiquei me perguntando se, pelo nível geral das respostas que eles balbuciaram frente aos microfones e câmeras, eles eram idiotas mesmo. Tudo leva a crer que sim, mas como eles vão ganhar sem trabalhar nos próximos quatro anos, ou seja, vão viver às nossas custas, de modo muito folgado, cheguei à conclusão que não são eles os idiotas.
Idiotas são todos aqueles que os elegeram, e o bando de repórteres estúpidos que os cercaram, procurando extrair algumas frases, já não digo inteligentes, mas qualquer frase deles.
Esses são os verdadeiros idiotas.
Para me certificar fui consultar o dicionário.
Encontrei isto:

idiota

n adjetivo e substantivo de dois gêneros
1 diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido
2 diz-se de ou pessoa pretensiosa, vaidosa, tola
3 (1873)Rubrica: psiquiatria.
diz-se de ou pessoa afetada por idiotia
n adjetivo
4 que denota falta de inteligência, de discernimento; parado, estúpido, imbecilizado
Ex.: no seu rosto, havia uma expressão i.
5 que não tem valor, sem interesse, sem sentido
Ex.:


Assim é se lhe parece...
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A proposta idiota do mes, talvez do ano...

O Congresso é uma grande fonte de projetos estapafúrdios, alguns risíveis, muitos francamente idiotas, outros involuntariamente catastróficos, que, se aprovados -- espera-se que não o sejam, embora nem sempre se consegue obter o mínimo de bom-senso de parlamentares malucos -- tornariam o Brasil um país pior do que já é, para a inteligência média da população.
O que é incompreensível é que um descendente dos Andradas consiga apresentar projeto tão idiota quanto esse que pretende expor todos os livros em livrarias...
Deve ser um escritor frustrado esse Andradinha...


Na Câmara, proposta tenta impedir pontos de venda de selecionar os títulos que comercializam
Raquel Cozer
O Estado de S.Paulo, 13 de janeiro de 2011

Projeto incomoda livrarias

Um projeto de lei em trâmite na Câmara dos Deputados propõe que livrarias sejam obrigadas a disponibilizar para venda todo livro apresentado por autores ou editores, partindo do princípio de que tais pontos de venda "não são meras casas comerciais". Pela proposta, caso não queira comercializar alguma obra, o livreiro terá de expor por escrito as razões ao editor e ao autor, que poderão pedir a interferência da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Questão. Livrarias não comportariam volume de livros editados, alegam profissionais do setor
O projeto n.º 7913/10 foi apresentado em 17 de novembro pelo ex-deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) como adendo à legislação de 2003 que instituiu a Política Nacional do Livro. Na justificativa, Andrada afirma que a lei n.º 10.753/03, embora tenha a finalidade de "assegurar ao cidadão brasileiro o direito de produção, edição, difusão e comercialização do livro", "não criou mecanismos práticos" para que os autores consigam a circulação das obras.

A CBL e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), que não foram consultadas pelo deputado, só tomaram conhecimento do projeto em dezembro, após ser encaminhado para apreciação da Comissão de Educação e Cultura e da Comissão de Constituição e Justiça de Cidadania. O assunto ganhou repercussão na rede esta semana, quando Jaime Mendes, gerente comercial da Zahar, abordou-o em seu blog Livros, Livrarias e Livreiros, em post intitulado "Projeto de Lei proíbe livrarias de selecionar os livros que vendem".

O presidente da ANL, Vitor Tavares, destaca que "não existe livraria no Brasil, nem megastore, que tenha espaço físico para disponibilizar para venda todos os livros produzidos no Brasil" - só em 2009, segundo o balanço anual Produção e Vendas do Setor Editorial, realizado pela Fipe, foram mais de 22 mil lançamentos e 30 mil reedições. "Além disso, cada livraria tem sua peculiaridade. Você não pode impor a uma livraria especializada em livros em francês que comercialize um título que não seja desse nicho", diz Tavares.

O editor e livreiro Alexandre Martins Fontes, que administra duas lojas do grupo Martins Fontes, destaca que, caso sua equipe de compras (formada por dez pessoas) seja obrigada a justificar por escrito cada recusa de livro, "não terá tempo para fazer absolutamente mais nada".

"É deprimente que um deputado resolva fazer alguma coisa pensando no mundo dos livros, dos autores, das livrarias, e simplesmente não converse com alguém do mercado. Basta conversar cinco minutos para saber que essa proposta é totalmente inviável", diz Martins Fontes.

"Na iniciativa privada, cada um compra o que quer. Escolhemos nossos títulos assim como um mercado compra o arroz que quer, o feijão que quer", argumenta Pedro Herz, proprietário da Livraria Cultura. "Se não posso selecionar o que quero pôr dentro da livraria, então vou cobrar do deputado a construção desse espaço para colocar tudo o que existe, o que deve equivaler a um prédio maior que o da Fundação Biblioteca Nacional."

Descendente de José Bonifácio, o patriarca da Independência, Bonifácio Andrada foi deputado federal nas últimas oito legislaturas e é membro da Academia Mineira de Letras, com vários livros publicados. Ao Estado, disse que o projeto é uma tentativa de ajudar autores "que não estão protegidos pelos livreiros e pelos distribuidores". "Fico feliz de colocar o assunto em discussão. O que quero é dar condições ao autor de ter pelo menos o seu livro analisado." A ANL pretende agora, com o fim do recesso, conversar com o relator do projeto de lei, o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE).

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A estupidez da semana...

Desculpem, mas não consigo me conter quando vejo uma burrice: me dá uma vontade tremenda de chamar gente estúpida de estúpida, idiotas de idiotas...

Câmara aprova proibição de demissão por justa causa em caso de embriaguez

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou, na quarta-feira (8/12), em caráter conclusivo, Projeto de Lei que proíbe a demissão por justa causa em caso de embriaguez habitual ou em serviço. O texto retira essa possibilidade da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) com o objetivo de tratar o alcoolismo como doença, e não como causa para punição. O texto seguirá agora para o Senado, a menos que seja apresentado recurso para sua análise pelo Plenário.

A proposta aprovada é o substitutivo da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público ao Projeto de Lei 206/03, do deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que originalmente determina que a demissão, nesses casos, só poderia ocorrer depois que a empresa oferecer ao trabalhador uma licença para tratamento médico com duração de 60 dias.

O relator na CCJ, deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), recomendou a aprovação do substitutivo, de autoria do deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS). "O trabalhador que sofre de alcoolismo deve ser encaminhado para tratamento médico, em vez de ser dispensado por justa causa", justificou Zimmermann, na Comissão de Trabalho.

Foi rejeitado o Projeto de Lei 4518/04, que trata de assunto semelhante. Apesar de ter recebido parecer favorável na CCJ, o texto havia sido rejeitado na Comissão de Trabalho e o que ficou valendo foi o substitutivo. Com informações da Assessoria de Imprensa da Câmara dos Deputados.

Revista Consultor Jurídico, 9 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

De volta a estupidez nacional: grande aumento do PIB

O "meu" PIB não se refere a Produto Interno Bruto, mas sim Produção Insuperável de Bobagens.
Enfim, é o que mais temos em nossos tempos de imbecilidade galopantes, aliás nos lugares mais insuspeitos...
Paulo Roberto de Almeida

 Da cortina de ferro à cortina de burrice
Mario Guerreiro

Como se sabe, Winston Churchill - logo após a Segunda Guerra e começo da Guerra Fria - foi o criador da expressão iron curtain (cortina de ferro) com o intuito de denominar a muralha espessa e indevassável que separava o bloco comunista do bloco capitalista. Era a época de bipolaridade.
A coisa era muito mais forte do que uma política externa isolacionista, porque esta se caracteriza por um desejo de neutralidade em relação a conflitos internacionais, mas não por um fechamento de uma nação em suas relações culturais com outras nações.
Isolacionistas foram a Suécia, a Suíça e os Estados Unidos. Sabe-se que este último - diferentemente dos dois primeiros que sempre mantiveram sua neutralidade - relutou bastante tempo antes de se envolver tanto na Primeira como na Segunda Guerra. Os EEUU consideravam ser um problema europeu a ser resolvido por países europeus, até os momentos em que se viram forçados a entrar nas duas Guerras.
A cortina de ferro era o desejo concretizado de um isolamento total do exterior, de tal modo que os habitantes da União Soviética não podiam sair do país e estrangeiros não podiam entrar, salvo raras exceções, com permissão explícita do Estado soviético. Aliás, para viajar de uma cidade a outra na própria URSS, era exigida uma espécie de visto fornecida pelas autoridades do Estado.
Mais que isso: a cortina de ferro era uma filtragem das informações recebidas do exterior e enviadas para o exterior. Era uma espécie de gafieira em que quem está fora não entra e quem está dentro não sai, de acordo com o antigo samba, com a diferença de que ninguém achava aquilo prazeroso.
Tudo isso, porque os dirigentes do Politburo não queriam, de nenhum modo, que os habitantes da URSS entrassem em contato com o que estava acontecendo no mundo ocidental pós-Segunda Guerra e fizessem indesejáveis comparações com o nível de vida, hoje diríamos o IDH, de países da Europa e dos Estados Unidos.
No governo de Brejnev, esse rígido controle da mobilidade social e da informação internacional começou a se enfraquecer. Há quem pense mesmo que a penetração da mídia estrangeira e a inevitável comparação de níveis de vida, foram os fatores decisivos da Queda do Muro de Berlim em 1989 e do esfacelamento da União Soviética em 1991.
Marshall MacLuhan sintetizou isso dizendo que as imagens da TV foram a causa da dissolução do comunismo soviético. Um pouco de exagero, mas com um fumo de verdade.
Mas antes muito antes disso, sabe-se que o iniciador do processo de desestalinização, o Primeiro-Ministro Nikita Khrushev, fez uma visita aos Estados Unidos e foi levado à Disneylândia na Califórnia.
A mídia americana mostrou o sisudo russo divertindo-se pra valer, brincando em todos os brinquedos, maravilhado como se fosse uma criança num paraíso lúdico...
E isto é apenas uma entre muitas outras evidências do fascínio que o American way of life tão detratado pelo Pravda - (em russo: A Verdade), jornal oficial e único da URSS - despertava nos cidadãos soviéticos.
Cláudio de Moura Castro, em Veja (17/11/2010), afirma que, apesar da eficiência do sistema de controle soviético – que só começou a apresentar falhas no governo Brejnev, no Brasil foi criado um sistema muito mais eficiente, mediante a adoção de um método diferente. Diz o referido economista especializado em educação:
“Os governantes brasileiros fizeram muito melhor. Abriram tudo, viaja-se à vontade. Mas não cometeram o erro dos russos [que forneceram educação superior gratuita e de boa qualidade a toda a população]. A garantia do isolamento do país está em educação de péssima qualidade e a conta-gotas. Assim nasceu uma Cortina de Burrice, muito mais eficaz, pois somos um país isolado do resto do mundo.”
Todo e qualquer indivíduo, a menos que esteja nos limites da oligofrenia ou caracterize-se como um perfeito apedeuta, já deve ter desconfiado disso de que fala o articulista de Veja.
Como professor universitário há mais de 25 anos, sou levado a concordar inteiramente com aquela asserção de Roberto Campos, feita na década de 80, frequentemente citada por mim: “No Brasil, a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor”. E parece que estamos fadados a esse triste fado. ENEM que a vaca tussa, dificilmente deixaremos de cumprir nosso esplendoroso destino.
Não só a burrice, que se caracteriza por falta de inteligência e discernimento racional, mas também a ignorância caracterizada por falta de informação e formação. Mas a verdade, a dolorosa verdade histórica é que “subdesenvolvimento não se improvisa: é obra de séculos” (Nelson Rodrigues).
Nossas burrice e ignorância nacionais, isto para não falar em nossa notória falta de senso moral, possuem uma longa história – basta dizer que só passamos a editar livros no século XIX e a ter uma universidade no século XX, quando países mais pobres da América Latina já editavam e possuíam universidades séculos antes de nós! What a shame!
Contudo, nas últimas décadas esse quadro se agravou exponencialmente. Cláudio fala de uma experiência pessoal com estudantes universitários: “Há pouco, em uma universidade de elite pedi que levantassem as mãos os que confortavelmente liam inglês. Não vi nem um quinto do auditório. Eis a Cortina de Burrice em ação”.
Mas, ao mesmo tempo, tramita no Congresso Nacional uma lei ampliando os curriculi do segundo grau.
 Ao invés de tomar medidas eficazes quanto ao desconhecimento de uma língua extremamente útil - tão globalizada hoje quanto o latim na Idade Média - oferecem línguas absolutamente inúteis, ensinadas por muito poucos e aprendidas por menos ainda, tais como o insaudoso tupi do Brasil colonial e a fracassado “idioma universal” de Zamenhof: o esperanto, língua artificial falada por meia dúzia de exóticos gatos pingados espalhados pelos quatro cantos do mundo. Mas o Basic English de Richards nossos educadores parecem desconhecer.
O que é tudo isso, senão ecos de profunda ignorância aliada à mentalidade treceiromundista e a um agressivo e ressentido antiamericanismo! (Vide a este respeito: Jean-François Revel: O Antiamericanismo , Rio de Janeiro, Editora da UniverCidade).
“Os europeus passaram do bilingüismo para o trilinguismo. Na Islândia são quatro idiomas. E o nosso controlador de vôo não sabia  inglês” - coisa que não faria a mínima diferença no caso de um entregador de pizza, mas que no ofício em pauta resultou na morte de centenas de pessoas!
“Nossas universidades estão fora da lista das melhores [Ou seja: estão na lista das piores dos 20 países de maior PIB], resultado da Cortina de Burrice, pois perdem pontos nos quesitos de internacionalização. Nas européias muitos cursos são oferecidos em inglês”.
É escusado dizer que essa precariedade de conhecimento, associada a uma pouco freqüente aeróbica dos neurônios, não afetam somente a cultura e a mentalidade dominante no País dos Coitadinhos, mas também nosso desenvolvimento socioeconômico.
“O resultado de nosso isolamento é uma indústria provinciana que não toma conhecimento dos avanços alhures [com as possíveis exceções da indústria dos cosméticos e da “indústria das indenizações”, sinais inequívocos da futilidade e da Lei de Gerson campeando]. Há esforços heróicos, como uma construtora brasileira que comprou uma empresa no Canadá, para mandar estagiar seus engenheiros. Assim veriam como se constrói lá. Mas é uma exceção.”
Recentemente, um canal de TV brasileiro mostrou como, no boom das construções de edifícios de apartamentos na cidade de São Paulo, a quantidade de novos prédios é muito superior à qualidade do acabamento dos mesmos. Péssima qualificação da mão-de-obra? Ausência de bons cronogramas? Açodamento irresponsável das construtoras? Creio que tudo isso mais alguma coisa. Mas Cláudio prossegue:
“Ao lermos as descrições feitas por viajantes estrangeiros que passaram pelo Brasil, constatamos o primitivismo da nossa sociedade. Se  a corte permanecia tosca, a interiorização estava ainda mais distante do progresso social acumulado pela Europa em 2000 anos. Progredimos muito desde então.Mas as cicatrizes do atraso estão por todos os lados”.
É verdade. Para o espanto de muita gente letrada e bem informada, o Brasil foi o país que mais progrediu desde seu nascimento como nação soberana em 1822. Estudos históricos de caráter social e macroeconômico mostram isto claramente.
Mas em pesquisas envolvendo longos períodos de tempo, é preciso levar em consideração as condições de onde se partiu para as de onde se chegou. Para quem morava numa casa de papelão debaixo de um viaduto e passou a morar numa casinha de tijolos numa favela, há um inegável progresso, ainda que muita melhoria seja desejável. Pra ficar ruim, ainda tem que melhorar muito!
Além disso, o que chama mais a atenção é o caráter desigual, fortemente contrastante e paradoxal do desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Temos grandes bolsões de pobreza contrastando com regiões extremamente prósperas.
E podemos encontrar isso na comparação entre Estados da Federação. Num dos extremos, temos São Paulo, exemplo de um Brasil que deu certo. E noutro, temos o Maranhão, exemplo de um Brasil que deu errado. Assim são os diferentes “Brasis” de Gilberto Freire.
Podemos encontrar isso até mesmo dentro de num mesmo Estado da Federação, como Minas Gerais, onde deparamos com a prosperidade do Triângulo Mineiro fazendo fronteira com o norte de São Paulo e com a miserabilidade do Vale do Jequitinhonha e do norte do Estado em sua fronteira com a Bahia.
Isto se chama desenvolvimento regional desigual e fortemente contrastante. Como se costuma dizer: “O mineiro é um baiano cansado” (porque  se deteve em sua caminhada para São Paulo quando da migração nos tempos coloniais).
As cicatrizes de que fala Cláudio foram deixadas em parte por causa dos referidos contrastes. Daí, paradoxos aparentemente inexplicáveis, porém de fácil explicação. Por exemplo: temos a mais avançada odontologia do mundo em que se destaca a Faculdade de Bauru (SP) e, ao mesmo tempo, o maior número de desdendatos do mundo.
Temos um espantoso número de faculdades de direito e formamos não menor número de bacharéis, mas como para exercer a profissão de advogado é preciso passar nas provas da OAB, estas mesmas geralmente reprovam muito mais da metade dos candidatos em todos os Estados da Federação.
E salvo engano meu, a OAB é a única entidade de categoria profissional a exigir concurso para a obtenção de licença para o exercício da profissão.
O número de editoras e de publicações aumentou consideravelmente nas últimas décadas, mas o povo lê muito pouco e o pouco que lê é de questionável qualidade. Muitos estudantes universitários só lêem por obrigação imposta por seus professores, mas quando saem das faculdades com seus canudos de papel nunca mais abrem um livro. E ainda alardeiam isso com orgulho, como o de quem se livrou de um atávico vício!
Finalmente, nos concursos para funcionários de limpeza urbana - para não usar expressões politicamente incorretas, como lixeiros e garis – é exigido segundo grau completo, porque é preciso fazer uma seleção acurada, uma vez que a procura é muitas vezes superior à oferta de vagas.  E tem gente até com mestrado e doutorado entre os candidatos, porque conseguir um emprego está muito difícil nestes tempos bicudos.
 Mas, na eleição para deputado federal, o candidato a candidato pode ser analfabeto funcional ou analfabeto tout court, basta apenas ser jeitoso para burlar a Justiça Eleitoral. O caso Tiririca está aí mesmo, com seus 1.300.000 votos, só para não me deixar mentir...
É uma lei férrea e inexorável: um país de eleitores, quando muito semiletrados, só pode mesmo ter representantes da mesma espécie. brasil, um país de todos (ou de tolos?).

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Estupidez nacional: existe algum limite a sua expansao?

Quando eu tomo conhecimento de notícias assim, eu me questiono se o Brasil não está involuindo mentalmente. OK, sem pretender ser grosseiro, mas sendo, eu me pergunto se esses juízes do RS não estão contribuindo ativamente para o aumento da estupidez nacional.
Ou seja: acabou a responsabilidade individual. Agora, qualquer coisa que aconteça, a responsabilidade sempre é do Estado, da empresa, da coletividade. O "pobre" do indivíduo precisa ser assistido, compensado, indenizado, quase diríamos que ele precisa de um constante serviço de baby-sitter por parte do Estado, para não fazer nenhuma bobagem contra ele mesmo.
Acho que caminhamos rapidamente para o, se já não estamos no, subdesenvolvimento mental.
Paulo Roberto de Almeida

Gerente de lanchonete que engordou no trabalho deve ser indenizado
Consultor Jurídico, 26.10.2010
Uma franquia de uma rede internacional de fast food está obrigada a indenizar um ex-gerente que engordou mais de 30 quilos durante os 12 anos em que trabalhou para a empresa. A decisão unânime é da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. Os desembargadores confirmaram parcialmente a sentença do primeiro grau. Apenas reduziram o valor da indenização de R$ 48 mil para R$ 30 mil por danos morais. Cabe recurso.
De acordo com os autos, o empregado entrou na lanchonete pesando entre 70 e 75 kg e saiu com 105 kg. Para a 3ª Turma do TRT gaúcho, a franquia contribuiu para que o autor chegasse ao quadro de "Obeso 2", resultando em problemas de saúde. Conforme o desembargador João Ghisleni Filho, relator do acórdão, as provas indicaram que o ex-gerente era obrigado a degustar produtos da lanchonete - alimentos reconhecidamente calóricos, como hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvetes.
Além disso, no horário de intervalo, a empresa fornecia um lanche composto de hambúrguer, batatas fritas e refrigerante. De acordo com testemunhas, na loja em que o autor trabalhou a maior parte do tempo, a lanchonete não permitia a troca deste lanche por dinheiro ou vale-refeição.
O relator reconheceu que fatores genéticos e o sedentarismo possivelmente também foram causas da obesidade. Porém, na sua opinião, isso não exime a responsabilidade da empresa. "Mesmo que a adoção de alimentação saudável fosse uma escolha do reclamante, havia imposição para que fossem consumidos os produtos da reclamada como a refeição no intervalo intrajornada e, ainda, para degustação, mesmo que eventualmente, ou duas vezes ao dia, como se extrai da prova", afirma o acórdão. 

Com informações da Assessoria de Imprensa do TRT-RS.
R.O. 0010000-21.2009.5.04.0030
Revista Consultor Jurídico, 26 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nacionalismo canhestro e irracionalidade economica: por que governos sempre tem de ser esquizofrenicos?

Leio, numa nota qualquer, dessas que a gente percorre displicentemente ao processar materiais que recebe pela internet, uma informação sobre a disposição de um governo do continente que fatalmente dividimos com outros povos -- mas a mesma realidade existe no Brasil também -- de apertar os parafusos em matéria de "nacionalismo fundiário".
Segundo a nota, esse governo pretende solicitar a seus aliados no parlamento...

a tarefa de elaborar projeto de lei para conter processo de aquisição de terras por estrangeiros. A alta produtividade das terras do país teria atraído a atenção do agronegócio internacional, com conseqüente sobrevalorização das propriedades rurais e desestímulo a compras por produtores [nacionais]. [O presidente] tem manifestado preocupação com os riscos à soberania decorrentes da venda de terras a empresas multinacionais e, especialmente, a outros Estados.


Bem, o mesmo já ocorreu no Brasil, como todos sabem, onde o governo, alarmado politicamente com a informação que estrangeiros [bem, se tratava de um povo que era, em princípio, "aliado estratégico" do Brasil] estavam comprando terras "demais", resolveu colocar um limite a essas aquisições, numa típica medida de nacionalismo fundiário, e de simples contravenção ao princípio do tratamento nacional -- que prometemos respeitar no âmbito de nossos compromissos internacionais, especialmente no GATT-OMC -- que promete ser prejudicial aos interesses nacionais, e à economia como um todo.

Eu perguntaria simplesmente o seguinte, a esses presidentes, a esses legisladores e a todos os nacionalistas fundiários:

1) Vocês acham que os estrangeiros vão pegar as terras e sair correndo do país?
2) Vocês acham que eles vão deixar as terras inativas, apenas para fins de especulação, em lugar de produzir e retirar o seu lucro? Eles deixariam de cumprir a famosa "função social da propriedade", esse monumento à boçalidade jurídica e econômica de nossa Constituição?
3) Vocês não acham que é um fato economicamente positivo a valorização das terras nacionais, pois isso traduz, no mundo econômico, a famosa lei, bastante simples, na verdade, da oferta e da procura? Ou seja, a valorização das terras nacionais, procuradas por gregos e goianos, ou melhor, por nacionais e estrangeiros, representa, de fato, uma valorização dos ativos nacionais e constitui, portanto, um fato eminentemente positivo na vida econômica nacional. Isso não é bom?
4) Vocês não acham bom que estrangeiros venham até nosso país, se dediquem a comprar terras, a produzir e a exportar, seja para onde for, e que isso aumente o PIB nacional, as exportações, a riqueza e a renda dos nacionais, do país? O que haveria de fundamentalmente negativo na exploração econômica racional, de acordo com as leis nacionais, de terras produtivas por estrangeiros?
5) Vocês não acham que está na hora de acabar com essa mentalidade canhestra, esse nacionalismo rastaquera, esse protecionismo idiota que consiste em achar que terras nacionais só podem ser exploradas (ou não) pelos nacionais?
6) O que existe de basicamente errado em pretender produzir e exportar no país? Os recursos para isso seriam indesejáveis, o processo todo danoso para o país?
7) Onde vocês colocam a racionalidade econômica em todas essas medidas que vocês concebem e tentam colocar em prática?

Não tenho nenhuma ilusão que a mentalidade desses governantes venha a mudar, any time soon.
Como lembrava alguém, subdesenvolvimento não é apenas uma questão material, é também uma questão de mentalidade.
Atraso intelectual e simples incapacidade de raciocinar corretamente são dois traços distintivos de nosso subdesenvolvimento mental...
Triste...
Paulo Roberto de Almeida
(Beijing, 15.10.2010)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Capital Nacional do....? - da mais alta importancia nacional

Pausa para um anúncio da mais alta relevância nacional.
O que eu faria sem esta notícia importante?
Como pudemos viver até agora sem que algo tão importante assim estivesse em vigor?
Como os legisladores nacionais e a própria presidência da república puderam esperar tanto para aprovar essa lei tão importante na vida de tantos cidadãos e cidadãs, especialmente para aqueles dotados de poucos cabelos?
Como, como, como???!!!

Lei 12.285/2010
Presidência da República
Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.285, DE 6 DE JULHO DE 2010.

Confere ao Município de Apucarana, no Estado do Paraná, o título de Capital Nacional do Boné.
O VICEPRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1. É conferido ao Município de Apucarana, Estado do Paraná, o título de Capital Nacional do Boné.
Art. 2. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 6 de julho de 2010; 189 da Independência e 122 da República.

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto


Pois é caro, leitor, você também tem essa sensação de estar lendo uma perfeita inutilidade?
Pois é. Sinto-me um perfeito idiota, pelo simples fato de ter colocado esta suprema bobagem neste blog, pelo fato de ter perdido o meu tempo, e de tê-lo feito perder o seu, com essa verdadeira estupidez nacional.
Mas, pelo menos uma coisa você ficou sabendo: do que se ocupam nossos legisladores, quando, depois de ter trabalhado tanto, estão sem fazer nada, e aí podem pensar nessas coisas absolutamente geniais, que certamente vão melhorar tremendamente a vida nacional, trazer novas riquezas e infinita satisfação ao seu povo (pelo menos para quem usa boné, não é mesmo?).
Ainda assim, você tem a impressão de estar sendo tratado como um perfeito idiota?
Não se preocupe, eu também: eu e você estamos pagando por isso...

Paulo Roberto de Almeida