Mini-reflexão sobre mais uma ofensiva de acadêmicos pro-domo sua
Paulo Roberto de Almeida
Volta e meia, vejo esses gráficos de acadêmicos com pico de “investimentos” em ciência e tecnologia, pesquisa nas universidades, bolsas e tudo o mais, em benefício dos “litterati” esclarecidos, querendo demonstrar que, depois de 2016, o Brasil passou a viver sob o regime nefasto do “austericídio” comandado pela “direita”.
Fico triste ao constatar a falta de raciocínio dos meus colegas acadêmicos ou sua total indiferença para com o resto da população, especialmente os mais pobres.
A noção de “desinvestimento”, implícita a esse tipo de reação, ignora a outra noção, a de que existem limites às despesas públicas, que é quanto o Estado pode extrair dos produtores de riqueza.
Colocar muito dinheiro numa rubrica significa colocar menos em outras. Eles já pensaram nisso?
As bondades feitas pelos petistas em favor dos já incluídos — e aqui não cabem apenas acadêmicos, mas os grandes capitalistas, proprietários e banqueiros, todos os que locupletaram o partido e seus dirigentes, de doações “legais” e dinheiro ilegal —, não reduziram a pobreza, apenas subsidiaram o consumo dos miseráveis, na verdade para criar um curral eleitoral.
Se olharmos bem — e nisso a Lava Jato ajudou, a despeito do militantismo judicial —, as prioridades dos petistas estavam com os grandes capitalistas e a elite universitária, ou seja, os donos do dinheiro e os formadores de opinião. Pobres eram só massa de manobra eleitoral, com o curral assistencialista governamental.
Fácil perceber isso, mas humildade ajuda, compreensão acima de interesses também.
A economia não é contra ninguém, ela apenas indica os limites entre demandas infinitas e recursos finitos.
Até hoje eu me surpreendo com a “crise” das universidades públicas, as entidades que supostamente reunem os seres mais capazes do país, matemáticos e engenheiros que sabem fazer contas e que não conseguem resolver problemas orçamentários? Alegar regras federais para não mudar o seu modo de funcionamento significa pretender ter, como os mais pobres e incapazes, uma babá para cuidar dos seus problemas. Não é coisa digna da República das Letras.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23/12/2020