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domingo, 1 de julho de 2012

Paraguai: diplomacia brasiguaia dando licoes a quem precisa...

Sem serem diplomatas, os brasiguaios constituem uma ponte para a melhoria das relações entre o Brasil e o Paraguai, bem melhor, em todo caso, do que as tramoias altamente suspeitas do Foro de São Paulo articuladas pelos companheiros do continente. 
Uma lição de pragmatismo, que os diplomatas não precisariam (e os do Itamaraty não precisam) tomar, não fosse pelo assalto feito pelos companheiros nas relações internacionais do Brasil. Um assalto, aliás, triplamente qualificado: obscuro (e tem muita coisa secreta que, infelizmente, não vai deixar traços escritos, a não ser nos depoimentos dos envolvidos, quiçás, um dia), altamente distorcido, na forma e na substância, e totalmente contrário aos interesses nacionais. Um dia isso acaba, mas os estragos já foram feitos em termos de credibilidade. Se ninguém diz nada em torno disso, eu digo...
Paulo Roberto de Almeida 


Fazendeiros brasiguaios saúdam fim da era Lugo

Brasileiros assentados há décadas no Paraguai tratam novo presidente como 'nosso Franco'

01 de julho de 2012 | 9h 25
Roberto Simon, enviado especial a Santa Rita
SANTA RITA - Federico Franco é o nosso homem em Assunção. Pelo menos é assim que pensam os grandes fazendeiros brasileiros assentados há décadas no Paraguai, que chegam a tratar o médico cirurgião de 49 anos que sucedeu a Fernando Lugo na presidência de "o nosso Franco".
Federico Franco, novo presidente do Paraguai - Efe
Efe
Federico Franco, novo presidente do Paraguai
Para líderes dos "brasiguaios", a comunidade de brasileiros que há quatro décadas expande a fronteira agrícola do Paraguai, Lugo era uma ameaça ao agronegócio e à propriedade no campo. Franco, do outro lado, é um velho amigo. O ocaso do ex-bispo que rompeu a hegemonia do Partido Colorado, afirmam os produtores brasileiros, dará início a uma nova era de "segurança jurídica" para os investimentos, cada vez mais lucrativos, no país vizinho. Mas, para isso, é preciso que o governo Dilma Rousseff aceite a legitimidade do impeachment de Lugo e mantenha a fraterna relação das últimas décadas com o Paraguai.
Juacir José Rebossi, mineiro ex-boia fria que se tornou um dos maiores fazendeiros brasileiros em solo paraguaio, onde está desde 1969, lamenta que tenha levado "tanto tempo" para Lugo cair. Em sua caminhonete, ele passeia pela região de Santa Rita - vila onde 80% da população é brasiguaia, a 70 km de Ciudad del Este - mostrando os sinais do boom agrícola que mudou a paisagem da região do Alto Paraná. O mato da época em que chegou deu lugar a infindáveis campos de milho, trigo e sobretudo soja, pontilhados por enormes moinhos e estruturas ultramodernas de processamento da colheita. Lojas de maquinário agrícola, carros, agências bancárias e restaurantes se enfileiram na rua principal, que ganhará asfalto em breve - pago não pelo Estado paraguaio, mas pelos proprietários locais.
O maior orgulho de Rebossi, porém, é a Expo Santa Rita, que ele ajudou a criar. Hoje, a feira agrícola que marca o fim da época de colheita, em maio, é o segundo maior evento do agronegócio no Paraguai e um símbolo do poder e prestígio da comunidade brasiguaia. Na edição de 2012, vieram as duplas sertanejas Fernando e Sorocaba e Chitãozinho e Xororó. Franco estava lá, como em todos os anos. Lugo, também como em todos os anos, não.
"Em todo seu governo, ele nos recebeu apenas duas vezes, logo depois que foi eleito, e nas reuniões ficou calado o tempo todo, enquanto nós explicávamos nosso temor das invasões de terra", explica Rebossi.
Mas, com Franco, "a porteira estará sempre aberta" para a comunidade brasileira. "Conhecemos ele há décadas, desde que ele foi deputado e governador, falamos diretamente, com a maior abertura. Ele é alguém realmente aberto aos brasileiros e, por isso, estamos mais otimistas agora."
''Muito obrigado''
A primeira reunião do primeiro dia de trabalho do presidente Franco, às 8h30 de segunda-feira, foi com líderes brasiguaios. No domingo, pouco mais de 24 horas após a queda de Lugo, eles haviam realizado um encontro com o cônsul do Brasil em Ciudad del Este, Flávio Roberto Bonzanini, a quem entregaram uma carta pedindo o "imediato" reconhecimento brasileiro do novo governo paraguaio.
Os fazendeiros foram especialmente trazidos à capital e recebidos em uma das salas do Palácio los López. Com Franco sentado à cabeceira, discutiram formas para desobstruir os canais com Dilma e convencer o governo brasileiro de que a destituição em 36 horas de Lugo foi legítima. Após alguns minutos de reunião, Franco interrompeu subitamente a conversa e, segurando firme um dos interlocutores brasiguaios, soltou: "Muito obrigado pelo que vocês estão fazendo por mim."
"O Paraguai fez a coisa mais certa que poderia fazer: tirar Lugo do poder e evitar o caos, a revolução", explica Francisco Mesomo, gaúcho de 64 anos que, no fim dos anos 70, comprou uma pequena propriedade no Paraguai para cultivar hortelã e, hoje, é um dos grandes produtores de soja, milho e trigo do país. Mesomo e Rebossi fizeram parte da comitiva recebida por Franco na segunda-feira.
O segundo foi ainda a Brasília, na quarta-feira, falar com um grupo de senadores - entre eles Álvaro Dias (PSDB-PR) e Ana Amélia (PP-RS) -, que manifestaram apoio firme à causa dos brasiguaios e ao reconhecimento do novo governo de Assunção.
Invasões
Rebossi e Mesomo culpam Lugo pelo movimento dos carperos, o grupo de sem-terra do Paraguai cujo nome vem dos barracos de lona onde se abrigam, as carpas. Para os dois brasiguaios, a transformação dos camponeses - que, nos anos 90, dispersos, reivindicavam a reforma agrária - em um movimento político nacionalmente organizado, os carperos dos anos 2000, foi "obra de Lugo".
Durante o governo do ex-bispo, afirmam, o Exército dava cobertura às invasões de terra e o Ministério do Interior evitava ao máximo cumprir as determinações judiciais de desapropriação. Eles alegam ainda que os camponeses eram transportados em veículos do Estado, algo que alguns sem-terra ouvidos pela reportagem negaram.
Um dos momentos mais tensos no conflito entre brasiguaios e carperos ocorreu em fevereiro na região de Ñacunday, perto da fronteira, quando cerca de 10 mil sem-terra ocuparam uma propriedade de plantação de soja. A polícia chegou a prender um dos líderes dos camponeses acusado de incitar a violência contra os brasiguaios, mas a questão segue sem desfecho. Parte das famílias continua na propriedade do brasileiro.
"Os carperos queriam que ocorresse em Ñacunday o massacre que ocorreu no dia 15 em Curuguaty", diz Fernando Schuster, referindo-se à tragédia que deixou 17 mortos - 11 sem-terra e 6 carperos - e deu início ao movimento que culminou na deposição de Lugo. "Conversei cara a cara com os carperos quando os policiais entraram na propriedade. Eles (os sem-terra) ficavam nos provocando, querendo que houvesse violência para eles usarem como arma política", diz Schuster, nascido no Paraguai, em límpido português.
Filho de pai brasileiro e candidato a vereador em Santa Rosa del Monday (cada vez mais, "do Mondaí"), outra pequena cidade do Alto Paraná, Schuster afirma que Lugo pôs os carperos "dentro do governo" e, em Ñacunday, "fez de tudo" para mantê-los nas propriedades.
"É preciso entender que Lugo queria trazer o projeto venezuelano de Hugo Chávez para o Paraguai, que ele pôs o Estado contra os produtores rurais, especialmente os brasileiros e seus descendentes", diz o candidato.
Ele afirma ainda que o ex-bispo "fez vista grossa" às ações violentas do Exército do Povo Paraguaio (EPP), "que se está tornando o equivalente paraguaio das Farc".
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Paraguai-Brasil: diplomacia compreensiva?

Não se trata de generosidade, mas de compreensão.
Agora que o governo Lugo se foi, seria o caso de saber se continuaremos a ser compreensivos...



Governo Dilma ignora perseguição a brasileiros no Paraguai
Por Carolina Freitas
revista Veja, fevereiro de 2012

A neta do agricultor gaúcho Milton Seipel, de 54 anos, 34 vividos no Paraguai, pediu chorando ao avô para mudar de escola. Os colegas se uniram para, em meio a empurrões, dizer à menina de 11 anos que ela saísse do colégio. O motivo: ela não fala o guarani, idioma nativo do país. “Ela nasceu no Paraguai, como quatro de meus filhos, meus onze netos e minha bisneta”, diz Seipel. “As crianças disseram que ali não era lugar para brasileiros.” A menina trocou não só de escola como de cidade. Para o avô restou a saudade. Da neta e de tempos mais tranquilos.
Os 150 000 brasileiros proprietários de fazendas no estado do Alto Paraná, leste do Paraguai, estão sob ameaça. Aproximadamente 8 000 carperos - os sem-terra paraguaios - cercam as suas propriedades. Armados de facões e porretes de madeira, eles destroem plantações, agridem e ameaçam os produtores rurais. Seu discurso tem um claro componente nacionalista e, mais que isso, de estigmatização dos brasileiros, como mostra o episódio com a neta de Seipel. Também há indícios preocupantes de que as autoridades paraguaias se alinham com os carperos.
No entanto, fiel à diplomacia da condescendência adotada desde o governo Lula em relação aos vizinhos, o Itamaraty responde de maneira tímida aos abusos. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou apenas uma vez com o chanceler paraguaio, Jorge Lara Castro, sobre os conflitos. Foi coletar informações. A ordem de Patriota para que o embaixador do Brasil no Paraguai, Eduardo Santos, visitasse a região só aconteceu um mês depois da primeira incursão dos carperos pelas terras de brasileiros. Só agora o Itamaraty estuda reforçar a estrutura consular no local, informou o embaixador Eduardo Santos. A reportagem do site de VEJA esteve na região e mostra quem são os protagonistas desse embate e os reflexos diplomáticos dele.
A tensão cresceu nas últimas semanas, quando o Exército paraguaio, acompanhado de falanges de carperos, iniciou uma demarcação de terras no Alto Paraná que ninguém no governo de Fernando Lugo conseguiu explicar até agora. Foram fincados no chão doze marcos de concreto em sete cidades, formando um perímetro que coincide com a área de 162 mil hectares reivindicada pelos sem-terra como terra pública a ser destinada para reforma agrária. Eles acusam os brasileiros de ter se apropriado dos terrenos. “Os invasores são os brasileiros”, afirma Victoriano Lopez, comandante do movimento. A maioria absoluta dos brasileiros que vivem no Alto Paraná, contudo, comprou fazendas de forma legal e tem título da propriedade. E o fato foi comprovado por sucessivas medições judiciais feitas nos últimos anos.
Por onde passaram durante a demarcação, militares e carperos deixaram um rastro de medo. Durante os nove dias da operação, de 12 a 21 de janeiro, foram registrados nas delegacias da região quinze boletins de ocorrência por invasão de propriedade privada, coação, ameaça, agressão e tentativa de homicídio. Os excessos foram tantos que, em 23 de janeiro, o governo suspendeu a ação. Dias depois, o ministro da Defesa, Catalino Ortiz, foi chamado ao Senado para se explicar e admitiu irregularidades na ação.
Um dos marcos, de concreto e pintado de laranja fluorescente, foi colocado na propriedade de Milton Seipel. Às 13 horas de 14 de janeiro, um sábado, apontou na porteira um grupo de quarenta carperos armados com facões e de quatro militares. “Os campesinos chegaram, gritaram para minha mulher prender o cachorro, abriram a porteira e entraram”, conta o produtor. “Perguntei se eles tinham documento. Eles não mostraram nada e mandaram que eu me calasse.”
Uma semana depois eles apareceram nas cercanias da fazenda do brasileiro Alexi Paulo Grutka, de 47 anos, há 20 no Paraguai. Por lá também colocaram um marco. O filho dele, Diego, paraguaio de 23 anos, dirigia pela região quando foi interceptado por duas caminhonetes de sem-terra. Com uma espingarda, um revólver e facões em punho, os carperos mandaram Diego descer do veículo e o revistaram, sob ameaças. Dispararam um tiro de espingarda e fizeram o rapaz correr. Depois, quebraram os vidros do carro e roubaram a carteira e o celular que Diego tinha deixado no carro.
Os dois casos, como o de dezenas de produtores, foram relatados pelos produtores ao cônsul do Brasil em Ciudad Del Este, Flávio Bonzanini, em uma reunião ainda em janeiro. Pouco foi feito desde então além de acompanhar a situação, em obsequioso silêncio. Na terça-feira da semana passada, mais um encontro, dessa vez com a presença do embaixador do Brasil no Paraguai, Eduardo Santos. “Eles prometeram que agiriam dentro das possibilidades deles. Não quiseram se comprometer com prazos ou ações”, relata Milton Abich, gerente da Coordenadoria Agrícola do Paraguai e filho de brasileiros.   Em entrevista ao site de VEJA, o embaixador Eduardo Santos disse que tem mantido diálogo permanente com os integrantes do governo Lugo e que solicitou reforço policial na região do conflito. “A tensão da comunidade brasileira é real, prática e permanente”, disse Santos. Ainda assim, o tom usado com as autoridades paraguaias deve se manter. “Temos um diálogo leal e amistoso com o governo paraguaio. Nossas relações com o Paraguai são muito próximas.”
A única medida concreta apresentada pelo Itamaraty ainda está em estudo e não tem data para sair do papel. A diplomacia avalia a possibilidade de criar um gabinete de crise na região de Ñacunday, na forma de um consulado itinerante. No local, agentes consulares ficariam disponíveis para prestar assistência direta aos brasileiros.
A diplomacia poderia fazer muito mais pelos brasileiros, sem qualquer desrespeito à soberania paraguaia, com um simples - porém firme - discurso do ministro Antonio Patriota ou da presidente Dilma Rousseff a favor dos compatriotas que lá vivem. Caso contrário, corre-se o risco de repetir no Paraguai a postura frouxa adotada em 2006 em relação à Bolívia. Na época, Luiz Inácio Lula da Silva tratou com brandura o programa de nacionalização na área do gás do presidente Evo Morales, apesar dos prejuízos causados pela política à Petrobras. Agora, estão em jogo a vida e o sustento de milhares de brasileiros que vivem no Paraguai.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Diplomacia da mobilidade migratoria

Cidade de MS sofre com chegada de brasileiros expulsos do Paraguai
Sílvia Frias
Folha de S. Paulo, 30.04.2010

COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A prefeita de Itaquiraí (MS), Sandra Cassone (PT), pode decretar situação de emergência no município depois que cerca de 1.500 brasiguaios (brasileiros que moram no Paraguai) acamparam na BR-163, entre Itaquiraí e Naviraí, a 390 quilômetros de Campo Grande.
Segundo a prefeita, a estrutura da cidade, de 22 mil habitantes, não comporta a chegada dos novos moradores, brasileiros que dizem ter sido expulsos do país vizinho por policiais, milicianos e camponeses.
Os brasiguaios começaram a chegar há aproximadamente três meses. Eles disseram que as terras compradas por eles estavam sendo invadidas por paraguaios, insatisfeitos com a presença brasileira na região.
Delcio Nees, 35, foi um dos primeiros a deixar sua fazenda paraguaia, em Mariscal Francisco Solano López, no departamento de Caaguazú. "A polícia chega, bate nos brasileiros, depois os camponeses invadem, roubam nossos animais, queimam a gente com cigarro."
O brasiguaio diz que os conflitos eram comuns desde 2005, mas a situação piorou nos últimos três meses. Nees preferiu abandonar as terras antes que fosse alvo dos ataques. "Morava há 30 anos lá e agora estou aqui com uma mão na frente e outra atrás."
Segundo Nees, as famílias que fugiram são todas da região de Santa Tereza. Os brasiguaios conseguiram alugar ônibus e atravessaram a fronteira, chegando em Itaquiraí, uma viagem de 420 quilômetros.
Inicialmente, chegavam em pequenos grupos, mas, há pouco mais de um mês, o êxodo tomou grandes proporções. O acampamento Antônio Irmão, em que moravam pouco mais de 80 famílias de sem-terra, hoje tem cerca de 600 famílias.
"A situação está degradante", diz a prefeita. Segundo ela, a Defesa Civil municipal está fazendo levantamento para que a prefeitura possa decretar situação de emergência e angariar recursos para as famílias.
Emergencialmente, a administração contratou professores e abriu salas para que os filhos dos brasiguaios possam estudar. Com poucos banheiros no local, muitos usaram áreas de matagal, e o resultado foi a contaminação dos poços artesianos do acampamento.
O chefe da missão diplomática do Paraguai no Brasil, Didier Olmedo, disse que a embaixada não recebeu comunicação oficial sobre a expulsão de brasileiros de fazendas do país.