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segunda-feira, 2 de maio de 2016

Economia brasileira: ambiente de negocios - Itau Macro

Orange Book Brasil: Ajuste continua, pressões inflacionárias diminuem
Itaú Macro
Informações até 29 de abril de 2016

Este relatório, publicado seis vezes por ano, resume relatos sobre o ambiente de negócios que ouvimos de contatos no setor real, especialistas e outras fontes fora do Itaú. Exceto pela seção ‘Nossa visão’, este relatório não reflete necessariamente a visão da área de pesquisa econômica do Itaú.

Seções:
Consumo e produção de bens e serviços                                                                     
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. Varejistas e produtores avançam no processo de ajustes à nova realidade da demanda.                                                                  

Investimento                                                                                                           
A confiança do empresário se estabilizou, ainda em nível baixo. A recessão, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento.                                                              

Mercado de trabalho, custos de produção e preços                                                       
Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm gradualmente deixando de ser uma preocupação. A maioria dos setores reporta que o período de inflação de custos ficou para trás.

Mercado imobiliário                                                                                                   
O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras.

Commodities                                                                                                       
O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano. Na siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas.

Nossa visão                                                                                                             

Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. A recuperação da economia depende da capacidade de aprovação de ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.                                                                                                                                                                 

Resumo
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. Com aumento do desemprego, juros elevados e o consumidor final ainda alavancado, há pouca expectativa de recuperação este ano. Nesse ambiente, varejistas e produtores avançam no processo de redução de estoques e de adequação do seu tamanho à nova realidade da demanda.

A confiança do empresário se estabilizou, ainda em nível baixo. Os números preliminares de abril sugerem uma melhora na atividade, mas ainda é cedo para afirmar que se trata de uma tendência. A recessão doméstica, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento privado. O investimento público também está em baixa, devido à crise fiscal dos governos regional e central. 

Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm gradualmente deixando de ser uma preocupação. A readequação dos custos, aliada a alguma redução nos preços de energia, aluguéis e fretes, vai tornando a economia mais ajustada. Nesse cenário, a maioria dos setores reporta que o período de inflação de custos ficou para trás: a expectativa, adiante, é de preços mais estáveis.

O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras. O cenário é semelhante para o imobiliário comercial, mas, nesse segmento, o ajuste é mais rápido. Os preços e aluguéis já recuaram sensivelmente, o que vem sendo uma opção para as empresas reduzirem custos.

O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano.  A alta recente dos preços dos grãos melhorou a perspectiva da rentabilidade do setor, mais do que compensando os efeitos da apreciação recente da taxa de câmbio.

No setor de siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas. Na mineração, a alta recente do preço do minério de ferro trouxe um alívio, mas há dúvidas se a tendência é sustentável.

Nossa visão: Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. O desemprego deve seguir em alta, reforçando o cenário de consumo em queda. A estabilização dos indicadores de confiança sugere que a recessão pode se atenuar no segundo semestre. Mais adiante, a recuperação da economia depende da capacidade de aprovação de ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.

Consumo e produção de bens e serviços
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. O movimento do consumidor em busca de produtos de menor valor agregado e preços mais baixos vem se intensificando. Com aumento do desemprego, juros elevados e o consumidor final ainda alavancado, há pouca expectativa de recuperação da demanda nos próximos meses. A demanda fraca é confirmada também por produtores de insumos para bens de consumo, como embalagens, que reportam fraqueza generalizada nas encomendas.

Diante desse cenário, produtores e varejistas avançam no processo de redução de estoques e de adequação do seu tamanho à nova realidade da demanda. Na maioria dos casos, a percepção é que o processo ainda não foi concluído. Como reportado no último Orange Book, há uma diferença entre setores de bens duráveis - automóveis, eletrodomésticos -, que parecem mais ajustados ao cenário por terem começado o ajuste há mais tempo, e segmentos de bens semi e não duráveis, em que a queda da demanda é mais pronunciada agora do que no ano passado.
O setor de serviços também indica queda adicional da atividade. O movimento em shopping centers, hotéis, restaurantes segue baixo, e aumenta a preocupação com relação à saúde financeira de pequenos e médios varejistas e prestadores de serviço, especialmente em meio a um cenário de juros ainda elevados. A maioria das cadeias de varejo vem implementando uma redução no número de lojas no País.
A inadimplência segue uma preocupação crescente entre os setores de bens e serviços. Esse movimento intensifica a preocupação com liquidez na economia. O número de pedidos de recuperação judicial continua aumentando.
Em contrapartida, o aumento dos custos de produção de 2015 vem deixando de ser uma preocupação. A acomodação da taxa de câmbio em patamar um pouco mais apreciado, o repasse aos preços que já ocorreu e os esforços de ajuste adotados deixaram a maioria dos setores mais equilibrados. Poucos segmentos ligados ao consumo reportam intenção de aumentos significativos de preços adiante.

Investimento
A confiança do empresário se estabilizou, em nível baixo. Nosso indicador, construído a partir de uma base ampla de clientes, ainda que com alguma volatilidade, tem-se mantido em níveis próximos aos observados desde o fim de 2015. Os números preliminares de abril sugerem uma melhora, mas parece cedo para afirmar que se trata de uma tendência. O indicador de 'investimento previsto' segue no nível mais baixo da série histórica.
A recessão doméstica, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento privado. O investimento público também está em baixa, devido à crise fiscal dos governos regional e central. 
Nos setores de bens de capital e veículos pesados, a demanda doméstica segue deprimida, em parte em virtude da antecipação de compras durante o período de crédito subsidiado. Nesse ambiente, as montadoras continuam adequando a produção com ajustes nas linhas de produção e férias coletivas. Há preocupação com a sustentabilidade de alguns revendedores e fornecedores de peças, segmentos mais pulverizados.
A exportação tem sido uma opção para reduzir os estoques para esses setores. A demanda externa continua crescendo, ainda que em ritmo mais lento, e os níveis atuais da taxa de câmbio tornam os produtos brasileiros mais competitivos, especialmente na América Latina.
Com relação ao investimento estrangeiro, o interesse de empresas (especialmente as multinacionais) em comprar novos ativos ou expandir seus negócios atuais no Brasil continua. A postura é cautelosa, diante das incertezas de diversas naturezas, mas o número de negócios vem aumentando.

Mercado de trabalho, custos de produção e preços
O foco da maioria dos setores para este ano é de redução de custos, para se adequar à nova realidade da demanda. O processo está em estágios diferentes entre os setores da economia, mas a percepção é que ainda continuará na maioria deles. Essa tendência sugere que o mercado de trabalho deve continuar a se enfraquecer à frente. A maioria dos setores tem fechado acordos salariais abaixo da inflação passada.
Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm deixando de ser uma preocupação. O processo de redução de custos, aliado a alguma redução nos preços de energia, aluguéis e fretes, vai tornando a economia mais ajustada à nova realidade da demanda interna. A acomodação da taxa de câmbio em patamar menos depreciado também gera algum alívio para segmentos com elevados níveis de insumos importados.
Nesse cenário, muitos setores reportam que o período de inflação de custos ficou para trás: a expectativa, adiante, é de preços mais estáveis.

Mercado imobiliário
O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras. Nesse cenário, os estoques permanecem elevados, levando o setor a discutir descontos maiores e estratégias de vendas mais ativas. Como reportado no último Orange Book, o receio é o aumento do distrato, o que poderia tornar ainda mais difícil o reequilíbrio do mercado.  O volume de lançamentos continua em queda.
O cenário é semelhante para o imobiliário comercial. O nível de vacância é elevado, especialmente em escritórios comerciais, e existem ainda projetos em construção. O ajuste no segmento comercial, no entanto, é mais rápido. Os preços e aluguéis já recuaram sensivelmente, o que vem sendo uma opção para as empresas reduzirem custos.
A crise traz oportunidades.  A queda nos preços dos terrenos e no custo da obra incentiva o investimento das empresas menos alavancadas. Outro segmento que vem crescendo é o de terceirização de ativos imobiliários, que se apresenta como uma solução mais eficiente e mais barata de armazenagem para empresas.

Commodities
O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano.  A perspectiva é de volumes semelhantes aos do ano passado, com a produtividade de algumas culturas, como a soja, melhor do que em anos anteriores. A alta dos preços dos grãos melhorou a perspectiva da rentabilidade do setor, mais do que compensando os efeitos da apreciação recente da taxa de câmbio. Com a perspectiva de o fenômeno La Niña afetar a próxima safra, a avaliação é de que a alta recente dos preços tende a ser sustentável.
A gestão de caixa é uma preocupação. A disponibilidade de crédito diminuiu, limitando a capacidade de investimentos e prejudicando os segmentos mais endividados, como o sucroalcooleiro.
No setor de siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas. A competitividade da produção local melhorou com a desvalorização do real, mas afeta a gestão de caixa das empresas, uma vez que o setor tem dívidas em dólar.  Na mineração, a alta recente dos preços trouxe um alívio para as preocupações do início do ano, mas há dúvidas se a tendência é sustentável. Contudo, a preocupação com as perspectivas da demanda chinesa permanecem.
No setor de petróleo, a atividade continua fraca e as incertezas seguem elevadas. Os preços em patamar relativamente baixo - apesar da recuperação recente - e o endividamento do setor continuam afetando a cadeia produtiva. A possibilidade de vendas de ativos públicos e de mudanças no marco regulatório do setor mantêm as empresas do setor atentas.

Nossa visão
Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. A taxa de desemprego deve seguir em alta, refletindo o ajuste da economia, o que reforça o cenário de consumo em queda.
A estabilização dos indicadores de confiança sugere que a recessão pode se atenuar no segundo semestre.
Com a depreciação cambial, o setor externo vem contribuindo positivamente. Há um processo de substituição de importações, que já ocorre desde o ano passado, e, mais recentemente, há sinais de retomada das exportações.
Para a frente, o cenário no Brasil depende da capacidade de aprovar ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

O Brasil e a agenda economica internacional: cenario atual - Paulo Roberto de Almeida

Ficha do mais recente trabalho publicado:
2807. “O Brasil e a agenda econômica internacional, 1: como se apresenta o cenário econômico internacional da atualidade?”, Hartford, 6 abril 2015, 4 p. Análise da situação econômica atual do mundo, em preparação para a discussão da posição e dos desafios para o Brasil. Mundorama (15/04/2015; link). Relação de Publicados n. 1172. 
Para outros artigos meus em Mundorama, ver: http://mundorama.net/?s=Paulo+Roberto+de+Almeida+
Paulo Roberto de Almeida  

O Brasil e a agenda econômica internacional: Como se apresenta o cenário econômico internacional da atualidade?, por Paulo Roberto de Almeida


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Depois de oito anos de deslanchada a crise imobiliária e bancária nos Estados Unidos, da qual eles se recuperam lenta mas seguramente, os demais países avançados (o Japão certamente, os países europeus em ritmo mais diversificado) continuam a trilhar o caminho da superação dos piores problemas acumulados na passagem da década, mas ainda no baixo crescimento e enfrentando a tradicional irresolução de políticos timoratos em conduzir um programa consistente de reformas estruturais. O mundo só não está pior porque uma parte das economias emergentes dinâmicas serve de motor limitado para a economia global. Aquela expectativa de que, funcionando de maneira simbiótica, EUA e China poderiam representar uma poderosa locomotiva de expansão contínua do comércio e dos investimentos internacionais não se confirmou, e a própria China parece acumular alguns desequilíbrios – nas áreas financeira e imobiliária justamente – que podem prolongar a atual lentidão na retomada de um ritmo mais sustentado da economia global.
Todos os países desenvolvidos podem ter exagerado nas medidas de “estímulo econômico” – ou seja, a velha injeção keynesiana de liquidez nos mercados – e de incentivo ao investimento – reduzindo as taxas de juros a praticamente zero, quando não são negativas em alguns – o que promete continuar desestimulando a poupança e agregar aos níveis já altos, até exagerados, de endividamento público. O consolo é que o custo dessas dívidas ainda é relativamente baixo, mas o retorno a condições normais de juros, combinado ao declínio demográfico em vários deles, não augura um futuro brilhante para a atual geração de entrantes no mercado e suas respectivas aposentadorias.
Uma eventual recessão na China – aparentemente improvável, mas não de todo impossível, ou descartável – pode piorar, e bastante, o cenário de médio prazo para os países que se tornaram parceiros comerciais privilegiados, em especial os exportadores de produtos primários da África e da América Latina, que se beneficiaram bastante bem do boom das commodities dos anos fastos, quando a China absorvia entre um quarto e um terço de várias mercadorias e insumos de base. O Brasil – o governo Lula em especial – foi um desses felizardos que se locupletaram de dólares com a soja a 600 dólares e o minério de ferro a 200 dólares a tonelada; ao que parece, esse tempo já passou, embora os preços dos agrícolas e das carnes não tenham declinado para profundezas tão tenebrosas quanto as dos fósseis e de alguns metálicos. Em todo caso, o mundo pode se beneficiar do petróleo barato e da nova demanda de manufaturados por parte das novas “classes médias” pipocando aqui e ali em diversos continentes (alô Apple, alô Samsung!).
No terreno do comércio internacional, as perspectivas não são entusiasmantes: as negociações da Rodada Doha estão em crise, seus resultados até aqui foram mais do que decepcionantes e não se vislumbra sua conclusão próxima ou mesmo hipotética, muito embora se tenha registrado a preservação do básico, que é um respeito mínimo pelas regras multilaterais, com salvaguardas e antidumping registrando estatísticas mais ou menos “normais” (com exceção de alguns recalcitrantes e protecionistas renitentes, como pode ser o caso aqui mesmo na América Latina); mas, pela primeira vez em décadas, a taxa de crescimento do comércio mundial fica abaixo da expansão do produto, ainda que com grandes desigualdades regionais (na Ásia Pacífico, por exemplo, a expansão comercial se mantém em ritmo razoável dentro da própria região).
No terreno das finanças e das moedas não se registraram as catástrofes que alguns profetas do apocalipse do passado – o da repetição da Grande Depressão dos anos 1930 – tinham anunciado quando das crises bancárias de 2008 e 2009, mas vários economistas falam da atual Grande Recessão com um prazer quase mórbido. Tensões e conflitos localizados se manifestam aqui e ali, a descoordenação é garantida nas políticas macroeconômicas dos integrantes do G20, mas não se tem mais a acrimônia de uma suposta “guerra cambial” do yuan contra as principais moedas ocidentais; aqueles que falavam de “tsunami financeiro” se preocupam agora com a retração dos fluxos de dinheiro fácil que, jorrando, alimentavam alguns belos déficits de transações correntes aqui e ali (não é keynesianos de botequim de conhecidos países equilibristas bêbados?).
Nos principais países desenvolvidos se observa, nesse capítulo, a continuidade da livre movimentação de capitais, com os controles esperados nos emergentes, e com as paridades cambiais evoluindo gradualmente, embora surpresas desagradáveis não sejam de se descartar (o tango dólar-euro é um dos mais interessantes). A inflação baixa está garantida nos principais países responsáveis, e só malucos localizados conhecem taxas a dois dígitos (mas esses são casos terminais de esquizofrenia econômica); inovadores monetários – como alguns que achavam que uma expansão irrefletida do crédito poderia sustentar um boom de consumo e de investimentos – se encontram hoje em maus lençóis, tendo de suportar greves e o descontentamento dessa classe média alimentada na ilusão do crediário “sem juros”. Aprendizes de feiticeiros econômicos acabam aprendendo da pior maneira, tendo de administrar a velha conhecida estagflação, ou seja, a combinação da estagnação econômica, com baixo crescimento e alto desemprego e uma inflação persistente, como tinha sido o caso nas principais economias avançadas pós-choques do petróleo dos anos 1970. Seria agora a vez do Brasil?
Keynes deve ter escrito em algum lugar que nunca se é profeta duas vezes, mas tem gente que não lê nem orelhas dos manuais econômicos, quanto mais as obras completas do mais irreverente professor de Cambridge. Seus atuais seguidores de araque se contentam com as platitudes neo-Prebischianas de um coreano da mesma universidade, que também acha que existe um complô dos ricos contra os pobres, aqueles chutando a escada pela qual deveriam subir os novos desenvolvimentistas. Alguns até continuam repetindo as mesmas bobagens dos anos 1990 contra o Consenso de Washington, como se essas simples regras de bom senso reformista tivessem algo a ver com as agruras passadas ou com as angustias presentes dos neo-estagnacionistas.
A despeito de todos esses percalços, o regime econômico multilateral se mantém mais ou menos intacto, tal como concebido em Bretton Woods mais de setenta anos atrás e reformado aqui e ali com remendos de ocasião por quem podia fazê-los. Outros países se contentam em absorver os choques e aproveitam para dar continuidade às mesmas políticas oportunistas que foram as suas nas fases de industrialização triunfante, o que de toda forma lhes assegurou certo aumento no bolo da interdependência global. Alguns certamente avançaram, como os emergentes da Ásia Pacífico, bem mais, em todo caso, do que os saudosistas da América Latina, que parecem não sair do lugar, ou retroceder.
No terreno da segurança, que também tem impactos econômicos, em lugar da diminuição gradual dos focos de tensão entre as grandes potências, observa-se o que alguns chamam de retorno à Guerra Fria, não se sabe se como farsa, ou se como simples sobressaltos de suspiros imperiais, na antiga periferia soviética. O Oriente Médio nunca decepciona em confirmar as piores expectativas que sempre marcaram aquela região, com o longo impasse entre Israel e Palestina, e os novos problemas do fundamentalismo islâmico agora convertido em califado expansionista e guerreiro. Com isso, o rebrote de tensões e de conflitos civis ou inter-religiosos, em estados semifalidos (ou por completo, como parece ser o caso da Síria e do Iêmen) promete dar continuidade a velhos problemas de pobreza, de miséria e de desesperança em sociedades já de ordinário martirizadas – se o termo se aplica – por intratáveis contradições entre a manutenção da tradição e as explosões de modernidade na população juvenil e conectada.
No meio ambiente, finalmente, os compromissos são frágeis, as reconversões são difíceis e todos os atores prefeririam ter os custos da adaptação transferidos, segundo os casos, para os mais ricos, para os emergentes, para os poluidores históricos, para os novos poluidores, para os destruidores de florestas, etc. Se e quando alguns acordos forem ratificados, eles já estarão superados pelos esforços adaptativos dos agentes primários da globalização ambiental, que são as empresas de consumo de massa, no caso pressionadas pela opinião pública (atuando mais em função do politicamente correto do que de sólidos princípios econômicos relativos a preços de mercados de bens escassos).
Alguma esperança nisso tudo? Talvez. Afinal de contas, o novo papa, que parece ser peronista em economia, promete ao menos fazer um aggiornamento necessário nos “costumes” da sua Igreja e continuar o diálogo com as outras comunidades de fé, o que talvez suscite algum avanço por parte de certos representantes do Islã no sentido de dar início a um também necessário trabalho de exegese da palavra do profeta. Nunca é demais esperar um pouco de racionalidade da raça humana. Mas não façam apostas…

Este é o primeiro de uma série de quatro artigos. Os próximos serão os seguintes: 
  • Como o Brasil se insere nesse cenário, agora e no futuro próximo?
  • Como e qual seria uma (ou a) agenda ideal para o Brasil?
  • O que o Brasil deveria exatamente fazer para maximizar a “sua” agenda?
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: o governo sainte entrega resultados piores do que os que recebeu - Luiz Guilherme Medeiros

Transcrevo, abaixo, curta nota de Luiz Guilherme Medeiros, do Instituto Liberal do Centro-Oeste, que faz uma breve reflexão sobre o momento eleitoral, com base nos dados econômicos disponíveis, de inflação, de crescimento e de provável aumento do desemprego.
Acredito que esses dados fornecem elementos adequados para informar o cidadão ainda indeciso sobre quais são as escolhas a serem feitas na atual conjuntura, contribuindo para um voto consciente.
Eu me permitiria acrescentar uma reflexão pessoal, que constato como qualquer outro observador do cenário político eleitoral de 2014: o Brasil se encontra dividido, talvez não tão profundamente como acreditam alguns ideólogos, ou como circunstancialmente revelam algumas sondagens eleitorais, e felizmente não tão dividido quanto outras sociedades mais infelizes do que a nossa -- a Venezuela, por exemplo -- mas ainda assim dividido, segundo linhas de clivagem que eu pretendo explorar em outro pequeno texto de reflexão. Só posso antecipar que a atual divisão -- complexa, e não apenas social e política -- terá consequências negativas para o processo político que se inicia com o novo governo, qualquer que seja ele. Essa divisão também terá consequências sobre as reformas, inevitáveis, que se impõem, em face de um quadro recessivo e de inflação ascendente.
Infelizmente, sou obrigado a constatar isto, mas não quero me antecipar sobre o que pretendo escrever em breve.
Enquanto isso fiquem com esta pequena nota informativa e reflexiva.
Paulo Roberto de Almeida

O atual governo alega que se importa com os pobres, mas não é isso que suas atitudes revelam
Luiz Guilherme Medeiros
Instituto Liberal do Centro-Oeste, 20/10/2014 (recebido: 17:00)

A gestão Dilma realizou um feito surpreendente: entregou quase todos os indicadores econômicos do Brasil piores do que pegou.

Criamos poucos empregos, nosso crescimento é baixo, a renda da população não aumenta e a inflação cada vez mais desvaloriza o Real. Um cenário ruim para o trabalhador humilde, que teme começar a ver suas oportunidades de ganhar sustento se reduzirem.

São as consequências de políticas econômicas ruins, que vem emperrando nosso desenvolvimento nos últimos quatro anos.

O que o governo faz diante disso? Cruza os braços e nega a existência do problema.

Está claro que o modelo atual fracassou. Continuar com ele é fazer o Brasil afundar em seus problemas, ver as nossas conquistas retrocederem. Não é razoável por tudo a perder simplesmente porque nossos representantes se enganam, ou tentam nos enganar.

Precisamos de mudança. Vamos renovar nosso país e começar as reformas necessárias para voltarmos a crescer com vigor, aumentando a prosperidade de todos.

Imediatismo ou compromisso com a nação. A escolha é sua.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mercado-projeta-crescimento-de-0-27-do-pib-neste-ano,1579580
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/10/inflacao-de-setembro-chega-675-e-estoura-o-teto-da-meta-do-governo.html