O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 1 de janeiro de 2023

Meus melhores votos de sucesso em 2023 vão para… - Paulo Roberto de Almeida

 Meus melhores votos de sucesso em 2023 vão para…

Lula como presidente pela terceira vez, algo inédito na história política brasileira, por ser pela via democrática e não como certos “presidentes” ou chefes de governos, eternizados em eleições fraudadas em diversos países latino-americanos, africanos e em outros países, inclusive europeus, como por exemplo na Hungria de Orban e na Rússia de Putin, assim como na China de Xi Jinping (que acaba de romper um modelo de alternância na autocracia do partido leninista, ao “eleger” pela terceira vez o seu novo imperador).

Lula merece ter sucesso no que é o seu marco distintivo na frágil democracia brasileira, a diminuição, ainda que relativa e altamente instável, da iniquidade da distribuição de renda no país, que sempre a concentrou em favor de nossas medíocres elites patrimonialistas. 

Não tenho nenhuma ilusão que essa pequena redução na concentração de renda se faça em favor dos realmente pobres e miseráveis e que ela seja feita pelos bons méritos de políticas macroeconômicas e setoriais adequadas, pois carregam os sinais distintivos do velho populismo eleitoreiro da subvenção ao consumo dos mais pobres, e não pela via correta e necessária de redução das fontes estruturais da pobreza, que são a não educação de maneira geral e a baixa capacitação técnico-profissional da população economicamente ativa, necessária para a elevação dos níveis de produtividade do capital humano e social, em particular.

Sempre fui, a despeito de ser bastante crítico a esse personagem singular do velho populismo brasileiro, um apoiador sincero de suas medidas redistributivas, que corrigem, ainda que minimamente e modestamente, a tremenda injustiça do eterno patrimonialismo oligárquico do Brasil, uma nação que se caracteriza por séculos de injustiças contra os mais pobres, em primeiro lugar contra os africanos e indígenas escravizados e oprimidos, e que ainda se ressentem da persistência de formas disfarçadas de escravismo e de servidão na pobreza generalizada de seus descendentes.

Continuarei ao longo de 2023, e mais além, meu apoio crítico a tais medidas de redução da miséria abjeta e da pobreza absoluta por parte de um governo que dispõe de um legítimo apoio popular, ao lado de uma convivência incômoda com as “elites” extratoras de sempre, as classes econômicas eternamente privilegiadas, que não são apenas os velhos e novos  proprietários fundiários e os grandes capitalistas, empresários industriais e banqueiros, mas também os mandarins do Estado, a começar pela aristocracia do judiciário e outros altos servidores do Estado, que se servem do Estado para si próprios. 

Manterei, ao longo de 2023 e mais adiante, meu ceticismo sadio em relação a políticas públicas e medidas estatais que atuam apenas nos estoques de riqueza, e não na criação de seus novos fluxos, assim como naquelas iniciativas redistributivas que impactam apenas os muitos efeitos da iniquidade distributiva (entre elas um sistema tributário regressivo), e não exatamente suas múltiplas fontes de criação dos canais de reconcentração de renda, com modestos resultados nas estruturas sólidas do nosso vergonhoso coeficiente de Gini.

Serei especialmente crítico em relação a uma política externa feita de muitos equívocos conceituais (como a velha e anacrônica visão “classista” da divisão do mundo) e de sua primeira diplomacia partidária, com vergonhosos apoios a execráveis ditaduras supostamente de esquerda (e algumas de direita também). 

Sou, em particular, um opositor talvez isolado e de primeira hora do BRIC-BRICS, que considero um grande erro estratégico da diplomacia lulopetista, por nos unir, sem qualquer convergência sólida de objetivos compartilhados, a duas grandes autocracias e a duas outras democracias de baixíssima qualidade (como é a nossa aliás), apenas pela ilusão de que se trataria da construção de uma ordem mundial alternativa à velha dominação de antigas potências colonialistas ou do novo hegemonismo americano, o que é um programa meramente oposicionista, sem qualquer conexão com propostas visando a melhoria da qualidade de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social, ou com a elevação dos padrões de governança democrática e de defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.

Também sou um opositor declarado do estatismo desmesurado desse terceiro governo economicamente intervencionista do grande líder populista, e de sua megalomania na política externa, o que nos envolve num certo aventureirismo diplomático, sem grandes efeitos no objetivo que deveria ser essencial num projeto nacional, que é a redução dos níveis exageradamente altos de miséria e de pobreza inaceitáveis.

Com todas essas ressalvas, alertas e sugestões, desejo um bom 2023 a Lula e um bom governo até 2026, esperando que escapemos de uma nova e catastrófica recessão (como a de 2015-16) e que em 2027 estejamos melhor do que agora e livres de qualquer ameaça golpista e de um retorno do destruidor desgoverno desse infeliz último quadriênio, marcado pelo reforço do patrimonialismo oligárquico e do autoritarismo militar, ilegítimo em sua essência. 

Vamos lá Brasil, seja feliz de novo, como nos bons tempos de JK, que viram o nascimento da Bossa Nova e do Rei Pelé!

Com os melhores votos de

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 1/01/2023

domingo, 23 de dezembro de 2018

Novos e velhos desafios ao ceticismo sadio e ao contrarianismo - Paulo Roberto de Almeida

Novos e velhos desafios ao ceticismo sadio e ao contrarianismo

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: declaração à praça; finalidade: alerta preventivo] 

Em 2003, convidado para ser o diretor de estudos do programa de mestrado da academia diplomática brasileira, o Instituto Rio Branco, fui vetado pelo novo poder recentemente estabelecido no Brasil: uma tropa de true believerscomposta por sindicalistas mafiosos, guerrilheiros reciclados neobolcheviques, diplomatas coniventes e colaboradores oportunistas.
Em 2004, colocado num completo ostracismo pelos novos donos do poder no Itamaraty, dei início ao meu quilombo de resistência intelectual, sob a forma deste blog Diplomatizzando, no qual ainda estou, com o mesmo espírito que me animou desde o início: postar coisas inteligentes para pessoas inteligentes, respeitosas da diversidade de pensamento, da liberdade de opinião e do ceticismo sadio em relação ao senso comum, às idées reçues(preconceitos estabelecidos e verdades reveladas), sem esquecer uma pequena ponta de contrarianismo.
Ao longo desses anos todos, navegando na maior parte do tempo contra a corrente, continuei sustentando as mesmas opiniões e atitudes, ainda que ao preço de grandes sacrifícios pessoais e familiares. Persisti, sustentado por valores e princípios invariavelmente comprometidos com a inteligência e a honestidade intelectual.
Marx tinha certa razão quando disse, num texto simplista sobre a ideologia, que as ideias das classes dominantes são as ideias dominantes. Concordo, mas eu mudaria algo pelo meio da frase: as ideias dos grupos que dominam o Estado, ou pelo menos o governo, pretendem se tornar as ideias dominantes, por indução discreta ou imposição arrogante daqueles que ocupam o poder. No que me concerne, nunca me dobrei a isso.
Em 2019, continuarei animado pelos mesmos propósitos e objetivos.
Boas ideias acabam prevalecendo no longo prazo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de dezembro de 2018

domingo, 17 de setembro de 2017

Meu ceticismo sadio em formato de livro: Doubt, A History - Jennifer Hecht

Acabo de adquirir, em versão Kindle, este livro, que deve me fornecer novos argumentos, doutos, para sustentar minha atitude metodológica de desconfiar de tudo, e questionar tudo:

Doubt: A History: The Great Doubters and Their Legacy of Innovation from Socrates and Jesus to Thomas Jefferson and Emily Dickinson - Kindle Edition

In the tradition of grand sweeping histories such as From Dawn To Decadence, The Structure of Scientific Revolutions, and A History of God, Hecht champions doubt and questioning as one of the great and noble, if unheralded, intellectual traditions that distinguish the Western mind especially-from Socrates to Galileo and Darwin to Wittgenstein and Hawking. This is an account of the world's greatest ‘intellectual virtuosos,' who are also humanity's greatest doubters and disbelievers, from the ancient Greek philosophers, Jesus, and the Eastern religions, to modern secular equivalents Marx, Freud and Darwin—and their attempts to reconcile the seeming meaninglessness of the universe with the human need for meaning,
This remarkable book ranges from the early Greeks, Hebrew figures such as Job and Ecclesiastes, Eastern critical wisdom, Roman stoicism, Jesus as a man of doubt, Gnosticism and Christian mystics, medieval Islamic, Jewish and Christian skeptics, secularism, the rise of science, modern and contemporary critical thinkers such as Schopenhauer, Darwin, Marx, Freud, Nietzsche, the existentialists.

Ainda vou ler, mas aqui vão duas resenhas:

Editorial Reviews

From Publishers Weekly

Cited midway through this magisterial book by Hecht (The End of the Soul), the Zen maxim "Great Doubt: great awakening. Little Doubt: little awakening. No Doubt: no awakening" reveals that skepticism is the sine qua non of reflection, and discloses the centrality that doubt and disbelief have played in fueling intellectual discovery. Most scholarship focuses on the belief systems that have defined religious history while leaving doubters burnt along the wayside. Hecht's poetical prose beautifully dramatizes the struggle between belief and denial, in terms of historical currents and individual wrestlings with the angel. Doubt is revealed to be the subtle stirring that has precipitated many of the more widely remembered innovations in politics, religion and science, such as medieval Jewish philosopher Gersonides's doubt of Ptolemaic cosmology 200-300 years before Copernicus, Kepler or Galileo. The breadth of this work is stunning in its coverage of nearly all extant written history. Hecht's exegesis traces doubt's meandering path from the fragments of pre-Socratics and early religious heretics in Asia, carefully elucidating the evolution of Hinduism, Jainism and Buddhism, through the intermingling of Eastern and Western religious and philosophical thought in the Middle Ages that is often left out of popular histories, to the preeminence of doubt in thrusting open the doors of modernity with the Cartesian "I am a thing... that doubts," ergo sum. Writing with acute sensitivity, Hecht draws the reader toward personal reflection on some of the most timeless questions ever posed.
Copyright 2003 Reed Business Information, Inc.

From Booklist

*Starred Review* Let others admire cathedrals: poet and historian Hecht celebrates the creations of doubters. In this remarkably wide ranging history, Hecht recounts how doubters from Socrates to Wittgenstein have translated their misgivings about regnant orthodoxies into new philosophic insights and political horizons. Though she explores the skepticism of early Greek thinkers challenging pagan gods, the tantric doubts of Tibetan monks chanting their way to enlightenment, and the poetic unbelief of heretical Muslim poets, Hecht gives center stage to Christianity, the religion that made doubt newly visible--and subversive--by identifying faith (not law, morality, or ritual) as the very key to salvation. Readers witness the martyrdom of iconoclastic doubters such as Bruno, Dolet, and Vanini, but Hecht also illuminates the wrenching episodes of doubt in the lives of passionate believers, including Paul and Augustine. In Jesus' anguished utterances in Gethsemane and at Calvary, Hecht hears even Christ experiencing the agony of doubt. Indeed, Hecht's affinity for the doubters who have advanced secular democracy and modern art does not blind her to the hidden kinship between profound doubters and seminal believers: both have confronted the perplexing gap between human aspirations and their tragic contradictions. In her provocative conclusion, Hecht ponders the novelty of a global confrontation pitting America not against the state-sanctioned doubt of Soviet atheism but, rather, against a religious fundamentalism hostile to all doubt. Bryce Christensen
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