Agora sim: condições ideais para escrever suas memórias
Paulo Roberto de Almeida
Quando eu era secretário e até conselheiro diplomático, tínhamos diárias muito espartanas, 200 e poucos dólares, para participar de conferências ou reuniões de serviço em cidades relativamente caras: Genebra, NY, Paris, Washington.
Recorríamos aos colegas amigos para poupar o taxi do aeroporto distante, por vezes até hospedagem. Do contrário, tinha de ser um hotelzinho modesto, três estrelas, quartinho pequeno, TV, frigo, banheiro ainda menor.
Acabo de assistir as imagens das novas acomodações exclusivas do condenado a 27 anos, mas que ainda não começou a cumprir a pena.
Pois elas me lembraram os quartinhos modestos das missões diplomáticas.
Pois eu acho que o ex-presidente, agora sem chance de voltar para a política e teoricamente limitado em sua capacidade de receber milhões via Pix dos devotos, beatos e outros idiotas seduzidos pelas lições de machismo e de propensões claramente autoritárias na política, tem uma excelente oportunidade para finalmente começar a escrever suas memórias, certamente medíocres, de tenente terrorista a capitão alçado a chefe de generais, que sem dúvida o desprezavam, mas que aproveitaram ao máximo as benesses do poder.
Ele terá tempo suficiente, nos próximos meses e anos, para redigir páginas enaltecedoras de uma carreira medíocre, mas bastante enriquecedora (das rachadinhas às rachadonas, com cartão corporativo).
Depois, vai ser preciso contratar um revisor de Português para polir a linguagem tosca e a redação sofrível do golpista incompetente e covarde.
Editora não vai ser problema, inclusive uma edição paga (pelos apoiadores da tropa golpista).
Acho que só falta uma estante para acomodar livros de Direito, de História do Brasil e algum manual de redação.
É tudo o que espero do cara que ainda precisa pagar pelos 700 mil mortos durante a pandemia, segundo o pastor Ismael, que quase foi linchado pelos reunidos na “vigília libertadora” da fatídica sexta-feira de derretimento da tornozeleira eletrônica.
O quartinho modesto me fez relembrar a primeira metade da minha carreira diplomática; gostei!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23/11/2025