O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

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domingo, 23 de novembro de 2025

Agora sim: condições ideais para escrever suas memórias - Paulo Roberto de Almeida

Agora sim: condições ideais para escrever suas memórias

Paulo Roberto de Almeida 

Quando eu era secretário e até conselheiro diplomático, tínhamos diárias muito espartanas, 200 e poucos dólares, para participar de conferências ou reuniões  de serviço em cidades relativamente caras: Genebra, NY, Paris, Washington.

Recorríamos aos colegas amigos para poupar o taxi do aeroporto distante, por vezes até hospedagem. Do contrário, tinha de ser um hotelzinho modesto, três estrelas, quartinho pequeno, TV, frigo, banheiro ainda menor.

Acabo de assistir as imagens das novas acomodações exclusivas do condenado a 27 anos, mas que ainda não começou a cumprir a pena.

Pois elas me lembraram os quartinhos modestos das missões diplomáticas.

Pois eu acho que o ex-presidente, agora sem chance de voltar para a política e teoricamente limitado em sua capacidade de receber milhões via Pix dos devotos, beatos e outros idiotas seduzidos pelas lições de machismo e de propensões claramente autoritárias na política, tem uma excelente oportunidade para finalmente começar a escrever suas memórias, certamente medíocres, de tenente terrorista a capitão alçado a chefe de generais, que sem dúvida o desprezavam, mas que aproveitaram ao máximo as benesses do poder.

Ele terá tempo suficiente, nos próximos meses e anos, para redigir páginas enaltecedoras de uma carreira medíocre, mas bastante enriquecedora (das rachadinhas às rachadonas, com cartão corporativo).

Depois, vai ser preciso contratar um revisor de Português para polir a linguagem tosca e a redação sofrível do golpista incompetente e covarde.

Editora não vai ser problema, inclusive uma edição paga (pelos apoiadores da tropa golpista).

Acho que só falta uma estante para acomodar livros de Direito, de História do Brasil e algum manual de redação.

É tudo o que espero do cara que ainda precisa pagar pelos 700 mil mortos durante a pandemia, segundo o pastor  Ismael, que quase foi linchado pelos reunidos na “vigília libertadora” da fatídica sexta-feira de derretimento da  tornozeleira eletrônica.

O quartinho modesto me fez relembrar a primeira metade da minha carreira diplomática; gostei!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/11/2025


terça-feira, 17 de maio de 2011

Existe democracia e ilusocracia, na China - Claudia Trevisan

Democracia e eleições com ‘características chinesas’
por Cláudia Trevisan
Blog Estadão, 16.maio.2011

“Esta é uma eleição do Partido Comunista e não uma eleição americana”. A frase foi dita por um policial na semana passada no momento em que ele comandava a prisão de Liu Ping, desempregada e candidata independente ao Conselho de Representantes de sua cidade, na província de Jiangxi. Seu crime foi fazer campanha durante a eleição, algo absolutamente banal em vários lugares do mundo, mas inconcebível na “democracia com características chinesas”. Liu foi carregada pelos policiais e teve sua casa vasculhada.
Advogados chineses ressaltaram que não há nada na legislação do país que proíba candidatos de divulgarem seus nomes e propostas, mas o que menos conta quando os interesses do Partido Comunista estão em xeque é o que diz a lei.
A infeliz frase do policial se transformou de maneira instantânea em um hit da versão chinesa do Twitter, que é bloqueado no país. Chamada de Weibo (microblog), a ferramenta do site Sina tem 140 milhões de usuários registrados e, apesar da censura, se transformou em um importante canal de denúncia contra abusos de poder por autoridades desde que foi criado, em 2009.
É claro que o Weibo também está sujeito aos limites oficiais, o que se reflete no fato de que a frase “Esta é uma eleição do Partido Comunista e não uma eleição americana” foi deletada pelos censores e não podia mais ser encontrada ontem. Mas o nome “Liu Ping” continuava popular e havia se transformado em um símbolo da defesa dos direitos de voto dos cidadãos.
Contra todas as evidências, os líderes chineses repetem com frequência que seu país é uma democracia, diferente da ocidental, mas uma democracia. Entre os argumentos que utilizam estão os de que existem outros partidos além do Comunista (dos quais ninguém nunca ouve falar) e que há eleições para todos os órgãos de base da sociedade (realizadas em circunstâncias que restringem a liberdade de escolha dos eleitores, como os fatos recentes demonstram).
A mensagem implícita em “Esta é uma eleição do Partido Comunista e não uma eleição americana” é a de que nenhum resultado que contrarie os interesses dos ocupantes do poder é admissível. Os eleitores não precisam saber em quem estão votando, não há apresentação de propostas e tudo é absolutamente controlado pelo governo, que na China se confunde com o Partido. No fim, são “eleitos” aqueles previamente escolhidos pelos comunistas, que deixam mais uma vez clara sua falta de disposição para afrouxar o controle sobre o sistema político chinês.
Quanto a Liu Ping, ela continuava presa ontem, sob a suspeita de “esconder material de propaganda perigoso”, supostamente o mesmo que ela distribuía abertamente na porta do supermercado onde foi detida. A polícia revistou sua casa, confiscou o material “perigoso” e dois celulares. A eletricidade e a conexão de internet do local foram cortados.