Uma reflexão sobre as incertezas ocidentais quanto à postura da China no sistema internacional numa conjuntura de alteração dos equilíbrios econômicos existentes nos últimos séculos
Paulo Roberto de Almeida
É simplesmente FALSO que a China represente uma AMEAÇA a princípios e valores das democracias de mercado e às instituições do multilateralismo contemporâneo, como se o governo autocrático do PCC quisesse demolir as democracias existentes atualmente, ou como se a China estivesse desmantelando a ordem mundial criada por elas desde Bretton Woods.
É uma grande HIPOCRISIA dos EUA transformar sua arrogância (hubris) e paranoia por motivos de um declinio relativo (ou perda de preeminência hegemônica absoluta) em mobilização de outras democracias avançadas num esforço coletivo para se CONTRAPOR aos progressos econômicos e tecnológicos da China.
Quanto aos avanços militares da China, eles não se destinam a implantar o comunismo no mundo, mas a evitar que a nação chinesa seja novamente humilhada, como foi no passado, por outras potências dominantes.
O mundo ganharia muito, em especial os países em desenvolvimento, se houvesse total abertura econômica, liberalização comercial, disposição para a complementaridade real das grandes economias na divisão mundial do trabalho e no reforço das instituições multilaterais em prol de investimentos em capital humano nos países mais pobres (que são os que estão na origem das “exportações” indesejadas de seus excentes demográficos miseráveis para os países ricos).
É um EQUÍVOCO dos EUA e de outros parceiros avançados essa atitude confrontacionista vis-à-vis a China, quando ela não é uma potência “revisionista”, como foram os militarismos fascistas expansionistas da primeira metade do século XX, ao prosseguir em sua estratégia de plena inserção no status quo atual, que foi justamente criado pelas grandes potências democráticas de mercado ao favorecerem o multilateralismo, a globalização, o livre comércio e a exportação de capitais.
Trata-se também de uma arrogância típica de países ocidentais seguros de seus valores e princípios fundamentados em regimes democráticos e nos direitos humanos achar que a China deva ter um sistema político que seja um reflexo dos seus.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 5 de maio de 2021