O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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Mostrando postagens com marcador desenvolvimento econômico. Mostrar todas as postagens
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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Por que a America do Norte se tornou rica e a America Latina continua pobre? - uma aula virtual Paulo Roberto de Almeida

Vou dar uma aula virtual nesta sexta-feira, dia 17 de abril, as 20hs de Brasília, 19hs da costa leste dos EUA. Não sei precisamente se está aberta a todos os interessados, em todo caso reproduzo a mensagem convite que também recebi:

Quero lhe convidar para participar da nossa primeira Aula ao Vivo, que será gratuita e com muito conteúdo de qualidade.

No dia 17 de abril às 20 horas vamos realizar a nossa primeira Aula ao Vivo com o Professor Paulo Roberto de Almeida sobre Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?

Faça Seu Cadastro Aqui!

O professor Paulo Roberto é diplomata de carreira desde 1977, Doutor em Ciências Sociais e com pesquisas voltadas para os seguintes temas: relações internacionais, história diplomática do Brasil e desenvolvimento econômico. Eis alguns dos temas da Aula:

- Por que a humanidade foi pobre em boa parte da história?
- A América Latina sempre foi pobre nas condições sociais de vida da população?
- Como a América do Norte acumulou riqueza suficiente para desfrutar de uma vida mais confortável?
- Qual a importância dos fatores culturais, institucionais e educacionais para a pobreza da América Latina?

Venha Participar dessa Aula Tão Importante para a Compreensão da nossa Realidade.
Reserve a Sua Vaga e Participe do Sorteio!

Um grande abraço,

Prof. Cleófas Júnior - UEPB

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Nova chamada, recebida em 16/04/2015:

Essa será uma questão analisada na Aula ao Vivo Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?, junto com o diplomata e doutor Paulo Roberto de Almeida.

Apresento um trecho importante do artigo preparado pelo doutor Paulo Roberto:

“Não deveria haver muita surpresa quando se constata o fato de que a América Latina, a despeito de progressos sociais e econômicos inegáveis nas últimas décadas, permanece bastante pobre, em termos de condições sociais de vida para a maioria de seus habitantes”.


Participe desse momento de reflexão tão importante sobre a nossa história!

Compartilhe com seus amigos a nossa Aula através desse link http://livresdamediocridade.leadlovers.com


Um grande abraço,

Cleófas Júnior


quinta-feira, 10 de julho de 2014

China: o grande arquiteto da modernizacao economica - Liu He (Belfer Center)

Overcoming the Great Recession: Lessons from China
Belfer Center for Science and International Affairs,  July 10, 2014
   
Overcoming the Great Recession: Lessons from China

The US-China Strategic and Economic Dialogue being held in Beijing this week reminds us of the most important bilateral relationship in the world today. Americans are understandably concerned that the perspectives of American policymakers and scholars are understood broadly by elites and publics in other countries. We tend to be less vigilant, however, in listening to the perspectives of others.

Liu He is worth listening to. A rare combination of scholarly analysts and policy advisor, he has emerged as Chinese President Xi Jinping's right hand man on economic policy. The Chinese press has named him the "Chief Architect" of the current economic program to transform the Chinese economy. As Head of the Office of the Central Leading Group on Financial and Economic Affairs in the President's office, he plays a role not unlike that which one of us had in the Obama Administration's first term.

In the aftershocks of the Great Financial Crisis of 2008, Liu led a research team that prepared an analysis of earlier financial crises to provide guidance for the Chinese government's response. We arranged for that document to be translated, and it was just published as a joint discussion paper of Harvard's Belfer Center for Science and International Affairs and Mossavar-Rahmani Center for Business and Government at Harvard's Kennedy School.

As we note in a foreword to the paper, five years after the meltdown that threatened a second Great Depression, the Eurozone's economic output has yet to reach pre-crisis levels. The US is stuck in secular stagnation. But China has averaged 7.5% annual growth, three quarters its previous rate. Indeed, the incandescent fact about the performance of the major economies since 2008 is that of all the growth that has taken place in the global economy, 40% of it has occurred in just one country: China.

Liu He's analysis provides clues to the reasons why—claims worthy of discussion and debate in the wider policy-related community.

Read Full Analysis (PDF): http://links.hks-belfercenter.mkt4851.com/ctt?kn=15&ms=ODk5NjMyMwS2&r=MzQxMTk0NDYyMjAS1&b=0&j=MzQwODQ3MDYwS0&mt=1&rt=0

Belfer Center for Science and International Affairs
79 JFK Street, Cambridge, MA 02138
Email: belfer_center@hks.harvard.edu | Phone: 617-495-1400

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Protecionismo comercial e promocao industrial nos EUA - trecho de livro

Tem gente que acredita que foi por causa do protecionismo comercial que os EUA se tornaram uma grande potência industrial, o que é um erro histórico, e econômico, monumental, pois o argumento não considera todos os outros elementos, ou fatores, favoráveis e tendencialmente suscetíveis de apoiar uma forte tendência à industrialização, independentemente de quão protecionista tenham sido (aliás irregularmente) as políticas comerciais das diversas administrações americanas ao longo do século 19.
Aliás, o Brasil foi tão, ou mais -- e posso provar que foi mais -- protecionista do que os EUA e no entanto não se tornou uma potência industrial. Teria sido o nosso protecionismo insuficiente? Mas ele foi, de fato, maior...
Portanto, há de se pensar em outros fatores, como a própria capacitação humana da sociedade em empreender atividades sofisticadas como são às ligadas à indústria.
De resto, basta ver o peso, muito pequeno, do comércio exterior, na formação dos PIBs americano e brasileiro, o que não deve pesar muito nas tendências econômicas gerais. Seria capaz o "rabo" da política comercial abanar o "cachorro" do desenvolvimento? Não acredito.
Todas as condições nos EUA eram favoráveis ao desenvolvimento industrial, inclusive porque fizeram (pelo menos na New England) uma Revolução industrial praticamente simultânea à aquela feita na Inglaterra, e se não o fizeram antes é porque as vantagens comparativas dos EUA estavam concentradas nos recursos naturais e na exploração das atividades primárias, onde eles eram abundantes em terra, mas escassos em mão-de-obra (que era cara, para ser concentrada na manufatura imediatamente).
Um pouco de história não faz mal a ninguém...
Paulo Roberto de Almeida

Is free trade a good thing?
delanceyplace.com, November 1, 2013


In today's selection -- today, the majority of politicians and economists advocate free trade among nations with no tariffs -- or at least equal tariffs between trading partners. However, from its inception in the 1780s almost until the twentieth century, America was a highly protectionist nation with heavy tariffs on imports. This was primarily because the fledgling American manufacturing base was not nearly strong enough to stand up to competition from powerhouse nations -- especially Britain. Furthermore, the trade situation was gravely out of balance with imports far exceeding exports. The situation was most dire in the 1780s and 1790s, but even decades later a politician as revered as Abraham Lincoln was a strong advocate of protectionist tariffs. (When America eventually became the world's manufacturing powerhouse -- in part because the tariff had provided a shield that allowed them to mature -- its views on tariffs changed). From the outset, though, this high-tariff posture favored the manufacturing-oriented states of the northern U.S. at the expense of the agriculture-exporting South:

"After the war ended in 1783, America's external economy was still tied to the British Empire almost as tightly as it had been before the Revolution. And while the country's imports rose by more than 69 percent during the twenty years from 1770 to 1790, its exports grew by only 2.7 percent, one twenty-sixth as much. This was a path to disaster. For the period 1787- 1792, more than 90 percent of all imported manufactures came from Britain. As against this incoming flood, only 43 percent of America's small quantities of exports went to Britain and its empire; 25 percent went to the French Empire, 10 percent to the Dutch Empire, 8 percent to the Spanish Empire, and 6 percent to the Portuguese Empire (mainly Brazil). At none of these destinations were American traders as welcome as they wished to be. Nowhere did American merchants sell as much as they could have in the absence of imperial restrictions. Nor, back home, could the thirteen states come to agreement among themselves as to what to do about it.

(tabela imagem)
Imports and exports from America during the 18th century

"Heavy dependence for public funds on import tariffs (customs duties or 'imposts') made foreign policy inseparable from economic policy. Until the new government under the Constitution entered office in 1789, customs duties belonged not to the national government but to whatever state included the port where the incoming goods happened to enter. This was one of the many elements that had made the financing of the Revolution so chaotic. 

"Then, too, both before and after 1789, such heavy reliance on imposts deepened sectional discord. Many Southerners disliked having to pay tariffs on imported British goods. They believed that the North, where manufacturing was more highly developed, could supply its local consumers with a larger amount of domestically made products than the South was able to do. This meant, in turn, that the South was having to buy proportionately more British goods, and, accordingly, having to contribute more than its share of duties on manufactured imports. And yet, tariffs on British imports furnished the bulk of all federal income. A reduction or stoppage of this income would imperil the new nation's independence. The intertwined issues of finance and foreign relations therefore tended to divide the country along sectional lines of North versus South.

"Because we know how this story turned out -- that the Union survived and prospered -- it is hard to imagine how perilous the situation of the 1780s and 1790s actually was."

Author: Thomas K. McGraw
Title: The Founders and Finance
Publisher: Belknap Harvard
Date: Copyright 2012 by the President and Fellows of Harvard College
Pages: 48-49


The Founders and Finance: How Hamilton, Gallatin, and Other Immigrants Forged a New Economy
by Thomas K. McCraw by Belknap Press


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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A lesma economica brasileira: obstaculos institucionais e politica economica companheira

Em quanto tempo o PIB per capita do Brasil alcançaria o de países ricos
No atual ritmo PIB per capita do Brasil alcançaria o dos EUA em 108 anos
Achados Econômicos, 25/08/2013

EUA: 108 anos. O PIB per capita do Brasil foi de US$ 11.875 em 2012 e tem crescido a uma taxa média de 4,5% ao ano. Nesse ritmo, o país levaria 33 anos para atingir o mesmo patamar que os EUA têm hoje (US$ 49.922). Mas como nos EUA o indicador também cresce (3,1% ao ano), somente em 108 anos o PIB per capita dos dois países se igualaria Leia mais AP

Mantido o atual ritmo de crescimento em cada país, o PIB (produto interno bruto) per capita do Brasil se igualaria ao dos Estados Unidos em 108 anos, ao do Reino Unido em 47 anos e ao da Itália em 30.
Em 2012, o PIB (produto interno bruto) per capita do Brasil foi de US$ 11.875, e o dos EUA, de US$ 49.922, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse número foi calculado com base na paridade do poder de compra, uma cotação do dólar que desconta a diferença do poder aquisitivo em cada país.
Para calcular o ritmo de crescimento atual, Achados Econômicos considerou a média dos últimos cinco anos e a da projeção de crescimento para os próximos cinco, elaborada pelo FMI, ou seja, o período que vai de 2009 a 2018.
Nesses dez anos, o PIB per capita brasileiro vem crescendo a uma média de 4,5% ao ano, enquanto o dos EUA avança a 3,1% ao ano.
É claro que nenhum país mantém o mesmo ritmo de crescimento desse indicador por períodos tão longos – na verdade, é difícil que a taxa se repita mesmo em dois anos seguidos.
A economia dos países está exposta a inúmeros eventos que influenciam o seu crescimento. Ainda, quanto maior o PIB per capita, mais difícil manter um ritmo de expansão alto.
Na China, por exemplo, o PIB per capita tem crescido acima de 10% ao ano, mas, com isso, os trabalhadores locais tendem a começar a ganhar mais, de modo a aumentar o custo do trabalho e, possivelmente, corroer parte da competitividade dos produtos chineses.
Nem por isso o cálculo do tempo que os países vão levar para aumentar o seu PIB per capita é inútil. Ele mostra para onde a economia de cada nação está apontando neste momento.
Não deve ser visto, portanto, como uma tentativa de prever o futuro, e sim como uma forma de enxergar melhor o atual momento.
Emergentes
A China e a Coreia do Sul são os dois países emergentes que mais rapidamente alcançariam a renda per capita dos EUA, se mantivessem o atual ritmo de crescimento. Veja quanto tempo cada nação em desenvolvimento levaria para chegar ao mesmo nível dos americanos.
País
PIB per capita atual (US$)
Crescimento anual* (%)
Em quantos anos alcançaria os EUA
China
9.162
10,1
26
Coreia do Sul
32.272
4,8
26
Chile
18.419
5,4
46
Índia
3.830
7,2
66
Rússia
17.709
4,7
68
México
15.312
3,4
483
África do Sul
11.375
3,3
786
·         * Média do período 2009-2018
·         Fonte: FMI

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

India: Sen e Bhagwati se opoem quanto aos caminhos do desenvolvimento (NYT)

MEMO FROM NEW DELHI

Rival Economists in Public Battle Over Cure for India’s Poverty


Mansi Thapliyal/Reuters
The role of the Indian government in programs like this one, in which a government-run school provides meals to the poor, is one area in which Amartya Sen and Jagdish Bhagwati disagree.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Por que a historia economica e' relevante para a economia (especialmente em crises) - Kevin O'Rourke

Partilho inteiramente dos argumentos deste historiador econômico, aliás, economista historiador (os "inversos" nem sempre dispõem do instrumental dos economistas para análises mais tecnicamente embasadas), mas gostaria de fazer uma observação sobre esta afirmação:
"...the question of how to rescue billions of our fellow human beings from poverty that would seem intolerable to those of us living in the OECD. And yet such poverty has been the lot of the vast majority of mankind over the vast majority of history: what is surprising is not the fact that ‘they are so poor’, but the fact that ‘we are so rich’."

Não creio que seja surpreendente que a humanidade se tenha tornado tão rica: os últimos dez mil anos de história humana assistiram a progressos muito graduais, até o século 18, e depois progressos muito rápidos a partir da junção das revoluções científica e tecnológica, o que permite antever graus ainda maiores e mais disseminados de riqueza e prosperidade naqueles países que souberem combinar esses dois instrumentos.
Mas, creio que se poderia também perguntar o seguinte: por que tanta gente, neste mundo, ainda é tão miseravelmente pobre, uma vez que existem todos os instrumentos técnicos para se superar os graus mais lamentáveis de pobreza extrema?
Para mim não existem obstáculos técnicos à elevação dos padrões de tantos povos miseráveis, e os grandes obstáculos, na verdade, são de natureza política, mais exatamente da incapacidade das lideranças desses países em adotar políticas econômicas compatíveis com as necessidades de crescimento rápido, instrumentos baseados na liberdade dos mercados, na livre iniciativa, na garantia de propriedade, na baixa tributação, enfim, na promoção da liberdade econômica.
O Brasil, aliás, é um país que comprova esta tese: se fosse livre, economicamente, seria muito mais rico...
Paulo Roberto de Almeida

Why Economics Needs Economic History

Kevin orourke 113x166 Why Economics Needs Economic History
Kevin O’Rourke
The current economic and financial crisis has given rise to a vigorous debate about the state of economics, and the training which graduate and undergraduates economics students are receiving. Importantly, among those arguing most strongly for a change in the way that young economists are trained are the ultimate employers of these students, in both the private and the public sector. Employers are increasingly complaining that young economists don’t understand how the financial system actually works, and are ill-prepared to think about appropriate policies at a time of crisis.
Strikingly, many employers and policymakers are also arguing that knowledge of economic history might be particularly useful.
  • Stephen King, Group Chief Economist at HSBC, argues that: “Too few economists newly arriving in the financial world have any real knowledge of events that, while sometimes in the distant past, may have tremendous relevance for current affairs…The global financial crisis can be more easily interpreted and understood by someone who has prior knowledge about the 1929 crash, the Great Depression and, for that matter, the 1907 crash” (Coyle 2012).
  • Andrew Haldane, Executive Director for Financial Stability at the Bank of England, has written that “financial history should have caused us to take credit cycles seriously,” and that the disappearance of subfields such as economic and financial history, as well as money, banking and finance, from the core curriculum contributed to the neglect of such factors among policymakers, a mistake that “now needs to be corrected” (Coyle 2012, pp).
  • In a recent Humanitas Lecture in Oxford, Stan Fischer said that “I think I’ve learned as much from studying the history of central banking as I have from knowing the theory of central banking and I advise all of you who want to be central bankers to read the history books” (2013).
The benefits of trying to understand economic history
  • Knowledge of economic and financial history is crucial in thinking about the economy in several ways.
Most obviously, it forces students to recognise that major discontinuities in economic performance and economic policy regimes have occurred many times in the past, and may therefore occur again in the future. These discontinuities have often coincided with economic and financial crises, which therefore cannot be assumed away as theoretically impossible. A historical training would immunise students from the complacency that characterised the “Great Moderation”. Zoom out, and that swan may not seem so black after all.
  • A second, related point is that economic history teaches students the importance of context.
As Robert Solow points out, “the proper choice of a model depends on the institutional context” (Solow 1985, p. 329), and this is also true of the proper choice of policies. Furthermore, the ‘right’ institution may itself depend on context. History is replete with examples of institutions which developed to solve the problems of one era, but which later became problems in their own right.
  • Third, economic history is an unapologetically empirical field, exclusively dedicated to understanding the real world.
Doing economic history forces students to add to the technical rigor of their programs an extra dimension of rigor: asking whether their explanations for historical events actually fit the facts or not. Which emphatically does not mean cherry-picking selected facts that fit your thesis and ignoring all the ones that don’t: the world is a complicated place, and economists should be trained to recognise this. An exposure to economic history leads to an empirical frame of mind, and a willingness to admit that one’s particular theoretical framework may not always work in explaining the real world. These are essential mental habits for young economists wishing to apply their skills in the work environment, and, one hopes, in academia as well.
  • Fourth, economic history is a rich source of informal theorising about the real world, which can help motivate more formal theoretical work later on (Wren-Lewis 2013).
Habakkuk (1962) and Abramowitz (1986) are two examples that immediately spring to mind, but there are many others.
  • Fifth, even once the current economic and financial crisis has passed, the major long run challenges facing the world will still remain.
Among these is the question of how to rescue billions of our fellow human beings from poverty that would seem intolerable to those of us living in the OECD. And yet such poverty has been the lot of the vast majority of mankind over the vast majority of history: what is surprising is not the fact that ‘they are so poor’, but the fact that ‘we are so rich’. In order to understand the latter puzzle, we have to turn to the historical record. What gave rise to modern economic growth is the question that prompted the birth of economic history in the first place, and it remains as relevant today as it was in the late nineteenth century. Apart from issues such as the rise of Asia and the relative decline of the West, other long run issues that would benefit from being framed in a long-term perspective include global warming, the future of globalisation, and the question of how rapidly we can expect the technological frontier to advance in the decades ahead.
  • Sixth, economic theory itself has been emphasising – for well over 20 years now – that path dependence is ubiquitous (David 1985).
  • Finally, and perhaps most importantly from the perspective of an undergraduate economics instructor, economic history is a great way of convincing undergraduates that the theory they are learning in their micro and macro classes is useful in helping them make sense of the real world.
Far from being seen as a ‘soft’ alternative to theory, economic history should be seen as an essential pedagogical complement. There is nothing as satisfying as seeing undergraduates realise that a little bit of simple theory can help them understand complicated real world phenomena. Think of Obstfeld and Taylor’s use of the Mundell-Fleming trilemma to frame students’ understanding of the history of international capital market integration over the last 150 years; or Ronald Rogowski’s use of Heckscher-Ohlin theory to discuss political cleavages the world around in the late nineteenth century; or the Domar thesis, referred to in Temin (2013), which is a great way to talk to students about what drives diminishing returns to labour. Economic history is replete with such opportunities for instructors trying to motivate their students.
References
Abramovitz, M (1986), “Catching Up, Forging Ahead, and Falling Behind,” Journal of Economic History 46, 385-406.
Coyle, D (2012), What’s the Use of Economics?: Teaching the Dismal Science After the Crisis, London Publishing Partnership.
David, P A (1985), “Clio and the Economics of QWERTY.” The American Economic Review (Papers and Proceedings) 75, 332-37.
Fischer, S (2013), video, quotation begins at 43.48, available online at http://www.youtube.com/watch?v=5Y-ZhFbw2H4.
Habakkuk, H J (1962), American and British Technology in the Nineteenth Century, Cambridge University Press.
Solow, R (1985), “Economic History and Economics,” The American Economic Review 75, 328-31
Temin, P (2013), “The Rise and Fall of Economic History at MIT,” MIT Department of Economics Working Paper 13-11 (June).
Wren-Lewis, S (2013), “Economic History and Krugman’s Crib Sheet”.
This column was first published by Voxeu.org

domingo, 20 de novembro de 2011

O Fim do Desenvolvimento: agora só falta melhorar socialmente o Brasil - Paulo Roberto de Almeida (2004)

O trabalho abaixo foi publicado, e assim não é totalmente inédito. Mas ele foi divulgado num veículo relativamente obscuro: revista Intellector (Rio de Janeiro, Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI), v. I, n. 2, jan/jun. 2005, ISSN: 1807-1260; http://www.4shared.com/file/6388387/6f93ba6f/pauloralmeida.html). Nem sei se o link ainda funciona
Apenas por isto estou divulgando-o novamente, pois acredito que é suficientemente provocador para justificar o debate.
Paulo Roberto de Almeida 


O Fim do Desenvolvimento
(agora só falta melhorar socialmente o Brasil)

Paulo Roberto de Almeida

Resumo: Ensaio crítico contestando a tradicional postura assumida pelo Brasil enquanto “país em desenvolvimento”, argumentando que o Brasil já finalizou seu processo de industrialização e completou, no essencial, as tarefas básicas vinculadas ao desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Resta completar o processo de inclusão social de imensas massas ainda excluídas desse desenvolvimento e, de fato, da economia de mercado, mas isso não depende de qualquer avanço suplementar no desenvolvimento econômico e sim, basicamente, de investimentos em educação. 

Pretendo, neste texto deliberadamente provocador e voluntariamente desprovido do aparato referencial constante dos ensaios “científicos”, formular uma série de argumentos sobre o que eu entendo ser o caráter basicamente desenvolvido da formação econômica e política do Brasil. A ausência de citações e remissões a obras acadêmicas não quer dizer que meus argumentos tomem como base apenas opiniões pessoais ou que eles refletem tão somente uma interpretação subjetiva da realidade que pretendo descrever. Ao contrário, meus argumentos tendem a expressar o resultado de vários anos – talvez décadas – de estudo dos problemas de desenvolvimento econômico, político e social do Brasil, em perspectiva histórica e numa visão comparada com outras experiências internacionais.
As seções seguintes estão, justamente, organizadas em função desses argumentos, que constituem uma série de afirmações um tanto quanto provocadoras, consoante meu desejo de confrontar a opinião corrente, que reputo como de “senso comum”, sobre o processo evolutivo e o estágio atual do que chamei de “desenvolvimento brasileiro”. Isto é, ao considerar que o processo de desenvolvimento está “acabado” no Brasil, parto da idéia de que o Brasil conseguiu realizar o essencial de uma trajetória relativamente bem sucedida de desenvolvimento, ainda que isto não se reflita inteiramente nos indicadores sociais mais eloqüentes a este respeito. Sei que meus argumentos são controversos, mas estou disposto a sustentar o “fogo adverso”, com base em argumentos bem informados sobre os problemas aqui levantados.
Todo exercício de “contrarianismo acadêmico” tende a provocar reações que se dirigem, muitas vezes, mais ao formulador dos argumentos expostos do que à substância da matéria em si, o que espero não ocorra no presente caso. Convido, em todo caso, o leitor destas linhas a tentar abstrair o invólucro “desenvolvimentista” que costuma enquadrar as análises econômicas e sociais sobre a situação brasileira, para ver a condição do país do ponto da ciência social “normal”, isto é, aquela que se dirige à própria essência da questão, não diferenciando entre países em função de categorias políticas, criadas artificialmente.

1. O Brasil é um país desenvolvido
(mas ele ainda não sabe disso e parece não querer ser informado a respeito)
            O Brasil completou seu processo de desenvolvimento no final dos anos 1980, como resultado do acabamento de sua industrialização básica – que se arrastava desde o primeiro terço do século XX, pelo menos –, dos avanços obtidos no ramo intermediário e em etapas mais sofisticadas do aparato produtivo (a exemplo da indústria aeronáutica) e da criação de um sistema de pesquisa e desenvolvimento moderno e razoavelmente integrado (ainda que apresentando carências operacionais na fase de transposição da pesquisa em tecnologia produtiva). Esse itinerário de acabamento do processo industrializador completou nosso desenvolvimento material e ele foi, do ponto de vista técnico e empresarial, razoavelmente bem sucedido.
            As insuficiências sociais – e elas são gritantes – do processo de desenvolvimento econômico e tecnológico não têm tanto a ver com a ausência de desenvolvimento, quanto com aspectos peculiares de nossa estruturação enquanto sociedade. Por equívocos de nossas elites – monárquicas e republicanas – persistimos no alijamento da maior parte do povo dos benefícios da educação universal e do ensino técnico de boa qualidade, assim como insistimos num processo de redistribuição de ganhos eminentemente concentrador, o que nos faz exibir, atualmente, um coeficiente de Gini quase duas vezes superior à média mundial. Mas isso tem pouco a ver com insuficiências supostas ou reais do processo de desenvolvimento, e sim com deformações institucionais e políticas que precisariam ser corrigidas, sem que isso implique em prejuízo do aparato produtivo já consolidado.
            A maior parte dos brasileiros, refletindo construções das ciências sociais que são eminentemente artificiais, prefere, porém, caracterizar o país como subdesenvolvido, como não desenvolvido, como em desenvolvimento, como emergente, ou qualquer outro epíteto que signifique a existência de uma barreira entre um grupo aparentemente bem sucedido de países – desenvolvidos por “direito divino”? – e o grupo mais numeroso dos países “mal sucedidos” nesse processo. Insistimos em preservar tal dicotomia, que parece constituir o mais poderoso indutor de nosso subdesenvolvimento mental.

2. Como o Brasil se tornou desenvolvido
(pequeno manual de desigualdades sociais)
            Como em todo processo de desenvolvimento, incorporamos técnicas por imitação, cópia servil, pirataria e outros mecanismos de apropriação (legal e ilegal) do progresso técnico, aprendemos a digerir os processos de fabricação, formamos um número razoável de técnicos em “transferência de tecnologia” e conseguimos aprender, ainda que de modo imperfeito, a reproduzir a tal “esfinge” tecnológica. A partir de um certo momento, esse processo se torna auto-induzido, o que tem sido difícil de lograr no Brasil por motivos basicamente institucionais, não técnicos ou econômicos.
            Esse processo de capacitação e de qualificação técnica atingiu, tão somente, uma parte da população, a que era suficiente para sustentar o processo de modernização do aparelho produtivo, em suas vertentes técnicas e tecnológicas. Vale dizer: incorporamos a classe média, pois que ela era que dava sustentação política às elites no poder, mas continuamos a jogar na “lata de lixo da história” todos os demais componentes do povo, considerados excedentes não necessários ao processo produtivo ou aos mercados de consumo. Fomos bastante eficientes na qualificação da parte da população incorporada, pois que um cientista ou tecnólogo brasileiro tem tanta qualificação técnica quanto um seu contraparte de país desenvolvido. Fomos menos eficientes – mas talvez isso não fizesse parte do programa político da classe média no poder ou da missão histórica das elites – na incorporação das camadas ditas subalternas, mas elas, de toda forma, não contavam em termos de representação política e influência social. Elas foram tranquilamente deixadas de lado e quando se cogitou de incorporá-las, via escola pública a partir dos anos 1950 e 60, o Estado não forneceu ao sistema de educação os meios necessários para garantir um ensino de qualidade a todos os “filhos do Brasil”: os mais prósperos foram para o ensino privado e a escola pública afundou lentamente em cruel decadência operacional e institucional. Ela ainda não se recuperou do desastre, ainda que tenha recebido a missão, nos últimos anos, de acolher número substancialmente maior de filhos das camadas populares.
Os aspectos ainda “não desenvolvidos” de nosso aparato produtivo correspondem a detalhes menores do processo industrializador – explicáveis geralmente pela ausência de economias de escala, não por incapacidade técnica absoluta – e não invalidam a presente caracterização do Brasil como país essencialmente desenvolvido. Políticas setoriais de tipo indutor, promovidas pelo Estado ao longo das últimas décadas, conformaram esse padrão de desenvolvimento satisfatório na indústria, na agricultura, nos serviços e na pesquisa científica de qualidade. A despeito das dificuldades fiscais e orçamentárias das últimas duas ou três décadas, o Estado continua motivado, por força de suas elites dirigentes e para atender à demanda dessas camadas médias, a servir ao objetivo básico do desenvolvimento brasileiro, que é a busca do padrão mais elevado de progresso industrial e tecnológico.
Com alguma sorte e investimentos internos e externos, o ritmo de crescimento econômico voltará a índices conhecidos em outras épocas, mas os patamares de inclusão social continuarão, para desconforto das camadas subalternas, renitentemente modestos, para não dizer limitados ao extremo. Em outros termos, continuaremos a ser um país desenvolvido, mas socialmente desigual e excludente. Esta é a verdadeira tragédia do Brasil, mas isso não impede o país de ser uma economia desenvolvida.

3. O desenvolvimento é uma “fatalidade”, humana e civilizacional
(mas muitos insistem em velhas atitudes mentais)
A despeito do que querem fazer acreditar certos arautos das ciências humanas e da economia, inclusive, entre nós, alguns gurus do pensamento acadêmico, não é verdade que o processo de desenvolvimento tenha características distintas nos países que hoje são considerados desenvolvidos e no imenso grupo de países ditos “em desenvolvimento”. Em todos eles, o processo de desenvolvimento segue os mesmos padrões de acumulação (no início lenta) de progressos técnicos, de disseminação de resultados instrumentais para o aumento do bem estar social e de progressiva incorporação de qualificação educacional ao conjunto da população, o que constitui, obviamente, o mais importante fator de progresso material (já que o aumento do bem estar se mede, basicamente, em termos de aumento da produtividade social do trabalho humano).
Em outros termos, a economia política e as políticas econômicas funcionam de maneira igual, no Brasil e no Pólo Norte, no Alasca ou na Patagônia, na Irlanda ou nos países do Sudeste Asiático: são as condições institucionais, os arranjos políticos locais e, eventualmente, condicionantes estruturais muito fortes que “explicam” diferenças na eficácia relativa de políticas macroeconômicas ou setoriais em cada um desses países. Se alguém lhe disser que “receitas” econômicas não podem ser transplantadas, não acredite: a economia política é uma só, ainda que produzindo resultados diversos, com efeitos distributivos distintos, em função das variáveis envolvidas em cada um dos sistemas econômicos nacionais. Princípios econômicos formulados dois séculos atrás por Adam Smith ou David Ricardo continuam a funcionar, seja na economia mais avançada do planeta, seja em alguma tribo de bushimans ou num bando de nômades tuaregues: dado o devido tempo, e os estímulos necessários, estes povos também desenvolverão mecanismos de intercâmbio econômico tão sofisticados quanto os de Wall Street, eles apenas ainda não tiveram necessidade de derivativos financeiros.
Alguns países logram, por motivos de ordem essencialmente institucional, acelerar o nível e o ritmo do progresso técnico, gerando um processo endógeno e auto-sustentado de inovação tecnológica, ao mesmo tempo em que conseguem disseminar os frutos desse progresso técnico em camadas cada vez mais amplas da população. Outros, por razões basicamente institucionais, não conseguem combinar esse “mix” de fatores sociais que os faria saltar de baixos níveis de produtividade humana para etapas mais avançadas de progresso material. O Brasil é um exemplo clássico desse segundo itinerário, não se podendo imputar a qualquer tipo de “exploração estrangeira” as razões do seu fracasso enquanto sociedade (não enquanto economia desenvolvida).
A despeito, também, do que dizem e repetem incontáveis pregadores de teses não provadas – como as do “intercâmbio desigual” –, o aumento da distância entre países hoje “ricos” e os atualmente “pobres” não se deve à colonização, à exploração ou à dominação de uns pelos outros, ainda que isso possa contradizer muitos adeptos do “senso comum” (e mesmo alguns “perfeitos idiotas latino-americanos”). As desigualdades nos processos de desenvolvimento econômico se explicam, grosso modo, por diferenciais de produtividade do trabalho humano, ou seja, ritmos divergentes de crescimento econômico e de incorporação do progresso técnico. Os fatores causais mais importantes que explicam esses diferenciais são de natureza institucional, isto é, são de ordem interna, não externa, aos sistemas nacionais envolvidos.
Formações colonizadas, por certo, não dispõem de autonomia política para determinar seu próprio modo de articulação com outras economias nacionais, mas essa é uma realidade que, no caso do Brasil, foi declarada formalmente concluída no início do século XIX e, de forma geral, a segunda metade do século XX assistiu à conclusão dos movimentos independentistas. Desde então, o fulcro dos processos de desenvolvimento deslocou-se para a questão da qualidade das políticas econômicas nacionais. Logrados os estímulos adequados, todos os países e sociedades irão se desenvolver em um momento dado, mas é evidente que alguns desses países e sociedades têm suas possibilidades tolhidas por estímulos inadequados, por políticas equivocadas ou por uma combinação de ambos.
As “velhas atitudes mentais” referidas no título desta seção consistem em pretender “explicar” o “não-desenvolvimento” por um funcionamento deficiente do mecanismo econômico, que assim precisaria ser complementado por “políticas corretas”, geralmente induzidas por via estatal, o que vale dizer, por um bando de tecnocratas iluminados ou formuladores de políticas heterodoxas (isto é, confrontando o núcleo central de um certo consenso secular em torno da chamada mainstream economics). Como regra básica, o estágio do desenvolvimento é obtido ao longo de um processo de crescimento que tem por fundamentos a estabilidade de preços no terreno macroeconômico, a livre competição na esfera microeconômica, uma grande abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros no plano externo e uma forte ênfase na formação de recursos humanos no plano interno.
Logrado um consenso societal em torno desses estímulos e políticas, o processo de desenvolvimento pode tornar-se uma “fatalidade”, mas parece evidente, também, que muitos se encontram mentalmente comprometidos com “políticas alternativas” cuja única explicação possível parece ser a velha receita de pretender corrigir as “imperfeições dos mercados”. Certamente que os mercados não são perfeitos – eles nunca o serão – mas a concepção salvacionista do mundo consegue construir imperfeições bem superiores àquelas criadas pelo livre jogo dos mercados. Constitui certamente uma característica histórica das sociedades humanas o fato de que o livre mercado das idéias econômicas nunca conseguiu obter uma situação de preeminência intelectual em face do amplo e bem sucedido mercado das crenças políticas e das ideologias sociais.

4. Quais problemas impedem o Brasil de se considerar realmente desenvolvido?
(um outro manual sobre tarefas aparentemente simples) 
O Brasil é, portanto, um país desenvolvido, mas comportando, igualmente, um número anormalmente elevado, em escala comparativa internacional, de pobres (e mesmo de miseráveis, ainda que estes provavelmente sejam em número menor do que pretendem fazer acreditar estatísticas oficiais e políticas assistencialistas governamentais). Sendo um país desenvolvido com um número “excessivo” de pobres, o Brasil poderia, dadas as políticas corretas, absorver esse excedente de pobres e miseráveis, de maneira a integrá-los na economia de mercado, a forma civilizacionalmente correta de criar e distribuir riquezas. O fato de que o país não logre fazê-lo, não significa que exista alguma falha fundamental no mecanismo econômico da sociedade, apenas que esta não está conseguindo implementar as políticas “corretas” para diminuir aquele número de miseráveis não funcionais para a existência e a continuidade de seu sistema econômico.
Por políticas “corretas” devem ser entendidas aquelas que, assegurando aquelas condições especificadas acima – macroeconomia estável, microeconomia concorrencial, abertura econômica e formação de recursos humanos –, logrem criar estímulos adequados para que o conjunto dos cidadãos, ricos e pobres, consigam colocar seus talentos em jogo e passem daí a criar e distribuir riquezas segundo as velhas regras de mercado. Um grande obstáculo ao atingimento desse consenso básico parece ser a atitude mental que consiste em considerar o jogo econômico como um exercício de soma zero, seja no plano interno, seja no externo. Uma derivação dessa atitude é a que redunda em manter uma concepção em grande medida estática desse mesmo jogo econômico, o que implica na formulação de políticas que pretendem atuar sobre a distribuição dos estoques societais – ou patrimônio individual, que é a sua forma em escala micro –, em lugar de se fixar o objetivo de buscar aumentar os fluxos para uma redistribuição ampliada a partir de novas escalas produtivas.
Essas concepções têm presidido à formulação e execução de políticas econômicas no Brasil – e em muitos outros países “subdesenvolvidos” – nas últimas décadas, daí o caráter basicamente defensivo dessas políticas: elas são contra o capital estrangeiro, contra a abertura ao comércio internacional, contra a livre concorrência, contra a regulação pelos próprios mercados, contra os movimentos de capitais, contra a dispensa de autorizações, enfim, contra a criação “anárquica” de riquezas e contra a acumulação irrefreada de capital, vistas como tendencialmente nocivas ao “equilíbrio” social e à “solidariedade” grupal. As políticas setoriais são igualmente defensivas, e tímidas, naquilo que constituiria o único grande aporte estatal ao bem estar social: a formação maciça de recursos humanos, nos ciclos de ensino fundamental e na qualificação técnica da grande massa da população. Em resumo: o Estado possui uma enorme agenda “desenvolvimentista”, menos uma agenda minimamente ativa naquelas áreas nas quais seria mais necessária a sua presença, como é obviamente o caso da educação universal. Não se pode desejar combinação mais perversa de políticas e atitudes mentais.
Enquanto persistir a concepção “soma zero” do mecanismo econômico da sociedade e enquanto subsistir a atitude defensiva em face dos mercados vai ser difícil ao Brasil – e a outros países também considerados “subdesenvolvidos” – incorporar suas camadas ditas subalternas à prosperidade de que já desfrutam suas elites (seja por mimetismo importado, seja por criação efetiva de riquezas no próprio país, o que certamente é o caso do Brasil). A superação desse estado mental de subdesenvolvimento não é tarefa fácil, pois que fomos acostumados, desde muito anos, a considerar que o processo de desenvolvimento nacional dependia de tais e tais políticas “públicas”, isto é, estatais.
Ouso arriscar a hipótese de que foi a “perseguição” constante – isto é, desde antes da República, ou pelo menos desde os anos 1930 – dessas políticas estatais supostamente indutoras de “desenvolvimento” que atrasaram ou dificultaram o processo brasileiro de incorporação de novas camadas sociais à prosperidade criada pelo capitalismo nacional, que permaneceu limitado em suas possibilidades transformadoras. Não pretendo “provar”, neste momento, esta “tese”, que parece ir em sentido contrário às “evidências históricas” que nos foram servidas durante muitos anos para “demonstrar” que o Estado desempenhou, sim, um papel crucial no processo de desenvolvimento. Não desejo contestar, agora, essas crenças que nos são oferecidas prima facie, isto é, como verdades elementares, sobre o curso aparentemente inevitável de nosso “keynesianismo desenvolvimentista”. Estou apenas querendo avançar a hipótese de que, na construção do capitalismo industrial em nosso país, as políticas privilegiadas atuaram em detrimento da inclusão social, sem afetar o próprio processo de desenvolvimento econômico e tecnológico.
Atualmente, a despeito do baixo nível de crescimento e dos formidáveis obstáculos institucionais a um processo sustentado de crescimento econômico – que também resultam das mesmas políticas indutoras de desenvolvimento von oben, isto é, pelo alto, por obra e graça do Estado –, o Brasil não deixa de configurar um caso relativamente bem sucedido de desenvolvimento, ainda que um péssimo exemplo de desigualdade social. Nas fases de crescimento acelerado do Estado desenvolvimentista, algumas migalhas eram atiradas para os mais pobres, o que os mantinha num estado anômico. A atual crise fiscal do Estado – um extrator de recursos e um despoupador líquido – simplesmente inviabiliza qualquer processo de crescimento sustentado e, portanto, qualquer política distributiva de tipo assistencialista, preservando as distâncias sociais. É esse quadro trágico de desigualdades de todo gênero, com cenas de iniqüidades sociais verdadeiramente “africanas”, que impede que nos consideremos um país “desenvolvido”, por mais que nosso potencial industrial e tecnológico nos habilite legitimamente a reivindicar um tal estatuto (absolutamente e relativamente, isto é, em escala internacional igualmente).

5. O fim do desenvolvimento
(só falta trabalhar mais um pouco) 
Parece contraditório, ou mesmo francamente ridículo, proclamar-se o “fim” do desenvolvimento no Brasil, numa situação de aparente “anomia social”, com tantos miseráveis espalhados pelas esquinas das grandes metrópoles brasileiras, com tantos excluídos dos benefícios mais elementares da moderna civilização material. E pur si muove, isto é, a despeito de tudo, o Brasil, um país “galileano” por excelência, avançou de modo decisivo no caminho do desenvolvimento, tendo galgado quase todas as etapas que permitiriam caracterizá-lo como país basicamente desenvolvido, como tenho me esforçado por argumentar neste ensaio.
O que distingue basicamente o Brasil, de outros países “em desenvolvimento” e mesmo de alguns outros países considerados “desenvolvidos”, é justamente essa singular combinação de avanços tecnológicos, que compõem esse perfil material de país totalmente industrializado – repito, totalmente industrializado –, e essa quantidade anormalmente elevada de pobres, esse quadro deplorável de iniqüidades sociais das mais gritantes, que deveriam indignar o mais indiferente ou insensível dos líderes políticos. Muitos acreditam que, pelo fato de ostentar essa quantidade exageradamente elevada de pobres, o Brasil deveria ser considerado como um “país em desenvolvimento”, como se o fato de ter acumulado esse atraso social vergonhoso impedisse o sistema econômico de ter avançado a patamares mais elevados de progresso material.
Ouso argumentar no sentido contrário: a despeito de ter preservado um contingente considerável de miseráveis – não “funcionais” para fins de desenvolvimento, isto é, não requeridos socialmente para fins de construção do capitalismo industrial no país –, o Brasil é, fundamentalmente, um país desenvolvido, e não poderia mais escudar-se em supostas insuficiências materiais para eximir-se da tarefa estratégica de incorporar esse contingente de pobres ao seu processo de desenvolvimento econômico. Suas insuficiências, quando existentes, são basicamente políticas, isto é, derivam de políticas econômicas equivocadas e mal orientadas do ponto de vista da inclusão social do maior número de brasileiros. As políticas econômicas postas em prática até aqui foram concebidas para atender a uma parcela diminuta da população, aquela que contava do ponto de vista político e social, todos os demais eram “estruturalmente marginais”, política e economicamente.
Mesmo no auge do “desenvolvimentismo exacerbado” – que não foi, a despeito do que habitualmente se crê, a chamada “era Vargas” –, em pleno regime militar, as políticas foram concebidas tendo o Estado como centro fundamental – quando não único – do processo de desenvolvimento: tratava-se de um crescimento do Estado, para o Estado e pelo Estado. A burguesia industrial, os outros estratos das chamadas classes dirigentes e as camadas médias retiraram benefícios desse modelo concentrador e excludente. A ulterior descentralização, conduzida sob a égide da Constituição de 1988, não afetou esse arranjo básico do processo brasileiro de desenvolvimento: ele estava concebido a produzir um certo progresso material para os já incluídos e, de fato, conseguiu prolongar o modelo extrator e concentrador de desenvolvimento até os nossos dias.
O Brasil não necessita de mais “desenvolvimento”, ou pelo menos não desse tipo de desenvolvimento, excludente e concentrador, tanto porque já conforma, como dissemos, uma economia essencialmente desenvolvida. Ele necessita de outras políticas econômicas, que não sejam indutoras de maior exação fiscal e de distributivismo em favor das camadas médias e altas da sociedade, como ocorreu até aqui. Ele necessita, na verdade, de mais mercado e de menos Estado, algo que parece dificilmente aceitável aos olhos de todos aqueles que se beneficiam, relativa ou absolutamente, com a atual situação. Mesmo aqueles que reivindicam, geralmente em nome do empresariado, menos Estado, estão na verdade pedindo apenas menos impostos, não mais mercado, pois que a regulação mental é um fato ainda insuperável no nosso sistema econômico.
O único “desenvolvimento” de que o Brasil necessita é o de seus recursos humanos, não necessariamente os de maior qualificação técnica, pois que os membros das classes médias e altas já se encarregaram de prover essa qualificação – com recursos públicos ou privados –, mas basicamente o desenvolvimento educacional e técnico das camadas ditas subalternas, as únicas que foram histórica e permanentemente excluídas do processo de desenvolvimento nacional. A importante componente racial da população brasileira, derivada da abolição tardia e da discriminação de fato que a ela se seguiu, também precisaria estar contemplada na nova equação do desenvolvimento social, com políticas de ação afirmativa de alcance universal mas focadas nos grupos mais desfavorecidos, o que compreende em primeiro lugar, parece óbvio, as populações negras.
Em suma: o Brasil já é um país economicamente desenvolvido, só basta agora trabalhar mais um pouco para elevar os padrões de produtividade social do conjunto da população, com ênfase nos setores subalternos, de molde a convertê-lo numa sociedade socialmente desenvolvida. Para isso, se requer uma pequena revolução mental que afaste velhos e novos mitos sobre nosso suposto “não-desenvolvimento”, que elimine do processo de formulação de políticas econômicas muitas concepções esdrúxulas sobre o processo de desenvolvimento e outras variantes econômicas do que poderia ser chamado de “teoria da jabuticaba”, isto é, uma construção intelectual especificamente brasileira, servindo para justificar equívocos perpetuados por nossa preguiça mental em aderir aos saudáveis princípios da teoria econômica convencional. Quem sabe uma volta a velhas concepções sobre a “riqueza das nações”, propostas que remontam ao terço final do século XVIII, não poderia representar, de verdade, um enorme progresso intelectual para o Brasil do século XXI? Talvez esta constitua a revolução intelectual que nos falta, enquanto sociedade…
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 15 de novembro de 2004

Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas, mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia e diplomata de carreira desde 1977. Tem atuado como professor convidado em diversas instituições brasileiras e estrangeiras e é pesquisador autônomo em temas de história diplomática brasileira e de relações econômicas internacionais. Publicou inúmeros trabalhos e diversos livros nessas áreas, com destaque para o processo de integração regional, o multilateralismo econômico e a diplomacia econômica do Brasil (www.pralmeida.org).