O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador direita e esquerda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador direita e esquerda. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esquerda e direita: a confusao mental que prevalece no Brasil atual - Reinaldo Azevedo

Apenas reproduzo, sem condições, no momento, de fazer qualquer comentário.
Gráficos e tabelas, localizar nas publicações originais.
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 14/10/2013

O Brasil é a única democracia do mundo que não tem um partido conservador — se quiserem, “de direita” — viável. Única quer dizer exatamente isto: é uma experiência que não se repete em nenhum outro lugar. Todos os partidos se dizem de esquerda ou centro-esquerda ou, como tem virado moda, coisa nenhuma. Entrou para o anedotário político o PSD de Gilberto Kassab, que não é “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”. A Rede, de Marina, repete essa mesma ladainha, mas aí naquele plano etéreo em que ela flana com suas metáforas sobre sustentabilidade: “nem de situação nem de oposição, mas posição”. O que isso significa? Nada, ora essa! Mas parece ser uma coisa danada de profunda.
Há, sim, no Brasil políticos conservadores — que seriam classificados como “de direita” na Europa, nos EUA e até no Chile, aqui bem perto. Estão em todos os partidos — até no PT. Se a gente fosse botar as coisas na ponta do lápis, Antonio Palocci, como gestor público, certamente tomou mais medidas “de direita” — ou “conservadoras” — do que o tucano José Serra, que continua a ser, no entanto, alvo dos furiosos do PT. A salada partidária no Brasil é grande. E a indefinição ideológica também. Em artigo recente sobre os 25 anos da Constituição, publicado pela Folha, Serra, aquele que os petistas dizem ser “de direita”, mas que sempre esteve mais à esquerda, escreveu algo interessante ao se referir aos confrontos ideológicos na Constituinte:
“Não por acaso, os dois “lados” – esquerda e direita – , com a cumplicidade de sucessivos governos, foram e continuam sendo integrantes ativos do mais consolidado de todos os partidos brasileiros: a Fuce – Frente Única Contra o Erário e a favor das corporações de interesses especiais. Ninguém é mais falsamente de esquerda do que ela. Ninguém é mais falsamente de direita do que ela. Ninguém, a exemplo dela, é tão objetivamente contra os interesses do Brasil e dos brasileiros. Aliás, não é esse o partido mais consolidado e hegemônico do Congresso, 25 anos depois?”
Retomo
Acho a observação boa. O que se convencionou chamar de “direita” no Brasil adora um cartório e uma “Bolsa BNDES”, não é mesmo? O tema é vasto. Faço essas considerações porque a Folha desta segunda traz reportagem sobre pesquisa feita pelo Datafolha identificando a ideologia dos brasileiros. Em seguida, cruzam-se esses dados com a possível opção de voto em 2014. Vejam isto.

Como se vê, o Brasil tem uma maioria relativa de pessoas que se identificam com a centro-direita ou com a direta. Os claramente de direita são quase o triplo dos claramente de esquerda. Não é mesmo impressionante que não exista um partido que vocalize seus valores? Por que não? Ainda se escreverá muito a respeito aqui. Vejam agora como votam essas correntes de opinião.

Como se nota, a variação é pequena. Como se explica? Cuidaremos disso ao longo dos dias. 
Critérios
Quais são os critérios para identificar a ideologia? A reportagem do jornal explica:
Para identificar e fazer os agrupamentos ideológicos dos eleitores, o Datafolha faz um conjunto de perguntas envolvendo valores sociais, políticos e culturais, como a influência da religião na formação do caráter das pessoas e o entendimento sobre as causas da criminalidade. As questões com opiniões mais divididas foram a que tratava da hipótese de pena de morte e a que avaliava a importância dos sindicatos. Metade dos entrevistados (50%) respondeu que não cabe à Justiça matar alguém, mesmo que a pessoa tenha cometido um crime grave, posição mais associada a valores de esquerda.Outros 46% disseram que a pena de morte é a melhor punição para crimes graves, ideia mais ligada à direita. Sobre os sindicatos, 48% responderam que eles servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores (direita). Já para 47%, eles são importantes para defender os interesses dos trabalhadores (esquerda).
Comento
O critério é válido, sim, mas não é perfeito. A esmagadora maioria dos conservadores católicos que conheço se opõe, por exemplo, à pena de morte, que é, como se sabe, aplicada com dedicação e método em países oficialmente comunistas. Nessas horas, há sempre o risco de se identificar o humanismo como um fundamento da esquerda, o que é uma afronta aos fatos.

Em todo caso, creio que a distribuição ideológica no Brasil obedece mais ou menos a esse padrão. É o que se vê e se ouve nas ruas. Vale dizer: há muitos anos, parte considerável do eleitorado brasileiro é órfão de representação. O eleitorado de direita e centro-direita vota na esquerda e na centro-esquerda porque, afinal de contas, não tem em quem votar. De resto, é preciso ser um rematado idiota para considerar que o PSDB é um partido “de direita”. Pode até ser que, sem opção, muitos eleitores de direita acabem escolhendo o mal menor, já que não encontram na política aquela que seria a sua representação natural.
==========

Reinaldo Azevedo, 14/10/2013

Vamos falar mais um pouquinho sobre direita e esquerda. Nesta manhã, escrevi um post sobre a pesquisa Datafolha. A versão online do jornal publicou as perguntas que permitiram fazer a classificação que vai da esquerda à direita. Vejam. Volto em seguida (se preciso, clique na imagem para ampliá-la e facilitar a leitura).

Retomo
Há, já observei, o risco — nesse questionário e em qualquer outro que busque quantificar a população segundo a ideologia — o risco de se confundirem as pessoas generosas com a esquerda, e as mais, digamos assim, severas com a direita. Huuummm… Há uma possibilidade, nesta vereda que abro, de haver um pouco mais de “conservadores” — de direitistas — no Brasil do que aponta a pesquisa. Por quê?
Peguemos as afirmações sobre a posse de armas:
Este seria o primado da esquerda:
Devem ser proibida, pois ameaça a vida de outras pessoas.
Este seria o primado da direita?:
Arma legalizada deve ser um direito do cidadão para se defender
Notem: a arma, qualquer que seja o contexto e o pretexto, efetivamente ameaça a vida de outras pessoas. Esta condição é imanente ao objeto. A rigor, ela existe para isso mesmo. Tendo a achar que essa obviedade deita sua sombra sobre a questão, e a pessoa que responde a questão acaba expressando mais o seu bom sentimento e o seu cuidado do que a suja opinião. Vamos a um exercício? E se a definição da direita fosse esta?
“Arma legalizada deve ser um direito do cidadão; o que é preciso é proibir a arma ilegal”.
Penso que o resultado seria outro. Aliás, o resultado já foi outro. E quem tomou a decisão foi o eleitorado brasileiro. Em 2005, realizou-se o referendo das armas, lembram-se? O que se perguntava? Literalmente:
“O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”.
A campanha começou, e o “Sim” era acachapante. Nunca antes tantas celebridades e tantos decolados se reuniram e favor de uma causa. Bastou ao “não” lembrar que a proibição, por óbvio, acabaria retirando a arma das mãos dos não-bandidos, já que o bandido, por definição, não se preocupa com a legalidade da arma. Diante dessa evidência e dada a incompetência do Estado para impedir a POSSE ILEGAL DE ARMAS, o “não” virou o placar espetacularmente. Saldo final: 59.109.265 rejeitaram a proposta (63,94%), contra 33.333.045 (36,06%) que a aprovaram.
A questão da proibição de armas, portanto, quando aplicada à realidade, quando vista nas suas consequências práticas, empurrou a maioria — quase dois terços — para o que seria uma posição “de direita”. Se é de direita ou não, é preciso ver. Uma coisa é certa: era apenas matéria de bom senso. Ou desarmar os não-bandidos altera a condição dos bandidos?
Tome-se um outro tema espinhoso, como o da migração. A resposta obviamente simpática, “humanista”, é a de que ela contribui para o desenvolvimento e a cultura. Perguntem, no entanto, aos moradores de Brasiléia, no Acre, que sofre uma verdadeira invasão de haitianos em situação ilegal, para ver qual é a opinião. Aposto que a esmagadora maioria dirá que “pobres que migram acabam criando problemas para as cidades”. Isso nada tem a ver com xenofobia, racismo ou discriminação de qualquer natureza. Trata-se apenas de um fato.
O mundo como fato e o mundo como ideia
Chama-se, muitas vezes, de “pensamento de direita” ou “pensamento conservador” o que é nada além de bom senso. Nesse sentido, ideologia, esta sim, é a engenharia social a que se dedicam as esquerdas, ao tentar impor um ponto de vista ancorado em convicções e crenças que insistem em desafiar a realidade. Uma questão, para mim, é emblemática: a criminalidade
Viés de esquerda:
“A maior causa é a falta de oportunidades iguais para todos (36%)”
Viés de direita
“A maior causa é a maldade das pessoas (61%)”
Não gosto da palavra “maldade”. Ela me parece reducionista em excesso. E se as respectivas formulações fossem estas?
Viés de esquerda
“A pessoa não pratica crime porque quer, mas porque não teve melhores oportunidades”
Viés de direita
“Praticar crime é uma escolha; mesmo com uma vida difícil, o certo é se esforçar para vencer na vida”.
Corto a mão — a direita, que é a melhor — se a alternativa “de direita” não chegar a uns 90%. Notem, no entanto, que a opinião “de direita”, mesmo na formulação dada, é amplamente majoritária. A razão é simples, gente! O salário médio pago no Brasil é inferior a R$ 1.800. O pago a universitários (só 17% da mão-de-obra) é de R$ 4.135,06. O dos não-universitários (82,9%) é de R$ 1.294,70. Este pode ser um país rico, mas composto de uma esmagadora maioria de pobres. Onde mora o sujeito que recebe menos de R$ 1.300 por mês? Os esquerdistas do complexo PUCUSP podem não saber — a maioria só conhece pobre de ouvir falar —, mas esse trabalhador sabe que a delinquência é uma escolha, EM QUALQUER CLASSE SOCIAL, não uma necessidade. E sabe porque ELE PRÓPRIO DECIDIU SER DECENTE, APESAR DAS DIFICULDADES.
Estou sustentando que a afirmação de que a pobreza induz a criminalidade é, ela sim, ideologia — uma construção artificial que busca, num primeiro momento, explicar a realidade, tentando, em seguida, substituí-la. Já a afirmação de que é criminoso quem quer, quem decide ser (não se trata de  “maldade”), não é um artifício para explicar o mundo: é um dado da experiência.
“O Reinaldo está afirmando que ser direitista não é ideologia, que isso é uma tendência normal das pessoas, e que que ideologia mesmo é só a esquerda?” Não! Se o Reinaldo quisesse afirmar isso, ele afirmaria isso — ainda que o mundo gritasse o contrário. Estou afirmando, sim, que há uma tendência para demonizar como “coisa de direita” — o que é tomado como sinônimo de anti-humanismo — certas evidências dadas pela experiência.
Encerro com a questão sobre drogas. As esquerdas — no Brasil ao menos — tendem a afirmar que as drogas devem ser liberadas porque, como se lê no questionário, é o usuário que arca com as consequências (George Soros também acha isso…). Ora, basta circular no centro das grandes cidades para saber que a conta é paga por toda a sociedade — e é uma conta crescente, à medida que cresce o discurso da medicalização do problema, com essa mesma sociedade sendo chamada a arcar com os custos das “opções” feitas pelos “usuários” que se tornaram “doentes”.
Se a ideologia ainda é uma espécie de jogo de ocultamento, em que um pensamento, orientado por algum ente de razão — partido, por exemplo —, tenta se sobrepor à evidência dos fatos, então as opiniões da esquerda, com raras exceções, é que merecem essa denominação. Aquelas que são atribuídas “à direita”, na maioria das vezes, são apenas matéria de bom senso. Não fosse assim — e por exemplo, a criminalidade fosse uma consequência das carências sociais —, o Brasil não teria 50 mil homicídios por ano, mas 200 mil. Nos últimos anos, a Região Nordeste cresceu a taxas superiores às do resto do Brasil. Relativamente, ficou menos pobre. E a violência cresceu estupidamente. A afirmação de que a carência induz a violência é ideologia. A constatação de que isso é falso está no mundo dos fatos.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Peru, guinada a direita -- Oh, o pessoal do Carta Maior vai se decepcionar...

E, com esse instrumentozinho de matérias alucinadas, vários outros partidários da economia social também.
Presidente Ollanta Humala nomeia um novo gabinete e inicia caminhada rumo à direita (leia mais)
Parece que esses esquerdistas não resistem a uma boa política econômica neoliberal. É uma fascinação, para eles, poder recorrer a medidas sensatas de políticas econômicas, em face de todas as bobagens que proclamam seus correligionários, economistas malucos, estatizantes esquizofrênicos e outros socialistas ingênuos. Nada como se guiar por propostas sensatas...
Enfim, a bola agora está no campo do Carta Maior, que precisaria explicar como o seu candidato se transformou em transfuga...

AMÉRICA LATINA

Governo do Peru: direita volver!

Presidente Ollanta Humala nomeia um novo gabinete e inicia caminhada rumo à direita

Opinião e Notícia, 28/12/2011
O atual presidente peruano Ollanta Humala venceu por muito pouco uma eleição presidencial em junho passado prometendo “uma grande transformação”. Entretanto, a transformação mais notável no Peru tem se manifestado no próprio presidente. Tenente-coronel aposentado do exército, Humala concorreu à presidência em 2006 como um candidato de extrema esquerda, nos moldes de Hugo Chávez. Este ano ele alegou ter se moderado; então, para vencer uma corrida eleitoral, Humala trocou seu programa esquerdista por um mapa centrista. Agora ele deu outro passo importante em sua longa caminhada rumo à direita: apenas cerca de quatro meses e meio após ter assumido a presidência, Humala mexeu no seu governo de repente, indicando um oficial aposentado do Exército como primeiro ministro, dando as costas para os seus ministros esquerdistas  e os substituindo por tecnocratas solidamente centristas.
O novo gabinete certamente marca uma quebra entre Humala e Alejandro Toledo, ex-presidente e candidato centrista derrotado este ano, que de início apoiou o governo. Os três ministros do partido de Toledo estavam entre os dez demitidos na “faxina” de Humala. Também saíram três ministros ligados aos aliados esquerdistas originais do atual presidente. A maioria dos novos ministros é respeitada em seus campos.
O alvo principal do presidente parece ter sido impor a sua autoridade e tentar criar uma administração mais unida que irá se concentrar na governança. Até agora tudo bem, mas ainda não está claro se Humala irá conseguir isso. O novo gabinete pode ter de lutar para angariar apoio suficiente no Congresso.
A oposição conservadora, junto com Keiko Fujimori, opositor de Humala na disputa de junho, respondeu positivamente ao novo gabinete. Fujimori quer se redimir pelo seu pai, Alberto Fujimori, ex-presidente que cumpre sentença de 25 anos por abuso dos direitos humanos. Com 73 anos, Fujimori recebeu tratamento hospitalar várias vezes no ano passado. Seria possível que o próximo passo na transformação de Humala fosse uma aliança com os fujimoristas?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Esquerda e direita: uma discussao anacronica

Apenas uma pessoa obtusamente de "esquerda" -- entre aspas, pois o termo não se aplica, ele não significa nada -- consegue catalogar uma outra, que não tenha as suas posições, de "direita", o que é obviamente uma farsa.
No Brasil, ninguém que eu conheça -- talvez um ou outro apenas -- se classifica como sendo de direita. Reparem que seria normal, até esperado, que, existindo pessoas de "esquerda", outras, que pensam de maneira totalmente oposta, pudessem se classificar como sendo de "direita".
Não no Brasil, onde ser de direita passa por um pecado mortal, algo próximo de ser um doente de peste, contagioso, nocivo, pedófilo, assassino contumaz, enfim, as piores coisas que se possam imaginar.
Ninguém quer ser de direita no Brasil. E, no entanto, qualquer pesquisa de opinião, revelaria que a média da população está mais próxima de posições de "direita" -- com respeito à propriedade, à organização econômica, às liberdades individuais, à religião, etc. -- do que de posições supostamente de "esquerda", que seriam as próximas do socialismo, da propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, do ateismo militante, dos controles sobre bens, fluxos de capitais, movimento de pessoas, dos meios de comunicação, enfim, as conhecidas restrições à liberdade para garantir uma tal de "justiça social", "igualdade", direitos sociais e outras coisas do gênero. Já nem menciono a questão do partido único e do monopólio do poder por um grupo, pois a coisa é tão aberrante que nenhum militante de "esquerda" hoje em dia defende a ideia. Eles apenas acham que Cuba é obrigada a manter essas restrições por causa dos ataques do imperialismo, do embargo e outras bobagens.
O que eles fazem, em primeiro lugar é ofender a nossa inteligência.
Pois bem, já escrevi também algo a respeito, mas deixo vocês aqui com uma entrevista de Ferreira Gullar, que soube evoluir, com os fatos, com as evidências, o que outros indivíduos esclerosados não souberam fazer.
As perguntas devem ter sido pautadas por essa dicotomia entre esquerda e direita, daí a insistência do poeta na questão.
Posto aqui, graças ao meu amigo blogueiro Orlando Tambosi.
Paulo Roberto de Almeida

Ferreira Gullar: "Lula comprou os pobres do Brasil"
Blog do Tambosi, 26.10.2010

Longa entrevista com o poeta Ferreira Gullar no jornal Público, de Portugal. Ainda bem que nem todos os artistas estão cegos diante da realidade. A entrevistadora certamente é do Grotão lulista e, como quase todos os jornalistas reféns de ideologias retardatárias, apoia a bolivariana Dilma, confundindo democracia com socialismo (ainda presa, a coitada, à lenga-lenga "esquerda/direita") . Cito alguns trechos:

O escritor Ferreira Gullar vota José Serra. Vê Dilma como “uma marionete” e Lula como um “ignorante”, “mentiroso”, com “fome de poder”, que é “a vergonha do Brasil”.
(...)
Todo o mundo conhece o José Serra no Brasil. Ele tem quase 50 anos de vida pública, e nunca foi acusado de ser corrupto, safado, de se apropriar de dinheiro público, de entrar em falcatruas. Será que isso não é um crédito?
(...)
A Dilma de esquerda? Mas o PT não é de esquerda. É um partido corrupto. O PT de esquerda já acabou há muito.
O comunismo chegou ao fim. Nós todos, que participámos dessa aventura, somos obrigados a reconhecer isso. Cumpriu a sua tarefa, mudou o mundo, a relação de trabalho, as conquistas dos trabalhadores, tudo foi consequência de uma luta que começou com o Manifesto Comunista, de 1848. E esgotou a sua tarefa. Então se acabou a URSS, alguém sonha que vai fazer socialismo no Brasil? Só piada. Só o Hugo Chávez.
(...)
O PSDB se caracteriza por ser um partido pacífico. Não é que sejam santos. É que não é o estilo deles. No caso do PT, não. O PT é isto. Vem dos sindicatos, que são dominados por gangues. O Lula pertencia a um deles. São gangues, que ocupam as instituições, a máquina do Estado. A Petrobras hoje está infiltrada de gente do PT e dos sindicatos.
(...)
Eu tenho uma empresa. Porque o meu tio me disse que Maria é competente, sem ela nunca ter gerenciado nada, vou entregar a ela? Não entrego. Compreende? Essa é a situação. Não estou dizendo que o Serra é perfeito. O Serra tem mais que mostrar do que ela. Eu tenho mais confiança nele porque ele tem trabalho feito, e ela nenhum! A Maria da Conceição e o Chico Buarque só votam nessa coisa porque têm nostalgia da esquerda! Têm de abrir a cabeça para um mundo novo! O comunismo já era, acabou! Sem contar que foi uma besteira. O que é que é Cuba? Eu defendi Cuba, fiz poemas sobre Cuba. É um fracasso completo! Como podem defender uma sociedade em que as pessoas não têm o direito de sair de lá? Em troca de quê? Terá por acaso riqueza lá? Não. É miséria, subdesenvolvimento económico e falta de liberdade. Eu não vou defender isso, meu Deus. Quero ter o direito, se acho que o país é uma merda, de sair daqui na hora que eu quiser. Compro uma passagem e vou para Lisboa! Agora! Não tenho de pedir licença a ninguém! E o Chico e a Maria da Conceição defendem isso! Que moral têm essas pessoas para defender alguma coisa justa? Aí fica o Serra de direita? É de direita porque não concorda com isso. Ser de esquerda é o quê? Achar que as pessoas não têm o direito de sair do seu país quando quiserem? É isso que é ser de esquerda? Isso é uma besteirada. Tem de acabar com essa conversa. Eles têm medo de serem chamados de direita. Eu não tenho. Porque eu não sou. Tenho a certeza absoluta da minha entrega a uma luta a favor das pessoas, de uma sociedade melhor. Não tenho de dar explicação a ninguém. Mas o Chico tem medo de parecer que é de direita. Problema deles.
Quando é que o Serra foi de direita? Um cara que teve de ser exilado, que lutou contra a ditadura, que sempre defendeu posições a favor de uma sociedade mais justa, medidas a favor das pessoas mais pobres, e tomou medidas efectivamente. Quando o Serra conseguiu introduzir os genéricos, a minha mãe, estava em São Luís do Maranhão, doente. E sabe o que é que o PT espalhou? Que o genérico era falso, que era só farinha e terra, não era remédio. Eu mandava dinheiro para comprar remédio para minha mãe, e falei: “Comprem genérico.” E o meu irmão falou: “Ah, não, genérico é terra. O PT já nos explicou.” Isso é o PT . (Continua).

P.S. [Orlando Tambosi]: a propósito da dicotomia "esquerda/direita" - que aqui sempre grafei entre aspas -, chamo para um velho artigo meu: a democracia é o divisor de águas. À "direita" ou à "esquerda", só restam o autoritarismo ou, pior, e o totalitarismo. A realidade nos ensinou que não há alternativa ao mercado senão as ditaduras (e não falo no fim do Estado, não). Democracia é respeito às liberdades - todas!
(Gracias, CFE, sempre atento).

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Direita e esquerda no continente: o simplismo atroz de certas "analises" politicas

Recebi, como sempre recebo, consultas de jornalistas sobre a realidade política nacional e internacional do Brasil e de outros países, para fins de elaboração de matérias de imprensa. Respondo, como sempre, objetivamente, dizendo como vejo ou como interpreto tal ou qual fenômeno ou processo político ou social, nacional ou internacional.
Geralmente, são questões objetivas, "matter of fact", como se costuma dizer no jornalismo anglo-saxão, que SEPARA SEMPRE, e de modo claro, o que é reportagem, ou seja, simples exposição de fatos objetivos, que estão ocorrendo no país e no mundo, do que é análise, ou opinião, que são considerações sobre esses mesmos fatos e processos.
Infelizmente, esse não é o caso de jornalistas brasileiros, que parece não terem aprendido nas faculdades de jornalismo do Brasil -- que acho que não mereceriam esse nome, e que a rigor talvez nem deveriam existir -- essa separação elementar entre fato e opinião.
Por isso, recusei-me a participar de um exercício que reputo viciado e deformado desde a origem.
Reproduzo aqui as perguntas do jornalista e minhas respostas:

Direita e esquerda no continente: contra o simplismo
Paulo Roberto de Almeida

Começo pela transcrição da consulta:
On Oct 15, 2010, at 3:46 AM, Xxxxx Xxxxx wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Xxxxx Xxxxxx
Cidade: Xxxxxxx
Estado: XX
Email: xxxxxxx@xxxxxxxxxxx.com.br
Assunto: Sem assunto

Mensagem: Prezado Paulo Roberto,
Estou fazendo uma matéria sobre a direita na América Latina, tentando estabelecer uma relação entre os recentes indícios de perda de poder da esquerda no continente, e de recuperação de espaço da direita. Gostaria de lhe fazer as seguintes perguntas:

- A eleição de Juan Manuel Santos, na Colômbia, e o recente flerte do candidato à presidência José Serra com a direita, haja vista as declarações do candidato Indio da Costa e a polêmica recente em torno do aborto, podem indicar uma nova onda da direita na América Latina?
- Esses indícios estariam em linha com o crescimento da onda conservadora global, percebida pelo fortalecimento da direita europeia e do Tea Party nos EUA?
- Ao mesmo tempo, é possível dizer que a esquerda bolivariana da latino-americana está enfraquecida? Dado o fortalecimento da oposição na Venezuela? Podemos prever nesses países um retorno da direita ao poder?
- Como essa nova onda afeta a geopolítica latino-americana? Podemos ver, no futuro um fortalecimento dos Estados Unidos na região?
- Como a política externa brasileira poderia mudar, em caso da eleição de José Serra para presidente? O senhor o vê como um líder conservador? Ou mais conservador que Dilma?

Desde já, agradeço,
Xxxxx Xxxxxx

Minha resposta: [PRA]

Xxxxx Xxxxxx,
O que voce me coloca nao são simples questoes, mas uma análise política completa do continente e do Brasil.
Devo dizer, antes de tudo, que sou contra simplificações e maniqueísmos tipicos de certa "ciência social" que olha o mundo sempre pelo prisma da divisão anacrônica e totalmente acadêmica de direita e esquerda. Os votantes, em todos os países, quando fazem suas escolhas, não estao, em sua imensa maioria, decidindo academicamente entre um candidato de direita ou outro de esquerda, mas sim pretendendo escolher aquele que vai melhorar suas vidas. Isto é elementar. Quem classifica os candidatos entre esquerda e direita sao os acadêmicos e os jornalistas, ambos simplisticamente.
Como voce vê, sou contra essas premissas das quais vc parte e que devem guiar sua matéria, por isso não pretendo participar com opiniões ou observações minhas tendo esse diapasão. Aliás, se quiser justamente usar meu argumento acima para introduzir um elemento de caução analítica na sua matéria, por favor, sinta-se à vontade.
Quem vê "flerte de Serra com a direita", numa classificação totalmente esquizofrênica, é você, não eu, e acho esse tipo de análise totalmente equivocada. Só quem vê o mundo por esse prisma, pode identificar oposição ao aborto como um posicionamento à "direita", seja lá o que isso queira dizer. Acho isso inaceitável no plano dos procedimentos corretos de análise política e até de metodologia de trabalho.
"Onda conservadora global": realmente isso é simplismo extremo, e totalmente equivocado. Pessoas, comunidades votam com base nos problemas locais e nacionais, não tendo suporte em ideologias. Mais uma vez o reducionismo desse tipo de análise é atroz.
Achar que a "esquerda bolivariana" está enfraquecida, por causa do avanço dos votos contrários a Chávez na Venezuela, e que a "direita" pode voltar ao poder é de uma miopia que condiz com toda essa visão do mundo, que encontro totalmente equivocada.
Quem diz que Serra seria mais "conservador" em politica externa do que Dilma é você, e acho isso simplesmente patético em termos de abordagem das questões de política externa (e outras, certamente), que acha que Lula, e supostamente Dilma, fez ou faria uma politica de "esquerda" ou "progressista". Esses rótulos são tão canhestros, que prefiro não participar de um exercício de reducionismo analítico e de simplificação política como o que vc pretende fazer.
Por favor, take me out dessa matéria, mantenha-me fora.
Digo isso não por antipatia por você, pelo jornal, ou por qualquer motivo "bilateral", mas por discordar completamente da abordagem e das premissas. É meu direito manter uma postura que considero como de simples honestidade intelectual, não coonestando análises que encontro equivocadas em seus fundamentos analíticos, e não apenas quanto ao fundo da matéria.
---------------------
Paulo Roberto Almeida