Negociado no mercado de autógrafos por quase 10 mil reais, apenas por causa do recente filme de Luiz Fernando Goulart. A tradução da nota está errada: ele não disse que todas as guerras são ruins, e sim que elas são más. O texto abaixo, para vender o documento, é do leiloeiro.
Paulo Roberto de Almeida
Pensamento emocionante do "Schindler brasileiro", Luís Martins de Souza Dantas, que salvou centenas de judeus da perseguição nazista.
Dedicatória original de Luís Martins De Souza Dantas para o livro "Pax Mundi, livro de ouro da paz". Uma folha. Em francês. Paris, março de 1928. Escrito nitidamente e em excelentes condições. Peça única.
Não podemos tolerar o crime que representa a guerra. Não existe guerra boa. Todas as guerras são ruins.
L. M. De Souza Dantas.
Paris, março de 1928.
Luis Martins De Souza Dantas (1876 - 1954) atuou como embaixador brasileiro na França antes e durante a Segunda Guerra Mundial. A ocupação nazista impunha a execução de ordens contra os judeus, incluindo o registro obrigatório, a segregação, o toque de recolher e a deportação para os campos de concentração. Agindo contra o processo, Dantas emitiu vistos brasileiros para salvar cerca de 800 judeus, comunistas e outros perseguidos, incluindo o influente banqueiro de investimento e consultor financeiro Felix G. Rohatyn e, ainda com 12 anos de idade, o lendário negociador de arte, Leo Castelli. Dantas tornou-se o equivalente brasileiro do industrial alemão Oskar Schindler.
Posteriormente, Luís Martins De Souza Dantas foi investigado pelas autoridades brasileiras e mandaram-no de volta à sua casa para responder acusações de violação à política de imigração do país. Ele foi salvo da acusação por um mecanismo legal. Após o término da Guerra, Dantas retornou à França, onde passou o resto de sua vida e, em 2003, Israel o homenageou com o prêmio "Justos entre as Nações".
Após a devastação da Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações surgiu com o discurso do presidente americano Wilson. Sob a liderança de George Dejean, a organização elaborou uma antologia que incluía comentários escritos sobre a paz por pessoas notáveis de todo o mundo. Entre 1925 e 1932, inscrições foram recebidas pela realeza, políticos, artistas, músicos e escritores, incluindo Dantas, a Rainha Elizabeth da Bélgica, Marie Curie, Einstein, Baden-Powell, King Faisal, Maginot, Colette, Sir Arthur Conan Doyle, Pirandello, Unamuno, Le Corbusier, Foujita, etc. A colaboração resultou em uma publicação de edição limitada denominada "Pax Mundi : livro de ouvro da paz".
Por que esse documento é raro ?
O pensamento de Dantas, uma década antes de arriscar a vida por seus princípios durante o Holocausto, constitui por consequência um documento único e excepcional.