O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador economia keynesiana. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador economia keynesiana. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Economia Keynesiana e Anti-Keynesiana: numero desbalanceado - What's Wrong with Keynesian Economic Theory? (book)

Received from the Societies for the History of Economics, edited by Prof. Steve Kates:
(O editor confessa que gostaria de ter intitulado um precedente livro seu: Anti-Kenesyan Reader, mas que acabou saindo com um título mais moderado. Agora o título é mais direto.)
 

What's Wrong with Keynesian Economic Theory?
Edited by Steven Kates, Associate Professor of Economics, School of Economics, Finance and Marketing, RMIT University, Melbourne, Australia
(Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2016)
 
It is a collection of readings by thirteen different economists from across the non-Keynesian economic spectrum, who find Keynesian economic theory a disastrous guide to economic policy.
As an indication of how necessary this book is, let me take you to Henry Hazlitt's 1959, The Failure of the New Economics.

‘There must be hundreds of economic books that may be variously described as Keynesian, pro-Keynesian, semi-Keynesian, or “post-Keynesian,” and there must be thousands of such pamphlets  and articles; but there is a great dearth when we come to any literature since 1936 that may be described as definitely anti-Keynesian – in the sense that it is explicitly and consistently critical of the major Keynesian doctrines. In the works of such writers as Ludwig von Mises, F.A. Hayek, Wilhelm Röpke, Frank H. Knight, Jacques Rueff, and others, we do indeed have an impressive non-Keynesian literature, based on “neo-classical” premises, with occasional explicit criticism of Keynesian tenets. But full-length books exclusively devoted to a critical analysis of Keynesianism may be counted on the fingers of one hand.’ (Hazlitt 1959: 437)

Book info:
Possibly the strangest phenomenon in all of economics is the absence of a long tradition of criticism focused on Keynesian economic theory. Keynesian demand management has been at the centre of some of the worst economic outcomes in history, from the great stagflation of the 1970s to the lost decade and more in Japan following the expenditure program of the 1990s. And once again, following the Global Financial Crisis, it is incontrovertible that no stimulus program in any part of the world has been a success, each one having been abandoned as conditions deteriorated under the weight of public sector spending. This book brings together some of the most vocal critics of Keynesian economics. Each author attempts to explain what is wrong with Keynesian theory in ways that can be understood by those seeking guidance on where to turn for a more accurate explanation of the business cycle and on what to do when recessions occur.

More info:
 One of the most striking phenomena in all of economics is the absence of a deep tradition of criticism focused on Keynesian economic theory. There have been critics but they are few and far between, even though Keynesian demand management has been at the centre of some of the worst economic outcomes in history, from the great stagflation of the 1970s to the twenty-year ‘lost decade’ in Japan that has been ongoing since the 1990s, and now, once again, the dismal recoveries that have followed the Global Financial Crisis. This book brings together some of the most vocal critics of Keynesian economics of the present time.

Each author attempts to explain what is wrong with Keynesian theory for those seeking guidance on where to turn for a more accurate explanation of the business cycle and what to do when recessions occur. The contributions are by scholars from a wide number of schools of economics, which include but are not restricted to Austrian, monetarist and classical perspectives. Written not just for economists, this accessible book is one of the few anti-Keynesian texts available and explains the inability of public spending and lower interest rates to have restored robust economic growth and full employment after the GFC.

The collection offers an antidote to contemporary macroeconomic theory. It is an essential text for anyone wishing to understand why no stimulus has been able to bring recovery to any economy in which it has been tried.

Contributors: 
 P. Boettke, P.L. Bylund, T. Congdon, R.M. Ebeling, R.W. Garrison, S. Horwitz, S. Kates, A. Kling, A.B. Laffer, P. Newman, G. Reisman, D. Simpson, M. Skousen, P. Smith

Contents:

Introduction

1. The Keynesian Liquidity Trap: An Austrian Critique
Peter Boettke and Patrick Newman

2. What the Entrepreneurial Problem Reveals about Keynesian Macroeconomics
Per L. Bylund

3. A Critique of Two Key Concepts in Keynesian Textbooks
Tim Congdon

4. The Misdirection of Keynesian Aggregates for Understanding Monetary and Cyclical Processes
Richard M. Ebeling

5. Cycles and Slumps in an Overly Aggregated Theoretical Framework
Roger W. Garrison

6. The Problems with Keynesianism: A View from Austrian Capital Theory
Steven Horwitz

7. The Dangers of Keynesian Economics
Steven Kates

8. The Problem of Keynesian Aggregation
Arnold Kling

9. What’s Wrong with Keynesian Economists?
Arthur B. Laffer

10. Capital, Saving and Employment
George Reisman

11. What’s Wrong With Keynesian Economics?
David Simpson

12. Move Over Keynes: Replacing Keynesianism with a Better Model
Mark Skousen

13. The Conclusive Fault Line in Keynesian Economics
Peter Smith

Index
 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Keynesianismo de botequim faz subir o risco do Brasil (Veja.com)

Risco-país sobe, e culpa não é só dos Estados Unidos
Naiara Infante Bertão 
VEJA.com, 12/06/2013 

Usado para medir o risco a que os investidores estrangeiros se submetem quando investem no Brasil – trata-se de uma espécie de termômetro da economia brasileira no exterior -, o indicador acumulou alta de 8%, passando de 173 pontos-base em 30 de abril para 202 em 31 de maio, segundo o Embi+Br, principal índice calculado pelo banco JP Morgan. Em pouco mais de seis meses, a alta é de 47%. Apesar de haver um aumento generalizado no risco-país dos emergentes devido à saída de dólares do mercado em direção aos Estados Unidos, é inegável a preocupação dos investidores internacionais com a evolução da situação fiscal do Brasil.O decepcionante desempenho da economia brasileira neste ano e a falta de clareza da política fiscal do governo Dilma Rousseff contribuíram diretamente para a piora do perfil da dívida soberana do Brasil. Como resultado disso, não só a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a perspectiva da nota de crédito da dívida pública do país, como o “risco-Brasil”, também chamado de risco-país, saltou 25% em apenas um mês.
As contas públicas têm mostrado piora desde o início do ano devido às políticas expansionistas executadas pelo governo, que incluem um rosário de estímulos fiscais e medidas protecionistas. Resultado disso é que o superávit primário (a economia que o governo faz para pagar os juros da dívida) em 12 meses terminando em abril está em 1,89% do Produto Interno Bruto (PIB), longe da meta de 2,3% do PIB que o governo anunciou que pretende cumprir este ano – e menos ainda que os 3,1% anunciados nos anos anteriores. Com isso, a trajetória da relação dívida/PIB, que mede o peso da dívida total do país, passou a subir. Estava em 35,2% em janeiro e foi para 35,4% em maio.
Não bastasse o fracasso dos números das contas públicas, o PIB do primeiro trimestre subiu apenas 0,6%, abaixo das estimativas mais pessimistas. Para completar o quadro, a inflação não dá sinais de retorno ao centro da meta de 4,5% ao ano. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,37% – e 6,5% no acumulado de 12 meses. “O descontentamento de investidores com o Brasil se baseia na falta de medidas estruturais que reforcem as fontes fundamentais de crescimento. Em vez disso, o governo tentar estimular a economia com políticas expansionistas transitórias”, afirma Alfredo Coutiño, diretor para América Latina da Moody’s Analytics.
Peso americano
O anúncio de diminuição de compra de títulos pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano) também pesou em alguns aspectos da piora do cenário brasileiro – sobretudo em relação à alta do dólar. Enquanto o Fed efetuava compras na casa dos trilhões em títulos da dívida, a economia americana era inundada por dólares que acabavam escapando para os mercados emergentes. Tal situação chegou a incitar declarações agressivas do governo brasileiro, que culpava os Estados Unidos pela entrada de dólares no Brasil – cenário que, por sua vez, ajudava na valorização do real.
Agora, diante de perspectivas de uma recuperação mais consistente, apesar de lenta, o Fed deu indícios de que diminuirá a compra de títulos. Esse movimento fez com que os juros pagos como prêmio pelos títulos americanos de longo prazo (10 anos) subissem, atraindo o capital para os Estados Unidos. “O aumento dos juros americanos deixa os outros investimentos menos atrativos e o investidor automaticamente exige um prêmio maior dos outros papéis”, diz Rodolfo Oliveira, economista da Tendências Consultoria.
Contudo, o cenário americano está longe de ser o único culpado pelo ponto em que se encontra o Brasil. Ele apenas serve como agravante para uma situação construída pelo próprio governo ao longo dos últimos três anos, período em que os pilares que sustentam a estabilidade da economia do país foram, pouco a pouco, sendo derrubados. Trata-se da popular máxima: “só se sabe quem está nu quando a maré baixa”. E, diante das mudanças de ventos trazidas pelos Estados Unidos, o Brasil, ao que parece, está nu. “O aumento do risco Brasil é uma resposta à mudança americana, mas também à piora da percepção sobre o Brasil”, diz Sérgio Vale, economista da MB Associados. Para ele, a perda de credibilidade leva naturalmente ao aumento do risco-país. “Ninguém acredita que a postura do governo Dilma vá mudar da água para o vinho”, afirma.
Segundo Vale, a situação brasileira é piorada pelo aumento do déficit em conta corrente, que é o resultado entre todas as entradas e saídas de recursos do país – produtos, serviços ou divisas. As contas externas ficaram 33 bilhões de dólares no vermelho nos quatro primeiros meses do ano, ante déficit de 17 bilhões de dólares registrado no mesmo período do ano passado. Em 12 meses, o déficit nas contas externas soma 3% do PIB – número que não se via há dez anos.”Esse ponto, especificamente, vai levar a um aumento definitivo do patamar da taxa de câmbio, com consequentes pressões inflacionárias”, diz o economista. Ele prevê o dólar no patamar de 2,20 reais no ano que vem e 2,30 reais em 2015.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Keynesianos de todo o mundo, desuni-vos, pois o mar nao esta' para austriacos... - Stanley Fischer

Belo artigo, este transcrito abaixo, mas mais como digressão literária do que receita para a solução dos problemas econômicos.
    Deve-se sempre desconfiar desses elogios exagerados a grandes homens: eles vao falhar de alguma forma em face da realidade.
    Como disso o próprio Fischer:
    Fischer tackled John Maynard Keynes’s “The General Theory of Employment, Interest, and Money.” “I was immensely impressed,” he said, “not because I understood it but by the quality of the English.”

    Acho que ele tem razão: Keynes foi um grande escritor inglês...

Paulo Roberto de Almeida 

Stan Fischer saved Israel’s economy. Can he save America’s?

Stanley Fischer is the governor of the bank of Israel. Could he play the same role here? (Simon Dawson/Bloomberg)
Stanley Fischer is the governor of the bank of Israel. Could he play the same role here? (Simon Dawson/Bloomberg)
Every August, central bankers from across the globe, who collectively pull the levers of the world economy, descend on Grand Teton National Park in Wyoming. They enjoy a symposium of big economic ideas and strenuous afternoon hikes. At one of their dinners a few years ago, Federal Reserve Chairman Ben S. Bernanke looked around at some fellow titans of finance.
“Do you know what everyone at this table has in common?” he mused. “They all had Stan Fischer as their thesis adviser.”
Stanley Fischer, who this month announced that he will step down as governor of the Bank of Israel, is one of the most accomplished economists alive. Any one of his past jobs would be a crowning achievement in an economist’s career.
As a professor at MIT — arguably the best economics department in the world — he helped found a school of economic thought that has come to dominate departments across the country. He also advised an all-star crew of grad students who went on top jobs in the policy world, including Bernanke, European Central Bank President Mario Draghi and former chief White House economist Greg Mankiw.
As the No. 2 official at the International Monetary Fund, he helped contain the Asian economic crisis of 1998. As a vice chairman at Citigroup, he ran all work for public-sector clients at what was at the time the world’s largest bank.
And in 2005, Israeli Prime Minister Ariel Sharon and Finance Minister Benjamin Netanyahu picked him to lead the central bank of a country he had previously only visited. No matter — Fischer’s results were more than enough to assuage any doubts. No Western country weathered the 2008-09 financial crisis better. For only one quarter — the second of 2009 — did the Israeli economy shrink, by a puny annual rate of 0.2 percent. That same period, the U.S. economy shrank by an annual rate of 4.6 percent. Many countries, including Britain and Germany, fared even worse. While they were languishing, by September 2009 Fischer was raising interest rates, all but declaring the recession defeated.
It’s fair to say he’s been embraced by the Israelis. Upon his resignation, Meirav Arlosoroff of the liberal daily Haaretz newspaper wrote that he is a “leader in whom the Israeli public had absolute trust” who “stood amid all the financial and leadership chaos like a fortress of stability, logic, level-headed judgment and international reputation.” Both Netanyahu and opposition leader Shelly Yachimovich lavished him with praise.
So what’s next? Fischer is in apparent good health at age 69. He has retained his American citizenship and deep ties to the United States. He was a candidate to lead the Federal Reserve Bank of New York in 2003 (Timothy F. Geithner got the job instead), and the failure of his 2011 bid to run the IMF was attributed in many circles to his being “too American” for a job traditionally reserved for a European.
His former advisee Bernanke will end his term as Fed chair in January 2014. Could the teacher follow the student? Could Fischer move from Jerusalem to Washington? It’s not as crazy as it may sound; the market for top central bankers is increasingly global, most vividly illustrated by the November selection of Bank of Canada governor Mark Carney to lead the Bank of England. In this post-crisis era, the job of a central banker requires someone who is simultaneously a brilliant economist, regulator, diplomat and politician. Among Fed watchers, there is quiet, off-the-record talk that that person might be Fischer.
Paul Samuelson, the Nobel-winning economist whose textbook inspired Fischer to become an economist. The two would come to know each other when Fischer joined MIT, first as a grad student and then as a faculty member. (Daniel Lippitt / AP)
Paul Samuelson, the Nobel-winning economist whose textbook inspired Fischer to become an economist. The two would come to know each other when Fischer joined MIT, first as a grad student and then as a faculty member. (Daniel Lippitt / AP)
Astride the divide
America is Fischer’s adopted homeland: He was born in Mazabuka, a medium-size town in Northern Rhodesia, now Zambia. At 13 he moved to Southern Rhodesia (now Zimbabwe), where he stayed until heading to the London School of Economics.
Fischer had originally intended to study chemistry, but in his last year in Africa he discovered his eventual field. “I was told by my parents I should really do something useful when I grew up,” he said in an interview. “And the older brother of a friend of mine had just come back from the LSE. So he showed me Samuelson, gave me some tutorials, and I was hooked.” That would be Paul Samuelson — famed textbook author, Nobel laureate, and professor at MIT.
Around the same time, Fischer tackled John Maynard Keynes’s “The General Theory of Employment, Interest, and Money.” “I was immensely impressed,” he said, “not because I understood it but by the quality of the English.”
He went to MIT for his doctorate, banging out a PhD in three years and then landing an assistant professorship at the University of Chicago. When Fischer arrived in Hyde Park in 1969, a chasm was about to open between Chicago, along with its peers near the Great Lakes — schools like Carnegie Mellon University and the University of Minnesota — and coastal powerhouses such as the University of California at Berkeley, Harvard, and, perhaps most notably, MIT. The divide, known as the “saltwater-freshwater dispute,” was sparked when one of Fischer’s Chicago colleagues, Robert Lucas, launched an aggressive critique of Keynesian economics.
As Lucas saw it, the Keynesians had split economics in half: microeconomics, which posited that consumers and firms made rational economic choices to maximize their own welfare, and macroeconomics, which said that mercurial swings occurred in the economy as a result of the choices made by those same actors. When they panicked and stopped spending, recessions occurred. Once they were reassured, the economy recovered.
This didn’t make any sense, Lucas argued. Why would rational individual choices add up to irrational changes in the economy as a whole? When Keynesian theories struggled to make sense of the 1970s paradox of slow growth and high inflation, Lucas’s argument struck a chord.
Fischer was one of the few figures at the time with bona fides on each side of the argument. He was at Chicago when Lucas formulated his critique, but had MIT’s Samuelson on his dissertation committee, and in 1972 returned to that department as a professor. Perhaps as a consequence, his students remember him as an unusually diplomatic presence during the decade’s theory wars.
“Stan was very much an open-minded adviser,” said Mankiw, who now chairs Harvard’s economics department. “He wanted students to think broadly and take progressive points of views he didn’t necessarily agree with.”
“He was not fundamentally a rat-exian,” Bernanke said, invoking the derogatory slang that Keynesians used to describe Lucas and his theory of “rational expectations.” “He was basically a Keynesian in his instincts, so he got along just fine with Samuelson and [fellow MIT professor Robert] Solow.”
The fruit of Fischer’s effort to integrate the two approaches is known today as “New Keynesian” economics. It is the dominant approach in most leading economics departments, with Mankiw, Bernanke, IMF chief economist Olivier Blanchard and many others contributing to the movement.
But Fischer was arguably first out of the gate. He helped originate the argument that “sticky prices”— that is, practical impediments to changing prices for goods, such as the expense of printing a new restauarant menu — mean that even rational, self-interested businesses and consumers can make choices that add up to an economy much like the one Keynesians describe.
Fischer, Bernanke said, wrote “one of the very first papers that had both sticky prices and rational expectations in it.” By doing this, Fischer had in effect united the two sides of economics. “I still think Keynesian economics is extremely important, and if anybody didn’t think so, this crisis should have made them rethink,” Fischer said in an interview.
Fischer also retained respect for his old Chicago colleague Milton Friedman, who shared some of Lucas’s ideas. In the late ’70s, Fischer urged one PhD advisee to take a look at Friedman and Anna Schwartz’s “A Monetary History of the United States,” a revisionist history that blamed the Federal Reserve for the severity of the Great Depression. More decisive monetary policy, they argued, could have cauterized the wound.
“I was struck that monetary policy was so consequential,” that advisee, Bernanke, said recently. “It was critical to the Great Depression. It had played a key role in the 19th century. So he had a lot to do with getting me interested in monetary economics and economic history.”
The man who would spend his Fed chairmanship flooding the economy with dollars to try to prevent a second Great Depression first learned how to do it from Friedman and Schwartz. And he learned about Friedman and Schwartz from Fischer.
Abandoning the pinnacle
Using aggressive currency devaluation, Stan Fischer helped Israel achieve a much shallower recession, and thus faster recovery, than the U.S. (Data: OECD)
Using aggressive currency devaluation, Stan Fischer helped Israel achieve a much shallower recession, and thus faster recovery, than the U.S. (Data: OECD)
People don’t give up tenured spots in the MIT economics department. It’s one thing to take a few years’ sabbatical to take a policy job, as Fischer did from 1988 to 1990 when he served as the World Bank’s chief economist. But it’s quite another to resign such a post permanently, as Fischer did in 1994 when he joined the IMF as its second-in-command.
He was recruited by Lawrence H. Summers, who had gotten his first academic job at MIT on Fischer’s recommendation, and who was at that point undersecretary of Treasury for international affairs. “We in the Treasury thought it was obvious that the strongest possible person for that position was Stan Fischer, and urged his appointment on the IMF,” Summers said.
“I remember being struck. As a young, rising 30-year-old academic, my idea of the pinnacle of achievement was a tenured professorship at MIT or Princeton,” Bernanke said. “But I think from Stan’s point of view, it was just one other thing that he wanted to do.”
Mankiw, who led the Council of Economic Advisers under George W. Bush, sees the appeal.
“He came back to MIT briefly between the World Bank and the IMF, and I happened to be visiting that year, and I got the sense he was a little impatient with academics,” Mankiw said. “When people come back from policy jobs, the pace of academics can seem slow and the things people debate can seem arcane.”
Fischer’s seven-year tenure, ending in 2001, came at a particularly rocky time for the IMF. The “structural adjustment” programs of tax increases and budget cuts it had recommended to developing countries had led to a political backlash, and anti-globalization activists began to regularly protest its meetings. Colleagues remember Fischer as a believer in IMF policies, but one who took critics’ voices into account.
“When he interacts with you, he starts with the assumption that he can learn a lot from you,” said Mohammed El-Erian, who leads the bond fund PIMCO and served at the IMF with Fischer. “He doesn’t intimidate you with his brilliance, he engages you with his brilliance.”
During Fischer’s tenure, he had to confront both the 1994 Mexico and 1998 Asian financial crises. The IMF contained both problems, preventing global meltdowns, although success came at a high cost. Without Fischer’s diplomatic skills to broker necessary deals, El-Erian said, things could have gotten much worse.
Others are more skeptical. The Asian crisis in particular entailed real economic pain: Thailand’s stock exchange lost 75 percent of its value amid huge layoffs. Indonesia’s economy shrunk an astonishing 13.5 percent in 1998 alone.
But Fischer’s allies argue that he fought against the IMF’s worst tendencies at that moment. Summers, who at the time was deputy secretary of the Treasury, recalls working closely with the IMF and credits Fischer with resisting an early IMF instinct to demand tough austerity measures of affected countries.
Fischer left the IMF in late 2001, and some months later joined Citigroup in New York as a vice president. Three years into that role, in 2005, he was offered the post of governor of the Bank of Israel. At the time, Israel’s central bank was highly centralized, with the governor having near-absolute power to pursue whatever policy course he wished. Fischer accepted. Though he did not relinquish the U.S. citizenship he had held since 1976, he became an Israeli citizen upon arrival, in accordance with the law of return for non-Israeli Jews.
It was not, however, Fischer’s first time living in Israel. He had taken frequent vacations and sabbaticals to the country with his wife, Rhoda, throughout his academic career. Nor was it his first time providing it with academic expertise. In the mid-1980s, when he was at MIT, he advised the Israeli government on how to extricate itself from its inflation crisis. Later that decade, he — along with Anna Karasik, Leonard Hausman and the Nobel laureate Thomas Schelling — was part of a project attempting to put together economic solutions to the Israel-Palestine conflict.
That culminated in a book, “Securing Peace in the Middle East,” in which Israeli and Palestinian economists, representing their governments, agreed on a plan to eliminate restrictions on Palestinian employment in Israel, to transfer of control over Gaza and the West Bank to the Palestinians, and to implement a system of free trade in the region.
The recommendations closely resembled the eventual form of the Oslo peace agreement between Israel and Palestine.
“According to the leaders of the PLO, the book served as the first concrete piece of evidence to them that Israelis would work with them as equals,” Hausman said. Fischer’s work, he said, was “the interpersonal and intellectual basis for the Israeli-Palestinian economics agreement that was signed in Paris in April 1994.”
Hausman remembers Fischer mostly as a fiercely competent and easy-to-work-with project leader, but identifies a passion for the subject as well. “Israel, I think, always was a big part of his heart and mind,” Hausman said. “But also, Stanley was and is a big believer in Israeli-Palestinian and Israeli-Arab peace on reasonable terms.”
Fischer remembers the process fondly. “I had never worked with Palestinians before,” he said. “I learned that if you want to work well with people with whom you disagree, it’s important to frame problems as merely technical ones.”
The Israeli economy that Fischer took over in 2005 was a world apart from the one he advocated in the early ’90s. The security wall meant that West Bank residents could no longer work in Israel with any ease. Since 2008, Gaza has been cut off from not just the Israeli economy but also from the world. Nevertheless, Fischer has retained his popularity among Arab colleagues. Hausman points out that Arab countries were a major base of support for Fischer’s unsuccessful 2011 bid to lead the IMF — rather remarkable for an Israeli candidate.
Being governor of a small country’s central bank during a worldwide financial crisis isn’t anyone’s idea of a fun job. Israel, like many other nations, was hit with the consequences of screw-ups made on Wall Street and in Washington. U.S. policymakers could have, in theory, prevented the crisis; at his post in Israel, Fischer had no such ability. But Fischer had a weapon of his own: the shekel. Central banks generally have a lot of control over how much their countries’ currencies are worth relative to others. And reducing a currency’s value increases a country’s exports, which can often lead to economic growth.
Big central banks tend to be cautious about using that lever. If Bernanke halved the value of the dollar relative to, say, the Chinese yuan, that would dramatically increase U.S. exports and probably economic growth, too, but it would also wreak havoc with the global financial system. Every dollar-denominated asset in the world, including all manner of bonds, would plummet in value.
It’s less risky for small countries. There aren’t massive piles of shekels lying around in other countries the way there are with dollars and euros, and Fischer took advantage of that fact. On May 30, 2008, a dollar was worth about 3.2 shekels. On March 6, 2009, it was worth 4.2 shekels. In less than a year, Fischer had reduced the value of the shekel by about 25 percent — a massive devaluation.
It worked. Exports soared, and 2008’s trade deficit of $2 billion became 2009’s trade surplus of $5 billion. While other countries fell deeper into recession, Israel brushed its shoulders off.
Fischer and Bernanke laugh at the Jackson Hole, Wy. monetary policy summit last summer. (Ted S. Warren / AP)
Fischer and Bernanke laugh at the Jackson Hole, Wy. monetary policy summit last summer. (Ted S. Warren / AP)
A chairman of many hats
The Federal Reserve chairman wears a lot of hats. He has to make basic monetary policy decisions about whether to raise or lower interest rates, of course, and in this world of zero-percent rates he has to have the economic know-how to decide wisely what unconventional tools to use to try to spur growth. But he also has to be an international ambassador, representing the United States in global forums of central bankers. He has to take charge when crises hit, steering toward a solution that’s well thought through but arrived at quickly. He must be a skilled regulator and understand what threats emerge from financial markets. He must be a good politician and communicator, handling angry lawmakers at hearings and pointed questions from journalists at news conferences.
Indeed, it is a job that almost no one is qualified for when they first take it on. Bernanke himself had little background in financial markets, bank regulation, or politics when he became chairman in 2006.
The exception to the rule is those who have worked as a central bank governor at a high level — such as Fischer. And his name has begun to surface in conversations among Fed watchers.
The argument for him might go like this: Fischer has extensive experience managing international crises and negotiating deals between governments from his time at the IMF, and he spent three years doing high-profile work for a major bank. He is famously genial, a key skill in leading the Federal Open Markets Committee from month to month.
His candidacy has become more plausible since Carney was appointed to lead the Bank of England. Before that, it was easy to write off the idea of hiring another country’s central banker as a fanciful bit of cosmopolitanism, a move that would surely lead to citizens denouncing the foreigner now in charge of their money. But now there’s a precedent. For that matter, Fischer is far more American than Carney is British. Carney lived in England during graduate school and for a bit while at Goldman Sachs. Fischer lived in the United States for almost 50 years, including all his time at MIT, Chicago, the World Bank and the IMF.
Likely sometime this summer, President Obama and his team will set to work deciding whom to appoint as the next Fed chair. Bernanke’s second four-year term is up in January, and people close to him have suggested that he is ready to step down after eight long years of crisis-fighting. Given the vagaries of the confirmation process, Obama would probably want to name his replacement by fall.
It would be unprecedented for the United States to appoint someone from abroad to one of its most important government jobs. But Fischer’s time in Israel might actually be a plus in the Obama team’s eyes. Obama has a famously frosty relationship with Netanyahu and has battled suggestions that he is insufficiently supportive of Israel. How better to rebuke those critics than by picking an economist whom Netanyahu knows and respects to the most important U.S. economic policy job? That Fischer’s broadly Keynesian approach is a good fit with the administration’s is just gravy.
For years, Fischer was known as the adult in Israeli government, the man who could be counted on to keep the economy on track even as politicians in parliament squabbled. Obama could well decide that the United States is in need of just such a figure.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Raul Prebisch: um economista controverso

Reportagem de capa:
Biografia resgata o legado do economista argentino Raúl Prebisch, líder da Cepal e da teoria desenvolvimentista latino-americana.
Prebisch e o continente
Diego Viana | De São Paulo
Valor Econômico, 29/07/2011

No turbilhão das crises, o conhecimento acumulado sobre o funcionamento da economia muitas vezes é questionado e as vozes de economistas heterodoxos passam a soar mais atraentes. Assim como as livrarias alemãs puderam comemorar em 2008 uma discreta corrida por edições atuais de "O Capital", de Karl Marx, o terremoto no mercado financeiro americano naquele ano foi celebrado como um renascimento da teoria keynesiana.

Foi também no ano da crise que chegou às livrarias dos EUA e do Canadá a biografia de Raúl Prebisch (1901-1986), o economista argentino que, para muitos, é o "Keynes latino-americano". Escrita por Edgar Dosman, da Universidade de York, no Canadá, "Raúl Prebisch: a Construção da América Latina e do Terceiro Mundo" tem publicação prevista no Brasil para o dia 15, em parceria do Centro Internacional Celso Furtado (CICF) com a editora Contraponto.

"O fim de 2008 foi o momento perfeito para sair o livro, porque assinala o começo de uma crise que pode vir a ser um colapso global", diz o autor. O lançamento permite resgatar a memória do pai da teoria estruturalista do desenvolvimento econômico. Prebisch, segundo Dosman, foi o primeiro economista a estender a teoria ao mundo em desenvolvimento e a enxergar a América Latina como uma entidade à parte. A tradução prática de seu pensamento foi a liderança da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Grandes economistas brasileiros, como Celso Furtado (1920-2004) e Maria da Conceição Tavares, beberam na fonte de Prebisch.

O caos econômico dos anos 1930 desnudou, para o economista, a fraqueza da teoria hegemônica de comércio internacional

"Acredito que sei o que Prebisch recomendaria para o Brasil neste momento de boom de commodities e risco de desindustrialização", diz Dosman. Ao contrário do que se possa imaginar de um economista que preconizou o protecionismo e intervenção estatal para industrializar países periféricos, substituindo importações de manufaturados por produção local, Prebisch apoiava um setor primário forte. A explosão de commodities pode ser usada a favor do Brasil, se o país não se descuidar de ampliar as condições de produzir com alto valor agregado.

"Uma das vantagens da idade é ter acompanhado o ir e vir dos ciclos econômicos", comenta o autor. O próprio Prebisch presenciou uma alta acentuada de preços de produtos agrários na década de 20. "Levando em consideração as mudanças de humor do mercado de commodities, a pergunta passa a ser: o que é preciso fazer para se manter como potência industrial?"

Para Dosman, que vem ao Brasil no mês que vem para uma série de seminários organizados pelo CICF, Prebisch diria aos governos latino-americanos que encarassem o boom das commodities como temporário. A recomendação seria administrar a situação para evitar a "doença holandesa", ou seja, desindustrialização por dependência de um único produto exportado. "Não se pode esquecer que os países só têm sucesso se contarem com uma infraestrutura física, intelectual e produtiva que garanta o desenvolvimento de longo prazo", alerta Dosman.

Como Keynes, Prebisch desenvolveu suas teorias a partir da experiência traumática da Grande Depressão, que atingiu a economia argentina com uma violência particularmente atroz. O país era, até então, um dos mais prósperos do mundo, com sua economia assentada sobre a exportação de carne bovina e trigo para a Europa. A implosão do comércio mundial carregou consigo o país platino, que atravessou o violento período conhecido como "década infame".

Para Simão Davi Silber, da USP, a tese de Prebisch é falha porque se baseia no pior período da história do comércio internacional
Prebisch, nascido em Tucumán, filho de um imigrante alemão com uma descendente de aristocratas coloniais, era então um economista ortodoxo e diretor-geral do Banco Central de seu país, que também fundou. Atravessou no BC, onde trabalhou de 1930 a 1945, períodos turbulentos da crise e presenciou a ascensão do populismo de Juan Domingo Perón (1895-1974), que se tornaria seu desafeto. A magnitude do caos econômico dos anos 1930 desnudou, aos olhos do economista, as fraquezas práticas da teoria hegemônica de comércio internacional, fundada sobre o conceito de vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823). Para o economista inglês, os países devem se especializar na produção daquilo em que têm maior eficiência, para ampliar o comércio e gerar maior riqueza.

Uma das razões encontradas por Prebisch para explicar que os benefícios da vantagem comparativa não fossem repassados aos países periféricos, segundo o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e organizador do seminário paulistano sobre o argentino, foi a escassez de mão de obra nas sociedades industriais. Em consequência, os salários eram mais altos, porque os empresários tinham de investir em qualificação dos operários. "A vantagem comparativa chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano", diz Marconi. Na crise, Prebisch observou que os preços do trigo e da carne argentinos despencaram com violência maior do que os de manufaturados. Os resultados foram divulgados na ONU (Organização das Nações Unidas) em 1949, com o texto "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas". Ao mesmo tempo, o economista alemão Hans Singer (1910-2006) chegava a conclusões semelhantes, de tal maneira que a teoria ficou conhecida como tese Prebisch-Singer.

O rebento da observação de Prebisch seria a teoria estruturalista do desenvolvimento econômico, que marca a ruptura do argentino com a ortodoxia. "O desenvolvimentismo da Cepal foi uma teoria muito importante para sua época", assinala o economista da FGV Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda. "Foi a base de todo o desenvolvimento no Brasil, no México, no Chile e, em menor escala, na Argentina." Ironicamente, no país de Perón, Prebisch era persona non grata. Seus dois breves retornos à terra natal, como conselheiro dos presidentes Pedro Aramburu, em 1955, e Raúl Alfonsín, em 1983, foram desastrosos. "Ninguém queria escutar seus conselhos. Ele era associado ao 'antigo regime', período em que presidiu o Banco Central", diz Dosman.

"A vantagem comparativa nessa relação de comércio chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano"

O ostracismo de Prebisch contrasta com o renome de que goza o outro grande economista heterodoxo do continente, o brasileiro Celso Furtado. O autor do monumental "Formação Econômica do Brasil" foi um prolífico colaborador de Prebisch na Cepal, além de amigo do argentino. "Prebisch deu o pontapé inicial", segundo Marconi. "Furtado ampliou a teoria e introduziu a questão da desigualdade de renda, que faltava."

Quando se conheceram, no Chile, o brasileiro era um jovem economista promissor. Prebisch, segundo Dosman, logo reconheceu nele um colega brilhante. "Era uma admiração mútua. Prebisch admirava a integridade pessoal de Furtado." A colaboração durou décadas, mas houve discordâncias, que chegaram a um breve rompimento em 1957. "Ambos tinham vontades fortes... eram 'machos alfa'", brinca o biógrafo.

Uma explicação para os destinos divergentes reside no acesso aos textos de ambos. Enquanto Furtado legou uma bibliografia ainda amplamente estudada, Prebisch escreveu apenas profissionalmente. Como diz seu biógrafo, "ele assinava como chefe de pesquisas, na Cepal e na Unctad. Seus textos individuais, para apresentação na ONU, ficaram indisponíveis". O projeto de publicar os manuscritos e correspondências do economista argentino avança lentamente.

"O estruturalismo entende que o processo de desenvolvimento implica uma mudança estrutural na composição da produção", diz Marconi. A necessidade de industrializar, ponto fundamental das ideias de Prebisch, é parte de um estímulo generalizado à demanda, por intervenção estatal ou investimento externo, à medida que uma economia deixa de ser primária. No horizonte situa-se um "ponto de maturidade", com consumo de massa e uma demanda de perfil mais sofisticado, em que a população exige serviços públicos, educação, saúde, lazer.

O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira defende um desenvolvimentismo inspirado nas ideias de economistas como Raúl Prebisch
Segundo Bresser-Pereira, o desenvolvimentismo de Prebisch, Furtado e outros autores tem o mérito de reconhecer na economia um pensamento social e, portanto, histórico, em oposição à teoria neoclássica, que se pretende a-histórica. À exceção do pioneiro Reino Unido, aponta Bresser-Pereira, "todos os países que se industrializaram no século XIX protegeram a produção local": França, EUA, Alemanha, Japão.

Ao fim da Grande Depressão dos anos 1930, os governos latino-americanos tomaram interesse pelas teses da Cepal, que prometiam desenvolvimento e proteção contra novas recessões. A substituição de importações, ponto inaugural da doutrina, foi buscada no Brasil, no México, no Chile e em outros países. Nas décadas seguintes, o crescimento do continente foi um dos mais fortes do mundo e a estrutura econômica e social na região foi radicalmente transformada. As cidades cresceram com as fábricas. Mas ao fim da década de 1970, o quadro era outro: inflação, estagnação, crises políticas e ditaduras.

O desenvolvimentismo e as teses da Cepal foram relegadas a um plano secundário a partir da década seguinte, quando as teorias neoclássicas voltaram ao centro dos debates e o Consenso de Washington tomou forma. O próprio Raúl Prebisch foi esquecido e esquecido morreu, no Chile, em 1986. "A hipótese de Prebisch e Singer era muito ruim. Ela se baseava em dados apenas do período mais terrível da história do mercado mundial, que foi a Grande Depressão", argumenta o economista Simão Davi Silber, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Silber, as pesquisas empíricas revelam o oposto daquilo que diagnosticou o economista argentino: quem exporta commodities está em situação melhor do que o exportador de produtos industriais. "A história não corrobora a hipótese. A melhor maneira de verificá-lo é comparar o desempenho da América Latina com o Sudeste Asiático, onde a substituição de importações foi abandonada tão logo perceberam o erro."

O confronto entre latino-americanos e asiáticos em matéria de desenvolvimento também atrai os defensores do estruturalismo. Bresser-Pereira lembra que a substituição de importações é uma "pequena fase inicial de industrialização", cujo substrato é, nas palavras de Nelson Marconi, "um forte investimento na qualificação da mão de obra", com vista a galgar as etapas de desenvolvimento e reestruturar o sistema econômico. Um erro do Brasil, lamenta Marconi, foi não investir no capital humano. O modelo de industrialização que importou a matriz tecnológica foi concentrador de renda e não colaborou para atingir fases mais avançadas de desenvolvimento.

"A substituição de importações funcionou bem até os anos 1960", diz Bresser-Pereira. "Os asiáticos começaram assim e saíram rápido." Embora não se baseassem no pensamento de Raúl Prebisch, os economistas e burocratas daquele continente são pragmáticos, segundo Bresser-Pereira, e "olham para como a economia funciona de verdade". Países como a China e a Índia são encarados como exemplos de sucesso de políticas desenvolvimentistas.

Bresser-Pereira conclui que o erro latino-americano foi demorar a sair da etapa de substituição de importações. As raízes dessa demora podem ser políticas, já que as massas recém-incorporadas à economia urbana e industrial se tornaram um eleitorado atraente para os líderes do continente. "Por trás das ideias de Prebisch está um ativismo governamental pronunciado, daí o fato de ter caído no gosto do nacional-desenvolvimentismo latino-americano", afirma Simão Silber, ressaltando o caráter estatista da teoria heterodoxa da Cepal.

O renascimento do interesse pelo keynesianismo e por teorias centradas no desenvolvimento, a partir da crise de 2008, se faz acompanhar de um olhar mais benevolente para a atuação do Estado. "A estratégia do novo desenvolvimentismo é crescer com estabilidade, mas defendendo um Estado mais participativo", diz Bresser-Pereira. Nesse modelo, o Estado deixa de ser produtor, dono de empresas, e se torna indutor de investimentos privados. "O estágio de desenvolvimento é outro. Não precisamos mais fazer a revolução industrial e capitalista", diz. "Já existe uma classe de empresários capazes de investir."

Marconi lamenta que o Brasil tenha passado tantas décadas investindo na modernização da estrutura sem modernizar também a formação da mão de obra. "Só agora esse problema está sendo atacado no Brasil." O desenvolvimentismo de hoje, segundo Marconi, é a corrente que chama a atenção para a necessidade de agregar valor à produção, seja no setor industrial ou nos serviços mais dinâmicos.

Análise:
Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo
Carlos Lessa | Para o Valor, do Rio
29/07/2011

Edgar Dosman: Prebisch não excluía apoio a um setor primário forte
A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado. Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.
Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.

Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e só se aprofundava

O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio. A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.

Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.

Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.

Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.

Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES