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sábado, 2 de março de 2013

Emergente ou submergente? Boca grande ou pe-frio? O Brasil e as grandes economias...

Depois que o Brasil ultrapassou ligeiramente o Reino Unido, em 2011 (e muito mais por efeito cambial, ou taxa nominal da moeda, do que propriamente por vigor econômico excepcional), o nosso vidente oficial, o dito ministro fazendoca Guido Mantega havia prometido ultrapassar também a França, e colocar o Brasil na quinta posição da economia mundial, depois da China, EUA, Japão e Alemanha.
Mais fácil dizer do que fazer, não é mesmo?
Não sabemos se é boca grande ou pé frio, mas o fato é que essas classificações baseadas em taxas de câmbio de mercado são inerentemente frágeis.
E ainda que fosse verdade, o que nós, simples mortais, ganhamos com isso?
A China vai ultrapassar os EUA em PIB nominal nos próximos anos, se já não ultrapassou em PPP agora mesmo, segundo alguns.
Sabem quando os chineses vão ter um padrão de vida igual ou superior ao dos americanos?
Não nos próximos 150 anos, talvez mais, talvez nunca...
Essa grandiloquência economicista, essa megalomania vazia não é apenas irritante; ela é profundamente enganadora, no que tem de concreto sobre o bem estar das pessoas, indivíduos concretos, vidas humanas, que é a única coisa que deveria contar para estadistas responsáveis, não para demagogos cheios de bazófias e falsos orgulhos para se vangloriar de algo que não fizeram...
Paulo Roberto de Almeida 

Baixo crescimento e real mais fraco fazem Brasil perder posto de sexta maior economia do planeta

  • Embora tenha crescido apenas 0,2% em 2012, moeda estável permitiu ao Reino Unido retomar posição que havia perdido um ano antes.
Ronaldo D’Ercole (Facebook · Twitter)
Infoglobo,
SÃO PAULO – Além de colocar o país no fim da fila entre as principais economias emergentes, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 fez o Brasil perder para o Reino Unido o posto de sexta maior economia do mundo. Mesmo tendo crescido apenas 0,2%, diante de uma expansão de 0,9% do Brasil, a economia britânica recuperou a posição que havia perdido um ano antes, devolvendo aos brasileiros o sétimo lugar na lista.
De acordo com levantamento do banco WestLb, o conjunto de riquezas geradas no Reino Unido em 2012 alcançou a cifra de US$ 2,44 trilhões, contra US$ 2,25 trilhões do PIB brasileiro. No fim de 2011, o Brasil ostentava um PIB de US$ 2,47 trilhões, pouco mais que os US$ 2,43 trilhões dos britânicos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Brasil no contexto economico global - Ilan Goldfajn e Felipe Salles


O Brasil no novo contexto global
Ilan Goldfajn e Felipe Salles
Valor Econômico,  24/09/2012 - pág. A16

A economia brasileira está demorando a voltar a crescer mais forte. O cenário global não é favorável, os custos no Brasil encontram-se muito altos e os planos de investimento aguardam uma retomada mais consistente. O governo tem adotado novas medidas de estímulo. Vai dar certo?
Se "dar certo" significa que a economia deve tornar a crescer mais do que indicado pelo último número do Produto Interno bruto (PIB) - crescimento de 0,4% sobre trimestre anterior -, a resposta é sim. Componentes cíclicos e conjunturais - reversão do ciclo de estoques, estímulos monetários e fiscais e estabilização da desaceleração mundial - vão contribuir para a economia retomar o crescimento em algum momento no futuro próximo. Mais difícil é saber se o Brasil consegue crescer a uma taxa maior de forma sustentável - no médio prazo, digamos até 2020.
O contexto internacional mudou, e o que era um estímulo global ao crescimento dos países virou uma restrição.
A virada ocorreu com a crise financeira, iniciada com o estouro da bolha no setor imobiliário dos EUA - em particular no mercado subprime -, rapidamente atingiu o setor bancário e culminou com a quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008, que afetou a economia global.
Após um período de retomada e otimismo, fruto das ações dos governos e, principalmente, de seus bancos centrais, surgiram problemas nas regiões mais frágeis da economia global. Os países periféricos europeus passaram a apresentar problemas em função de um longo período de crédito farto e barato após a adoção do euro. A política fiscal expansionista ao longo da década (e também na reação à crise) cobrou seu preço: vários países, como Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha tiveram significativo aumento do déficit público, gerando dúvidas com relação à sustentabilidade de suas dívidas e dificultando o acesso aos mercados. Ações de bancos dos países periféricos caíram, sinalizando que a saúde do setor estava debilitada, e famílias e empresas passaram a retirar seus depósitos bancários em alguns países.
Com passos lentos, oscilantes e irregulares, as autoridades europeias tomaram uma série de medidas que, embora necessárias para evitar um colapso na região, ainda não solucionaram o problema. O Banco Central Europeu (BCE) tem sido chave para evitar o colapso, adquirindo títulos públicos problemáticos no mercado secundário, e disponibilizou liquidez barata. Recentemente, comprometeu-se a intervir ainda mais.
Apesar de todo esse esforço, os países da zona do euro têm dificuldade para crescer. A dinâmica da dívida (como proporção do PIB) piora não só por causa déficit público, mas também pela redução do crescimento. Os balanços dos bancos e empresas pioram com a perda das receitas e aumento da inadimplência. O desemprego elevado gera instabilidade social e política.
A Europa terminará em desastre, com o fim da zona do euro? Acreditamos que o euro continuará existindo, mas talvez sem a exata composição atual (com a saída da Grécia, por exemplo). Nesse cenário, a Europa irá, aos trancos e barrancos, avançar nas questões-chave - ajustes fiscais, reformas estruturais e instituições que contemplem maior integração fiscal e regulatória no euro. Esses avanços são lentos, e enquanto as medidas são adotadas, o BCE irá adquirindo boa parte das dívidas dos periféricos para evitar uma quebra na região, realizando efetivamente um enorme estímulo quantitativo, o "quantitative easing" (QE). Delineia-se um período longo de ajuste com crescimento baixo.
Nos EUA, não esperamos uma volta à recessão, nem uma recuperação forte, a exemplo da Europa. A agressiva expansão monetária adotada pelo banco central americano (Fed) logrou evitar uma deflação, que poderia tornar a saída da crise mais complicada (da mesma forma que a inflação elevada reduz o valor real das dívidas, a deflação dificulta o processo de desalavancagem). O desemprego continua elevado, mas nada comparável ao que se seguiu à crise de 1929. O déficit público precisa ser reduzido, mas não existem dúvidas sobre a capacidade de o governo honrar suas dívidas.
O setor privado avançou bastante nos necessários ajustes para retomar o crescimento no longo prazo de forma sustentável. Os balanços de bancos e empresas estão relativamente saudáveis, as famílias elevaram a taxa de poupança e vêm pagando suas dívidas. Os preços dos imóveis estabilizaram-se, o estoque de imóveis à venda reduziu-se e a demanda começa a dar sinais de vida.
O problema é que boa parte do ajuste do setor privado deu-se à custa do setor público. O estoque da dívida pública aumentou, o déficit público aumentou e o balanço do Fed elevou-se de forma significativa. Esse ajuste - o do setor público - ainda está por ser feito, e existem incertezas no processo (por exemplo: será o Fed capaz de reduzir o seu balanço quando as condições financeiras se normalizarem por completo? O risco é de uma inflação mais elevada no futuro longínquo).
As perspectivas são de crescimento moderado: por um lado, o necessário ajuste fiscal dificulta a volta no crescimento, por outro lado, em algum momento, o setor de construção, atualmente estagnado, poderá voltar à normalidade, trazendo estímulos à economia.
Em geral, as condições estruturais para o crescimento de longo prazo não são favoráveis nos EUA e na Europa. Em primeiro lugar, as condições demográficas tendem a piorar. Nos EUA, o crescimento da mão de obra se reduzirá frente ao período recente. Na Europa, a situação é ainda pior: o envelhecimento da população e a dinâmica migratória devem reduzir a população em idade ativa. Em segundo lugar, a taxa de crescimento do estoque de capital será menor. Para manter o crescimento do estoque de capital nos níveis pré-crise, os Estados Unidos necessitariam de elevado déficit em conta corrente, dada a baixa poupança doméstica, o que parece implausível.
O mundo parece estar diante de um período longo de taxas baixas ou moderadas de expansão
A China também enfrenta desafios. O modelo voltado para investimento e exportação dá sinais de esgotamento desde a crise de 2008, e há necessidade de elevar o consumo interno. Essa transição não é trivial, pois um número de reformas institucionais deve ser implementado. A elevação do consumo passa por uma redução da poupança das famílias, o que por sua vez requer maior cobertura previdenciária, maior oferta de serviços públicos (saúde e educação), políticas de elevação do salário real e algum grau de liberalização do sistema financeiro local. A contrapartida da adoção desses ajustes é um aumento dos custos de produção, diminuindo a competitividade do país em bens transacionáveis.
Adicionalmente, o governo chinês tem demonstrado uma opção por um crescimento moderado. A adoção de políticas anticíclicas durante a crise do Lehman gerou desequilíbrios. A participação dos investimentos no PIB, que já era elevada, subiu até chegar a quase 50%. A dívida dos governos locais aumentou bastante, e pairam dúvidas quanto ao pagamento dos empréstimos bancários que financiaram essa expansão. O setor imobiliário deu mostras de superaquecimento, levando o governo a tomar medidas para frear a expansão do setor desde o início de 2011. Perante os desafios domésticos (transição para um modelo de crescimento baseado no consumo) e externos (continuidade da crise externa), o governo chinês optou por um crescimento menor, porém sustentável no longo prazo. Não imaginamos a volta a um crescimento acelerado, de dois dígitos, nem tampouco uma crise que leve a uma parada brusca no crescimento.
Na China projetamos um crescimento mais baixo, porém sustentável, nos próximos anos. A transição para um modelo de crescimento baseado no consumo doméstico requer redução da participação dos investimentos no PIB. A demografia será menos favorável, com redução da população em idade ativa a partir de 2015. Por fim, a migração de trabalhadores do campo para a cidade continuará, mas cada vez mais para o setor de serviços, menos produtivo, do que para a indústria.
O mundo parece estar diante de um período longo de taxas baixas ou moderadas de crescimento. Economias em desenvolvimento não vão mais se beneficiar de um ambiente global estimulativo, a fase de crescimento acelerado baseado nas exportações chegou ao seu fim.
Em números, projetamos as seguintes taxas de crescimento para as regiões mais relevantes da economia global: ao longo da segunda metade da década, a zona do euro voltará a crescer de forma moderada, em torno de 1%. Os EUA terão crescimento médio um pouco acima de 2% na segunda metade da década, e a China verá seu crescimento encolher de cerca de 8% para perto de 6,5%, em 2020. E o Brasil?
O fim do período favorável da economia global tem gerado desafios à economia brasileira nessa transição para um novo regime.
O País sentiu o impacto da crise em 2008. Mas a recuperação não tardou a vir. Com a contribuição da forte retomada global, sob a égide da China, fortes estímulos governamentais levaram o crescimento para 7,5% em 2010 (de -0,3%, em 2009).
Nesse processo, houve alguns excessos nos planos de expansão e produção. Os salários subiram muito acima da produtividade. A inflação acelerou-se e ameaçou estourar o teto da meta. O governo reagiu ao aumento da inflação adotando uma política econômica contracionista.
Tais excessos, associados à deterioração do quadro externo e às medidas do governo para esfriar a economia, levaram a uma desaceleração da economia brasileira (o crescimento de 2011 caiu para 2,7%, continuando a cair até meados de 2012).
O espaço da queda de juros deve ser usado para aumentar o investimento público ou para incentivar o privado
Para a frente, projetamos que a economia doméstica vai se recuperar no fim de 2012 e voltará a crescer (acima de 1,5%, em 2012, e acima de 4%, em 2013).
Estimamos crescimento médio entre 3,5% e 4% na segunda metade da década. Essa expectativa está baseada num conjunto de tendências para a economia brasileira que precisam se delinear mais claramente. Entre elas:
1) É necessário investir mais para continuar crescendo. Não será possível continuar crescendo apenas incorporando mão de obra à produção. Na última década o emprego esteve em alta seguida e as empresas enfrentaram escassez de mão de obra. O desemprego chegou a recorde de baixa. Agora há necessidade de acumular mais capital para manter esses empregos e crescer mais.
2) O aumento do investimento privado é essencial. As parcerias público-privadas e o anúncio recente de leilões de novas concessões na infraestrutura - rodovias, ferrovias, aeroportos, portos - são uma solução. Mas o setor privado vai precisar de retornos adequados para aumentar os investimentos.
3) Os custos de produção estão muito elevados e representam um verdadeiro gargalo. Há várias iniciativas para reduzir os custos. Está ficando claro que parte relevante da redução dos custos envolve, em certa medida, o governo abdicar de suas receitas. O pacote para reduzir o custo da energia no Brasil e as desonerações da folha de pagamentos são os mais recentes exemplos. Os investimentos da Petrobras vão precisar de preços dos combustíveis alinhados com o resto do mundo, o que pode exigir desonerações adicionais de imposto na gasolina e no diesel.
Essas medidas no final vão desembocar na redução da carga tributária, que hoje representa em torno de 35% do PIB e é muito elevada para um país em desenvolvimento. Parece a solução ideal. A redução da carga tributária tem tudo para reduzir os custos de produção e estimular o investimento privado, essencial para crescer mais no médio prazo.
Mas as contas do governo comportam uma queda mais significativa da receita? Sim, um gasto permanente menor de juros pode levar a um déficit nominal menor e permitir uma dinâmica da dívida mais favorável, abrindo espaço fiscal.
Não estamos entre os que creem na queda sustentável dos juros básicos da economia (Selic) por simples decisão do governo. Mas acreditamos na convergência dos juros para padrões internacionais no médio prazo no País, desde a conquista da estabilidade macroeconômica e a consequente queda do risco Brasil.
A tendência tem sido de queda dos juros, apesar de mais lenta que o desejado. Para a frente, o crescimento mais moderado dos gastos do governo e do crédito no País pode permitir uma queda mais sustentada da taxa de juros (evitando a volta dos juros aos dois dígitos, mesmo após a retomada da economia).
O elevado crescimento dos gastos públicos teve até hoje como contrapartida uma alta carga tributária, mas também juros mais altos. Se os gastos crescerem mais devagar (ou forem realocados para investimento), a consequente queda dos juros pode permitir uma carga tributária menor. A cada 1% de queda permanente na Selic, estimamos ser possível reduzir a carga tributária em 0,5% do PIB, sem piorar as contas públicas (déficit nominal).
Mas o espaço da queda de juros, se vier, deve ser utilizado para aumentar o investimento público ou para incentivar o investimento privado. A tentação de aumentar os gastos públicos ou incentivar o consumo privado (com deduções) pode tornar inviável a sustentabilidade da queda de juros, desequilibrar as contas públicas e acarretar o aumento da inflação.
As medidas recentes têm procurado incentivar o investimento por meio da redução de custos. Mas têm incluído também algum esforço para reduzir os preços no curto prazo e incentivar o consumo. O ideal é manter o foco no investimento e no crescimento sustentável no médio prazo, principalmente num mundo cujos ventos não serão favoráveis por algum tempo.
Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do IBBA
Felipe Salles é economista sênior do Itaú Unibanco

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sábado, 1 de setembro de 2012

Bye bye Brics? Hello MIST? - revista Exame


Com BRICs em baixa, MIST surge como novo oásis econômico
Naiara Infante Bertão e Ana Clara Costa, de São Paulo
Revista Exame, 29 de agosto de 2012

México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia despertam a atenção de um mercado frustrado por crise no mundo desenvolvido e desaquecimento nos emergentes

 ­ O termo BRICs – sigla que se refere ao grupo de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, que por uma década foi pronunciado à exaustão como promessa de crescimento e retorno aos investidores, está a um passo de ter um concorrente. O motivo é a ascensão de outro time de emergentes que atende pelo apelido de Mist: México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia (leia um pouco mais sobre cada um).
Esses países crescem mais, passaram nos últimos anos por turbulências econômicas menos profundas e possuem menos burocracia. Em suma, são hoje vistos como um novo oásis num mercado frustrado por perdas na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil e na China. Jim O'Neill, presidente do Goldman Sachs Asset Management (GSAM) e criador da alcunha Brics, é considerado o autor, mesmo que involuntariamente, da nova sigla.
"Muitos pensam que criei esse acrônimo, mas ele nasceu do fato de eu ter definido, cerca de quinze meses atrás, onze novos países como economias promissoras. Como, do grupo de onze, os quatro são os que mais se destacaram, jornais disseram que havia criado o conceito de Mist. Achei engraçado", disse em entrevista ao site de VEJA.
O'Neill – que não utiliza mais o termo “economias emergentes” para se referir aos BRICS por achar que elas "já emergiram" – criou o grupo dos onze incluindo nações que, anos atrás, não seriam nem lembradas como promessas de ganho aos investidores. Além do Mist, o economista escolheu Bangladesh, Egito, Irã, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Vietnã como mercados que, juntamente com os BRICS, se tornariam as maiores economias do século XXI. De acordo com as estimativas do executivo, Brics e Mist terão juntos um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 12 trilhões de dólares ao fim desta década em termos reais – dois terços provenientes dos Brics e um terço do total vindo da China. “Os Brics são muito importantes e ainda não se pode compará­los com os MIST”, afirma O’Neill.
Comparações à parte, a expansão econômica de México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia é inegável, enquanto o mundo desenvolvido agoniza em recessão ou estagnação econômica, e muitos emergentes veem seu dinamismo se esvair claramente. “Os países do MIST estão ganhando visibilidade por causa da desaceleração dos Brics.
Brasil, Índia e China estão experimentando taxas de crescimento abaixo do previsto neste ano, não apenas devido ao ciclo econômico, mas também porque tomaram medidas que não foram tão bem recebidas pelos mercados”, afirma Christopher Garman, diretor de estratégia de mercados emergentes da Eurasia Group. No caso do Brasil, em particular, ele diz que o investidor está pessimista, sobretudo com o baixo crescimento – que deve encerrar o ano em 1,75% segundo previsões do mercado financeiro. Contudo, ele lembra que os mesmos investidores avaliam que os esforços da presidente Dilma Rousseff para estimular o PIB – tais como os pacotes que têm sido anunciados e as medidas para ajudar a indústria – mostram uma “luz no fim do túnel”.
Ciclos – O surgimento de levas de países que dão um salto rumo ao desenvolvimento não é fato isolado na história da economia global. Os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, já foram nações emergentes que surpreenderam o mundo com seu vigor. Olhar para além dos Brics pode ser considerado, portanto, algo natural. “Muitos investidores começam a olhar para histórias de crescimento fora dos BRICS, e alguns fundos estão apostando em países do segundo escalão dos emergentes”, conta Garman. “O Mist reúne essencialmente os maiores países depois dos Brics”, completa. Apesar de economistas e investidores falarem dessa seleção de países há dois anos, tal predileção ganhou adeptos nos últimos meses por conta do agravamento da crise financeira europeia e seu impacto nos emergentes dos Brics – com destaque para o vexame brasileiro.
Ambiente de negócio – Além do fato de serem países em desenvolvimento com economias fortes – todos fazem parte do G20, o grupo das vinte maiores economias do planeta –, as principais características que unem os Mist são mercado consumidor atrativo e o fato de estarem melhorando constantemente seu ambiente de negócios. “Isso faz com que investidores os vejam como lugares para se investir no longo prazo, inserindo­os em um portfólio global diversificado”, diz a analista da Economist Intelligence Unit (EIU), Justine Thody. (veja quadro comparativo de Brics e Mist).
É inegável, porém, a atração que exercem dados que comprovam pujança econômica sobre estrategistas e investidores globais. México e Indonésia, por exemplo, cresceram, respectivamente, 4,1% e 6,4% no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período de 2011 – contra míseros 0,8% do Brasil. O mais impressionante, na visão do mercado, é que tais números se apresentem num momento em que o mundo patina e grande parte dos países revisa para baixo suas previsões para o PIB.
Disciplina macroeconômica – Alfredo Coutiño, diretor da Moody’s Analytics para a América Latina, explica que essa expansão “fora da curva” é resultado basicamente da disciplina macroeconômica (fiscal e monetária) dos governos do MIST, além da constante promoção dos negócios com melhoria da regulação, oferta de segurança jurídica e abertura ao mercado internacional. “O ponto em comum entre os quatro é que eles são gerenciados por equipes econômicas com filosofia pró­mercado, o que dá segurança e deixa os investidores felizes”, afirma.
Ressalvas – Mesmo com a popularização recente, o novo elenco enfrenta certa resistência por parte de alguns economistas. Alguns acreditam que Brasil, China e Índia logo recuperarão o fôlego e retomarão o centro das atenções. Outros apontam que os fundamentos que sustentam esse crescimento vultoso do Mist são temporários. Coutiño destaca que, ainda que México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia suportem elevadas taxas de ampliação do PIB por vários anos, seu conjunto é ainda pequeno para substituir o papel dos BRICS como locomotivas da economia internacional.
Somente o Produto Interno Bruto somado de Brasil, Rússia, Índia e China é quase quatro vezes maior que o do MIST: 13,5 trilhões de dólares contra 3,9 trilhões de dólares.

A insustentavel competitividade externa do Brasil - Alexandre Schwartsman

Quem nos navega é o mar
Alexandre Schwartsman
Blog A Mão Visível, 29 de Agosto de 2012


O Brasil permanece uma economia bastante fechada ao comércio internacional. Apesar do crescimento expressivo nos últimos anos, o comércio representa apenas cerca de um quarto do PIB, deixando o país nas últimas colocações do ranking mundial neste quesito. Assim, ao contrário de países como a China, a economia não tem muito do seu impulso atrelado diretamente ao comércio global. Apesar disso, as exportações desempenham um papel relevante, a saber, pagar pelas importações necessárias para sustentar o ritmo forte de aumento do consumo interno. É assim fundamental entender o excelente desempenho das exportações brasileiras nos últimos anos.

Há meros dez anos essas equivaliam a pouco mais de US$ 83 bilhões (a preços de 2011), correspondentes a 0,92% do comércio global. No ano passado atingiram US$ 256 bilhões, expansão média pouco superior a 13% ao ano, já deduzida a inflação, cerca de 3 vezes mais rápido que observado nos 10 anos anteriores e também superior ao ritmo mundial. A participação no comércio global chegou assim a 1,42%, a maior desde 1955.

Este último resultado parece contradizer a noção que o Brasil teria apenas surfado na onda de prosperidade mundial. Uma decomposição simples do crescimento das exportações brasileiras no período revelaria que quase 30% das novas exportações se originaram do aumento da participação no comércio mundial, enquanto 65% provêm do aumento do comércio mundial em si e o restante da interação entre estes dois fatores. De 2009 para cá o resultado é ainda mais significativo: quase metade das exportações adicionais resultou da crescente participação de mercado.

As razões para o ufanismo, no entanto, começam a se dissipar quando aprofundamos ligeiramente a análise. Ocorre que há dois canais pelos quais um país pode aumentar sua participação no comércio internacional: as quantidades exportadas podem crescer a um ritmo maior do que as quantidades transacionadas globalmente, ou os preços dos produtos exportados podem crescer mais rapidamente do que os preços globais. No caso do Brasil, o que prevaleceu foi o segundo mecanismo.

Com efeito, entre 2002 e 2011 os preços das exportações brasileiras aumentaram 163%, enquanto o aumento médio global alcançou 65%. Neste mesmo período as quantidades exportadas pelo Brasil se expandiram 61%, em linha com o crescimento mundial de quantidades (67%). Não é difícil concluir, portanto, que foi o aumento extraordinário dos preços dos produtos brasileiros no mercado internacional – fruto do crescimento não menos extraordinário dos preços internacionais de commodities– a razão pela qual a participação brasileira no comércio global cresceu de forma tão acentuada.

Assim, ao decompor o crescimento das exportações brasileiras de 2002 a 2011 chegamos ao seguinte: como adiantado, 65% se originaram do crescimento do comércio mundial; 40%, por sua vez, resultaram do aumento dos preços (relativamente aos globais), cabendo aos demais componentes, inclusive o crescimento das quantidades, contribuições negativas para a expansão das vendas ao exterior.

Tais números sugerem que, de fato, o desempenho exportador brasileiro decorreu de forças globais, sobre as quais o país dispõe de nenhum controle.  Em particular o aumento dos preços das exportações relativamente às importações permitiu que cada unidade exportada pelo Brasil comprasse em 2011 36% a mais do que comprava em 2002, possibilitando que o consumo crescesse cerca de 1-1,5% ao ano mais rápido que o PIB nos últimos anos.

A base do crescimento nacional está, pois, alicerçada em fundamentos externos. Não por acaso as exportações têm perdido o fôlego em 2012, em linha com o fraco crescimento mundial e a queda no preço das commodities. Sem esta ajuda, o modelo de crescimento baseado no consumo encontra limitações crescentes, aparentes no fraco desempenho de 2012.

Só não olhe para baixo...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um debate sobre Brics e o mundo como ele é...

Recebi, de um leitor atento, a mensagem abaixo, como comentário a este post: 

O grupo Brics no contexto da crise econômica mundial - Paulo Roberto de Almeida




Augusto Leal Rinaldi deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O grupo Brics no contexto da crise econômica mundi...": 

Professor Paulo, em primeiro lugar gostaria de elogiar esse espaço em que o senhor contribui de maneira democrática para elucidar questões tão importantes como as que são postadas diariamente. Acompanho seu blog há algum tempo e sempre faço questão de acolher seus comentários, sempre me atentando aos argumentos e fazendo uma leitura crítica de seus textos. 

Com relação ao texto dos Brics, concordo que na verdade há uma falta de convergência no discurso produzido pelo bloco no que se refere aos principais temas da agenda internacional. Numa crise de governança global que o sistema atual enfrenta, a interlocução política entre os países poderia fazer a diferença. O grupo dos países emergentes, nesse sentido, tem deixado de aproveitar essa oportunidade para estreitar o diálogo entre eles e afinar um discurso comum que demonstre à comunidade internacional a intenção de assumir maiores responsabilidades na condução de temas que antes eram conduzidos pelas grandes potências. 
Pelo o que acompanho das reuniões ministeriais do grupo, o Brasil me parece ser o único país realmente interessado no avanço das negociações e que tem assumido uma postura relativamente mais ativa que seus pares, principalmente em relação à China e Rússia, que não conseguem se harmonizar em praticamente nenhum tema. Dessa forma, o senhor não acredita que o papel do Brics não está sendo comprometido pela baixa expectativa que países como Rússia e China têm em relação a assunção de um papel mais pró-ativo na condução dos grandes temas da agenda internacional? E, se isso for verdadeiro, será que a China, candidata à grande potência, não estaria perdendo uma oportunidade de demonstrar à comunidade internacional que ela tem meios e recursos disponíveis para assumir posição de autoridade no mundo?

Um abraço,
Augusto Leal Rinaldi - bacharel em Relações Internacionais (UNESP) e mestrando em Ciência Política pela UFSCar.

Meus comentários às questões colocadas: 

Caro Augusto Rinaldi,
Quero, em primeiro lugar, agradecer seus comentários atentos e inteligentes, que muito distinguem este blog.
Creio que você tem razão em vários pontos, mas creio que, de modo geral, você considera o Brics, e os emergentes em geral capazes de articular uma resposta coerente, uniforme ou útil, em relação aos principais pontos da agenda mundial, o que não me parece credível, realizável ou possível, de modo amplo. 
Você parece acreditar, sobretudo, que os Brics sejam capazes de atuar conjuntamente em questões concretas da agenda mundial, quando eu acredito que eles só possam fazê-lo em questões muito determinadas, de interesses deles, conjuntamente, ou do interesse de um dos dois mais poderosos, China e Rússia, nessa ordem, depois seguidos pela Índia e pelo Brasil, e finalmente pela África do Sul, com importância bem menor.
Eu diria, muito objetivamente, que os Brics, ou seja, tanto o grupo quanto os países nele inseridos, foram oversold, como se diz em linguagem de marketing, ou seja, supervalorizados, acima, muito acima de seu valor real de mercado, tanto para o grupo, quanto para os países, com a possível exceção da China, que tem condições de impor sua vontade (com alguns limites), o que não parece ser o caso de qualquer um dos demais. Mesmo assim, a China tem enormes problemas, e estes não são os da oposição dos EUA, ou de outros países, à sua projeção de poder, e sim problemas internos, de caráter político e social, que ela terá de resolver, contra a sua vontade, ou seja, contra a vontade do PCC, do grupo dirigente, que verá manifestações escapando de seu controle.
Mas esse é um outro problema.
O que nos concerne aqui é o Brics, e seus integrantes.

 Não partilho de sua ideia de que há uma crise de governança global, pois esta não existe, de fato. Nunca existiu uma governança global, mas apenas arranjos ad hoc, que vão mudando conforme as circunstâncias. A ONU é a parte menos importante dessa pretensa governança, pois de fato  ela não tem qualquer poder, além daquele conferido pelos países mais importantes do mundo, ou seja, os P5, os cinco permanentes, sendo que a ordem de poder, em percentuais, seria esta: EUA: 50%, China, 20%, Rússia 15%, Reino Unido 10%, França 5%. Enfim, talvez se possa fazer variações com esses percentuais, mas o poder mundial está com esses países, e, justamente, não existe governança entre eles.
Por que haveria uma "governança" própria aos Brics?
Por que os Brics teriam melhor coordenação entre eles do que exibem, por exemplo, os países da OCDE, do G7, da OTAN? 
Os Brics não podem afinar um discurso, uma ação conjunta, pois essa possibilidade é muito remota. Os entendimentos se fazem de maneira muito ad hoc, geralmente em reação a pontos da agenda mundial, em reação defensiva ou contrária, de modo geral. 
Existem demandas comuns, vinculados a maior representatividade nos organismos internacionais, ou para defender posições de seu interesse nos foros apropriados.
Mas quero crer que não existe uma agenda positiva e propositiva, própria aos Brics, que seja realmente o que se espera de uma governança mundial, ou de assunção de maiores responsabilidades (em relação a que, exatamente?).
A interlocução política, entre os Brics, ou entre eles e os demais atores relevantes, não faz nenhuma diferença, pois o que vale, de fato, são os interesses individuais de cada um dos países, isoladamente. Nesse contexto, e admitindo-se que a "anarquia" mundial das soberanias ainda prevalece, cada um vai agir por si, Estado nacional acima de tudo.
Mas, entre os membros do G7 existe uma pequena concordância sobre o que é prioritário: as economia de mercado, as democracias, os direitos humanos, enfim, esse conjunto de valores que deveria prevalecer no mundo moderno.
Nada disso existe entre os Brics, ou muito pouco: talvez Índia e Brasil sejam países formalmente democráticos, mas democracias de fachada, com extrema má qualidade nas instituições e seu funcionamento. Os dois outros grandes do Brics, os dois do CSNU nem isso podem ser, nem querem ostentar. Existe uma enorme descoordenação, de fato e de direito, entre todos, mas a descoordenação dos Brics é muito maior.
Ou seja, não devemos ter ilusões quanto a governança e sobretudo quanto a agenda conjunta dos Brics, um grupo eminentemente artificial e de circunstância política. 
O mundo é muito mais complicado do que as elaborações acadêmicas.
Mas esse é o mundo como ele é, como diria Nelson Rodrigues...
Paulo Roberto de Almeida 

domingo, 26 de agosto de 2012

O grupo Brics no contexto da crise econômica mundial - Paulo Roberto de Almeida



Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor de Economia Política no Uniceub
(www.pralmeida.org).
Publicado na Revista Jurídica Consulex (ano 16, n. 374, 15 de Agosto de 2012, p. 30-31). 
Relação de Publicados n. 1079bis; Relação de Originais n. 2416)

O Brics, foro de coordenação e consulta integrado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, aos quais agregou-se, em 2011, a África do Sul, vem destacando-se como um grupo de economias emergentes dotado de grande potencialidade no contexto da economia mundial, sobretudo no quadro da atual crise econômica, em função da qual seu desempenho tem sido significativo em termos de preservação do crescimento e da estabilidade financeira das economias de mercado. Persistem, no entanto, dúvidas quanto à resiliência do grupo em face dos desafios atuais, sobretudo em função do agravamento da crise europeia e do baixo crescimento da economia americana. Os parágrafos seguintes visam apresentar argumentos sobre o papel do Brics na atual conjuntura.
Existe, em primeiro lugar, uma profunda incompreensão com respeito ao que é, realmente, esse grupo chamado Brics, que parece ter assumido uma estatura de grupo formal e de entidade dotada de poderes próprios no quadro da governança mundial, quando a realidade é menos positiva quanto a esse aspecto. A sigla designa uma assemblagem arbitrária de países, dotados de certas características externas aparentemente semelhantes, mas que representa apenas o que estava implícito em seu significado original, feito por um economista de um banco de investimentos: quatro (agora cinco) grandes economias em desenvolvimento, não pertencentes ao bloco de grandes potências econômicas, que são tradicionais democracias de mercado. Os quatro países apresentavam grandes promessas de crescimento econômico – por uma série de razões próprias a eles, mas isoladamente, e não como grupo – e que por isso foram identificados como boas oportunidades de investimento, pelas promessas de ganhos de mercado que representam: grandes territórios e populações, boa dotação em recursos naturais, por vezes humanos, também, crescimento razoável e crescente inserção nos circuitos da economia global.
A partir dessa adjunção de quatro países sumamente diferentes feita por um economista interessado apenas em ganhos de mercado, dirigentes desses países resolveram, dado o bom acolhimento da sigla, formalizar uma suposta união para perseguir objetivos alegadamente comuns. Quais são esses objetivos? Cabe aos dirigentes desses países, que promoveram seus encontros ministeriais e de cúpula, dizerem, com suas próprias palavras, o que eles, como grupo, pretendem fazer em relação aos grandes problemas da agenda mundial: crescimento, meio ambiente, segurança, direitos humanos, democracia, criminalidade internacional, e muitos outros temas que ocupam a agenda da ONU, do G7 e de outras organizações intergovernamentais.
Isto não quer dizer, todavia, que o Brics constitui um grupo econômico estrito senso. Quando se fala de “grupo econômico” se entende um conjunto de países integrados comercialmente, produtivamente, com intenso intercâmbio entre eles, com base num conjunto de regras comuns, e tendencialmente apontado para a convergência de políticas econômicas. Os Brics não exibem essa condição; não são, portanto, um grupo econômico, a não ser arbitrariamente, como declaração própria, mas isso não é comprovado pelos fatos.
Não se pode, portanto, falar em crescimento ou estagnação conjuntos: cada um dos fenômenos econômicos dos Brics serão, essencialmente, constituídos de processos exclusivamente nacionais, independentes, autônomos, não correlacionados entre si. Não existe uma base comum, políticas comuns, apenas intercâmbio, o que se dá com quaisquer outros ajuntamentos heteróclitos de países que se faça. A questão que se coloca, portanto, é a de saber se o Brics, em conjunto ou isoladamente, pode representar alguma diferença em face da crise econômica atual.
Como sabem os economistas do desenvolvimento e os especialistas em integração regional, crescimento, por si só, não serve de cola: cada país pode crescer por razões diferentes, não conectadas entre si. A natureza do crescimento de cada um dos Brics (na verdade, apenas China e Índia vinham crescendo de maneira consistente nos últimos anos, e aparentemente já vêm enfrentando uma baixa de ritmo, dada a crise das economias norte-americana e europeia) não tem nada a ver com os fatores de crescimento dos demais, uma vez que eles possuem características diversas e se inserem de maneiras distintas na economia mundial, assim como seus intercâmbios recíprocos obedecem a padrões diferenciados, únicos no plano bilateral.
Em outros termos, eles estavam crescendo de maneira completamente descoordenada, cada processo obedecendo a impulsos próprios, sem qualquer base comum. Que eles venham agora a sofrer impactos da estagnação ou depressão nas economias desenvolvidas, isso se fará, também, por canais próprios a cada um, sem qualquer relação estrutural entre si. A crise afeta os países individualmente, não esse grupo um pouco arbitrário chamado Brics.
O único legado acumulado pelo Brics, até o momento, é o registro de suas reuniões formais, em nível ministerial ou de cúpula, e as declarações feitas nessas ocasiões. Mas que o grupo fez, por exemplo, para avançar certos temas da agenda mundial? Para esperar algo desse grupo seria preciso que ele tivesse um poder de alavancagem sobre a economia mundial que ele ainda não tem. E seria preciso que ele oferecesse respostas a problemas comuns que não foram vistas ainda.
Como o Brics se encontra regularmente, talvez ele tenha suas próprias receitas para a superação da crise, mas talvez as soluções para os problemas de cada um dos países, individualmente, não tenha nada a ver com as respostas aos problemas dos demais, a não ser num nível muito alto de generalidade: expansão da economia mundial, abertura comercial e aos investimentos, poupança, crédito, moedas estáveis, bom ambiente de negócios. Cabe aos governos nacionais transformar as condições existentes em oportunidades de aumento da renda e riqueza nacionais (sempre nacionais), o que deriva da competência de cada um deles, não da existência de um grupo, formal ou não.
O Brics não parece dispor de um diagnóstico comum a respeito da crise atual e não conseguiu propor, até aqui, uma reformulação factível da economia mundial. Os países do grupo Brics, se continuarem pretendendo assumir políticas comuns, terão um largo caminho pela frente para se apresentar, pelo menos, como grupo, o que eles ainda não são, pelo menos não do ponto de vista econômico.

Paulo Roberto de Almeida (Brasília, 31 de julho de 2012)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dinamicos e retardatarios em 2012: previsoes da Economist

O quadro abaixo é meio enganador, pois tomo como base apenas o crescimento em termos nominais numa escala linear, mundial. Existem países de economias ridiculamente pequenas, que não têm condições de representar qualquer incentivo, estímulo ou desestímulo, à economia mundial.
Outros são mais impactantes, a despeito de não figurarem nem entre os de maior crescimento, nem de maior recuo...
Paulo Roberto de Almeida


Growth in 2012

Jan 4th 2012, 14:05 by The Economist online
Which economies will grow and shrink the fastest in 2012?
LIBYA’S economy will grow faster than any other in 2012, according to the Economist Intelligence Unit’s forecasts, boosted by reconstruction following the fall of Muammar Qaddafi’s regime. The surge is a bounce-back from an even more precipitous slump while war raged. In Iraq, post-conflict chaos has delayed recovery but performance in 2012 may mark the start of something new. Mongolia is enjoying a mining boom and will benefit from investment in that sector; Angola and Niger will gain from relatively high commodity prices. China will continue to experience robust growth; this is fortunate since demand generated by the world’s second-largest economy will counteract some of the drag from the rich world. As for the fastest shrinkers, Europe’s economies feature prominently, as they remain embroiled in the Euro crisis. But Sudan will suffer the heaviest economic contraction, having lost three quarters of its oil reserves to South Sudan when that country seceded in July.