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domingo, 20 de novembro de 2011

A evolução das espécies diplomáticas: exercício de quantificação - Paulo Roberto de Almeida

Uma brincadeira antiga, que ficou inédita, esperando um livro planejando, que acabou nunca saindo, como, aliás, um "Dicionário de Disparates Diplomáticos", que aguarda melhores condições (políticas) para ser publicado.
Paulo Roberto de Almeida 



A evolução das espécies diplomáticas: exercício de quantificação
(da série: “Macro e microeconomia da diplomacia”)

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 1230: 21/03/2004; www.pralmeida.org)

Dando continuidade à minha série de artigos bissextos, enfeixados sob o título geral de “Macro e microeconomia da diplomacia” – e já representados por um primeiro ensaio de levantamento das principais “questões de economia diplomática” e um segundo texto relativo à questão específica da “produtividade diplomática”, ambos disponíveis no link: www.pralmeida.org/07CousasDiplomaticas/01MacroMicroDiplom.html –, permito-me tratar agora de uma das externalidades que influenciam a carreira e o desempenho do diplomata: aquela que se ocupa de sua exata caracterização quanto ao gênero, o que nem sempre tem a ver com a sua orientação sexual. Faço-o apenas para responder a uma indagação de um colega de trabalho que, como eu, é sociólogo de formação, mas que, também como eu, costuma dar palpites em assuntos econômicos. Pois não é que ele vem repetidamente indagando, de forma aparentemente séria, sobre o “índice de boiolagem explícita” no Itamaraty, e eu nem sempre disponho dos dados empíricos para responder?
Questão grave, e importante, que ainda não foi objeto, salvo engano meu, de algum estudo de sociografia diplomática, dentre tantos outros que se ocupam de questões relevantes de política externa e das relações internacionais do Brasil. Ainda que esta série se ocupe, primordialmente, da macro e da microeconomia da diplomacia, ela não poderia ignorar uma questão que afeta, talvez com intensidade insuspeita, aqueles que se ocupam, funcionalmente, de diplomacia, isto é, os diplomatas, as diplomatas, além de todos os “outros” que, por uma ou outra razão, também exercem essa função nobre no Estado. Estes “outros” parecem constituir uma proporção razoável dos funcionários da Casa, não considerando aqui, obviamente, aqueles curiosos que estão exercendo, temporariamente, funções diplomáticas mas que não são diplomatas de carreira (como os políticos no exílio, os amigos do rei e outros apaniguados de qualquer tipo que, a despeito de tudo, toda corte sempre carrega como um fardo). Na acepção aqui retida, por “outros” podem ser classificados todos aqueles que, com a ajuda do superego freudiano, preenchem com uma pontada no coração o item “gênero” nos formulários padronizados.
Quanto são eles, exatamente?: mistério. Como se distribuem entre as classes de diplomatas?: ignoramos totalmente. Qual o coeficiente de abertura externa?: igualmente não sabido. Qual sua incidência nas diversas gerações?: outro imponderável. Foram perseguidos em outras eras, estão mais à vontade nesta nossa época de uniões livres e de abertura de armários?: certamente, mas muitos ainda se escondem atrás de uma vida dupla e de um comportamento reservoso, tão desnecessário, hoje em dia, quão nefasto ao equilíbrio mental de funcionários que, no que se sabe, são tão ou mais dedicados à carreira do que quaisquer outros, por vezes até mais.
Seria possível construir um índice confiável da presença efetiva desses detentores de um charme discreto que tende a ser confundido com o da própria diplomacia? Difícil dizer pois que, à diferença dos conhecidos índices de Laspeyres ou de Paasche, não se pode determinar com rigor a média aritmética ou a média harmônica (esta ainda mais problemática) da evolução desse “produto” – com perdão pelo uso do conceito – ao longo do tempo ou no espaço. Talvez tenhamos de nos contentar com uma aproximação que, ignorando voluntariamente os valores no atacado, se concentre sobre os mesmos no varejo. O coeficiente de variação desses “produtos” na cesta da carreira será sempre algo ambíguo e indeterminado, pois que as estatísticas não sabem como estimar o quantum de população economicamente ativa não revelada, pelo menos não de modo explícito.
O fato é que, impossibilitado de responder precisamente a tão importante questão do supracitado colega – ele chegou a aventar a hipótese de 90%, o que, francamente, eu considero algo exagerado –, decidi, se não oferecer um cálculo, ou sequer uma estimativa grosseira, pelo menos propor um método um pouco mais científico de determinação da incidência relativa dessa fauna peculiar no conjunto da classe (atenção taxonomistas: não confundir a espécie e o gênero com a família e esta com a classe, pois se trata de graus diversos de aproximação filogenética). A investigação compreende obviamente aspectos macro e outros microeconômicos, sendo estes provavelmente mais relevantes em vista da dimensão reconhecidamente privada da matéria.
Uma interpretação de tipo keynesiana a esse problema, tenderia a identificar, historicamente, as grandes tendências das curvas de oferta e procura para o fenômeno em questão, o que revelaria, claramente, um nítida inflexão para cima da curva de oferta e uma estabilização relativa da curva de demanda, com uma certa depreciação, portanto, do valor do produto ao longo do tempo. Esse comportamento pode ser explicado pela existência daquilo que os economistas do século XIX chamavam de “abstinência”, isto é, uma abstenção voluntária ao consumo deliberado desse produto, e que os economistas modernos passaram a denominar sob o conceito de poupança (não confundir, porém, com o vulgar epíteto). Em virtude, todavia, do princípio da “aceleração”, fenômeno colocado em evidência pela primeira vez pelo economista francês Aftalion em 1913, o produto foi sendo incorporado aos gostos da demanda. Atenção: não se trata ainda do “multiplicador keynesiano”, mas tão simplesmente do crescimento proporcionalmente mais forte da demanda por bens de capital – sim: existe um capital intrínseco à espécie – do que a expansão da demanda final da qual ela deriva.
O rendimento marginal do capital fixo investido em equipamentos próprios (que fazem parte do capital no nível microeconômico) redunda, em última instância, naquele tipo de demanda que Keynes, ele mesmo um representante da espécie, chamou de agregada, mas que para todos os efeitos práticos de um serviço gozando do monopólio da reprodução da espécie, tende a ser confundida com a demanda efetiva. Em qualquer hipótese, o ciclo econômico conduz a uma expansão ainda mais desproporcional da oferta do produto em questão, o que pode ter resultado, em várias épocas, naquilo que Marx chamou de “crise de superprodução”. Esse fenômeno era visível no Brasil de meados dos anos 1950 ao início dos 60.
Esse deslocamento para cima da curva da oferta no Brasil – alguns estimaram um crescimento anual da ordem de 7% no período 1956-64, que por acaso se confunde com a variação do PIB na mesma fase – foi temporariamente interrompido pela “Redentora” de 1964, que foi tudo menos liberadora para a subespécie em questão. A forte contração da demanda correspondeu a uma queda ainda mais brutal da oferta, reprimida a ponto de se temer pelo seu desaparecimento.
Como naquele tempo não tinha sido ainda negociada a convenção CITES (isto é, a das espécies ameaçadas de extinção) temeu-se pelo desaparecimento do produto do mercado. Alguns representantes da subespécie, já sem marca registrada, chegaram a ser descartados de maneira vil pelo controle de qualidade dos serviços de inspeção, o que só foi evitado graças a uma estratégia sutil de marketing, consistindo numa gestão discreta da rede de fornecedores e clientes e num serviço quase personalizado de entrega.
Tempos negros para a subespécie, esses das restrições impostas pela corporação viril, levando a uma redução forçada nos níveis de demanda e de oferta, sobretudo esta última, atingida por um recolhimento compulsório que jamais foi igualado por qualquer banco central, em qualquer outra época. O enxugamento de liquidez foi geral, só não chegando a uma balança negativa porque alguns, por interesse próprio ou por espírito humanitário, se dedicaram a manter um cash flow mínimo. Dizem até que um secretário-geral especialmente zeloso chegou a responder a um general mais afoito: “eles podem ser boiolas, mas são os meus boiolas”. E não permitiu que tocasse mais na fauna da Casa. Com isso, se logrou preservar a espécie e se manteve razoavelmente intacto o capital genético, permitindo a reconstituição do plantel uma vez asseguradas as condições de mercado e o adequado equilíbrio entre capital fixo e ativos convertíveis.
Observou-se, em seguida, uma evolução moderada desse exército especial de reserva, ciclo no qual a forte demanda reprimida foi contida por um controle igualmente severo do lado da oferta, limitada na entrada por um chefe da Divisão do Pessoal que ficou conhecido como “Deer Hunter”. O fato é que ele abatia todos os candidatos da categoria que ousavam passar impunes pelos exames da primeira fase, obrigando alguns a adotar uma estratégia de diversificação do produto, envolvendo inclusive matrimônio exogâmico (o que contraria os hábitos endogâmicos do grupo). Passada porém essa fase, com o deslocamento, para fora da abcissa, do atirador contumaz, a linha da coordenada voltou a experimentar um deslocamento para a direita e para cima.
Mas o produto bruto diplomático relativo à subespécie só voltou a conhecer níveis exponenciais de crescimento com o fim do autoritarismo político, período que também corresponde a uma forte injeção fiscal na Secretaria de Estado, com novos expoentes que não mais tiveram de se restringir aos circuitos especializados – e necessariamente discretos – nesse tipo de mão-de-obra. Beneficiando-se então de vantagens comparativas ricardianas – que tendiam a promover, nos trópicos, um produto mais sensual –, os fluxos de capital diplomático customized se expandem a uma velocidade nunca vista, chegando a ameaçar as redes já estabelecidas de serviços tradicionais e ortodoxos. Depois de uma certa confusão inicial no plano regulatório, ocorreu uma acomodação natural segundo as especializações comportamentais, o que confirmou linhas e setores específicos na divisão funcional de trabalho entre os membros das várias castas existentes.
Alguns intercâmbios continuaram a ocorrer, tanto mais importantes quanto o nível observado de demanda reprimida no ciclo anterior de negócios, mas registrou-se em geral uma segmentação de mercados, que progressivamente beneficiou as minorias mais ativas e engajadas na transformação produtiva dessa empresa verdadeiramente multinacional. Com a prática de subsídios cruzados, por parte daqueles situados estrategicamente na administração em favor de outros posicionados na ponta dos determinados serviços de consumo especializado – cerimonial ou mesmo intendência geral –, ocorreu valorização de alguns ativos e desvalorização de outros, mas sempre com uma ascensão gradativa da nova classe a funções cada vez mais bem localizados na escala de comando.
Fatores de produção anteriormente dotados de externalidades negativas – como as colunas sociais e as recepções seletivas – passaram a ser mobilizados pelas novas teorias sobre o comércio estratégico de iniciados, que logicamente se beneficiaram enquanto puderam de importantes transferências fiscais, até a prática ser regulada e fortemente restringida pela Rodada Uruguai do GATT. Mas, os serviços continuaram ser oferecidos segundo listas positivas, o que permitia isolar os simples curiosos ou os pouco dotados de talentos para essas lides alternativas de intercâmbio diplomático.
O fato é que, sem a intervenção moralista dos governos, as relações de mercado entre as novas espécies se expandiram de modo exponencial, a ponto de elas dominarem alguns serviços colocados em regime de concorrência imperfeita (e alguns diriam até mesmo desleal). Nem todos as esferas de administração foram objetos de oligopolização pela subespécie em questão, mas operando num serviço que já ostenta uma situação de monopólio “natural”, a combinação da preferência pelo similar e circuitos fechados de distribuição – onde vale não necessariamente a eficiência alocativa, mas o compadrio e o nepotismo – redundou numa curva de regressão altamente desfavorável para as demais categorias. O tratamento preferencial e mais favorável para os diplomatas do grupo em causa se fez em detrimento do antigo grupo majoritário, que não dispunha do mesmo poder de fogo concentrado e de estratégias de mercado adaptadas a seu status de maioria silenciosa.
Não se dispõe, ainda, de modelos econométricos que permitam medir com precisão, e avaliar a partir de dados empíricos verificáveis, a base instalada e a extensão da população aqui referenciada no conjunto do serviço diplomático, que agora também passou a fornecer mão-de-obra especializada, e relativamente competitiva, para outros serviços da burocracia federal. Não se sabe se um survey discretamente conduzido seria capaz de medir a extensão do fenômeno, já que persistem setores reprimidos nas duas pontas e que os novos tipos de uniões legais não estão ainda plenamente consagrados, ou sequer legalizados.
Alguns tiques comportamentais e verbais são, entretanto, facilmente detectáveis, o que permitira construir um modelo formal de análise, pronto a ser testado num survey dotado de variáveis conhecidas e identificadas ao longo do tempo. Pesquisas de campo conduzidas com técnicas ainda rudimentares de medição permitiram, em todo caso, quantificar o exército especial já referido – que não é mais “de reserva”, nota bene – em pelo menos 50% da população economicamente ativa do serviço exterior, tomado em seu conjunto (isto é, os da ativa e os desativados). Talvez uma enquête provista de todos os requisitos científicos da sociografia contemporânea resultasse numa elevação desse percentual a pelo menos um quarto mais da amostra total. Como se vê, ainda não se chegou ao total estimado, com forte dose de arbitrariedade, por aquele colega de trabalho visivelmente mal intencionado. Em todo caso, o assunto permanece em aberto até que estudos mais abalizados venham revelar todo o potencial de mercado suscetível de ser encontrado em novas fórmulas de um velho produto.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1230: 21/03/2004

1230. “A evolução das espécies diplomáticas: exercício de quantificação (da série Macro e microeconomia da diplomacia)”, Brasília, 21 março 2004, 6 pp. Continuidade do exercício anterior (trabalhos nºs 1061 e 839, sobre questões gerais e de produtividade diplomática), enfocando o problema dos gêneros do diplomata. Para o livro Cousas Diplomáticas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um ecologista furioso com o governo - Jose Truda Palazzo Jr.

Lullismo internacional, um desastre ambiental
José Truda Palazzo Jr.
O Eco, 05/05/2010

"O Brasil vem protagonizando uma das exportações mais vergonhosas e danosas de que já se tem notícia na História: a exportação da destruição ambiental orquestrada por uma malta partidária servil ao empresariado retrógrado".

"...uma boçalidade ideológica que setores medievais do Itamaraty esposam: a visão de que medidas internacionais de conservação da Natureza são meras “barreiras não-tarifárias”

Durou pouco, ainda que tenha agregado mais um capítulo exótico à xenofobia ignara que promove o PT encilhado no Estado brasileiro, a mentira de que nosso Einstein de Garanhuns fora eleito pela revista Time como a pessoa mais influente do mundo . Ao fim e ao cabo, se tratava apenas de mais uma dessas listagens múltiplas de “personagens” que jornalistas gringos deslumbrados com o que não conhecem, compilam para encher lingüiça em suas publicações. Assim mesmo, é inegável que o neo-Pai dos Pobres dedicou boa parte de seus mal ganhos mandatos à frente da Presidência do Brasil para projetar uma imagem de suposta liderança internacional, de novo farol a iluminar as nações com sua sabedoria adquirida no pau-de-arara e no chão de fábrica, esses conhecidos ambientes formadores de saber diplomático e geográfico que credenciam ao posto, que se diz por ele almejado, de Secretário-Geral da ONU após seu ocaso como ocupante do Palácio do Planalto .

Esse mesmo deslumbramento raso, superficial da Time também pautou boa parte da reação internacional a Lullão Metralha durante os anos em que, no Exterior, se teciam loas ao ‘pobre torneiro mecânico perseguido pela ditadura’ e seus ideais democráticos e libertários, enquanto aqui se sucediam sob seu tacão tacanho os atropelos à lei e ao direito constitucional ao meio ambiente sadio e equilibrado; enquanto se vendia o país inteiro às empreiteiras parasitas para a construção acelerada de termo e hidrelétricas perdulárias e caríssimas, em detrimento das energias alternativas mais baratas e de geração descentralizada; e enquanto se condenavam todas as cidades do país de médio e grande porte ao caos do trânsito pela opção porcamente eleitoreira de subsidiar a venda de automóveis (para dar força às corporações automotivas e ao sindicalismo pelego do ABC paulista, berço histórico do que há de pior no petismo anti-ambiental) ao invés de aprimorar o transporte público. Nada disso viu a imprensa internacional, ofuscada pelo exotismo lullesco.

Felizmente, esse verniz de fábula acabaria por ser rachado pelos fatos. Primeiro, pela ausência efetiva de uma diplomacia digna do Itamaraty de Rio Branco e sua escola de renome internacional. Preferiu o neo-Pai dos Pobres cercar-se de nulidades truculentas como Marco Aurélio ‘Top Top’ Garcia, cujo conhecimento para ser “aceçor internassionáu” do Planalto se reduz a pouco mais do que o preço do charuto cubano e o gargarejo de afagos em portunhol a Hugo Chavez, e como esse lamentável arremedo de ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, cujo servilismo ao atraque ideológico sobre as relações do Brasil com o resto do mundo deveria aterrissá-lo numa penitenciária, fosse este um país efetivamente sério. Juntos, o duo lullesco de Relações Exteriores vem protagonizando uma das exportações mais vergonhosas e danosas de que já se tem notícia na História: a exportação da destruição ambiental e sua ideologia legitimadora, feita em nome do governo brasileiro, mas orquestrada de fato por uma malta partidária servil ao empresariado retrógrado que domina as relações políticas nesse pobre país.

Senão vejamos. Este espaço é pequeno demais para listar os tropeços e crimes da “diplomacia” amadorista e ideologicamente prostituída da dobradinha Amorim e Top Top, mas alguns casos merecem destaque por seus desdobramentos ambientais.

O Haiti, pelo perfil, pelo custo ao Brasil e pela escabrosa desgraça de seus habitantes, é o caso mais flagrante de irresponsabilidade ambiental de nossa diplomacia. Ávidos pela projeção de estacionar uma “tropa de paz” naquele pobríssimo e devastado (social e ambientalmente) país, tentando utilizar isso para cacifar a miragem de um assento para Pindorama no Conselho de Segurança da ONU , lá estamos há anos com nosso Exército, reduzido a polícia de favelas, enquanto o que aquele país precisa de verdade é reconstrução. Não a reconstrução de facilitar a vida de empreiteiras, mas restauração ambiental que permita aos haitianos um mínimo de retomada de sua sociedade, de recomposição de sua agricultura, a qual necessita urgentemente do resgate de suas bacias hidrográficas. O Brasil que o Haiti necessita não é só o das baionetas, mas principalmente o das tecnologias e dos recursos para a recomposição ambiental, o que só não se leva àquele país porque plantar árvore, recuperar córregos, investir em agricultura familiar não engorda empreiteira nem aparece para os cartolas do Conselho de Segurança na estreita mentalidade dos ocupantes atuais do Planalto.

Segue-se na lista de intervenções desastradas a pataquada de Honduras. Um pequeno país da América Central que teria muito a ganhar de parcerias ambientais com o Brasil, e que vinha investindo em conservar sua biodiversidade , foi transformado em refém da trapalhada lullesca de oferecer, com o dinheiro de meu imposto, palanque grátis em nossa Embaixada ao golpista demagogo Manuel Zelaya, ajudando assim a paralisar a economia hondurenha e a dificultar a continuidade do fluxo de assistência, inclusive ambiental, para o país. Como o tema ambiental jamais faz parte das equações dos Maquiavéis-em-compota de nosso des-governo, lá está Honduras agora à míngua em suas necessidades de cooperação ambiental, enquanto nosso Einstein de Garanhuns, à falta do que fazer para cuidar do Brasil em ruína social e ambiental sob seu tacão tacanho, segue fazendo agressões apopléticas a Honduras , sem razão, sem noção e em detrimento da conservação da biodiversidade centro-americana. Pândega criminosa, mais uma vez motivada pela ignorância que rege a ideologia bufa a unir os caudilhos desse combalido continente.

A atuação do Brasil nos tratados internacionais de meio ambiente é outro escândalo que os ambientalistas chapa-branca, mansinhos e freqüentadores dos gabinetes palacianos, fingem não ver. O Brasil está se tornando motivo de chacota internacional por sua atuação servil aos interesses das máfias do tráfico de fauna, da pesca industrial indiscriminada e da devastação da biodiversidade, já seja por ação ou inação nos foros internacionais que correspondem. Na Convenção CITES, que trata (ou deveria tratar) da proteção de espécies ameaçadas contra o comércio internacional, o Brasil fez-se de morto na última reunião Plenária e não usou de sua decantada liderança para fazer aprovar medidas de proteção a espécies marinhas, tendo atuação absolutamente pífia, mera sombra do que foi em outras décadas quando nossa representação liderava os esforços pela proteção efetiva de espécies ameaçadas contra as máfias do tráfico.

Na ICCAT, Convenção para a Conservação do Atum Atlântico, que ser reuniu no Brasil em fins de 2009, a representação brasileira fez apenas jogo de cena sobre seu interesse em proteger as espécies capturadas ’acidentalmente’ por essa pesca predatória – tartarugas-marinhas, tubarões, albatrozes, todos ameaçadíssimos – mas não apenas não tomou qualquer medida efetiva para a adoção das medidas de mitigação necessárias, como ainda, através do Presidente brasileiro da Comissão, Fábio Hazin, que tem interesse diretos na pesca industrial, ajudou a manter aberta a matança do atum-vermelho , espécie ameaçadíssima e que se encontra em violento declínio graças à mineração da máfia da pesca industrial com a qual nosso atual des-governo colabora. Aliás, nesta reunião ficou claro que o Ministério do Meio Ambiente não manda mais nada nas políticas internacionais brasileiras que importam, estando tudo à mercê da histeria produtivista criminosa do Ministério da Pesca, cabidão lullesco de onde subsídios bilionários ajudam a estuprar o que resta do mar brasileiro e, via ICCAT e outros tratados pesqueiros onde nos mal representamos, do resto dos oceanos do mundo.

A Convenção da Diversidade Biológica é outro caso de miopia diplomático-ideológica. A representação do Brasil àquela Convenção que deveria zelar pela proteção da biodiversidade só se interessa por patentes, repartição de benefícios, e por evitar que se adotem medidas efetivas de obrigação de países criminosamente aniquiladores da biodiversidade, como o Brasil, para melhorar suas práticas. É assim que, ao invés de cumprir as metas de criação de áreas protegidas e defender a adoção de mecanismos vinculantes para a proteção da biodiversidade, nossos representantes vão lá para evitar que tais medidas aconteçam. Isso é reflexo direto de uma boçalidade ideológica que setores medievais do Itamaraty esposam: a visão de que medidas internacionais de conservação da Natureza são meras “barreiras não-tarifárias” a impedir o comércio de produtos brasileiros e, portanto, devem ser combatidas a qualquer custo. Os fósseis que defendem isso na diplomacia brasileira estão pouco se lixando para a biodiversidade, e acham que o Itamaraty é mera sucursal do empresariado exportador, de onde põem nossos impostos e nossa representação a serviço meramente de “aumentar o comércio”. Desnecessário dizer que essa mentalidade boçal encontrou eco e apoio em Top Top Garcia e seu iletrado chefe para dominar, de vez, a forma de ver a conservação da Natureza em nosso meio de Relações Exteriores.

Não vou sequer mencionar novamente as negociações de mudanças climáticas – é só ver o fiasco das posições brasileiras a respeito. Enquanto se esconde atrás do vozerio ignaro do Brasil contra as metas obrigatórias de redução das emissões de carbono, a China se prepara para em cinco anos se tornar o centro global de produção de insumos para energias renováveis não-poluentes, enquanto aqui só se fala em petróleo e carvão, bem ao gosto dos empreiteiros que bancam o PT e da Petrobras que banca Dilma para candidata a síndica desse condomínio do atraso em que ela ajudou a transformar o Brasil.

Salva-se, por enquanto, a participação do Brasil na Comissão Internacional da Baleia, graças à algo solitária clarividência do diplomata que lá nos representa, resistindo bravamente aos apelos de gente do próprio MMA por “negociar com o Japão” para reabrir a matança comercial de baleias em troca de espelhinhos e miçangas que vem sendo oferecidos para que os países voltem a endossar a matança dos grandes cetáceos. Aqui, por sorte, o MRE honra uma história de construção de uma política pró-conservação que o lullismo conseguiu por no lixo em todos os outros tratados de meio ambiente no qual o Brasil tem assento, mas neste – ainda - não.

Por fim, nosso des-governo vem promovendo, de maneira sórdida e criminosa, a exportação de seu modelo de servilismo às empreiteiras para países pobres da região, empurrando hidrelétricas destruidoras de florestas tropicais à Guiana e ao Equador, depois levando ainda por cima calotes homéricos que estouram em nosso bolso , e por aí vai, com as mesmas empreiteiras de sempre, aquelas das contribuições à próxima campanha presidencial como na anterior , ganhando suas boquinhas empurradas pela “diplomacia” paga com nosso dinheiro. É o lullismo internacional, devastador e boçal, fazendo escola junto a outros governos inconseqüentes da América latrina de sua visão escatologicamente atrasada e predatória.

Até quando? Provavelmente até o final do mal ganho mandato do Einstein de Garanhuns, mas por sorte uma parte da comunidade internacional, alarmada pela fraternidade que ele exibe aos piores ditadores fascistas e liberticidas – logo, também inimigos da conservação da Natureza, cuja defesa exige livre expressão do pensamento pelos cidadãos conscientes. Beijar Hugo Chavez, aplaudir Raúl e Fidel, e fazer-se de bedel de Ahmadinejad já resulta em que a comunidade internacional veja o verdadeiro Lulla por trás da maquiagem . Some-se a isso o escândalo da devastadora e genocida Belo Monte, e sua péssima repercussão internacional para a imagem do país , e poderemos, felizmente, comemorar que a desgraça que acometeu o Brasil nesses oito anos não se repetirá elegendo-se um tarado anti-Natureza para Secretário-Geral da ONU. Tenho fé.

José Truda Palazzo Jr. é jardineiro e indignado. Email: palazzo@terra.com.br