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domingo, 11 de maio de 2014

Empresarios pragmaticos, nao querem enfrentar o governo; so ajustes, ou mudancas mais profundas

Não há nenhuma chance de uma "fronda empresarial" como venho pregando, e isso porque os empresários não pretendem enfrentar o governo.
Ou são acomodados, ou não conhecem a sua força.
Podem também ser oportunistas, e preferir uma acomodação, com facilidades setoriais, em lugar de se unirem para construir um país decente...
Paulo Roberto de Almeida

Empresários querem agenda com foco na produtividade
Valor Econômico, De São Paulo 02/05/2014
Especial Rumos da Economia. 

Uma velha ideia nova apareceu com força nas conversas do Valor com 20 empresários de diferentes áreas sobre a agenda prioritária de 2015 - a necessidade de um programa de governo que permita ao país alcançar ganhos de produtividade. Ausente do debate político - porque parece vaga para ganhar votos nas ruas -, a produtividade surge como ideia chave para o Brasil enfrentar desafios que cresceram no pós-crise. E na visão dos empresários, ela passa pelo aumento do investimento com ênfase na infraestrutura, por um Estado mais enxuto e eficiente e por foco na educação. 
Representando um consenso entre os executivos, Cledorvino Belini, presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, pontua que a agenda dos próximos anos começa na herança dos últimos governos. "Quando colocamos em perspectiva o legado dos governos democraticamente eleitos que se sucederam no Brasil nas últimas décadas, têm lugar de destaque a estabilização da economia e o avanço da inclusão social", diz ele. "Além do compromisso de preservar conquistas, o próximo governo assume com o desafio de fechar o círculo virtuoso de modernização do país, adotando medidas que assegurem o urgente e necessário avanço da produtividade", acrescenta o presidente da Fiat. 

Como o país não pode mais crescer pela incorporação de mão de obra, precisa fazê-lo pelo aumento da eficiência das empresas e do governo, pondera Belini, lembrando que isso não será possível sem ações de modernização e ampliação da infraestrutura. 
"A infraestrutura no Brasil, seja ela pública ou privada, anda emperrada", concorda o diretor-presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, listando o custo da energia e políticas mal desenhadas, como a desoneração da folha de salários, como situações que travaram o desenvolvimento do país. Por isso, para ele, "a principal agenda para 2015 é o investimento", que passa pelos projetos públicos e pelo fomento do governo ao investimento privado. Sua agenda se completa com foco na educação (em que "não basta ter um monte de faculdades") e valorização das pessoas. "Temos que nos indignar com os crimes na porta de nossas casas e não aceitar a impunidade", diz ele. 
Um plano efetivo de investimentos em projetos de infraestrutura deve ser uma das prioridades na gestão do novo governo do Brasil, diz Harry Schmelzer Jr., presidente da fabricante de equipamentos elétricos WEG. Para o executivo, se o governo não dispõe de recursos, precisa criar as condições para atrair investidores. Ao mesmo tempo, o governo deve contemplar nesse plano instrumentos que favoreçam a indústria brasileira, de forma a atender a demanda que será gerada por um programa amplo voltado ao setor de infraestrutura. 
A agenda de dois executivos da área farmacêutica - os presidentes da Eli Lilly no Brasil, Julio Gay-Ger, e da Novartis, Adib Jacob, combina inovação e infraestrutura, entre outros temas. "Quando um país apresenta uma infraestrutura pouco desenvolvida, os produtos podem encarecer no mercado interno, prejudicando os consumidores, e no mercado externo, dificultando as exportações", observa Gay-Ger. "É preciso fomentar a geração de maior valor agregado no PIB, estimulando a inovação tecnológica nas esferas acadêmica e corporativa", sugere Jacob. Ele propõe que isso ocorra por meio de maiores investimentos e estímulos tributários para a produção científica de inovação no Brasil. 
Atuando em um setor em que os investimentos nos últimos anos foram afetados por mudanças de regras, o presidente da AES Brasil, Britaldo Soares, diz que é preciso dar agilidade e segurança aos processos de licenciamento e maior clareza e estabilidade aos marcos regulatórios setoriais, além de "fomentar a competitividade, inovação e aumento das produtividade no longo prazo". 
Na opinião de Arlindo Moura, CEO da Vanguarda Agro, uma das principais produtoras de grãos e fibras do país, a infraestrutura de transporte deve estar na agenda prioritária de 2015. "Houve avanços no planejamento, mas agora as coisas precisam sair do papel", diz. O diretor presidente da Merial no Brasil, Jorge Espanha, também acredita que o investimento em infraestrutura deve estar no topo da lista. Segundo ele, o ciclo de crescimento focado no consumo foi importante, mas evidenciou o gargalo da infraestrutura, que afeta o agronegócio. "O Brasil já é um celeiro, mas precisa conseguir escoar sua produção de grãos e proteína animal", afirma o executivo. 
"Esse país tem seus fundamentos muito sólidos. Não temos nenhuma razão para ficar temerosos", disse, em evento recente do Valor, o presidente do conselho da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, Abilio Diniz. De acordo com ele, os empresários precisam ir além das queixas. "Além de ficarmos nos queixando do governo - e temos razão para exigir mais -, temos que pensar o que podemos fazer, e nesse momento é preciso aumentar a produtividade". 
Uma mudança na condução da política econômica também é necessária na visão de Fabio Hering, diretor-presidente da Cia Hering. Embora defenda investimentos em infraestrutura, ele acredita que não há esgotamento do modelo da última década. "Acreditamos muito no potencial de consumo do mercado nacional. O necessário para um crescimento maior, agora, são alguns ajustes. O que tivemos foi um começo e não o fim de algo", pondera, concordando com a tese de mudanças que preservem conquistas dos últimos governos. E uma delas, deve ser o controle da inflação. "Sou afetado por aumento dos juros, mas não controlar a inflação é muito pior do que uma taxa elevada", afirma, deixando clara sua prioridade. 
Meyer Nigri, diretor-presidente da Tecnisa, também avalia que quem ganhar as eleições precisará fazer ajustes na economia. E para ele, o trade-off entre crescimento, emprego e inflação é dos mais complicados. "Acho que é preferível um pouco de inflação com crescimento, do que inflação mais baixa sem crescimento", diz ele, acrescentando, contudo, que nesse momento, contudo, o Brasil não tem pouca, mas muita inflação.
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Para executivos, Estado deve ser eficiente e enxuto
Valor De São Paulo 02.05.14
Especial.Rumos da Economia. 

Os empresários querem um Estado mais enxuto e mais eficiente. Eles estão menos preocupados em defender um número mágico para o superávit primário e mais interessados em medidas que permitam, via eficiência do setor público, reduzir a carga tributária. O presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, defendeu recentemente um corte drástico no número de ministérios para melhorar os níveis de eficiência do futuro governo. Na opinião dele, seis seriam suficientes, incluindo as pastas que cuidam das áreas econômica e social, da segurança, de relações internacionais e articulação política. "Gosto de trabalhar com utopias porque construí minha vida sonhando com utopias e de repente elas acontecem", afirmou, em Porto Alegre, durante o 27º Fórum da Liberdade. 
Ele não é o único que sonha com uma Esplanada menor. Fábio Barbosa, do grupo Abril, defende que a melhora fiscal passa por uma reforma administrativa, com redução no número de ministérios. "O governo precisa parar de gastar tanto com a estrutura administrativa, pois arrecada bastante e não sobra dinheiro para fazer investimentos. É é preciso mais investimentos em infraestrutura, educação e saúde", faz coro Meyer Nigri, diretor-presidente da Tecnisa. 

Para o presidente-executivo do Conselho da MRV, Rubens Menin, o maior problema do Brasil hoje é a eficiência do Estado. "Temos de medir e gerenciar a eficiência do Estado, independentemente de quem seja o vencedor das eleições. Fala-se da redução da carga tributária, mas isso só será possível se o governo gastar menos e melhor", argumenta ele, acrescentando que isso passa pela desburocratização. "No setor de construção civil, a burocracia corresponde a 12% do custo total e a obtenção de licenças para uma obra leva de 24 a 30 meses. O Brasil ficou prisioneiro da burocracia", resume. 
Para melhorar a gestão fiscal, o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg, defende um controle total dos gastos públicos, com redução dos gastos de custeio e aumento dos investimentos. Além desse controle, ele diz que é preciso planejar o futuro do país, definindo as áreas em que o Brasil quer ser forte e os investimentos necessários para isso. "E a área prioritária é a educação", afirma. 
Para Marcio Utsch, da Alpargatas, o país precisa "perseguir o superávit fiscal para poder pensar no resto". Ele avalia que a Lei de Responsabilidade Fiscal deve ser obedecida, sem subterfúgios. "Temos que limitar o gasto com pessoal para os governantes nas três esferas governamentais (municipal, estatual e federal)", defende. 
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, reconhece que "não há espaço para muitas mudanças no campo fiscal". Mesmo assim, defende que é preciso reduzir a carga tributária, o que não significa perda de arrecadação, segundo ele. "Experiências recentes mostram que o governo pode reduzir impostos e, ainda assim, arrecadar mais porque a desoneração leva ao aumento do consumo", pondera. 
Na avaliação de Cristiano Melles, presidente da Associação Brasileira de Restaurantes, entre as prioridades do novo governo devem estar um superávit fiscal primário de 3%, o restabelecimento da confiança nas informações econômicas oficiais com o fim de qualquer "criatividade contábil" e uma reforma previdenciária. 
Um problema fiscal a ser enfrentado é a desoneração da folha de pagamentos. Criticada pelo presidente da Alpargatas, ela é defendida, entre outros, por Harry Schmerzer Jr, da WEG, e Paolo Dal Pino, da Pirelli Pneus. 

terça-feira, 8 de abril de 2014

Capitalistas de todo o Brasil: uni-vos! O governo os esta' esfolando...

Capitalistas, vocês não têm mais nada a perder, a não ser os grilhões que os prendem a esse órgão fascista por excelência que se chama Receita Federal. Ela os está asfixiando, para aumentar sempre, e cada vez mais, os recursos extorquidos do povo e de vossas empresas. O povo, coitado, não pode fazer nada: é tosquiado várias vezes por dia, cada vez que faz uma compra ou paga uma conta. 
Mas vcs sim, podem fazer algo: não são vcs que financiam esses gatunos travestidos de políticos? Não são vcs que contribuem para as suas campanhas eleitorais?
Não gostaria de imitar um dos maiores criminosos totalitários que já existiu -- não, desta vez não é aquele monstro do Hitler -- mas vcs estão pagando a corda que vai amarrá-los cada vez mais forte.
Não, eles não vão matá-los: precisam da riqueza que vcs produzem para continuar extorquindo-os.  
Que tal uma fronda empresarial?
Elas ajudam a construir um país melhor. De vez em quando é preciso decapitar um rei, mesmo proletário, e mandar alguns gatunos para a cadeia. Isso melhora o ambiente de negócios...
Paulo Roberto de Almeida 

Exportação do Custo Brasil

Revista Veja, 5/04/2014
 
Um projeto sobre a cobrança de tributos põe em risco a expansão internacional das multinacionais brasileiras
 
Para um grupo de grandes empresas brasileiras, expandir suas atividades no exterior é vital. Só assim elas podem ganhar escala e não ser sobrepujadas por seus competidores. A internacionalização traz benefícios ao país, que ganha a oportunidade de aumentar as exportações e de criar empregos. Esse avanço pode esbarrar em uma lei que está prestes a ser aprovada pelo Congresso, a Medida Provisória 627, que trata, entre outros assuntos, da tributação dos lucros obtidos no exterior. A depender de como o texto seja aprovado, as empresas ficarão em uma situação de absoluta desvantagem em relação a suas concorrentes de outros países.
Desde 2001 os lucros das filiais estrangeiras são tributados em 34%, a mesma alíquota cobrada dos lucros obtidos no Brasil. Pouquíssimos países possuem um imposto de renda tão alto (a média nos desenvolvidos é 25%). Para pagar menos, as empresas estabeleceram holdings em países com os quais o Brasil mantém acordo de bitributação. A Receita, obcecada por arrecadar sempre mais, insiste em cobrar a diferença entre o pago lá fora e a alíquota de 34%. As empresas não reconhecem essa cobrança e começaram a receber multas bilionárias, e o caso foi parar na Justiça. Para apaziguar o conflito, o governo apresentou uma nova lei. Problema: foi mantida a cobrança de 34%. Nenhum país relevante faz algo parecido. Na maior parte da Europa, os lucros auferidos no exterior não são tributados pelo país-sede da companhia. Nos Estados Unidos, apenas os resultados remetidos pagam imposto.
Pela lei brasileira, os lucros são sempre tributados em 34%, mesmo sem remessa de dividendos. O quadro abaixo ilustra a diferença de condições entre uma empresa brasileira e suas concorrentes. Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) encaminhou uma carta ao presidente da Câmara, Henrique Alves, alertando para o fato de que a lei estimulará as empresas de capital nacional a transferir sua sede para o exterior. "O Brasil poderá se tornar um país de filiais de suas próprias empresas", diz o texto.
Incapaz de reduzir o custo Brasil, o governo encontrou uma maneira de exportá-lo – e atingir em cheio os planos de expansão das empresas nacionais.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Fronda empresarial: quando vira'? - Dora Kramer

Dda coluna de Dora Kramer, no Estado de S.Paulo, 12/02/2014:

Vantagem nenhuma. 
O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.
Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.
O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Relembrando alguns posts de 2013 (10): Por uma Fronda empresarial brasileira (com Paulo Fernando Pinheiro Machado)

2543. “Por uma Fronda Empresarial Brasileira”, Hartford, 8 Dezembro 2013, 2 p. Artigo em colaboração com o acadêmico e diplomata Paulo Fernando Pinheiro Machado (pinheiro.machado@icloud.com), animador do blog No Bico da Chaleira (http://nobicodachaleira.wordpress.com). Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (18/12/2013; link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-uma-fronda--empresarial-brasileira-,1109902,0.htm). Divulgado no blog Diplomatizzando (i18/12/2013; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/12/por-uma-fronda-empresarial-paulo-f-p.html).

Por uma fronda empresarial brasileira

Paulo Fernando Pinheiro Machado
Paulo Roberto de Almeida

As grandes transformações, para melhor, na vida política e econômica dos países que lograram alcançar altos patamares de prosperidade material e de bem estar social sempre resultaram de revoltas das elites contra uma situação de opressão por parte de soberanos despóticos; eles exageraram na extração da riqueza criada pelas classes produtoras: agricultores, industriais e simples trabalhadores. Assim foi a revolta dos barões ingleses, da qual resultou a Magna Carta, limitando a criação de tributos sobre os súditos, o que foi confirmado pela Revolução Gloriosa de 1688; assim foi, também, com a revolução dos colonos da Nova Inglaterra contra os novos impostos criados pelo rei inglês. Episódios semelhantes ocorreram em diversas fase da vida política da França, quando as elites, ou o “Terceiro Estado”, resolveram enfrentar o rei numa “fronda aristocrática”, quando este pretendia arrancar parte da riqueza e do patrimônio de nobres e altos funcionários para financiar suas guerras; em situações mais agudas, o próprio povo tomou a frente dos levantes.
Todas essas revoltas convergiram para o estabelecimento de sistemas políticos responsáveis, criando aquilo que em inglês se chama accountability, a responsabilização dos dirigentes no tocante os recursos provenientes da comunidade. O poder do Estado é limitado pela representação popular, havendo prestação de contas das receitas obtidas a partir das riquezas criadas pelas classes produtoras. Este foi o caminho seguido – por meio de reformas pacíficas ou, eventualmente, em processos revolucionários, com algumas cabeças rolando junto – por todos aqueles países que, finalmente, se tornaram prósperos, com sistemas políticos estáveis e responsáveis ante a cidadania.
O que podemos dizer da situação das classes produtoras no Brasil atual? A vida de um empresário no Brasil hoje é uma verdadeira câmara de horrores. Primeiro ele tem de arcar com o que possivelmente seja a carga tributária mais alta do mundo. Somados todos os tributos que recaem sobre a pessoa jurídica, a carga é, em média, de 68% sobre o rendimento, contra, por exemplo, 52% na Suécia, modelo de Estado de bem-estar. Esses números não refletem toda a realidade. No Brasil, ao contrário da Suécia, o empresário – como a população, de modo geral – tem ainda de comprar, no mercado, todos os serviços que o Estado, por incompetência, não consegue lhe prover, como segurança, saúde, educação e transporte. Se essa cobrança duplicada for levada em conta, a carga tributária no Brasil atinge níveis criminais.
Além disso, o empresário opera em um ambiente regulatório francamente hostil. Apenas com a burocracia fiscal, o empresário brasileiro gasta 2.600 horas por ano, contra 175 horas nos países da OCDE e 380 na média da América Latina. Isso equivale a aproximadamente três meses e meio, 24 horas por dia. Ou seja, é impossível para o empresário lidar sozinho com isso, obrigando-o a ter contadores e advogados em tempo integral, apenas para lidar com o Fisco. Tente-se vislumbrar, então, o custo para cada um deles ao lidar com a burocracia estatal como um todo: na prática, incomensurável.
Não fosse apenas isso, o empresário brasileiro encontra-se alijado das cadeias internacionais de comercialização, com acesso restrito à tecnologia e capital humano, que são as chaves para a inovação. A decadência do ensino no Brasil está levando a um sucateamento do setor privado, que somente poderá ser revertido com investimento em educação e abertura ao exterior. Exatamente o oposto do caminho seguido pelo atual governo. País fechado é país condenado ao atraso absoluto e relativo nos circuitos cada vez mais integrados da produção global.
Todos os empresários, mesmo aqueles que circunstancialmente se beneficiam de favores, subsídios ou proteção dados pelo Estado, sabem que o Brasil está gradualmente condenado à perda de competitividade internacional; ele já foi levado a uma situação de isolamento das cadeias produtivas mundiais e está sendo arrastado para longe do grupo de economias mais dinâmicas da economia mundial, com políticas macroeconômicas e setoriais que o levam de volta ao passado, em lugar de apontar para o futuro. Como nos exemplos históricos precedentes, perspectivas de melhoria só se concretizarão quando as classes produtoras se unirem no objetivo comum de conter a voracidade do Estado e de lutar por um regime político e um sistema de organização econômica que beneficie realmente as classes produtoras, as únicas que criam as riquezas que vêm sendo dilapidadas pelo ogro famélico em que se converteu o Estado brasileiro.
Está na hora de o Brasil também ter a sua revolta dos “barões”, uma fronda empresarial que corrija os aspectos mais deletérios do atual modelo de desenvolvimento e crie um ambiente saudável para o crescimento econômico e a prosperidade de todos os cidadãos. Ninguém mais aceita ser um súdito espoliado por um Estado perdulário. Como sabem os próprios empresários, são eles mesmos que financiam o Estado e o atual sistema político, seja pela via direta dos impostos, seja pela via indireta, nem sempre transparente, das contribuições partidárias.
Que tal começar restringindo essa via àqueles comprometidos com a melhoria do ambiente de negócios? Que tal denegar aos estatizantes os recursos que eles buscam pela pressão pouco discreta ou até pela ameaça? Parafraseando uma velha frase, os empresários não têm nada a perder, a não ser seus grilhões.

Paulo Fernando Pinheiro Machado, sociólogo e diplomata, é autor do blog “No Bico da Chaleira” (nobicodachaleira.wordpress.com); Paulo Roberto de Almeida, professor e diplomata, é autor de vários livros de diplomacia econômica e de relações econômicas internacionais (www.pralmeida.org).

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Por uma fronda empresarial - Paulo F. P. Machado; P.R. Almeida (OESP)

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O artigo mais recente, em colaboração:
2543. “Por uma Fronda Empresarial Brasileira”, Hartford, 8 Dezembro 2013, 2 p. Artigo em colaboração com o acadêmico Paulo Fernando Pinheiro Machado, animador do blog No Bico da Chaleira (http://nobicodachaleira.wordpress.com). Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (18/12/2013; link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-uma-fronda--empresarial-brasileira-,1109902,0.htm). Relação de Publicados n. 1117.

Por uma fronda empresarial brasileira

O Estado de S.Paulo, 18 de dezembro de 2013 | 2h 08

PAULO FERNANDO PINHEIRO MACHADO e PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
As grandes transformações, para melhor, na vida política e econômica dos países que lograram alcançar altos patamares de prosperidade material e de bem-estar social sempre resultaram de revoltas das elites contra uma situação de opressão por parte de soberanos despóticos, que exageraram na extração da riqueza criada pelas classes produtoras: agricultores, industriais e simples trabalhadores. Assim foi a revolta dos barões ingleses da qual resultou a Magna Carta, limitando a criação de tributos sobre os súditos, o que foi confirmado pela Revolução Gloriosa de 1688; assim foi, também, com a revolução dos colonos da Nova Inglaterra contra os novos impostos criados pelo rei inglês. Episódios semelhantes ocorreram em diversas fases da vida política da França, como quando as elites, ou o "Terceiro Estado", resolveram enfrentar o rei numa "fronda aristocrática", por pretender ele arrancar parte da riqueza e do patrimônio de nobres e altos funcionários para financiar suas guerras; em situações mais agudas, o próprio povo tomou a frente dos levantes.
Todas essas revoltas convergiram para o estabelecimento de sistemas políticos responsáveis, criando aquilo que em inglês se chama accountability, a responsabilização dos dirigentes no tocante aos recursos provenientes da comunidade. O poder do Estado é limitado pela representação popular, havendo prestação de contas das receitas obtidas a partir das riquezas criadas pelas classes produtoras. Esse foi o caminho seguido - por meio de reformas pacíficas ou, eventualmente, em processos revolucionários, com algumas cabeças rolando junto - por todos aqueles países que, finalmente, se tornaram prósperos, com sistemas políticos estáveis e responsáveis perante a cidadania.
O que podemos dizer da situação das classes produtoras no Brasil atual? A vida de um empresário no País, hoje em dia, é uma verdadeira câmara de horrores. Primeiro, ele tem de arcar com o que possivelmente seja a carga tributária mais alta do mundo. Somados todos os tributos que recaem sobre a pessoa jurídica, a carga é, em média, de 68% sobre o rendimento, ante, por exemplo, 52% na Suécia, modelo de Estado de bem-estar. Esses números não refletem toda a realidade. No Brasil, ao contrário da Suécia, o empresário - como a população, de modo geral - tem ainda de comprar no mercado todos os serviços que o Estado, por incompetência, não consegue prover-lhe, como segurança, saúde, educação e transporte. Se essa cobrança duplicada for levada em conta, a carga tributária no Brasil atinge níveis criminais.
Além disso, o empresário opera num ambiente regulatório francamente hostil. Apenas com a burocracia fiscal o empresário brasileiro gasta 2.600 horas por ano, ante 175 horas nos países da OCDE e 380 na média da América Latina. Isso equivale a aproximadamente três meses e meio, 24 horas por dia. Ou seja, é impossível para o empresário lidar sozinho com isso, obrigando-o a ter contadores e advogados em tempo integral somente para lidar com o Fisco. Tente-se vislumbrar, então, o custo para cada um deles ao lidar com a burocracia estatal como um todo: na prática, incomensurável.
Como se tudo isso não bastasse, o empresário brasileiro encontra-se alijado das cadeias internacionais de comercialização, com acesso restrito à tecnologia e ao capital humano, que são as chaves para a inovação. A decadência do ensino no Brasil está levando a um sucateamento do setor privado, que só poderá ser revertido com investimento em educação e abertura ao exterior. Exatamente o oposto do caminho seguido pelo atual governo. País fechado é país condenado ao atraso absoluto e relativo nos circuitos cada vez mais integrados da produção global.
Todos os empresários, mesmo os que circunstancialmente se beneficiam de favores, subsídios ou proteção dados pelo Estado, sabem que o Brasil está gradualmente condenado à perda de competitividade internacional. O País já foi levado a uma situação de isolamento das cadeias produtivas mundiais e está sendo arrastado para longe do grupo de economias mais dinâmicas do mundo, com políticas macroeconômicas e setoriais que o levam de volta ao passado, em lugar de apontar para o futuro. Como nos exemplos históricos precedentes, perspectivas de melhoria só se concretizarão quando as classes produtoras se unirem no objetivo comum de conter a voracidade do Estado e de lutar por um regime político e um sistema de organização econômica que beneficiem realmente as classes produtoras, as únicas que criam as riquezas que vêm sendo dilapidadas pelo ogro famélico em que se converteu o Estado brasileiro.
Está na hora de o Brasil também ter a sua revolta dos "barões", uma fronda empresarial que corrija os aspectos mais deletérios do atual modelo de desenvolvimento e crie um ambiente saudável para o crescimento econômico e a prosperidade de todos os cidadãos. Ninguém mais aceita ser um súdito espoliado por um Estado perdulário. Como sabem os próprios empresários, são eles mesmos que financiam o Estado e o atual sistema político, seja pela via direta dos impostos, seja pela via indireta, nem sempre transparente, das contribuições partidárias.
Que tal começar restringindo essa via àqueles comprometidos com a melhoria do ambiente de negócios? Que tal denegar aos estatizantes os recursos que eles buscam pela pressão pouco discreta ou até pela ameaça? Parafraseando um velho enunciado, os empresários não têm nada a perder, a não ser seus grilhões.
RESPECTIVAMENTE, SOCIÓLOGO, DIPLOMATA, AUTOR DO BLOG 'NO BICO DA CHALEIRA' (NOBICODACHALEIRA.WORDPRESS.COM); E PROFESSOR, DIPLOMATA, AUTOR DE VÁRIOS LIVROS DE DIPLOMACIA ECONÔMICA E DE RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS (WWW.PRALMEIDA.ORG)

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Comentário de um leitor do jornal: 

CONTRA UM ESTADO INCOMPETENTE
Cumprimento o jornal pela publicação do artigo dos senhores Paulo Pinheiro Machado e Paulo de Almeida, "Por uma fronda empresarial brasileira" (18/12, A2). O País precisa acordar de seu torpor cívico e é ao escol da Nação que caberia a nobilíssima tarefa de insurgir-se contra a situação insustentável da incompetência governamental e de seus desvios éticos, torpes e populistas. Ao escol, certamente pertencem os políticos, os acadêmicos e outros estamentos sociais como os profissionais de inúmeros outros segmentos. Se os nobres articulistas não se referiram a esses grupos, mas apenas aos membros das "classes produtoras", para lutarem pela mudança de rumos, é porque, consciente ou inconscientemente, consideram perdidos para a causa tais ponderáveis segmentos da sociedade. Se isso for verdade, o País não tem mais conserto. Espero estar errado em minha observação que em nada diminui minha concordância com o teor e oportunidade do artigo.
Mário Rubens Costa xxxxxxx@terra.com.br
São Paulo
Fórum dos Leitores, O Estado de S.Paulo