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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Renato Baumann: Percurso Incompleto: a política econômica externa do Brasil (disponível no IPEA)

 O IPEA acaba de publicar o livro mais novo de Renato Baumann:


Percurso Incompleto: a política econômica externa do Brasil (Brasília: Idea, 2023, 311 p.; ISBN: 978-65-5635-059-2) DOI:
http://dx.doi.org/10.38116/9786556350592 Acesse: https://repositorio.ipea.gov.br/


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO, 7

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES, 9 

CAPÍTULO 1

A GLOBALIZAÇÃO À DISTÂNCIA, 29 

CAPÍTULO 2

PERDENDO FÔLEGO NO GRUPO DOS EMERGENTES, 67 

CAPÍTULO 3

VIESES DA POLÍTICA COMERCIAL. 93 

CAPÍTULO 4

OS ACORDOS COMERCIAIS DO BRASIL, 21 

CAPÍTULO 5

A ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS EXTERNOS, 147 

CAPÍTULO 6

O TEMA DOS ACORDOS DE INVESTIMENTO , 173 

CAPÍTULO 7

CADEIA GLOBAL DE VALOR É CONSEQUÊNCIA, NÃO OBJETIVO , 199 

CAPÍTULO 8

O DESAFIO DO ALINHAMENTO EXTERNO ,  223

CAPÍTULO 9
O TEMA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL,  257 

Coautoria com Rafael Schleicher

CAPÍTULO 10
O PERCURSO INCOMPLETO , 279

REFERÊNCIAS, 299

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Oppenheimer, o Prometeu Americano, filme e livro - Paulo Roberto de Almeida, Robert J. Oppenheimer,

 Triunfo e tragédia de Robert J. Oppenheimer

O filme Oppenheimer é - descontando passagens prosaicas que poderiam ter sido evitadas — um monumento extraordinário no plano cinematográfico, no de efeitos cênicos — idas e voltas antes e depois do projeto Manhattan — e no terrenos das interpretações pelos atores, mas é, sobretudo, uma grandiosa saga e admirável reconstrução histórica sobre, como está dito no próprio filme, o maior projeto científico-militar já visto numa corrida contra o tempo para evitar que o mais nefando regime criminoso de todos os tempos, o totalitarismo nazifascista ganhasse a corrida estratégica para destruir as democracias ocidentais e um outro totalitarismo pela mais terrivel arma jamais inventada pelo homem.

Ironicamente, ela tinha sido concebida para eliminar a ameaça nazista nessa corrida, que acabou sendo superada por meios “convenvionais” — sem descurar os terriveis bombardeios aéreos sobre alvos civis na Alemanha e no Japão—, e que depois foi usada contra um inimigo que também já estava teoricamente vencido, mas cuja rendição final e incondicional exigiria, provavelmente, um número absurdamente alto de vitimas civis e militares (aqui dos dois lados), numa proporção 4 ou 5 vezes superior ao número de mortos no bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945.

Um dos aspectos mais interessantes do filme é traduzido por um processo paranoico anticomunista motivado por um personagem que permanece nas sombras durante o projeto Manhattan, a União Soviética, aliada durante todo o projeto, mas a grande inimiga imediatamente após. 

Recomendo enfaticamente o filme para todos os que se interessam pela história, não temerosos de passar 3 horas sentados na frente de uma grande tela (sim, ver na TV ou no computador não é a mesma coisa).

Mas recomendo primariamente que os interessados se informem previamente sobre essa história toda, seja nos livros — o filme é baseado na história do “American Prometheus” —, sejam o Google e na Wikipedia. Vai ajudar a compreender certas passagens, pois o filme vai e volta em diferentes episódios dos anos 1930 aos 50. 

Prevejo uma batelada de Oscars em 2024.

Paulo Roberto de Almeida

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Transcrito da História Esquecida

Einstein e Oppenheimer, década de 1930.

 “Embora eu conhecesse Einstein por duas ou três décadas, foi apenas na última década de sua vida que fomos colegas próximos e algo como amigos.  Mas pensei que poderia ser útil, porque tenho certeza de que não é cedo demais – e talvez quase tarde demais para nossa geração – começar a dissipar as nuvens do mito e ver o grande pico da montanha que essas nuvens escondem.  Como sempre, o mito tem seus encantos;  mas a verdade é muito mais bonita.

 No final de sua vida, em conexão com seu desespero por armas e guerras, Einstein disse que se tivesse que viver tudo de novo, seria um encanador.  Este era um equilíbrio de seriedade e brincadeira que ninguém deveria tentar perturbar.  Acredite, ele não fazia ideia do que era ser encanador;  muito menos nos Estados Unidos, onde contamos a piada de que o comportamento típico desse especialista é que ele nunca traz suas ferramentas para o cenário da crise.  Einstein trouxe suas ferramentas para suas crises;  Einstein foi um físico, um filósofo natural, o maior de nosso tempo.

 Einstein é frequentemente culpado, elogiado ou creditado por essas bombas miseráveis.  Na minha opinião não é verdade.  A teoria especial da relatividade pode não ter sido bonita sem Einstein;  mas teria sido uma ferramenta para os físicos e, em 1932, a evidência experimental da interconversibilidade da matéria e da energia que ele havia previsto era esmagadora.  A viabilidade de fazer algo com isso de forma tão massiva não ficou clara até sete anos depois, e então quase por acidente.  Não era isso que Einstein realmente buscava.  Sua paarte foi criar uma revolução intelectual e descobrir, mais do que qualquer cientista de nosso tempo, quão profundos eram os erros cometidos pelos homens antes disso.  Ele escreveu uma carta a Roosevelt sobre energia atômica.  Acho que isso foi em parte sua agonia com o mal dos nazistas, em parte não querendo prejudicar ninguém de forma alguma;  mas devo relatar que aquela carta teve muito pouco efeito e que o próprio Einstein não é realmente responsável por tudo o que veio depois.  Acredito que ele mesmo entendeu isso."

Robert Oppenheimer, 1965


American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer

https://a.co/d/e2Wn6RO 



segunda-feira, 24 de julho de 2023

Arquivos do Itamaraty sobre a repressão a opositores da ditadura militar: Fundo CIEX, no Arquivo Nacional

Como constataram todos os que percorrem as postagens deste modesto blog, eu publiquei novamente, a série de reportagens elaboradas pelo jornalista Claudio Dantas Sequeira, de 2007, sobre os arquivos do CIEX do Itamaraty. Reproduzo abaixo o início da matéria.

Depois disso, em 2012, o governo Dilma Rousseff providenciou a abertura dos arquivos do SNI, depositados agora no Arquivo Nacional de Brasília (eu até descobri a minha ficha, feita em 1978, me classificando como "diplomata subversivo"), e eles estão agora liberados.

Transcrevo, a esse propósito, nota do livro da professora Adrianna Setemy

Sentinelas das Fronteiras: a diplomacia brasileira e a conexão repressiva internacional para o combate ao comunismo

(Curitiba: Editora Prismas, 2018, 392 p.; ISBN: 978-85-5507-968-9)

Nota 4 (p. 17-18), sobre o Arquivo do Centro de Informações do Exterior (CIEX), oriundo do Ministério das Relações Exteriores e sob a guarda do Arquivo Nacional, com sede em Brasilia: 

4. Em sintonia com o decreto n. 7.724, de 16 de maio de 2012, da presidente Dilma Rouseff, que regulamenta, no âmbito do Poder Executivo Federal, os procedimentos para a garantia de acesso à informação e para a classificação de informações sob restrição de acesso, o Diretor-Geral do Arquivo Nacional lançou o Edital AN n. 1, de 17 de maio de 2012. Nele, reconhece que os conjuntos relacionados, direta ou indiretamente, ao Sistema Nacional de Informações e Contrainformação - SISNI, sob custódia do Arquivo Nacional, são necessários à recuperação de fatos históricos de relevância, lista e descreve resumidamente esses conjuntos documentais, incluindo assunto, origem, dimensões e datas-limite e solicita, ao titular das informações pessoais contidas nos conjuntos documentais referidos, a apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias corridos da data de publicação do Edital, requerimento de manutenção de restrição de acesso aos documentos sobre sua pessoa. Uma vez que não foram apresentados requerimentos solicitando a manutenção de restrição de acesso, o Arquivo Nacional abriu à consulta, no dia 18 de junho de 2012, todos os conjuntos documentais relacionados aos óergãos de Informações e Contrainformação integrantes do mencionado edital, dentre os quais, o Fundo CIEX.

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Esta foi a base das matérias do jornalista Claudio Dantas, que transcrevi nessa postagem do Diplomatizzando de 2007, redirecionada recentemente para minha página na plataforma Academia.edu, como informo abaixo, e como já informei numa nova postagem deste meu blog: 

Os Serviços Secretos do Itamaraty - Claudio Dantas Sequeira, 2007 Correio Braziliense 

ou

https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/07/os-servicos-secretos-do-itamaraty.html

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quarta-feira, 25 de julho de 2007

757) O Itamaraty colaborando com a ditadura...

Tristes tempos aqueles, nos quais diplomatas era levados a colaborar com um regime de exceção...

https://diplomatizzando.blogspot.com/2007/07/757-o-itamaraty-colaborando-com.html 

Correio Braziliense
Assunto: Política
Título: 1a O serviço secreto do Itamaraty
Data: 22/07/2007
Crédito: Claudio Dantas Sequeira 
Segredo de Estado

Diplomatas brasileiros perseguiram opositores da ditadura por meio de um poderoso sistema de inteligência, criado e operado pela cúpula do Ministério das Relações Exteriores. O Correio desvenda, a partir de hoje, um mistério de quatro décadas 

Claudio Dantas Sequeira 
Da equipe do Correio 

Um rígido código de honra, uma portaria ultra-secreta e seguidas ações de desinformação garantiram que até hoje permanecesse desconhecido da sociedade um dos segredos mais bem guardados da ditadura: de 1966 até 1985, o Itamaraty operou um poderoso serviço de inteligência, tendo como modelos o MI6 britânico e sua versão norte-americana, a CIA. Naquele período, os punhos de renda da diplomacia do Barão de Rio Branco ganharam abotoaduras de chumbo. Diplomatas de vários escalões foram recrutados para compor o chamado Centro de Informações do Exterior (Ciex) — que agora, se sabe, foi a primeira agência criada sob o guarda-chuva do Sistema Nacional de Informação (SNI), o aparato de repressão política usado para sustentar o regime militar. 

O Correio obteve acesso exclusivo ao arquivo secreto do Ciex, um acervo com mais de 20 mil páginas de informes produzidos ao longo de 19 anos. Depois de quatro meses analisando cada documento, seu grau de confiabilidade e nível de distribuição, pode-se concluir que nunca houve refúgio seguro aos brasileiros contrários ao golpe de 64. Banidos ou exilados, eles foram monitorados a cada passo, conversa, transação ou viagem no exterior. A malha de agentes e informantes operada pelo Itamaraty se estendeu para além da América Latina, alcançando o Velho Continente, a antiga União Soviética e o norte da África. 
(...)

Ler a íntegra neste link deste blog: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2007/07/757-o-itamaraty-colaborando-com.html 

ou neste pdf que coloquei na plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/104861759/Os_Serviços_Secretos_do_Itamaraty_Claudio_Dantas_Sequeira_Correio_Brasiliense_2007_


segunda-feira, 17 de julho de 2023

Um livro em preparação: Gilberto Freyre sobre o longo século XIX, de André Heráclio do Rego - Prefácio de Paulo Roberto de Almeida

Acabo de colocar um ponto final no meu prefácio a este livro de meu colega e amigo, historiador pernambucano André Heráclio do Rego, do qual transcrevo apenas os primeiros parágrafos. O restante virá quando o livro for publicado...

Paulo Roberto de Almeida

ENTRE O IMPÉRIO E A REPÚBLICA

O SÉCULO XIX NA OBRA DE GILBERTO FREYRE

André Heráclio do Rêgo

            (Edição de Autor)


ÍNDICE

 Prefácio: Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração, 5

       Paulo Roberto de Almeida                                                                                

Introdução, 11

Capítulo 1 – O Movimento da Independência, 33

Capítulo 2 – O processo revolucionário,  51

Capítulo 3 – As singularidades da Monarquia,  83

Capítulo 4 - Monarquia e República: continuidade e ruptura,  97

Capítulo 5 – O Império e a unidade nacional,  117

Capítulo 6 – O Oriente no Novo Mundo. Os três primeiros séculos da formação brasileira, 129

Capítulo 7 – Oriente X Ocidente: a Monarquia e a reeuropeização do Brasil no século XIX, 139

Considerações e sugestões,  149

Obras de Gilberto Freyre utilizadas,  163

Referências bibliográficas, 167 


Prefácio

Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração

 

O presente livro de André Heráclio do Rêgo constitui um notável esforço de síntese interpretativa sobre um dos autores mais fecundos do pensamento social brasileiro. Junto com Manoel de Oliveira Lima e Manoel Bomfim, Gilberto Freyre foi um dos primeiros historiadores sociais do Brasil. Na verdade, ele foi bem mais do que isso: antropólogo de formação, tendo estudado com Franz Boas, na Universidade de Columbia (NY), ele veio a empreender um levantamento da cultura material e humana do Brasil colonial e imperial, compreendendo não apenas a sua análise da Casa Grande e [da] Senzala, o título de sua primeira grande obra (1933), como também tratou amplamente da miscigenação geral do povo brasileiro a partir de suas fontes étnicas, dos aportes estrangeiros à cultura material e espiritual, assim como da lenta emergência, a partir da sociedade patriarcal, de formações urbanas ao longo da costa atlântica e no interior próximo, tal como refletida em Sobrados e Mucambos (1936) e no seu outro clássico, Ordem e Progresso (1959). O extenso subtítulo dessa terceira grande obra, em 2 volumes, revela, aliás, a extensão de seu trabalho analítico: “Processo de desintegração da sociedade patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre: aspectos de um quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre; e da Monarquia para a República”. 

Gilberto Freyre antecipou, de certa forma, a famosa escola francesa dos Annales, com sua forte ênfase no cotidiano das famílias, nos costumes do povinho miúdo, na alimentação e nas técnicas do trabalho humano. Mais de um acadêmico francês em estágio universitário no Brasil dos anos 1930 e 40, na recém fundada Universidade de São Paulo por exemplo, se declarou pronto a reconhecer certa dívida interpretativa em relação ao “mestre de Apipucos”, sua residência e escritório de trabalho no Recife senhorial. Os métodos e os grandes temas da nova historiografia francesa, em pleno florescimento nos anos seguintes à Segunda Guerra, já estavam presentes na obra de Freyre desde duas décadas antes, como facilmente constatável.

(...)

Segue por 3 páginas...


terça-feira, 4 de julho de 2023

Livro: Seven Crashes: The Economic Crises That Shaped Globalization - Harold James

 Um livro interessante:

Seven Crashes: The Economic Crises That Shaped Globalization
By Harold James
(New Haven: Yale University Press, 2023)

James says
    "My book is in a sense an outgrowth of the COVID-19 pandemic and the dramatic change it wrought in everyone’s lives, and in geopolitics. I had been thinking about globalization and its discontents for over 30 years, and became intrigued by the way that there are historical reversals, as in the Great Depression, but also new phases of intense interconnection. The COVID crisis then seemed to me to hold analogies with previous moments when globalization was reimagined and reconfigured, such as the mid-nineteenth-century famines and revolutions, or the supply shocks of the 1970s. 
    The current rhetoric about deglobalization is oblivious to the way in which technology (comprising weightless products) links the world in novel and profound ways. Unlike most people who see the world fragmenting and splitting into blocs, I see a dynamic – similar to that of the mid-nineteenth century or the later twentieth century – in which a concern with competent government and improved, more efficient business structures would drive a new wave of adoption of technologies, as well as eventually more opening – if you like, more globalization, and more beneficent globalization."

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Luiz Zottmann: O desenvolvimento econômico e seus segredos: a experiência brasileira - lançamento dia 13/07, Brasília

Este não é um livro convencional sobre economia; é o resultado de anos de estudo, de prática, tanto no domínio acadêmico, quanto na formulação e operação de políticas econômicas, no plano macro e no das políticas setoriais. Cabe conhecer:

Luiz Zottmanan: 
O desenvolvimento econômico e seus segredos: a experiência brasileira 
(Curitiba: CRV, 2023),
em lançamento na Travessa do Casa Park de Brasília, dia 13 de julho, 19hs (com direito a champagne).




terça-feira, 13 de junho de 2023

A History of Brazilian Economic Thought: livro de Ricardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky e Mauricio Coutinho (orgs.) - resenha de Matheus Assaf (FSP)

            Capa do livro A History of Brazilian Economic Thought 


Livro apresenta pensamento econômico do Brasil a estrangeiros

'A History of Brazilian Economic Thought' reúne textos que analisam do período colonial ao passado recente

 

Matheus Assaf

Professor de economia na Fundação Getulio Vargas e doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo

FOLHA DE S. PAULO, 9.jun.2023 às 23h15

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/06/livro-apresenta-pensamento-economico-do-brasil-a-estrangeiros.shtml

 

Editado pelos pesquisadores Ricardo Bielschowsky, da UFRJ, Mauro Boianovsky, da UnB, e Mauricio Coutinho, da Unicamp, "A History of Brazilian Economic Thought" tem a proposta de consolidar em língua inglesa uma ampla investigação da evolução do pensamento econômico no Brasil.

O livro reúne textos de diversos pesquisadores importantes no tema, incluindo os editores, analisando do período colonial ao passado recente —como buscam uma audiência internacional, os textos são didáticos sobre as particularidades brasileiras.

Resumo brevemente alguns dos tópicos discutidos. O primeiro capítulo aborda a segunda metade do século 20, com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação em economia e o surgimento de uma comunidade acadêmica de economistas. Suas contribuições científicas estão relacionadas aos desafios econômicos brasileiros e à própria história de sua formação. A questão do subdesenvolvimento motivou as primeiras investigações científicas em economia por brasileiros —notavelmente, o trabalho de Celso Furtado. 

Já em meio à crise inflacionária da década de 1980, o trabalho se direciona a questões de estabilização monetária. A indexação foi uma particularidade do sistema brasileiro que chamou a atenção de economistas, e teorias sobre inflação inercial e como estabilizar a economia brasileira foram intensamente debatidas.

As contribuições acadêmicas dos economistas também foram moldadas pelo particular pluralismo metodológico das instituições de ensino no Brasil —o conhecido embate entre "ortodoxos" e "heterodoxos". Desta forma, há importantes contribuições de brasileiros tanto na teoria econômica tradicional quanto em abordagens e tópicos alternativos.

No primeiro caso, o autor destaca o trabalho de Aloisio Araujo, José Scheinkman e Marilda Sotomayor —todos com passagem pelo Impa, uma instituição dedicada principalmente à matemática. Entre os heterodoxos, há brasileiros com contribuições fundamentais para a teoria pós-keynesiana, como Fernando Cardim de Carvalho. Também há relevante presença na comunidade internacional de outras áreas como metodologia da economia e a própria história do pensamento econômico.

Se economistas acadêmicos no Brasil são um produto da segunda metade do século 20, problemas de ordem econômica sempre estiveram presentes no país, assim como indivíduos enfrentando essas questões.

No período colonial, o livro explora visões sobre como a colônia poderia servir economicamente ao império português (do padre Antônio Vieira no século 16, até Sousa Coutinho no fim do século 18).

No século 19, a questão do trabalho escravo foi central. Abolicionistas como André Rebouças precisaram imaginar como reformular uma economia dependente de tal instituição perversa. Neste período em que a economia dependia da exportação de produtos agrários, principalmente o café, debates monetários estiveram centrados na questão cambial, e a discussão entre papelistas e metalistas é analisada.

Visões sobre a política comercial também são exploradas, desde o período imperial. Embora alguns influentes autores tenham importado ideias de abertura comercial do liberalismo europeu (como o visconde de Cairu e Tavares Bastos), políticas protecionistas foram defendidas e implementadas por políticos como Manuel Alves Branco, Rodrigues Torres e Carneiro Leão. O livro também mostra que na República Velha, usualmente associada à defesa do café, já havia debates sobre a proteção da indústria nacional.

Já no "período desenvolvimentista" (1930-80) não havia entre os brasileiros uma corrente única de pensamento, mas uma variedade de visões sobre o desenvolvimento. Além da comunidade ligada às teses de desenvolvimento da Cepal, também havia grupos com inspirações liberais e marxistas. Esta diversidade de pensamento se concretiza na formação das instituições acadêmicas plurais nas décadas de 1960 e 1970.

"A History of Brazilian Economic Thought" cumpre o objetivo de apresentar esse panorama de forma ampla. A quantidade de informação pode sobrecarregar o leitor leigo, mas a leitura não exige grande conhecimento técnico prévio. Os capítulos formam textos independentes e seguem tópicos e períodos bem definidos, podendo assim o leitor dedicar mais atenção a assuntos de interesse específico.

A HISTORY OF BRAZILIAN ECONOMIC THOUGHT: FROM COLONIAL TIMES THROUGH THE EARLY 21ST CENTURY

Preço: US$ 42 (ebook importado)

Autoria: Ricardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky e Mauricio Coutinho (orgs.)

Editora: Routledge, 268 págs.


This book provides a comprehensive analysis of the evolution of Brazilian economic thought ranging from colonial times through to the early 21st century. It explores the production of ideas on the Brazilian economy through various forms of publication and contemporary thoughts on economic contexts and development policies, all closely reflecting the evolution of economic history.

After an editorial introduction, it opens with a discussion of the issue of the historical limits to and circumstances of the production of pure economic theory by Brazilian economists. The proceeding chapters follow the classical periodization of Brazilian economic history, starting with the colonial economy (up until the early 19th century) and the transition into an economy independent from Portugal (1808 through the 1830s) when formal independence took place in 1822. The third part deals with the "coffee era" (1840s to 1930s). The last part covers the "developmentalist" and "globalization" eras (1930–2010).

Chapter 1|5 pages

Editorial introduction

ByRicardo Bielschowsky, Mauro Boianovsky, Mauricio C. Coutinho

Part 1|32 pages

Contributions to economic theory

Chapter 2|30 pages

Contributions to economics from the "periphery" in historical perspective

The case of Brazil after mid-20th century
ByMauro Boianovsky

Part 2|47 pages

Colonial and early post-colonial periods

Chapter 3|24 pages

Sugar, slaves and gold

The political economy of the Portuguese colonial empire in the 17th and 18th centuries *
ByJosé Luís Cardoso

Chapter 4|21 pages

The transition to a post-colonial economy

ByMauricio C. Coutinho

Part 3|68 pages

The "coffee era"

Chapter 5|21 pages

Economic ideas about slavery and free labor in the 19th century 1

ByAmaury Patrick Gremaud, Renato Leite Marcondes

Chapter 6|22 pages

Debating money in Brazil, 1850s to 1930

ByAndré A. Villela

Chapter 7|23 pages

Industrial development and government protection

Issues and controversies, circa 1840–1930
ByFlávio Rabelo Versiani

Part 4|92 pages

The "developmentalist" and the "globalization" eras

Chapter 8|52 pages

Brazilian economic thought in the "developmentalist era": 1930–1980

ByRicardo Bielschowsky, Carlos Mussi

Chapter 9|38 pages

The end of developmentalism, the globalization era and the concern with income distribution (1981–2010)

ByEduardo F. Bastian, Carlos Pinkusfeld Bastos