O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador manifestações de massa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador manifestações de massa. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 9 de março de 2016

Minha lista de reivindicacoes para o dia 13 de marco de 2016 - Paulo Roberto de Almeida


Reivindicações por ocasião da Manifestação de 13 de março de 2016

Paulo Roberto de Almeida

No dia 13 de março, quando sairemos às ruas pacífica e democraticamente para manifestar nossa inconformidade com o presente estado de coisas no Brasil, não pretendemos apenas e tão somente o impeachment de um governo ilegítimo – porque ilegal – e corrupto – pois que já identificado como associado a diversos crimes tipificados no Código Penal – mas também uma série de outras mudanças no atual cenário político e econômico do país.
Permito-me, com base numa observação sumária da presente situação em nosso país, apontar as seguintes questões, que tanto podem ser reivindicações para mudança imediata no cenário político e econômico, quanto propostas de reformas substantivas que necessitam ser implementadas gradualmente, mas metódica e sistematicamente, no país:

1) Redução radical do peso do Estado na vida da nação, começando pela diminuição à metade do número de ministérios, com a redução ou eliminação concomitante de uma série de outras agências públicas, na linha do que já propus nesta “mensagem” ao Congresso Nacional: http://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4955;
2) Fim do Fundo Partidário e financiamento exclusivamente privado dos partidos políticos, como entidades de direito privado que são;
3) Redução e simplificação da carga tributária, com seu início mediante uma redução linear, mas geral, de todos os impostos atualmente cobrados nos três níveis da federação, à razão de 0,5% de suas alíquotas anualmente, até que um esquema geral, e racional, de redução ponderada seja acordado no Congresso envolvendo as agências pertinentes das unidades da federação dotadas de capacidade arrecadatória;
4) Eliminação da figura inconstitucional do contingenciamento orçamentário pelo Executivo; a lei orçamentária deve ser aplicada tal como foi aprovada pelo Parlamento, e toda e qualquer mudança novamente discutida em nível congressual; fica também eliminadas as emendas individuais ou dotações pessoais apresentadas pelos representantes políticos da nação; todo orçamento é institucional, não pessoal;
5) Extinção imediata de 50% de todos os cargos em comissão, em todos os níveis e em todas as esferas da administração pública, e designação imediata de uma comissão parlamentar, com participação dos órgãos de controle e de planejamento, para a extinção do maior volume possível dos restantes cargos, reduzindo-se ao mínimo necessário o provimento de cargos de livre nomeação; extinção do nepotismo cruzado;
6) Eliminação total de qualquer publicidade governamental que não motivada a fins imediatos de utilidade pública; extinção de órgãos públicos de comunicação com verba própria: a comunicação de temas de interesse público se fará pela própria estrutura da agência no âmbito das atividades-fim, sem qualquer possibilidade de existência de canais de comunicação oficiais;
7) Criação de uma comissão de âmbito nacional para estudar a extinção da estabilidade no setor público, com a preservação de alguns poucos setores em que tal condição funcional seja indispensável ao exercício de determinadas atribuições de interesse público relevante;
8) Início imediato de um processo de reforma profunda dos sistemas previdenciários (geral e do setor público), para a eliminação de privilégios e adequação do pagamento de benefícios a critérios autuariais de sustentabilidade intergeracional do sistema único;
9) Reforma radical dos sistemas públicos de educação, nos três níveis, segundo critérios meritocráticos e de resultados;
10) Reforma do Sistema Único de Saúde, de forma a eliminar gradualmente a ficção da gratuidade universal, com um sistema básico de atendimento coletivo e diferentes mecanismos de seguros de saúde baseados em critérios de mercado;
11) Revisão dos sistemas de segurança pública, incluindo o prisional-penitenciário, por meio de uma Comissão Nacional de especialistas do setor;
12) Eliminação de todas as isenções fiscais e tributárias, ou privilégios exorbitantes, associados a entidades religiosas;
13) Reforma da Consolidação da Legislação do Trabalho, no sentido contratualista, e extinção imediata do Imposto Sindical e da unicidade sindical, conferindo liberdade às entidades associativas, sem quaisquer privilégios estatais para centrais sindicais;
14) Revisão geral dos contratos e associações do setor público, nos três níveis da federação, com organizações não governamentais, que em princípio devem poder se sustentar com recursos próprios, não com repasses orçamentários oficiais;
15) Privatização de todas as entidades públicas não vinculadas diretamente a uma prestação de serviço público sob responsabilidade exclusiva do setor público.

Eu teria muitas outras propostas de “slogans” a fazer, mas me contento no momento com estas quinze reivindicações de reforma do Brasil.
Também acho que nenhuma delas cabe em cartazes de manifestação, mas é preciso que pelo menos tenhamos consciência do que queremos, que vai muito além da mudança de um governo inepto e corrupto.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de março de 2016

Addendum em 11/03/2016:

Mini-reflexão à véspera da grande manifestação de 13/03/2016:

Considerando todo o cenário político que se nos apresenta, e ponderando sobre os problemas da nação, cheguei às seguintes constatações:

1) O pedido de impeachment de Madame Pasadena deixou de ser o problema ou a agenda mais importante a partir de agora. Que Madame seja absolutamente inepta -- até para falar qualquer coisa, o que revela uma incapacidade de pensar -- todo mundo já sabe. Que ela seja totalmente conivente com a quadrilha mafiosa que vem assaltando o Brasil desde 1ro de janeiro de 2003 (e antes em outras instâncias da federação), isso também todo mundo já constatou. Ou seja, Madame Pasadena já é carta fora do baralho: que ela renuncie, que seja impeached, que seja renunciada, que seja cassada por qualquer outra forma institucional, que saia no quadro de uma crise ainda mais grave, tudo isso já não importa muito: trata de um cadáver político ainda insepulto mas já em processo de decomposição, tanto mais acelerada quanto a crise econômica se agravar pari passu à incapacidade da classe política e dos tribunais superiores de darem encaminhamento rápido ao seu afastamento.

2) Portanto, considerando que o prazo de validade de Madame Pasadena já se extinguiu, podemos nos concentrar na tarefa mais importante, aliás crucial: expulsar a corja de mafiosos organizados que assaltou o Brasil desde o final de 2002. Esta é a agenda principal: a quadrilha de criminosos políticos precisa, primeiro ser extirpada do poder e de todas as demais instituições nas quais eles meteram as suas mãos sujas; depois, os meliantes precisam ser processados, condenados e levados à cadeia, onde deveriam apodrecer por longos anos, sem que juizes venais façam o que estão fazendo agora com os condenados do Mensalão (deixando-os livres de qualquer pena, o que é propriamente escandaloso).

3) Segunda grande tarefa da nacionalidade, depois de liquidar os principais criminosos, referidos acima, prosseguir com a limpeza do sistema político de todos os demais bandidos e meliantes que ainda poluem o sistema legislativo, o que inclui os presidentes das duas casas, e muitos outros representantes políticos que meteram a mão em recursos públicos e se aliaram aos mafiosos neobolcheviques para roubar o Estado (ou seja, todos nós).

4) Liquidar com o controle público, ou melhor estatal-governamental, de todas as agências públicas que podem e DEVEM ser privatizadas, pois elas são fonte de corrupção permanente.

5) Empreender a reforma política com a EXTINÇÃO do Fundo Partidário e de subsídios públicos para todo e qualquer partido.

Tem muito mais coisas que eu poderia dizer, e que já resumi nesta outra postagem que fiz outro dia (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1103224506407665), mas deixo para nova oportunidade de importunar os leitores de minhas postagens.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11/03/2016
 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Movimento Brasil Livre: livre dos corruptos, dos imorais, dos amorais, dos ineptos - Dia 16 de agosto

Movimento Brasil Livre apresenta uma de suas consignas para as manifestações do dia 16 de agosto:

Rodrigo Janot
Movimento Brasil Livre
 
Dilma Rousseff foi citada 11 vezes em delações premiadas. Ainda assim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se nega a cumprir a lei e age como um advogado do PT. Agora, está sendo protegido por um acordo entre Renan Calheiros e a presidente. Enquanto Janot blinda a presidente, ela o nomeia para mais um mandato na Procuradoria-Geral da República, Renan, por sua vez, garante que a nomeação seja bem recebida no Senado. A população brasileira não perdoará aqueles que protegem a corrupção. No dia 16 de Agosto, vamos mostrar que não estamos apenas indignados com a crise econômica ou a crise política, também estamos indignados com a crise MORAL.
Curta Movimento Brasil Livre

Confirme presença e convide seus amigos.
https://www.facebook.com/events/407853516079277/?ref=98&action_history=null

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Preparando o 16 de Agosto: licoes das manifestacoes de 15 de marco - Paulo Roberto de Almeida

Imediatamente após as manifestações do dia 15 de março, que foram um estrondoso sucesso -- inesperado, além de tudo -- eu tirava as lições do dia, e fazia alguns comentários sobre possíveis pontos de consenso naquelas magníficas manifestações do domingo. Não tenho certeza de que o próximo domingo conhecerá sucesso tão notável. Em todo caso, creio que os argumentos que eu levantava permanecem válidos ainda hoje, pois pouca coisa mudou, de fato, na esfera política, a não ser a ameaça sempre pendente de denúncia contra políticos de realce e contra o próprio partido mafioso.
Mas, sempre cético quanto aos caminhos (ou descaminhos) da política no Brasil, tenho minhas desconfianças de que algo muito sórdido se prepara, para manter os criminosos do poder no poder.
Repito, portanto, minhas considerações, que me parecem inteiramente válidas.
Paulo Roberto de Almeida 


O que fazer agora? Minhas constatações

Paulo Roberto de Almeida

Resultado de imagem para manifestações no brasil
Como é normal nas democracias, não existe um consenso sobre os motivos que levaram tantas pessoas às ruas neste domingo 15 de março de 2015, dia da dignidade nacional. Cada um dos manifestantes deve ter tido motivos específicos para sair de casa neste domingo e manifestar –se contra a situação. Mas, alguns motivos que me parecem comuns à maioria deles emergem das faixas de protestos e das diretivas que circulam nas redes sociais. Por isso, vou tentar alinhar os poucos pontos que me parecem comuns à maior parte dos manifestantes:
1) O governo é inepto;
2) O governo é corrupto;
3) O governo é conivente com os seus corruptos e tenta blindá-los;
4) O Ministério Público eximiu-se de pedir todas as investigações necessárias;
5) A Justiça é lenta e já demonstrou leniência com criminosos políticos;
6) A classe política não está à altura dos desafios do momento;
7) A oposição é inepta, e totalmente desnorteada quanto ao que fazer;
8) A base congressual do governo é oportunista: havendo dinheiro será a favor;
9) Ninguém, salvo poucos malucos, pretende intervenção militar;
10) O consenso é pela mudança de governo;
11) Qualquer mudança de governo implica o afastamento do chefe de governo;
12) Todas as mudanças precisam ser constitucionais;
13) A cidadania deve pressionar políticos e ministério público para que as investigações sejam feitas e para que mudanças ocorram.

Parece-me que estamos no início de um processo. Até aqui, só podemos ficar orgulhosos pelo grau de conscientização e pelo sentido de responsabilidade de que fizeram mostra todos aqueles que participaram das manifestações deste domingo, acima de quaisquer expectativas. Meus parabéns a todos. Estou orgulhoso novamente do meu país. Ele está a caminho de se tornar uma verdadeira nação.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2790: 15 de março de 2015, 1 p.
2790. “O que fazer agora? Minhas constatações”, Hartford, 2790: 15 de março de 2015, 1 p. Comentários sobre os pontos de consenso nas manifestações do domingo 15. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/03/o-que-fazer-agora-minhas-constatacoes.html).

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ladra, mentirosa, quem seria? InfoLatam mira o Brasil... (Agencia Efe)

Gostei dessa foto, ou melhor, dos cartazes. Eles resumem bem o que pensam todos os que marcharam pelas ruas de mais de 200 cidades brasileiras neste último domingo, protestando contra as ratazanas do petismo, a inépcia do poste e todos os demais tráficos cometidos pelos mafiosos totalitários.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil protestas

El Gobierno brasileño dice que menor número de manifestantes no reduce alerta

Infolatam/Efe
Brasilia, 13 de abril de 2015

Las claves
  • La declaración de Temer, que la semana pasada asumió la función de coordinador político del Gobierno, fue la única hecha por una alta autoridad sobre las multitudinarias protestas de la víspera en varias ciudades para protestar contra la corrupción y pedir la renuncia o la destitución de la presidenta Dilma Rousseff.
El Gobierno brasileño consideró  que hay que escuchar y dar respuesta a la insatisfacción mostrada en las protestas registradas el domingo en todo el país, sin importar que el número de participantes fuera menor al de convocatorias previas.
“El hecho de tener menos personas en las calles no reduce la importancia de la alerta que está dando la población y que muestra que es fundamental que el Gobierno comprenda que hay la necesidad de dialogar y escuchar más”, afirmó  el vicepresidente Michel Temer a través de su asesoría de prensa.
La declaración de Temer, que la semana pasada asumió la función de coordinador político del Gobierno, fue la única hecha por una alta autoridad sobre las multitudinarias protestas de la víspera en varias ciudades para protestar contra la corrupción y pedir la renuncia o la destitución de la presidenta Dilma Rousseff.
El ministro de la Secretaría de Comunicación de la Presidencia, Edinho Silva, dejó claro que esa sería por ahora la única respuesta del Gobierno a las manifestaciones, al asegurar que Rousseff endosa todo lo dicho por su vicepresidente.
La popularidad de Rousseff está en mínimos históricos pese a que sólo lleva 103 días de su segundo mandato de cuatro años.
Las protestas fueron convocadas por las mismas organizaciones que el 15 de marzo congregaron a cerca de dos millones de manifestantes, aunque esta vez sólo movilizaron a unas 700.000 en unas 150 ciudades.
Los organizadores admitieron la reducción del número de manifestantes, pero advirtieron de que hasta las encuestas muestran que la insatisfacción de la población continúa creciendo.
Según una encuesta divulgada el sábado por la firma Datafolha, el 75 % de los brasileños aprueba las protestas y un 63 % apoya que el Congreso abra un juicio político con miras a la destitución de Rousseff por su supuesta responsabilidad en el escándalo de corrupción en la petrolera Petrobras.
“El Gobierno está atento a estas manifestaciones. Revelan, en primer lugar y obvio, una democracia poderosa y. en segundo, que el Gobierno necesita identificar cuáles son las reivindicaciones para atenderlas. Es eso lo que el Gobierno está haciendo”, dijo Temer al negar que las autoridades estén aliviadas con la reducción del número de manifestantes.
A diferencia de las protestas del 15 de marzo, cuando dos ministros concedieron una rueda de prensa y enumeraron lo hecho por el Gobierno para atender las reivindicaciones, principalmente las medidas adoptadas contra la corrupción, el Gobierno optó en esta oportunidad por no responder directamente a los manifestantes.
El ministro de la Secretaría de Comunicación Social dijo en declaraciones a periodistas que el descontento es generalizado y que por eso los partidos de la oposición no consiguen capitalizar el malestar de las calles.
“El desgaste se extiende a todos los poderes de la República y la presidenta Dilma terminó catalizando ese descontento por ser el poder central”, afirmó.
El expresidente Fernando Henrique Cardoso afirmó hoy que los partidos de la oposición tienen que mantener distancia de las protestas para no parecer que quieren apropiarse de un movimiento surgido de la sociedad civil y para evitar un agravamiento de la actual crisis política del país.
“Los movimientos tienen una dinámica propia y no fueron convocados por los partidos políticos. Los partidos tienen una responsabilidad institucional”, afirmó Cardoso, que gobernó Brasil de 1995 a 2002, y para quien la crisis puede agravarse si los partidos deciden protestar también en las calles.
Las protestas fueron convocadas en internet por grupos sin vínculo político como el Movimiento Ven a la Calle Brasil, Revoltosos Online y Movimiento Brasil Libre y fueron respaldadas por la oposición, que sin embargo se abstuvo de exhibir sus banderas en la calle.
El senador Aécio Neves, principal líder de la oposición y presidente del PSDB, manifestó su solidaridad con los manifestantes pero se abstuvo de engrosar las marchas para, explicó, no darles una “connotación partidaria”.
Neves, derrotado en la segunda vuelta de las elecciones presidenciales de octubre por la presidenta Rousseff por sólo tres puntos porcentuales, dijo respaldar a “los miles de brasileños que regresaron a las calles para, una vez más, manifestar legítimamente su repudio e indignación contra la corrupción sistemática que avergüenza al país, y exigir soluciones para el agravamiento de la crisis económica”.

12 de Abril: uma analise qualitativa - Reinaldo Azevedo

A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs
A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs
Há mais de uma semana o governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções, aceitou gostosamente a orientação. Com variações, a cobertura destaca que há menos pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem- sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.
De resto, é impossível saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Num levantamento prévio, dá para afirmar que o “fora Dilma” foi ouvido em cidades de pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal (ainda falta atualização). E — daqui a pouco chego lá — contem com o PT para turbinar os próximos protestos.
Consta que o governo respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo, tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo para cutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou aliviado por quê?
Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da Presidente Foto: Jairo Marques/Folhapress)
Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da presidente (Foto: Jairo Marques/Folhapress)
Respirou aliviado no dia em que o “Fora Dilma” se faz ouvir de norte a sul do país?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?
Por que, afinal de contas, suspira aliviado o governo? Com que jornada futura de boas notícias e alívio dos sintomas da crise ele espera contar? Sim, a indignação com a roubalheira é um dos principais fatores de mobilização dos milhares de brasileiros que foram às ruas. Mas há muito mais do que isso. Há a crise econômica propriamente dita e a sensação, que corresponde à realidade, de que o governo está paralisado.
Acontece que esse mal-estar só vai aumentar porque o pacote recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos. Mais: ninguém nunca sabe quando a operação Lava Jato vai chegar a um fio desencapado, como é o caso de André Vargas, por exemplo. Consta que o ex-vice-presidente da Câmara e petista todo-poderoso, ora presidiário, está bravo com o partido, do qual havia se desligado apenas formalmente.
Acabo de chegar da Avenida Paulista. Havia menos gente do que no dia 15 de Março? Sem dúvida! Mas também sei, com absoluta certeza, que, desta feita, o protesto se deu num número maior de cidades no Estado. No dia 15, encontrei verdadeiras caravanas oriundas de cidades do interior e de outras unidades da federação. Aquele foi uma espécie de ato inaugural. Havia nele a vocação de grito de desabafo, era um enorme “Chega!”. A partir deste dia 12, a tendência é que haja mesmo uma diminuição de pessoas em favor de uma definição mais clara da pauta.
Mas é evidente que se trata de um erro cretino imaginar que menos gente na rua implique que está em curso uma mudança de humor da opinião pública. Não está, não! E que se note: se o protesto do dia 15 tivesse reunido o número de pessoas deste de agora, muitos teriam, então, se surpreendido. Acontece que aquele superou expectativas as mais otimistas. Tomá-lo como régua de um suposto insucesso dos atos deste dia 12 é coisa de tolos ou de vigaristas. Mas o governo e o PT têm direito ao autoengano.
Vejo a coisa de outro modo: os eventos deste domingo, 12 de abril, comprovam o que chamo de emergência de uma nova consciência. Até torço para que o Planalto e o petismo insistam que os atos deste domingo foram malsucedidos. É o caminho mais curto da autodestruição. Esses caras ainda não perceberam que os que agora protestam não querem apenas o impeachment de Dilma. Essa é a pauta contingente. Eles falam em nome de uma pauta necessária, que é apear as esquerdas do poder, ainda que esse esquerdismo, hoje em dia, não passe de uma mistura de populismo chulé com autoritarismo.
Tenham a certeza, petistas e afins: a luta continua!

domingo, 12 de abril de 2015

Manifestacoes contra o governo: o comeco da caminhada - Adolfo Sachsida, Paulo R Almeida

O Adolfo Sachsida se pronuncia abaixo sobre o sucesso das manifestações deste domingo em todo o Brasil, contra o governo, pelo afastamento da presidente (por renúncia ou impeachment) e pela expulsão do PT da vida pública por ser um partido inerentemente comprometido com a corrupção.
Ele trata de números, o que é um tipo de abordagem.
Eu prefiro falar de outra coisa: constatações simples, que estão em parte refletidas na pesquisa Datafolha transcrita logo em seguida à transcrição da postagem do Adoldo Sachsida aqui abaixo.
Minhas constatações são simples:

O governo não desfruta mais da confiança da maioria do povo brasileiro.
Ele perdeu a legitimidade para governar.
Ele está empenhado em cobrir a corrupção, na qual estão imersos, totalmente, os maiores chefes dessa agremiação política que se especializou em roubar e corromper.
O governo, não todo ele, mas seus principais dirigentes, foram beneficiários do gigantesco esquema de corrupção, montado em todas as esferas da administração pública, em todos os níveis da federação nos quais eles meteram suas patas suja. 
Eles não são apenas corruptos e mentirosos: são fraudadores do futuro do povo brasileiro, um povo trabalhador, que cada dia perde a esperança de viver num país digno, pelo espetáculo que a cada dia se oferece de corrupção em todos os níveis.
O povo brasileiro não terá esperança de reconstruir o Brasil se não afastar a corja de meliantes que se apossou do poder político no Brasil.
Não existe outro caminho para essa reconstrução senão a da expulsão da vida pública de todos esses meliantes.
Qualquer que seja o número de brasileiros se manifestando, eles trazem consigo a esperança de milhões de outros brasileiros: vamos acabar com essa corja, vamos começar outra vez.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 12 de abril de 2015.

Adolfo sachsida, DOMINGO, 12 DE ABRIL DE 2015


O Sucesso Estupendo das Manifestações do Dia 12/04 e as mentiras contadas na internet

Se existirem N maneiras de se aferir o sucesso de uma manifestação em (N-1) delas a manifestação do dia 12/04 foi um sucesso estrondoso. Existe apenas uma única medida para dizer que hoje não foi um sucesso: dizer que no dia 15/03 foi maior ainda. E é exatamente nesse ponto que vários veículos de comunicação estão se baseando. O dia 15/03 foi a maior manifestação pública da história do Brasil, o dia 12/04 foi a segunda maior manifestação popular da história do Brasil. As duas maiores manifestações populares da história brasileira foram feitas em menos de 1 mês uma da outra, dizer que o dia 12/04 foi um fracasso é o mesmo que reclamar que seu time “só” venceu por 3 a 0.
Por qualquer outro critério (que não seja a manifestação irmã do dia 15/03) o dia 12/04 foi um sucesso estrondoso. Vamos aos fatos:

1) Apenas em Brasilia, e de acordo com dados oficiais da PM, o dia 12/04 reuniu 25.000 pessoas, praticamente o mesmo número que os defensores do governo (recebendo bolsa de R$ 45) reuniram no Brasil inteiro na sua manifestação chapa branca do dia 13/03 (de acordo com dados da PM esse movimento pro-governo reuniu 30.000 pessoas em todo Brasil)

2) Na posse da presidente Dilma Roussef em 01/01/2015 pessoas do Brasil inteiro vieram prestigiar a presidente, público estimado pela PM de 20.000 pessoas (dados do UOL indicam menos de 6.000 pessoas). Ou seja, menor do que o público que foi hoje protestar contra Dilma.

3) No dia 07/04/2015 a CUT e vários movimentos sociais realizaram ato em Brasília, público estimado pela PM: 2.500 pessoas, isto é, 10 vezes MENOS do que o público presente hoje na Esplanada nos atos contra Dilma e contra o PT.

4) Hoje, apenas em São Paulo, a PM estimou em 275.000 pessoas o número de manifestantes. Quase 10 vezes mais que o número de manifestantes (vários recebendo R$ 45 para participar) chapa branca do ato pro-governo de 13/03.

De acordo com dados da PM foram 682 mil pessoas nas manifestações de hoje. Contudo, a própria PM admite que não computou dados de várias cidades (Recife entre elas). Em resumo, o dia 12/04 foi um sucesso estrondoso. Detalhe: o monopólio petista do norte/nordeste esta caindo.

Manifestacoes e a realidade do Brasil - Mario Sabino (2013)

Artigo escrito pelo jornalista Mário Sabino, ex-Veja, atual Antagonista, sobre as manifestaçōes de meados de 2013. Boa refexào
Paulo Roberto de Almeida

Contra a propaganda política, a favor da propaganda da política
Mário Sabino
Agosto de 2013

No balanço parcial das manifestações juvenis que varrem as ruas brasileiras, uma das boas baixas foi a mentira que prosperava no exterior, por causa da visão preguiçosa dos correspondentes estrangeiros — a de que o país estava às portas do Primeiro Mundo, não mais na condição de pedinte. Era com espanto que os (poucos) curiosos em relação ao Brasil recebiam, na Europa, a informação de que não era exata aquela história do Cristo Redentor decolando como foguete, para ficar na capa famosa da revista inglesa The Economist. O Brasil avançara? Sem dúvida. Mas menos pelas nossas qualidades do que pela conjuntura favorável e pela inércia natural que faz com que o amanhã seja melhor do que ontem nas latitudes onde tudo já esteve pior do que nunca.
As manifestações puseram óculos nos jornalistas internacionais. Enxerga-se, agora, que o nosso crescimento não passa de transtorno dismórfico coletivo. Que o tamanho absoluto do PIB é produto de uma ficção cambial. Que a escalada da "nova classe média" acontece de dez em dez prestações.
Que nosso nível educacional só seria piada se fôssemos capazes de entendê-la. Que os miseráveis ascenderam socialmente — mas à condição de pobres alimentados por programas de esmola com dinheiro público. Que as nossas cidades são de uma esqualidez vergonhosa. Que a frase do historiador latino Tácito nos cai à perfeição: em uma República muito corrupta, numerosas são as leis.
Eles não queriam ver e nós custamos a crer. A perda de contato com a realidade paralisou as consciências no Brasil, de maneira patológica, mesmo se se descontar a perturbada psicologia nacional. Chegamos a esse ponto através da substituição da propaganda da política pela propaganda política. Por propaganda da política, entenda-se a divulgação de ideários que exigem a tomada de posições, os conflitos e a negociação no âmbito institucional — compreendida como a busca de consensos que permitam à nação progredir na totalidade. Esse fundamento, nunca inteiramente assimilado pelos brasileiros, foi subvertido pela propaganda política, cuja essência é o discurso que só prevê a supressão do que lhe é contrário. Os mais adestrados no recurso, está óbvio, são os ditadores. No Brasil, a presença de um líder deletério, embora não tenha sido suficiente para deletar as instituições, enfraqueceu-as tanto que hoje elas se acham quase sem peso específico. O fenômeno ocorreu com o concurso do marketing personalista e a troca da negociação pela negociata. Os eventuais oponentes também se autoanularam. por motivos que apontam na direção do raquitismo das convicções e da falta de responsabilidade, o que inclui desonestidade. A oposição só renasce fugazmente durante as campanhas eleitorais.
Quando escasseia a propaganda da política e sobra a propaganda política, o vácuo se instaura — um tipo de vácuo em que, à diferença do espacial, a combustão é possível. Longe de ser colusão com a tentativa de ninjas, najas, jibóias e cascavéis de instrumentalizá-las, constate-se que as manifestações espocaram nesse contexto. Acusam-se os participantes de rejeitar a política. Aplicam-lhes o rótulo de "fascistas", como se houvesse uma agenda autoritária a dirigir a maioria. A verdade, no entanto, é que as suas demonstrações são fruto da refutação da política pelos próprios políticos. Como exigir de jovens crescidos na audiência de disputas por butins que façam o elogio da representação democrática? As indignações antipolíticas não explodiram por excesso de política, mas por ausência dela. ainda que isso soe paradoxal.
A juventude brasileira não sabe o que é política, e outra vez a culpa é dos políticos. Eles transpuseram todas as fronteiras da decência. Agora, diante da exposição das nossas fragilidades, não conseguem simular dedicação a interesses que ultrapassem o comprimento das hélices dos seus helicópteros. Desconhecem que. até nos regimes absolutos, um governante tem de evitar o ódio do povo — e o melhor modo de fazê-lo é abster-se de apropriar-se da propriedade alheia. Surpreendidos pelas ondas de choque juvenis, correm para aprovar leis demagógicas, ignorando que não há legislação capaz de frear a corrupção se ela não é precedida pelos bons costumes.
Os políticos brasileiros desconhecem e ignoram, enfim, o que escreveu Niccolò Machiavelli, no século XVI, muito antes do nascimento da democracia moderna, no rastro das fúrias populares do seu tempo e da Antiguidade do historiador Tácito. Em meio ao tumulto, ninguém faz ideia de por onde começar a pôr a casa em ordem. Mas começar logo é imperativo. Para que a decolagem do Brasil não dê chabu, seja mais do que um truque gráfico, e os correspondentes estrangeiros tirem os óculos e voltem a relaxar, a propaganda política precisa dar lugar, com urgência, à propaganda da política. Das ruas às urnas, das urnas às ruas.

Manifestacoes e a realidade do Brasil - Mario Sabino (2013)

Artigo escrito pelo jornalista Mário Sabino, ex-Veja, atual Antagonista, sobre as manifestaçōes de meados de 2013. Boa refexào
Paulo Roberto de Almeida

Contra a propaganda política, a favor da propaganda da política
Mário Sabino
Agosto de 2013

No balanço parcial das manifestações juvenis que varrem as ruas brasileiras, uma das boas baixas foi a mentira que prosperava no exterior, por causa da visão preguiçosa dos correspondentes estrangeiros — a de que o país estava às portas do Primeiro Mundo, não mais na condição de pedinte. Era com espanto que os (poucos) curiosos em relação ao Brasil recebiam, na Europa, a informação de que não era exata aquela história do Cristo Redentor decolando como foguete, para ficar na capa famosa da revista inglesa The Economist. O Brasil avançara? Sem dúvida. Mas menos pelas nossas qualidades do que pela conjuntura favorável e pela inércia natural que faz com que o amanhã seja melhor do que ontem nas latitudes onde tudo já esteve pior do que nunca.
As manifestações puseram óculos nos jornalistas internacionais. Enxerga-se, agora, que o nosso crescimento não passa de transtorno dismórfico coletivo. Que o tamanho absoluto do PIB é produto de uma ficção cambial. Que a escalada da "nova classe média" acontece de dez em dez prestações.
Que nosso nível educacional só seria piada se fôssemos capazes de entendê-la. Que os miseráveis ascenderam socialmente — mas à condição de pobres alimentados por programas de esmola com dinheiro público. Que as nossas cidades são de uma esqualidez vergonhosa. Que a frase do historiador latino Tácito nos cai à perfeição: em uma República muito corrupta, numerosas são as leis.
Eles não queriam ver e nós custamos a crer. A perda de contato com a realidade paralisou as consciências no Brasil, de maneira patológica, mesmo se se descontar a perturbada psicologia nacional. Chegamos a esse ponto através da substituição da propaganda da política pela propaganda política. Por propaganda da política, entenda-se a divulgação de ideários que exigem a tomada de posições, os conflitos e a negociação no âmbito institucional — compreendida como a busca de consensos que permitam à nação progredir na totalidade. Esse fundamento, nunca inteiramente assimilado pelos brasileiros, foi subvertido pela propaganda política, cuja essência é o discurso que só prevê a supressão do que lhe é contrário. Os mais adestrados no recurso, está óbvio, são os ditadores. No Brasil, a presença de um líder deletério, embora não tenha sido suficiente para deletar as instituições, enfraqueceu-as tanto que hoje elas se acham quase sem peso específico. O fenômeno ocorreu com o concurso do marketing personalista e a troca da negociação pela negociata. Os eventuais oponentes também se autoanularam. por motivos que apontam na direção do raquitismo das convicções e da falta de responsabilidade, o que inclui desonestidade. A oposição só renasce fugazmente durante as campanhas eleitorais.
Quando escasseia a propaganda da política e sobra a propaganda política, o vácuo se instaura — um tipo de vácuo em que, à diferença do espacial, a combustão é possível. Longe de ser colusão com a tentativa de ninjas, najas, jibóias e cascavéis de instrumentalizá-las, constate-se que as manifestações espocaram nesse contexto. Acusam-se os participantes de rejeitar a política. Aplicam-lhes o rótulo de "fascistas", como se houvesse uma agenda autoritária a dirigir a maioria. A verdade, no entanto, é que as suas demonstrações são fruto da refutação da política pelos próprios políticos. Como exigir de jovens crescidos na audiência de disputas por butins que façam o elogio da representação democrática? As indignações antipolíticas não explodiram por excesso de política, mas por ausência dela. ainda que isso soe paradoxal.
A juventude brasileira não sabe o que é política, e outra vez a culpa é dos políticos. Eles transpuseram todas as fronteiras da decência. Agora, diante da exposição das nossas fragilidades, não conseguem simular dedicação a interesses que ultrapassem o comprimento das hélices dos seus helicópteros. Desconhecem que. até nos regimes absolutos, um governante tem de evitar o ódio do povo — e o melhor modo de fazê-lo é abster-se de apropriar-se da propriedade alheia. Surpreendidos pelas ondas de choque juvenis, correm para aprovar leis demagógicas, ignorando que não há legislação capaz de frear a corrupção se ela não é precedida pelos bons costumes.
Os políticos brasileiros desconhecem e ignoram, enfim, o que escreveu Niccolò Machiavelli, no século XVI, muito antes do nascimento da democracia moderna, no rastro das fúrias populares do seu tempo e da Antiguidade do historiador Tácito. Em meio ao tumulto, ninguém faz ideia de por onde começar a pôr a casa em ordem. Mas começar logo é imperativo. Para que a decolagem do Brasil não dê chabu, seja mais do que um truque gráfico, e os correspondentes estrangeiros tirem os óculos e voltem a relaxar, a propaganda política precisa dar lugar, com urgência, à propaganda da política. Das ruas às urnas, das urnas às ruas.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Reflexões sobre as manifestacoes e sobre as tarefas 'a frente - Paulo Roberto de Almeida


Reflexões sobre as manifestações cidadãs de 15 de março de 2015 e sobre as tarefas à frente

Paulo Roberto de Almeida

Os órgãos de imprensa, repercutindo cálculos das PMs estaduais, falam de “2 milhões de pessoas nas ruas”. Talvez tenha sido o caso, estritamente falando, mas examinando a questão um pouco mais detidamente, afirmo que foi muito mais do que isso, e dou as razões.
Estas manifestações foram maiores do que as das Diretas Já: em primeiro lugar, quantitativamente, pois elas mobilizaram muitos milhões mais, pelas redes sociais, coisas que não existiam naquela época, ainda que as pessoas não tenham se deslocado fisicamente, inclusive porque não havia organização para isso em determinados lugares (e se houvesse, teríamos tido virtualmente metade do país nas ruas).
Em segundo lugar, qualitativamente, ou seja, do ponto de vista dos temas que mobilizaram a cidadania. Vejamos primeiro a comparação elementar com as manifestações pelas Diretas Já, em 1984.
Quem é que pode ser contra a eleição direta dos seus mandatários? Uma causa fácil, compreensível, que dispunha, portanto, do apoio de partida de 99,99% dos brasileiros. Não querendo depreciar as Diretas Já, não há muita glória em aderir a uma causa elementar como essa: voto direto para a presidência.
Desta vez, se tratava de aferir uma situação mais complexa: inépcia dos governantes, e sua conivência com os crimes que vem sendo praticados contra o país. Portanto, se necessita de muito mais consciência, conhecimento do que anda pelo mundo da política, e sentido de cidadania e responsabilidade em relação a coisa pública.
Por isso digo e reafirmo: estas manifestações foram as maiores já ocorridas na história do Brasil.
Pelo menos essa “coisa” devemos agradecer aos mafiosos petralhas: o fato de terem despertado o sentido de cidadania nos brasileiros.
Eles estão transformando um mero país numa nação.

Mas quero igualmente tratar de aspectos mais relevantes, que devem estar conosco em previsão das manifestações que devem previsivelmente ocorrer em 12 de abril, convocadas pelas mesmas organizações apartidárias que se empenharam no sucesso destas manifestações de 15 de março. Quero falar do Fundo Partidário e da campanha em prol da extinção do financiamento empresarial e pelo financiamento público das campanhas políticas, ainda que concorrentemente ao financiamento privado, individual, regulado.
A cidadania pode até estar legitimamente indignada com a roubalheira dos petralhas, e mobilizada contra a conivência dos políticos em geral, e a dos políticos petistas em particular, contra a excepcional inépcia do governo e dos seus principais mandatários, contra a corrupção em geral, e a dilapidação da Petrobras em particular, mas ela precisa ficar atenta também ao que ocorre nos bastidores, que não atrai os holofotes da “mídia”, mas que é potencialmente muito mais prejudicial ao futuro do país do que os casos tópicos de roubalheira e incompetências.
Roubos e inépcia podem ser “corrigidos” em prazos relativamente curtos, digamos de seis meses a um ano, desde que as corretas políticas econômicas sejam aplicadas, e que a Justiça faça o seu trabalho (mas ela se empenha em alongar os seus prazos), mas regulação legal sobre funcionamento do sistema político pode ficar conosco durante anos e anos, senão décadas, como essa vergonha do Fundo Partidário.
Os cidadãos precisam estar conscientes desse tipo de assalto ao seu bolso perpetrado pela classe -- no sentido estrito e lato do termo -- política, e também se empenhar em que isso mude.
Simples: partidos políticos são entes de direito privado, ainda que regulados por lei de caráter geral, nacional, e como tal devem ser financiados pelos seus aderentes, membros, simpatizantes, não pelo Estado --- ou seja, por todos nós -- que não tem nada a ver com a livre organização dos cidadãos.
Campanhas políticas são feitas para políticos se perpetuarem no poder. Se é de interesse privado, devem ser financiadas privadamente. Não ao financiamento público de campanhas.
Proibição de financiamento empresarial é uma violência constitucional e uma hipocrisia. As empresas devem poder fazer o que desejarem do seu dinheiro, e elas geralmente apoiam todos os partidos, sem qualquer distinção ideológica. Estão fazendo investimento? É possível, mas o dinheiro é delas e não temos nada a ver com isso. Façam o que quiserem do seu dinheiro, mas que isso não entre nas receitas e despesas públicas.
Fragmentação partidária é um dado da realidade e condiz com a liberdade de se constituir um partido, o que está ao alcance de qualquer um. O que não se pode é ter representação no Congresso sem um mínimo de votos em escala nacional, e sobretudo não poderia, e NÃO DEVERIA, ter direito a qualquer Fundo Partidário, que deve simplesmente ser extinto.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2792: 16 de março de 2015, 3 p.